Olá! Essa fic faz parte do projeto One-shot Oculta, um amigo oculto entre autoras, em homenagem aos 10 anos da estreia de Crepúsculo no Brasil. Cada uma enviou 4 fotos e músicas para servir de inspiração à pessoa sorteada. Confira todas as 10 participantes na página / ~projetooneshotoculta, o link está no meu perfil.
N/A: Caramba, que nostalgia! Voltar aonde tudo começou me deu um frio na barriga, confesso, mas essa fanfic vai ficar marcada em mim pra sempre. Estava passando por um bloqueio terrível há muitos meses. Nem achei que fosse conseguir cumprir esse compromisso, mas um surto criativo e dois dias ininterruptos de escrita me fizeram encontrar meu caminho de volta. Quero agradecer às meninas que idealizaram novamente esse projeto, acho que não poderia ter vindo em hora melhor *-*
Acho que teria ficado um pouco melhor (e maior!) se eu tivesse começado mais cedo, mas fica aí a lição pra minha fuça! Hahahah Estou satisfeita com o resultado, apesar de tudo. Espero que gostem! Postarei em três partes. As partes dois e três virão amanhã ;)
Essa fanfic é meu presente para a minha amiga oculta OhCarol :3
Espero que você curta essa história, Carol. Fiquei muito feliz quando te tirei e adorei as inspirações que você mandou.
Boa leitura!
Ah! Lembrando que Twilight não me pertence.
PARTE I
Olho para o prato à minha frente e remexo na comida com um garfo enquanto aguardo que os toques da chamada telefônica se transformem na voz da minha amiga. Sei que ela vai se zangar. Sei que vai me dizer "eu te avisei". Sei que provavelmente vai surtar...
— Bella! — A voz de Rosalie finalmente ressoa em meus ouvidos depois do que parece uma eternidade. — Estava terminando de trocar a roupa de cama do quarto de hóspedes para você. Onde está agora? Ah, eu estou tão empolgada! Será que ainda falta muito para...
— Rosalie... — interrompo-a, tentando desfazer o nó nervoso em minha garganta ao massageá-la. Aperto os olhos e me preparo para lhe contar. — Ahm, acho que vou demorar um pouco mais a chegar.
— O quê? Como assim? — Ouço quando sua respiração parece ficar presa na garganta e ela quase se engasga. — Isabella Marie Swan, onde você está? Foi sequestrada? Presa?
— Não! Não, nada disso. Na verdade, o ônibus quebrou — explico de uma vez, e a versão supersônica da minha amiga quase perfura meus tímpanos.
— Quebrou? QUEBROU? Bella, como assim? Você está presa no meio do nada com um bando de desconhecidos e um ônibus no prego?
— Eu não estou no meio do nada — retruco. — Estou em... em algum lugar em Nebraska.
Merda. Fui informada sobre minha localização, mas não lembro direito o nome da cidade. North... alguma coisa. North Palace? Argh, acho que não.
— Oh! Eu não sabia que em Nebraska existia um lugar chamado "Em Algum Lugar"! Isso fica entre "Lugar Nenhum" e "Você Pirou"?
— Rosalie, relaxa, tá legal? Eu estou em... — Olho ao redor desesperada e ao avistar um cardápio em uma mesa vazia a alguns passos da minha, corro até lá e o reviro em busca de uma resposta. Cadê, cadê, cadê... — North Platte! Eu estou em North Platte, Nebraska! — respondo ao encontrar o endereço do pequeno restaurante onde estou na parte inferior da folha única que compõe o menu desse lugar.
Minha amiga respira fundo do outro lado da linha.
— Ok, então você está me dizendo que vai passar não sei quantas horas dentro de um ônibus quebrado em North Platte e chegar aqui sabe lá quando?
— Não, Rosalie! Você não está entendendo...
— Você não está explicando!
— Ok, então me deixa explicar, caramba!
Ela respira fundo mais uma vez e fica quieta, esperando que eu explique. Então lhe conto que após viajar por oito horas, o ônibus que peguei em North Liberty, Iowa, começou a apresentar sinais de mau funcionamento. Por sorte — bom, diante da situação, isso foi sim sorte —, havíamos acabado de entrar em uma cidade, e o motorista conseguiu praticamente arrastar a geringonça até um posto que não tem oficina, o que o obrigou a sair pela cidade em busca de ajuda e conserto. Quando conseguiu, os homens que o inspecionaram disseram que só conseguiriam consertá-lo no dia seguinte, pois precisavam de peças e materiais que só encontrariam pela manhã e as lojas estavam fechadas a essa altura da noite — já passava das dez. Afirmaram que só conseguiríamos seguir viagem lá pelo meio da tarde. Isso acrescentaria praticamente mais um dia em uma viagem que já seria longa o suficiente. A previsão era de chegarmos na sexta-feira no fim da tarde, após saírmos do nosso ponto de partida às duas da tarde de hoje, quarta-feira.
Acabamos tendo que andar mais ou menos um quilômetro até o hotel mais próximo, que acabou ficando lotado depois que eu e os outros onze passageiros nos registramos. Aproveitei para tomar um banho e me preparar psicologicamente para contar a Rosalie o que estava acontecendo e dizer-lhe que talvez, só talvez, ela estivesse certa quando disse que eu deveria ter pego um avião.
Mas a ideia de viajar por alguns dias, conhecer lugares que nunca vi antes, cair na estrada pensando em tudo e em nada, como uma aventura, mesmo que acompanhada de um monte de desconhecidos, me pareceu muito atraente quando pesei minhas opções. Sigo protocolos e faço tudo certinho desde que me entendo por gente, e nada disso nunca foi vantagem para mim, só para os outros ao meu redor que nunca tiveram a consideração de fazer o mesmo por mim. Só o que importava era que eu andasse na linha; não podia isso, não podia aquilo. Não seja egoísta, pense nele, pense nela. E um monte de baboseiras que em nada favoreceram a minha segurança, que é o que alegavam. Só me ensinaram a ter medo de tudo e a me pôr em último lugar na minha própria vida. Cansei disso, mesmo que ainda não me sinta a pessoa mais corajosa do mundo. Na verdade, estou morrendo de medo, ainda mais diante de um claro sinal de que eu posso ter tomado a decisão errada, mas se vir com medo era a opção que eu tinha, aqui estou.
Mesmo tendo vendido quase todas as minhas roupas e pertences para carregar pouca bagagem e recomeçar praticamente do zero ao chegar em LA, a passagem de avião levaria quase metade do dinheiro que tenho. Rosalie se ofereceu para pagar, mas recusei sua oferta. A passagem de ônibus seria mais barata e, apesar das paradas e necessidades na estrada, me preparei bem para os imprevistos. Ou, pelo menos, eu achei que tinha me preparado para tudo.
O hotel não é caro, apesar de ter me feito mexer em um dinheiro que estava fora do orçamento da viagem. Estou meio arrependida por ter vindo a um restaurante com o estômago embrulhado, incapaz de comer qualquer coisa, e já ter pago pelo frango grelhado e a salada que continuo a cutucar com o garfo conforme converso com Rosalie, mas faz muitas horas desde que comi pela última vez, e a última coisa de que preciso é passar mal de fraqueza. Não é hora de bancar a mão de vaca. Além disso, faz parte da aventura, não é?
— Ok, ok... — Rosalie diz após me ouvir contar tudo. Penso que ela vai finalmente se acalmar após compreender o que está acontecendo, mas suas próximas palavras logo negam isso. — Você disse que está em North Platte, certo? Então você deve saber que há um aeroporto aí, não é? Vá até lá e compre uma passagem para o próximo voo para Los Angeles. Posso te passar os dados do meu cartão de crédito e...
— Não, Rose! — interrompo-a, decidida a seguir com o plano inicial. — Vai levar um tempinho para o ônibus ficar pronto, mas estamos seguros e...
— E você vai levar um mês para chegar aqui — minha amiga completa, com a voz saturada de frustração e preocupação.
— Não exagera, Rosalie. Já te expliquei por que eu quis fazer isso. Vai dar tudo certo. Foi só um imprevisto que vai ser solucionado e, quando menos esperarmos, estaremos juntas de novo e você pode me dar os cascudos que eu sei que está com vontade.
Posso ouvi-la rindo do outro lado da linha e isso me dá certo alívio.
— Você sabe que eu só quero o seu bem, não é? E só queria que você chegasse logo. — Seu tom de voz faz meu peito apertar de saudade. — Emmett também não vê a hora de você chegar. Você sabe que ele também te considera uma irmã e ficou empolgado com a ideia de te ter por perto. Ainda mais depois de termos perdido a minha cunhada há alguns meses. Não tem sido muito fácil, sabe.
— Eu sei, Rose. Eu sei, e também não vejo a hora de chegar. Vai passar rápido, você vai ver.
— Espero mesmo.
Rosalie é minha melhor amiga de infância. Crescemos juntas depois que minha família se mudou para North Liberty, em Iowa, quando eu tinha cinco anos, e há três anos ela se mudou para Los Angeles com o então marido, Emmett. Ela esteve presente em tantos momentos importantes da minha vida, me apoiou e abraçou quando precisei, puxou minha orelha quando necessário e sempre procurou me encorajar. Rosalie é a minha pessoa foguete; sempre me põe para cima, me lembra constantemente o quanto acredita em mim e confia que sei o que é melhor para mim — apesar de às vezes surtar de preocupação. Mesmo depois que ela foi embora, nada no nosso relacionamento mudou. Nos falamos praticamente todos os dias e ela visita sempre que pode.
Ela conheceu Emmett quando tinha dezesseis anos e está com ele até hoje, oito anos depois. Estão casados há quatro e agora vivem na Califórnia, onde estão construindo sua vida juntos. Vida que eu espero não atrapalhar ao me infiltrar na casa deles.
Eu os amo e aprecio demais o fato de apoiarem minha decisão e me receberem de braços abertos, mas tenho planos de encontrar e seguir meu próprio rumo. Arrepios me percorrem a espinha quando penso nisso, já que em tantos momentos me sinto completamente perdida, mas se tem algo que aprendi é que nenhuma resposta ou solução cai do céu no colo de quem está sentado esperando. É preciso tentar, arriscar, experimentar, buscar... por mais aterrorizante que isso seja.
Ninguém disse que seria fácil, não é?
Só espero que não seja tão difícil assim.
— Ok, então vou aproveitar para descansar.
— Você ao menos comeu hoje, Bella?
— Claro. Acabei de jantar — respondo, olhando para o prato à minha frente, do qual mal tirei duas garfadas.
— Humm, ok. Se cuida, Bella, por favor. Dê notícias sempre que puder! Estamos te esperando muito ansiosos.
— Pode deixar, Rose. Obrigada por tudo. Amo você.
— Também amo você.
Sinto um nó na garganta ao encerrar a chamada, e fica ainda mais difícil engolir as próximas duas garfadas de comida que tento colocar no estômago. Respiro fundo e volto para o hotel, tentando olhar o lado positivo das coisas. Depois de oito horas sentada em uma poltrona de ônibus, poderei dormir no conforto de uma cama antes de continuar a viagem. Essa intempérie já não parece tão ruim assim.
Cumprimento o senhor da recepção, sem receber uma resposta e estranhar isso, até olhá-lo melhor e perceber que ele está cochilando em sua cadeira, com os braços cruzados e a cabeça pendendo para a frente. Balanço a cabeça, pensando que deve mesmo ser difícil um senhor na sua idade se manter desperto quando já são quase meia-noite, e sigo meu caminho até o quarto.
Estranho quando enfio a chave na fechadura e percebo que a porta não está trancada. Lembro-me bem de tê-la trancado quando saí. Quero dizer, eu acho que lembro bem... talvez o cansaço já esteja me fazendo confundir as coisas.
No entanto, tenho plena certeza de que não estou imaginando quando entro no quarto e há uma pessoa parada no meio dele. O homem se vira ao me ouvir entrando e a expressão em seu rosto só não está mais confusa do que a minha.
— Mas que porra...? — ele murmura, esperando que eu reaja ou me explique, mas a única coisa que me vem à cabeça é a última coisa que ele provavelmente quer que eu faça.
Eu grito.
Eu grito alto, pedindo socorro, atrapalhando-me com a maçaneta da porta quando tento fugir, o que permite que o cara me alcance e tente me impedir de fazer as duas coisas.
— Ei, ei, ei! Calma, eu não vou te fazer mal! Para de gritar, pelo amor de Deus! — De algum jeito, ele consegue manter a porta fechada e me prende contra ela, segurando meus ombros quando tento lhe atacar com socos. — Ai, garota! De onde você surgiu e por que entrou no meu quarto pra começar a gritar?
Aquilo me faz parar por um segundo. Que merda esse cara está dizendo?
— Seu quarto? Você está louco? Eu que estou hospedada nesse quarto! Quem diabos é você?
— Também quero saber.
Ele solta meus ombros e dá um passo para trás, olhando para a porta quando conseguimos ouvir alguns murmúrios vindos do lado de fora. As pessoas devem ter me ouvido gritar e estão querendo saber o que está acontecendo. Elas não são as únicas.
Abro a boca para cobrar respostas desse cara, mas ele me puxa pelo braço e me desencosta da porta para que possa abri-la. Ao fazer isso, vejo-o gesticular com as mãos para as pessoas curiosas no corredor.
— Está tudo bem. Foi só... uma barata. Perdoem o transtorno, está tudo sob controle agora.
Tento passar por ele para dizer que, na verdade, ele invadiu meu quarto, mas ele me impede mais uma vez e retorna ao quarto, fechando a porta atrás dele.
— Vai me explicar quem é você e o que está fazendo aqui agora? — questiono, cruzando os braços e batendo o pé no chão com a mesma força com que meu coração martela contra o peito.
Observo-o soltar uma lufada de ar pela boca e passar a mão pelos cabelos claros e bagunçados, como se pensar numa resposta fosse difícil demais. Finalmente, ele força um pequeno sorriso e estende a mão para mim.
— Oi, eu sou o Edward. Acabei de chegar nesse hotel depois de dirigir o dia inteiro de Chicago até aqui e esse foi o quarto que o recepcionista me deu. Sua vez.
Alterno olhares entre sua mão estendida e seu rosto, que apesar de ostentar um sorriso torto que me lembra deboche, parece até amigável, mesmo depois de eu tê-lo agredido.
No entanto, sei por experiência que não sou muito boa em julgar as pessoas à primeira vista. Por isso, mantenho a expressão fechada e aperto sua mão por um segundo antes de afastá-la novamente. Todo cuidado é pouco.
— Oi, eu sou a Bella. Cheguei nesse hotel há umas duas horas depois que o ônibus no qual estava viajando quebrou e esse foi o quarto que o recepcionista me deu. Primeiro.
Edward abre mais seu sorriso dessa vez, como se estivesse se divertindo com minha postura de gato acuado tentando ser feroz.
— Bom, acho que temos um problema, então.
Aquela é a gota d'água para mim.
— Argh, sai da minha frente.
Ele não faz objeção quando o empurro para poder sair do quarto. Posso senti-lo me seguir, mas continuo meu caminho até à recepção e dou tapinhas no balcão quando o alcanço, acordando o velhinho com um susto.
— Com licença, senhor. Está acontecendo uma pequena confusão aqui.
O homem de idade esfrega os olhos antes de colocar no rosto os óculos que estavam pendurados em seu pescoço como um colar.
— Ah, você é a moça da barata? Mil desculpas, querida, eu juro que esse lugar foi devidamente dedetizado há poucos meses...
— Não! Não é isso não, senhor — interrompo-o, um tanto chocada por ele já ter ouvido falar sobre o falso incidente com a barata. — Ahm, o senhor aparentemente alugou o quarto que eu estava ocupando para outra pessoa.
— Você não estava lá quando cheguei. — A voz de Edward chega por trás de mim, e eu ergo a mão para mandá-lo se calar.
— Ah, mas isso não é possível — o velhinho retruca.
— Não só é possível, como é verdade, meu chapa. Tenho a chave e tudo. — Edward mostra sua chave e eu faço o mesmo.
O senhor analisa as chaves, nós dois, coça a cabeça e nos olha com o sorriso mais sem graça do mundo.
— Oh, acho que sei o que aconteceu. — Ele balança a cabeça como se tivesse acabado de ouvir uma piada ruim. — Veja bem, a chave reserva do quarto da moça estava à vista e eu pensei que o aposento estivesse vago quando você chegou, rapaz. Peço mil perdões pela confusão.
— Não pode me colocar em outro quarto, então?
— Sinto muito, estamos lotados.
— Argh! Mas eu recebi uma droga de chave e já paguei a porra do pernoite, então não vou a lugar algum.
Viro-me para Edward, incrédula, cheia de vontade de socar a cara cansada dele.
— Está sugerindo então que eu saia?
— Não — diz simplesmente, e estranho o fato de essa ser a sua única resposta, até eu perceber que ele está bocejando. — Estou sugerindo que me deixe dormir no seu quarto. Estou tão cansado que você não faz ideia. Só quero poder descansar por algumas horas antes de pegar a estrada de novo.
— De fato, há um colchão extra embaixo da cama do seu quarto, querida — o senhor se manifesta, e o olhar que lhe lanço faz seu sorriso solícito se desmanchar aos poucos.
— Qual é, Bella! Você também viajou por várias horas e sabe como essa merda cansa. Só quero dormir, por favor. Faz de conta que estamos em um albergue ou algo assim.
Ele boceja mais uma vez e massageia a nuca enquanto aguarda minha resposta. As lágrimas remanescentes de seu bocejo faz com que seus grandes olhos verdes pareçam ainda mais brilhantes, apesar de um pouco avermelhados, e sua expressão quase suplicante faz eu me detestar um pouco por estar prestes a ceder.
— Você dorme no colchão.
— Sim, senhora! — Ele faz um reverência e eu reviro os olhos.
— Tem como você ser um pouco menos babaca? Não estou a fim de aturar isso.
— Ah, poxa, Bella. Não tem um pedido mais fácil não? — Ele coça a cabeça como se realmente estivesse em um impasse. Reviro os olhos mais uma vez e ele ri. — Vamos para nossos aposentos, querida. Boa noite, senhor — ele se despede do velhinho e passa o braço por meu ombro quando nos dirigimos de volta ao quarto. Desvencilho-me dele, fazendo-o rir ainda mais, e me pergunto no que diabos eu acabei de me meter.
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— Você está esperando pelo momento em que eu vou tirar alguma faca daqui de dentro e te atacar, não é?
Se não fosse loucura, eu diria que Edward pode ler mentes.
Não consigo evitar de segui-lo com o olhar a cada movimento que faz. Observei-o quando retirou os tênis, colocou-os em um canto e em seguida, jogou sua jaqueta em uma cadeira que há perto do criado mudo ao lado da cama. Espiei conforme ele pegava sua mochila e buscava coisas dentro dela. Até agora, estão sobre a cama uma toalha, escova e pasta de dentes. Ele parou de cutucar seus pertences quando percebeu meu olhar sobre ele, encolhida contra a cabeceira da cama.
— Não pode me culpar por estar desconfiada. Eu não te conheço.
— Eu também não te conheço, e não estou pensando que você é alguma assassina aleatória que inventou de cruzar o meu caminho hoje.
Seu argumento me faz apertar os lábios, tanto para não contra-argumentar diante de seu tom de voz ofendido quanto para não rir de sua sentença.
Quando ele encontra um sabonete, joga sobre a cama junto das outras coisas e fecha a mochila antes de colocar as mãos na cintura e me olhar bem sério.
— Eu sou inofensivo, Bella. Juro. Eu só quero dormir.
— Isso é exatamente o que uma pessoa perigosa diria.
Edward balança a cabeça e ri mais uma vez. Tenho vontade de perguntar se de repente surgiu um nariz de palhaço permanente na minha cara sem que eu tenha percebido.
— Vou te dar crédito e dizer que, por um lado, é bom que você precavida. Não dá para confiar em qualquer pessoa estranha hoje em dia, mesmo. Mas eu juro que só quero descansar esta noite e amanhã cedo, muito cedo, vou dar o fora daqui. Sem levar nada seu e te deixando vivinha da Silva aí pra você também seguir a sua viagem. Ok? Palavra de escoteiro.
Ele faz o sinal de escoteiro e depois estende o punho para mim, em uma oferta camarada de paz. Assim como quando ele estendeu a mão para se apresentar, fico olhando para seu rosto e seu punho e, dessa vez, ele move as sobrancelhas incentivando-me a lhe dar um voto de confiança, assim como ele também está me dando.
— Ok — digo simplesmente, batendo meu punho no dele. Dessa vez, não consigo conter a risada quando ele abre a mão e faz um barulho de explosão para completar nosso cumprimento, antes de pegar suas coisas e ir para o banheiro.
Fico parada por alguns instantes, respirando fundo e tentando não pensar demais. Ficar presa nas minhas próprias paranoias é a última coisa de que preciso agora, então aproveito que ouço o chuveiro ligado e procuro meu pijama na mala para me trocar antes que Edward retorne. Quando estou pronta, prendo meus cabelos compridos em um rabo de cavalo um pouco desajeitado, puxo o colchão de baixo da cama e o posiciono entre ela e a parede. Não há tanto espaço assim no quarto, e acaba sendo o melhor lugar para colocar a cama improvisada do meu colega de quarto inesperado.
Estou terminando de retirar o colcha da cama para jogá-la no colchão quando a porta do banheiro se abre e Edward sai de lá, com a toalha enrolada na cintura... e apenas isso.
Tento não deixar transparecer minha surpresa e viro o rosto antes que ele flagre meus olhos arregalados. Não é como se eu nunca tivesse visto o torso nu de um homem antes, mas fui pega completamente desprevenida. Principalmente porque eu não imaginava que aquelas roupas amarrotadas de quem viajou por muitas horas guardavam um corpo tão... tão...
— Bella?
Pisco algumas vezes quando o ouço chamar meu nome e estalar os dedos diante do meu rosto.
— Hummm... o quê?
— Você está pisando na minha mochila, e eu meio que preciso dela agora.
Quase dou um salto ao perceber que ele está se aproximando e inclinando-se para pegar sua mochila, cuja alça está presa no meu pé.
— Desculpe — balbucio, afastando-me e liberando a mochila. Ele a pega e me olha, sorrindo de canto como quando conseguiu me fazer parar de gritar depois de encontrá-lo aqui.
Dou a volta na cama e coloco o edredom sobre o colchão, um tanto incerta sobre o que fazer em seguida. Balanço-me de uma perna para outra, tentando sem sucesso algum não encarar Edward enquanto ele mexe em suas coisas. Seus cabelos cheios e rebeldes estão úmidos, parecendo um pouco mais escuros que o tom real, e gotas de água escorrem contínua e lentamente por seu pescoço, percorrendo o peito esculpido e o abdômen definido de quem provavelmente só malha por querer seguir um estilo de vida saudável o suficiente para não morrer do coração antes dos quarenta. Sua pele fresca do banho parece estar macia, cheirosa, e me pego imaginando como seria senti-la de perto. Bem de perto.
Para meu azar, ele me pega imaginando isso também. Tomara que a minha teoria sobre ele ler mentes esteja errada.
— Valeu — ele diz, apontando para seu colchão devidamente coberto com o edredom. Dou de ombros e, quando dou alguns passos a fim de voltar para o outro lado da cama e permitir que ele vá para seu colchão, paro com a respiração presa na garganta quando ele puxa a toalha de seu corpo.
Meu arquejo foi alto demais, tenho certeza disso. Como tenho certeza disso? Porque Edward está passando a toalha nos cabelos despreocupadamente enquanto fica parado diante de mim com sua expressão debochada já tão típica e olha para sua inocente samba-canção cinza.
O cara não estava brincando quando disse que era para ele difícil não ser um babaca.
Pigarreio ao me recompor e afasto-me dele, agradecendo silenciosamente por chegar à cama sem tropeçar nos meus próprios pés.
— Tudo bem aí? — ele pergunta, sem esconder a diversão na voz, ao pendurar a toalha em um cabide ali perto.
— Claro. P-por que não estaria? Quero dizer... sim, está tudo bem, tudo ótimo, na verdade.
Muito convincente, Bella. Nossa, parabéns.
Ele vira de costas para posicionar sua mochila em um canto, mas posso ver seus ombros chacoalhando e ouvir sua risada baixinha.
— Você é engraçada — diz, começando a se aconchegar no colchão. — É uma pena que você esteja com medo de mim e não possamos ser amigos.
— Ei, eu não... argh...
— Tudo bem, roomie. Vou recolher toda a minha periculosidade agora e dar uma boa dormida antes de voltar a pegar a estrada amanhã. Ainda há um longo caminho daqui até Los Angeles.
Minhas mãos praticamente congelam no lugar quando estou puxando o lençol sobre mim e ele diz isso. É meio louco, mas é quase como um estalo na minha mente ouvi-lo dizer que está indo para o mesmo destino que eu.
Destino...
Hum.
E ele vai sair amanhã cedo. Bem, bem antes que a droga da geringonça na qual inventei de embarcar. Provavelmente chegará lá bem antes do que eu chegaria caso o ônibus nem tivesse dado problema.
— Você está indo para Los Angeles?
— Sim.
— Eu também.
Ele não diz nada imediatamente em seguida, mas mesmo assim, meu coração acelera diante da possibilidade de ele dizer o que eu acho que ele talvez vá dizer.
— Legal.
Argh, não era isso.
É uma ideia louca. Quero dizer, ele é um desconhecido, pelo amor de Deus! Não sei nada sobre esse cara, além do seu nome e do fato de ele provavelmente ser a pessoa mais fácil de fazer rir que já conheci na vida. Seriam pelo menos umas vinte horas de estrada com ele, sem contar as eventuais paradas. Mas seriam vinte horas de estrada que começariam mais cedo e me levariam até Rosalie com mais rapidez.
Seriam vinte horas de estrada em uma viagem que representaria a primeira coisa louca e pouco pensada que eu faria na vida. Arriscada, sim, mas Edward já me garantiu que é do bem. E ele realmente parece ser do bem. Claro que prefiro confiar desconfiando, mas ah, a ideia de fazer isso está me enchendo de uma adrenalina que me faz rolar na cama e pairar na beirada para conferir se ele já pegou no sono.
Ele se remexe um pouco no colchão e acho que consegue me sentir observando-o, já que suas sobrancelhas se franzem um pouco antes de ele abrir os olhos.
— Caralho, garota! Que susto! — Ele agarra o travesseiro como se eu estivesse prestes a fazer algo contra ele. — Por que você está aí dando uma de voyeur?
— Você pode me dar uma carona até Los Angeles? — mando na lata, de uma vez, antes que minha súbita coragem evapore.
Edward me olha por alguns segundos, estreitando os olhos como se estivesse tentando esconder sua surpresa ao ouvir meu pedido.
— Eu ia oferecer isso quando você disse que também está indo para lá, mas não achei que fosse querer viajar com um desconhecido e psicopata em potencial.
— Argh, para com isso, Edward! — Empurro seu ombro e sento na cama, ficando impaciente. — Esse argumento já está velho. E irritante! E olha, é o mínimo que você pode fazer pra retribuir minha gentileza e bondade em te deixar dormir aqui hoje.
Ele dá uma risada com vontade dessa vez.
— Por gentileza e bondade você quer dizer livre e espontânea pressão, não é?
Ele também se senta, e o divertimento genuíno em sua expressão me faz rir um pouco também.
— Olha, eu estou falando sério. O ônibus no qual estou viajando só vai ficar pronto amanhã à tarde, e isso vai me fazer demorar ainda mais a chegar lá. Vai, o que você me diz? — quico no lugar, sentindo-me cada vez mais animada com essa ideia. Animada e assustada, mas eu estou sempre assustada, então dane-se. — Eu posso te ajudar a dirigir, posso ajudar com o custo do combustível... Se sairmos amanhã cedo, chegaremos lá antes do ônibus, não é?
— Chegaremos na sexta cedinho, se seguirmos o meu itinerário.
Meu sorriso é enorme quando o ouço dizer "chegaremos". Ai, não consigo respirar.
— Perfeito! — exclamo em um tom de voz esganiçado que nem eu mesma sabia que seria capaz de reproduzir.
— Meu itinerário consiste em paradas para dormir de cinco horas, no máximo. Uma delas é esta aqui, e a próxima será em Richfield, Utah.
— Tudo bem por mim.
— E eu escolho a música.
— Ótimo!
— Veremos. — Ignoro sua insinuação e aperto a mão que ele estende. — Bem-vinda a bordo, Isabella Swan.
— Como você sabe o meu nome completo?
— Está escrito na sua mala. — Ele aponta para minha bagagem que está peto de sua mochila. Ele deve ter visto ao guardá-la lá. — Agora, por tudo que é sagrado, vamos dormir porque estou falando sério quando o digo que sairei muito cedo.
— Sairemos.
— Exatamente. Boa noite.
— Boa noite, Edward...
— Cullen.
— Boa noite, Edward Cullen.
N/A: Pulos, gritos, saltos e pompons! Tô bem feliz por estar aqui de novo. Espero que ainda tenha alguém por aí que me lê! Hahahah
As próximas partes serão postadas logo! Me contem nas reviews o que estão achando :3
Beijos e até o próximo!
