Perpetual Change
Aquela corrida não fazia sentido. Aquelas guerras não faziam sentido. Aqueles conflitos não faziam sentido. Tudo aquilo era uma grande bobagem, uma grande tolice, uma forma de tentar desviar a atenção deles do que realmente estava acontecendo. Dos problemas que eram reais.
Meninos indo para a guerra. Pessoas sendo agredidas por terem nascido diferentes. Nada do sonho que fora vendido, tinham se tornado criadores de pesadelos. Perpetuadores do medo. A América não era nada do que seus pais tinham sonhado ao fugirem para cá, perseguindo uma liberdade que jamais seria atingida por puritanos na Inglaterra Anglicana.
Mas isso fora há muitas gerações atrás, e não havia nada de britânico mais em Pansy Parkinson. Ela era uma garota americana, com valores americanos, e a sede dos jovens em mudar o mundo, em trazer a paz.
Ela acreditava nas coisas erradas, diziam seus amigos de boa família. Mas ela não se importava, porque seu coração dizia que era certo. Tinha seguido todas as regras, tinha feito tudo que tinham esperado, apenas para receber a visita de um oficial dizendo que seu noivo, Draco, tinha sido morto nas trincheiras de uma guerra estúpida.
Pansy mudou. Passou a desacreditar em tudo que ouvira por toda a vida, o desgosto da família. Foi para a universidade a pedido deles, afinal, era uma boa forma de encontrar um marido. Mas não tinha sido bem como eles esperavam. A Educação tornou-se aulas de psicologia, que tornaram-se a porta de entrada para um novo pensamento. Para um sonho que não morrera junto com o homem que o sonhara, mas sobrevivera nas mentes daqueles jovens que protestavam contra tudo e todos.
Um sonho de um mundo melhor, mais justo. Um sonho de um mundo onde ela pudesse realmente dizer a seu amigo como se sentia – um sonho de um mundo onde ela poderia ser abertamente amiga de Blaise, sem ter que aturar olhares atravessados. Um sonho em que ela poderia um dia ser mais do que uma amiga. Um sonho que era sonhado por muitos, atingido por poucos.
Ela não achava que o comunismo era a pior coisa do mundo. A pior coisa do mundo eram as falsas amarras prendendo a pessoas a idéias ultrapassadas. Mas essas mesmas cordas estavam em seus pulsos, e ela precisou de algum tempo para conseguir soltar-se delas o suficiente para falar a verdade – para fazer alguma coisa.
Mais tempo ainda para que fosse algo além de um segredo. De palavras doces trocadas, e toques discretos em manifestações. Eles queriam a paz, a justiça, um mundo que os aceitasse. Não eram mais tão jovens ao ponto de acreditar na tolice de um amor e uma cabana. Era preciso dinheiro, aceitação. Era preciso que seus futuros filhos não fossem mal vistos. Era preciso que nenhum dos dois fosse constrangido por estar com alguém diferente do esperado.
Era preciso liberdade, e por ela eles gritavam contra as guerras, contra o armamento, contra a corrida espacial, contra o mundo inteiro. E, enquanto Neil Armstrong dava um grande passo para a humanidade, eles deram um pequeno mais decisivo passo rumo ao destino dos dois. Só o primeiro beijo, de muitos que ainda viriam.
Não importava mais os outros. Eles tinham um sonho, e iriam persegui-lo com todas as forças. Continuar fazendo de tudo para que seu futuro não fosse sofrido como o de Blaise fora, para que não morressem tolamente como Draco morrera, para que não ficassem presos as expectativas dos outros, como Pansy ficara.
Eles ousaram sonhar com um mundo melhor, e lutar por ele. Quebrar as correntes da escravidão e viverem plenamente suas vidas, juntos, em uma alegria que a maioria das pessoas desconheciam por puro medo.
Eles tinham um sonho.
E não o deixariam acabar, e não parariam de lutar.
(Nem a morte de seu filho do meio no Afeganistão pode acabar com este sonho)
