Reminiscências

Três horas da madrugada, a luz da lua iluminando o quarto escuro através das cortinas que balançavam com o vento, meu corpo todo suado, o coração acelerado e o peito arfando em busca de ar. Mais uma vez, o mesmo tormento de sempre desde os meus 12 anos de idade, eu era apenas uma criança quando Tom apareceu na minha vida e mudou tudo completamente. Ainda escuto sua voz, doce e suave me acalmando e tranquilizando, fazendo-me acreditar que tudo ficaria bem, que eu não precisava ter medo de nada, dizendo-me para ser forte... Forte? Meu Deus eu nem sei como consegui sobreviver àquele ano, tinha apenas onze anos e era uma garota boba e mimada, a mais nova e única mulher de sete filhos, infantilmente e loucamente apaixonada pelo famoso Menino que Sobreviveu e que, por coincidência, era o melhor amigo do meu irmão, até aquela idade nunca tinha me machucado de verdade, tinha sempre alguém por perto para impedir que eu caísse ou que sofresse o mínimo possível, afinal eu era a irmãzinha querida. Acho que talvez por isso a queda, quando veio, tenha sido tão grande, eu era ingênua e inocente de mais quando o diário caiu nas minhas mãos parecendo um presente vindo dos céus. Na hora em que eu mais precisava Tom apareceu, um amigo, um confidente, disposto a ouvir as baboseiras de uma criança de onze anos, seus medos e angústias, suas paixões, suas queixas infantis... Ele sabia exatamente onde agir, em qual ponto tocar, ouvia e dava conselhos, não recriminava, apenas me apoiava como um bom amigo deveria fazer, pelo ao menos era o que eu pensava naquela época, afinal nunca tinha tido um amigo além dos meus irmãos.

Foram dias maravilhosos, adorava a escola cada vez mais e as novidades que encontrava por lá. Aos poucos Tom foi tornando-se uma parte tão importante da minha vida que eu simplesmente não consigo lembrar como ou quando a pequena Ginny Weasley começou a desaparecer, ele tomou conta do meu corpo e da minha alma tão aos pouquinhos que não percebi que tinha me perdido para ele. Quando finalmente consegui pensar por mim mesma já era tarde demais, eu já havia feito coisas terríveis das quais até hoje não consigo me libertar, meus pesadelos são recorrentes e as expressões de horror nos rostos dos alunos que incitei aquele monstro terrível a atacar me perseguem a cada noite de sono. Minha inocência foi perdida naquele ano e ficou definitivamente para trás presa entre as paredes da Câmara Secreta.

Os anos seguintes foram difíceis, mas eu consegui sobreviver, eu cresci e amadureci, tornei-me uma adolescente autoconfiante e lutei pela minha independência a cada passo do caminho, consegui mostrar para os meus irmãos que eu não era mais a pequenina deles. A Guerra veio com tudo, lutei com todas as minhas forças para derrota-lo, era uma questão de honra. Eu sabia que jamais conseguiria enfrentar o Tom, afinal ele nunca foi Voldemort para mim, mas eu fiz o que me foi possível, fiquei nos bastidores e defendi a tudo e todos que eu amava, minha família, meus amigos, minha escola. No final o Harry venceu, como todos esperávamos, mas eu nunca ganhei essa Guerra, porque Voldemort pode ter morrido para sempre, mas o Tom continua vivo dentro de mim, torturando-me e fazendo-me sentir a dor e a vergonha de tê-lo amado um dia.


Nota da autora: Fanfic escrita para o Amigo Secreto da Nostalgia 3 dos amiguinhos do fórum do Ledo Engano. Minha amiga secreta foi a Morgana Rodrigues e espero que você goste da fic querida. Nunca tinha escrito uma T/G, então desculpe se não ficou tão bom assim.

Beijos!