O Cientista

1. A máquina e o corpo

O sinal que marca o início das aulas se faz presente pelas paredes de concreto da escola. Centenas de adolescente, trajando as cores do uniforme preto e bege, se dirigem as suas salas; algumas meninas optam pela saia longa e outras pela saia curta, algumas pelo suéter bege e outras pelo blazer preto. O uniforme masculino era obrigatoriamente calça. Todos estavam ansiosos para compartilhar sobre suas férias, suas viagens, suas compras, suas fofocas.

Os intervalos entre as grandes paredes de concreto e janelas de vidro contribuíam para o ar de riqueza e minimalismo do edifício da escola Konoha Gakuen. Majestoso, o prédio cativava olhares de passantes com seus sete andares e jardim artificial.

Entre o mar de alunos, se destacava uma menina que de tudo fazia para se esconder. Ela usava, contra sua vontade, a saia curta, pois descobrira que chamava muito mais atenção com a saia comprida. Vestia meia calça preta e, por cima de sua camisa fechada até a gola, usava um suéter pelo menos dois números maior do que o seu manequim. Em seus pés, seu sapatinho favorito, um brogue preto da Prada. Outra lição importante que aprendera: não utilizar acessórios de marcas de luxo faziam com que você chamasse atenção, pois o normal era a constante ostentação. Preferia evitar olhares.

Ela era uma visão. Uma visão de beleza, educação e inteligência. Embora a única pessoa que parecia não enxergar isso era ela mesma. Estudar em um colégio elitizado, onde as prioridades de cada um são no mínimo questionáveis, torna esse tipo de pessoa, ainda mais os de natureza doce e tímida, um alvo fácil.

Também era um lembrete diário de como todos eles não eram o suficiente. Os meninos, com muitos interesses por trás, tentavam se aproximar, mas quando não obtinham nenhum resultado, e com seus egos feridos, a culpavam por sua incapacidade de se entregar a qualquer um. As meninas, por sua vez, se sentiam inferiores, todas a culpavam, por ser algo que não conseguiam ser, um exemplo de educação, modéstia, delicadeza, até o tom de voz e os gestos de Hinata irritavam. Crescer em um ambiente predominado pelo dinheiro, tirava certa inocência que elas tinham. Festas, jantares, conversas... Suas virtudes foram corrompidas e o sentimento de sororidade era algo abandonado na infância.

Mas há uma verdade, para sobreviver no mundo real, é preciso malícia, nem que seja só um pouco e por isso que Hyuuga Hinata, com todas as suas qualidades, era uma menina fraca, fragilizada, insegura e tímida. Por conta disso, apesar de todas as facilidades que o dinheiro a trazia, e de todas as suas virtudes, a vida não era fácil nem gentil com ela.

Era de se pensar que no ano 2347, a humanidade teria evoluído, mas os seres humanos têm uma capacidade enorme de dar passos para trás, especialmente quando oportunidades são postas à sua frente. Tecnologicamente falando, tudo estava encaminhado, a vida das pessoas era muito mais simples, pra quem tinha dinheiro e vivia na superfície.

Hinata, às vezes, olhava pela janela de sua sala, lá em baixo, onde não conseguia nem enxergar o chão direito. Como será que era viver lá embaixo? Será que as pessoas eram parecidas com as com quem convivia? Ela adorava a beleza de Neo-Tóquio. A cidade mãe, que pairava nos grandes arranha céus, onde os carros voavam pelas vias aéreas e os jardins eram artificiais. Sentia-se triste que uma parcela tão pequena da população vivia os luxos que eles tinham.

Sentiu suas bochechas corarem, lembrando-se da primeira e única vez que manifestou tais pensamentos, em frente a duas colegas que, sem dúvida alguma, não compartilhavam do mesmo pensamento, assim como aparentemente o resto dos estudantes. Aquelas três semanas foram longas... Por que divertiam-se tanto inferiorizando o outro?

– Você viu que a Hyuuga tirou a maior nota da sala de novo? – ouviu alguém comentar, fazendo-a querer enfiar a cara dentro de sua carteira e sumir.

– Se eu vi? Tive que ouvir um monte dos meus pais, puta saco. – resmungou a outra menina de volta.

O alarme indicando o fim do recesso cortou qualquer tipo de conversa e todos voltaram a se sentar em suas cadeiras. O professor entrou segundos depois pela porta da frente da sala. Hinata suspirou aliviada.


Hinata estava na biblioteca após o termino das aulas. Não tinha vontade de voltar tão cedo para casa e ninguém se daria ao trabalho de checar onde estava, desde que voltasse no carro com o motorista.

Deu um longo suspiro, pensando em sua casa. Hakone é uma cidade próxima de Neo-Tóquio e levava cerca de 20 minutos para chegar na escola. Ela deveria sentir vontade de correr pra casa, já que no entorno de sua casa existiam árvores, animais, flores e rios de verdade. A mansão Hyuuga reside no topo de uma montanha, grandiosa e majestosa em todo seu esplendor. No entanto era um dos lugares mais frios e vazios de sua vida. Desde que sua mãe morrera quando sua irmã, Hanabi, ainda era bebê, a residência alegre que era a mansão Hyuuga se tornou extremamente sombria, rígida e fechada. Não se ouvia risadas pelos corredores, não existia mais compaixão e empatia dentro daquelas paredes.

Nunca culparia seu pai pela maneira como a tratava, Hinata sabia o que era amar alguém. Porém, seu coração não deixava de partir com as duras e inconsequentes palavras de seu pai, transformado pela perda Hiashi via apenas sua mãe quando a olhava, mãe e filha eram imagem perfeita uma da outra. O ódio que ele sentia quando a via e era obrigado a lembrar de que perdera o amor da sua vida, o fazia cruel. Tornando a relação deles era extremamente delicada. Um jantar uma vez por semana, relatório escolar uma vez por mês. A menina suspirou... Como seria a vida onde seu pai te ama e te trata com carinho? Será que seria uma menina menos perturbada, mais alegre, que teria amigos e quem sabe, até um namorado...? Hinata sonhava com uma casa feliz, onde contava para seu pai que gostava de um menino e ele ficava bravo de brincadeira ameaçando que iria dar um cascudo no menino, fazendo-a rir. Imaginava em sua cabeça o impossível, de todos jantando juntos, alegres, assistindo algum filme com seu pai e jantando felizes com sua irmã. Podia sentir suas lágrimas quentes e pesadas escorrendo por suas bochechas.

– Hyuuga...? – soltou um gritinho abafado e deu um pulo quando ouviu uma voz intensa chamar seu nome, sentiu seus olhos arregalarem e os pelos arrepiarem.

– U-U-Uchiha-s-san...!

– Você está bem...?

– S-S-Sim, sinto m-muito, e-esqueci q-que estava aqui, s-sinto muito.

– Não precisa se desculpar... – disse ele olhando pro lado – pode ficar pra você – estendeu um lenço branco, ao ver o olhar assustado dela, continuou – outro dia você devolve – a menina aceitou quando viu um pequeno, minúsculo sorriso em seus lábios. E rápido assim, ele já não estava mais lá.


Hinata sorria meio abobada assim que entrou em casa, o que durou pouco tempo, pois, pela primeira vez em todos os seus anos de vida, sua irmã parou em sua frente e lhe comunicou que ela estava bem encrencada de estar chegando a essas horas em casa e que seu pai lhe aguardava em seu escritório para uma conversa. Pôde sentir as gotículas de água formando em suas mãos e sua respiração ficando tensa. Os passos em direção ao escritório do seu pai pareciam mais o caminho à Naraka.

Bateu na porta, demorou alguns segundos e ele a concedeu a entrada.

Hiashi estava sentado com vários documentos meticulosamente dispostos em sua mesa, alguns ele assinava, outros ele parava e lia. Mas não tirava os olhos da mesa.

– Até onde eu sou informado, a sua aula termina às 17h20. Gostaria de entender por quê você está chegando em casa às 20h.

– E-E-Eu estava estudando n-na biblioteca... – estapeou-se mentalmente por não conseguir falar sem gaguejar.

– Você podia se esforçar para deixar de falar desse jeito tão vergonhoso.

Hinata não respondeu. Afinal, o que responderia? Que todos os dias são uma luta incansável de tentar se tornar uma pessoa mais confiante, mas que isso não era possível por que ela era fraca? Ele já sabia disso.

– Minha própria filha é incapaz de ser uma pessoa decente – as palavras a machucavam como flechas em suas costas – você pode muito bem estudar em casa, não quero nenhum tipo de polêmica por que minha filha inconsequente volta pra casa a noite. Vergonhoso, as filhas do Yasuda que "ficavam estudando na biblioteca", na verdade, perambulavam em lugares extremamente questionáveis usando substâncias horríveis e agora ele está pagando milhões para a imprensa não divulgar. Espero ter sido claro. Pode se retirar.

Cabisbaixa, foi na direção do seu quarto. Pensar que seu pai tinha a capacidade de rebaixar seu caráter a esse nível... Ela realmente era uma pessoa lamentável. Tirou o lencinho de seu bolso e enxugou suas lágrimas, um pequeno sorriso surgindo em meio a tanta dor. Sasuke-kun. Como ela sonhava em poder chamá-lo assim.


Apertando o lencinho, agora lavado e passado em seu bolso, desceu de seu carro. É claro que não foi direto atrás dele, não queria chamar atenção. Então esperou as primeiras aulas e, no intervalo, muito discretamente começou a procurá-lo. Mas Uchiha Sasuke estava sempre acompanhado de seu melhor amigo, Uzumaki Naruto. Hinata gostava bastante da pessoa que era Uzumaki Naruto, o completo oposto de Uchiha Sasuke. Explosivo, espontâneo, engraçado e sociável. E, por mais que Sasuke cortasse Naruto e fosse algumas vezes quase grosseiro, conseguia enxergar que, no fundo, ele gostava muito da companhia do loiro. Devia ser muito bonito ter uma amizade assim. Muito gratificante.

Passaram-se mais algumas aulas e os próximos dois recessos, no entanto não tinha conseguido a sua chance. Infelizmente, Hinata estava tão focada em ser discreta que não conseguiu notar algumas meninas que observavam tudo.

Após o termino das aulas, finalmente viu sua chance quando o encontrou nos fundos da escola, sozinho lendo um livro.

– U-Uchiha-san – disse, informando-lhe de sua presença. Ele olhou por cima de seu livro e vagarosamente se levantou.

– Hyuuga.

– V-Vim lhe devolver – cuidadosamente retirou o lencinho do bolso e lhe estendeu – m-muito o-obrigada, foi muito g-gentil da sua parte – assim que ele pegou o lencinho de suas mãos, ela fez uma longa reverência e, tomada pelo seu nervosismo e sem olhar pra cima, virou e foi embora. Alguns metros dali cruzou com Uzumaki Naruto, mas estava tão nervosa que sequer percebeu. Tampouco quando Sasuke tentou chamá-la.

– Hyuuga...

– Ei, era aquela menina Hyuuga, não era? – perguntou Naruto olhando pra trás.

– Sim.

– Bonita, né! Acho aquele cabelão dela super sexy.

Sasuke olhou meio feio para Naruto, mas relevou. O amigo era assim mesmo.

– É.

– Oh! Sasuke se interessando por alguém, achei que nunca fosse ver isso na minha vida, tô falando!

– Cala a boca, seu idiota.

O que nenhum deles pareceu perceber, foi o grupo de meninas escondidas observando absolutamente tudo que acontecia. Ódio tomando seus olhos e seus corações frustrados.


Hinata não entendeu nada do que aconteceu, estava apenas pegando as suas coisas do seu armário para ir para casa, quando uma menina esbarrou tão forte nela que ela caiu no chão, espalhando todas as suas coisas pelo corredor branco.

– Por que você não morre logo? – foi a única coisa que escutou das meninas que nem se deram ao trabalho de olhar para trás.

Não sabia o que estava acontecendo e isso partiu seu coração. Ela chorava enquanto recolhia seus pertences.

Ao chegar em casa foi direto para o banheiro de seu quarto e encarou seu reflexo. Que dó, que pena sentia de si. Abriu o espelho e pegou uma das pílulas de dormir que seu médico havia receitado. Seu sono foi profundo e instantâneo.


Na manhã seguinte, quando chegou na escola, os corredores estavam cheios e não entendeu por quê todos pareciam apontar para ela. Seus olhos entraram em choque quando viu escrito em seu armário: "Hinata deu para Uchiha Sasuke, símbolo de pureza... Tá mais para vadia". Andou o mais rápido possível em direção à sua classe, temendo o que iria encontrar. Assim que abriu a porta quis morrer com as risadas que ecoavam e os dedos que eram apontados em sua direção. Dando os passos mais longos de sua vida, foi em direção em sua carteira e lá estava, um singelo lírio dentro de um vaso de cristal e a mesa cheia de rabiscos e xingamentos que ela não conseguiu sequer ler.

O plano fora tão bem executado que uma parte das meninas estava distraindo Sasuke e impedindo que ele chegasse perto da sala da menina ou de seu armário, desviando seus caminhos. Então, ele não viu quando a menina cheia de lágrimas passou correndo, nem quando ela pulou os portões da escola pelos fundos.


Hinata pegou a primeira passarela que se conectava com o prédio comercial ao lado da escola, limpando suas lágrimas com suas mangas e escondendo seu rosto com seus longos cabelos. Procurou pelo elevador mais próximo e que fosse mais escondido, desceu até o nível mais baixo e procurou pelo seguinte elevador e, depois, pela próxima escada. Quando se viu, estava na cidade baixa, estava em Tóquio.

Luzes de neon iluminavam a cidade e havia pouquíssima luz, devido ao número de arranha céus. Fumaça por todos os lados e pessoas indo e vindo com vestimentas extremamente simples. Continuou andando, correndo. Entrou na primeira boca de metrô que encontrou. Nervosa, conseguiu achar algumas moedas e pagou por um tíquete, perdeu a conta das estações que passou e desceu em um distrito chamado Asakusa.

Não entendia por quê, mas sentia como se pertencesse à Tóquio, bem mais do que na cidade lá em cima. Apesar de toda a poluição visual, era muito mais aconchegante. As pessoas pareciam mais felizes e sem nenhum tipo de presunção. Ouvira tantas histórias de como era perigoso, mas vendo de frente, eram apenas pessoas humildes.

Ela nunca teria isso em sua vida.

Não poderia mais voltar para a escola, sua alma não aguentaria o que estava por vir. Também não aguentava mais seu pai, sua casa, ela mesma.

Continuou andando e chorando discretamente, ninguém parecia se preocupar muito em prestar atenção em nada. Ficou grata por isso. Foi entrando cada vez mais entre os comércios, cheios de luzes e cartazes. Até que encontrou um beco por onde entrava um pouquinho de luz, tinha algumas portas de aço pesadas e todas fechadas. Avistou um gatinho de longe e foi em direção à ele. Seu miado era tão baixinho e era tão pequeninho, tão incapaz, assim como ela. Depois de um tempo conseguiu pegá-lo no colo e o abraçou, ele era tão bonitinho... Seus olhos eram tão grandes e azuis, sua pelugem era cinza e branca, parecia um tigre albino. Sua família tivera um deles, Hinata deveria ter por volta de dez anos, mas uma semana antes do seu aniversário de onze anos, Hiashi teve uma discussão com Hinata e lhe deu um tapa no rosto, o tigre então tentou atacá-lo e imediatamente foi sacrificado. Começou a chorar lembrando do animal morto e o sangue sujando suas pequenas mãos.

Sentada no chão, ela tirou de sua bolsa um objeto brilhante, suspirou e fez o primeiro grande corte em seu braço. O líquido vermelho começou a sair em grandes quantidades, mas era tão bonito. Não espirrava por todos os lados, ele caía como água cai de uma cascata, escorrendo pelos seus braços. Sabia que o corte deveria ser no sentido das veias. Fez o segundo e o terceiro corte e, com sua mão direita, abraçou o gatinho, que agora dormia em seu colo. Com seus olhos fechados, ela rezou. Rezou que na sua próxima vida fosse uma pessoa diferente, que conseguisse ser forte e que pudesse prover um lar com amor para um bichinho como esse.

Com um sorriso em seus lábios ela encostou a cabeça e respirou tranquilamente.

Finalmente.

Paz.


– Alô.

– Oi...

– Gaara...

– Sakura...

– Gaara!

– Hn.

Não vem com "hn" pra mim não, Gaara! Nossa, juro! Você tira meu centro, tenho vontade de chutar a sua cara. Você sabe como isso me faz mal? Tenho vontade de gritar na sua cara e explodir ela no chão. Eu sou uma pessoa boa, Gaara – ele riu quando ela falou isso, quanto tempo será que Sakura ainda ia continuar acreditando nessas coisas esotéricas e renegando seu próprio caráter? – minha energia fica pesada E VOCÊ PARA DE RIR CARALHO! EU CONSIGO OUVIR DAQUI ESSA SUA RISADA BAIXA E DEBOCHADA.

– O que você quer, Sakura?

Eu quero saber como, COMO meu melhor amigo desaparece durante dois meses, não retorna uma ligação, não está em casa e não existem indícios de pra onde ele foi? – sua voz agora estava chateada – poxa Gaara, e você ainda deixou sua raposa na minha casa. Você sabe que eu adoro a Kurama, aliás, por que você deu esse nome pra ela? Enfim, Gaara, o foco é: eu adoro ela, mas ela é toda medrosinha e fica se escondendo. Daí eu fico preocupada se não pode ter acontecido alguma coisa com ela... E você nem me avisou nada – se ele não colocasse um ponto final esse monólogo não acabaria tão cedo.

– Sakura – disse ele sério e a amiga instantaneamente parou de falar – você sabe que mesmo depois desses anos eu ainda sou extremamente ruim no departamento social. Lembra daquele projeto que eu estava fazendo que não estava encontrando uma resposta? – ele supôs que o barulho que ouviu dela era um sim – Eu fiquei um bom tempo sem resposta, mas um dia pensei em uma coisa, estou no meu laboratório agora.

E aí? – perguntou a menina curiosa, já tinha até esquecido o fato de estar brigando com ele, como médica isso era crucial ela saber o andamento do projeto.

– Eu preciso de um corpo recentemente morto. – disse Gaara numa voz decidida.

Vou escolher os pacientes próximos do necrotério do hospital, todos os dias chegam corpos de pessoas sem famílias ou sem identificações, só preciso esperar a ficha certa chegar e entro em contato com você. – Sakura respondeu em tom de seriedade.

– Obrigada.

Quando que- – ele a interrompeu.

– Estou saindo daqui para buscá-la.

Ah, que ótimo. Estamos te esperando.

Olhando uma última vez sua criação, ele apagou as luzes. Subiu as escadas e empurrou a porta minúscula. Esse beco realmente tinha pouquíssima iluminação, mas gostava do fato de ser tão estreito e mal iluminado.

Estava quase na metade do beco quando ouviu um barulho, quase inaudível se ele não tivesse os sensos tão aguçados. Parou de caminhar e se concentrou.

Ouviu de novo. Estava vindo do fundo do beco. Aos poucos foi se aproximando e, então, avistou um par de pernas e seu coração começou a bater mais forte. Não por medo, que loucura, ele estava ansioso. Uma coincidência dessas só poderia ser um bom presságio para ele.

E lá estava.

Ela era linda.

Uma parte de sua humanidade se sentiu mal ao pensar isso, olhando para uma adolescente suicida com as roupas manchadas de sangue. Mas tinha algo tão puro nela. Talvez fossem os seus longos, extremamente longos, cabelos preto-azulados. Ou sua pele branquíssima, ou sua fisionomia pequena e fina. Ele parou para prestar atenção nos fatos mais importantes. Uma pele branca como essa, com as unhas manicuradas, e esse uniforme de tecidos extremamente caros... Avistou o emblema Konoha Gakuen no suéter da menina. Essa menina era de Neo-Tóquio.

Ouviu mais uma vez o barulhinho e se lembrou do por quê estava ali. No colo da menina, encontrava-se um gatinho extremamente pequeno. Ele não perdeu mais tempo pensando. Voltou para a porta do seu laboratório e a abriu, colocando uma lata de lixo para segurar a porta. Andou rapidamente para onde encontrava-se o corpo e com muito cuidado para não derrubar o gatinho no colo da menina, ele a ergueu em seus braços e voltou para o laboratório. Fechou a porta, desceu as escadas e a colocou sentada em sua criação. Pegou o telefone e discou. Tocou três vezes e atendeu.

– Sakura. – a menina entendeu o tom sério na mesma hora.

Onde você está?

– No meu laboratório, preciso que você venha aqui, encontrei um corpo. – ele passou o endereço para ela – preciso que você chegue o mais rápido possível.

Eu vou de moto.

Desligou o telefone. Ele sabia que a coisa mais sensata a se fazer era esperar por um corpo no necrotério e que ele não sabia quem era essa menina. Foi em direção a ela e viu que tinha uma bolsa em suas costas. O material da bolsa era couro puríssimo, caro. Abriu e encontrou o que procurava, a carteira. Logo averiguou a identidade Hyuuga Hinata 12.12.2330. Ela tinha apenas 16 anos. Não reconhecia o nome, mas o sobrenome soava como um sobrenome importante. Ele olhou para o braço da menina e um sentimento de irritação surgiu no seu coração, com relação a distância desses abismos sociais, mas via agora o sorriso no rosto da menina, tão honesto e a pena abraçava seu coração.

Eu não quero trazer de volta para a vida um mendigo ou um drogado qualquer. Só por testar. Ou isso vai funcionar desse jeito, ou não vai mais. Ela era perfeita, perfeita para ser sua primeira.

Em questão de 10 minutos, ele ouviu batidas na porta, abriu. Sua amiga entrou e entregou a raposa do amigo nas mãos dele. Sem nem cumprimentar, ela foi em direção ao corpo, retirou seus instrumentos e começou a analisa-la.

– 40 minutos atrás. Qual o seu tempo limite?

– 1 hora.

– Você tem certeza?

– Tenho.

– Você sabe quem ela é?

– Hyuuga Hinata, 16 anos, Neo-Tóquio.

– E se ela quiser voltar?

– Ela se matou, será que ela quer?

A mulher de cabelos rosados olhou com pena para a menina morta.

– Começa logo. – disse ela.

Com as instruções de Gaara, a dupla conectou o que era necessário às veias e órgãos da menina, o tempo corria no relógio e passados 13 minutos exatos, ele ligou.

– E agora?

– Se em 30 segundos ela respirar, nós esperamos por mais 5 horas.

– E se não?

– Ela continua morta.

1... 2... 3... 4... 5... 6... 7...

– Você escolheu desse jeito porque achou ela bonita, né?

13... 14... 15...

– Todo cientista é orgulhoso de suas criações, estética pra mim é algo fundamental.

22... 24... 24... 25...

– Besta – ela riu, ele sorriu.

29... 30.

Nem ouvir eles ouviram, de tão baixo, mas viram as narinas dela se mexerem e, após uns segundos, finalmente o som ficou um pouco mais alto. Ela estava respirando. Sakura levou um susto quando começou a ver um líquido contornar a menina.

– É um líquido artificial com micro partículas inteligentes, ele vai recuperar os nutrientes do corpo dela, consegue penetrar a pele e os órgãos e surprir o que quer que seja necessário. Por isso vai durar 5 horas.

– Eu tenho um ódio quando você inventa essas coisas e não faz a mínima questão de compartilhar.

– Mas não estava pronto.

– Não, o que não estava pronta era a máquina. Esse líquido você não me engana nem se quiser, tenho certeza absoluta de que já está pronto faz um belo tempo.

– Orgulho, Sakura, orgulho.

– Coloca o seu orgulho pra fazer um café, porque você vai precisar de mim.

Sem dizer nada, ele caminhou em direção a cozinha e começou a preparar o café.

つづく

Comentários; sei lá, eu tive essa ideia e fiquei afim de explorar. Eu já fui pro Japão e tenho até alguns amigos lá, então eu me sinto a vontade pra falar tanto da cidade quanto pra colocar palavrões no discurso dos meus personagens. Gente, é super comum japonês falar palavrão. Eu lembro que em Prelúdio e Chiaroscuro recebi uns reviews reclamando sobre isso, mas, infelizmente, eu gosto de escrever o diálogo dos meus personagens como sendo mais próximo da realidade possível. O Gaara pode ser meio OOC, mas, eu reforço de novo, ele não tem um Juunchiriki dentro dele pra fazer ele ser sanguinário. Ele só é meio socially akward e eu adoro como na minha cabeça ele tem uma dinâmica boa com a Sakura. Eu vou especificar mais pra frente, mas para os curiosos a raposa do Gaara na verdade é uma Fennec Fox.

Agradeço; do fundo do meu coração sem palavras para agradecer no grau necessário, amo vocês N e M.