Lápis-Lazúli
"Eu queria que você soubesse que adoro o jeito que você sorri, eu quero te abraçar forte e levar sua dor para bem longe. Há muito a aprender, não resta ninguém para lutar e eu não sinto que sou forte o bastante."
Para o Concurso NaruSaku da Pink Ringo.
Disclaimer:Não é meu, se fosse, a Hinata não seria apaixonada pelo Naruto e a Sakura teria um pouco mais de amor próprio.
Lápis-Lazúli
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"Eu queria que você soubesse que amo o jeito que você ri
Eu quero te abraçar forte e roubar toda a sua dor
Eu guardo sua fotografia, eu sei que isso me faz bem
Eu quero te abraçar forte e roubar a sua dor"
(Broken – Seether ft. Amy Lee)
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Tudo sangrava, o chão, os corpos; o céu chorava lágrimas rubras. Estavam banhados de sangue, dos outros e os seu próprio. Acima de suas cabeças os urubus dançavam contentes pelo banquete oferecido. Bichos nojentos e desprezíveis.
O grasnar das aves sequer conseguiam atravessar a barreira que seu coração, pulsando dolorosamente dentro do peito, erguia sobre seus ouvidos. O silêncio da morte era desesperador, a visão e a certeza de que muitos amigos e entes queridos estavam estirados como inúteis pedaços de carne no campo de batalha faziam-na se perguntar do porquê de ainda estar viva.
A lágrima escorria de seus olhos inicialmente cristalinas e eram corrompidas ao longo do caminho pela sua pele suja de sangue seco, chegando ao queixo carmesim e respingando no corpo cada vez mais pálido abaixo de si.
Desciam violentamente, mas mesmo que sorvesse-as numa quantidade que lhe embaçasse a visão, não importava. As mãos trabalhavam desesperadamente na massagem cardíaca, alternando com o uso do chakra e a respiração boca a boca. E, mesmo assim, não surtia efeito.
- Sakura! – O grito angustiado estilhaçou o silêncio em milhões de partículas menores, o ouvido pareceu protestar. – Pare!
Mesmo que as palavras lhe chegassem ao cérebro, sequer eram processadas, de tão absorta na tarefa.
- Pare com isso imediatamente! Ele está morto, e você está se matando! – O dono dos gritos se aproximava, a voz, gradativamente, ia aumentando de volume. Ela o ignorou.
- Sakura! – Mãos colocaram-se em seus ombros e a puxaram para trás, repudiando o gesto a rosada o afastou bruscamente.
- Não! – Gritou, estranhando a própria aspereza da voz. – Ele não está morto!
Massagem cardíaca. Um. Dois. Três.
- NARUTO, SEU IDIOTA! – As lágrimas acompanhavam o ritmo. Um. Dois. Três. – VOCÊ NÃO VAI ME DEIXAR TAMBÉM! ACORDE, ACORDE!
Respiração boca a boca. Chakra. Os braços trabalhando freneticamente.
- DE ALGUMA COISA ESSE DEMÔNIO TEM QUE SERVIR, FAÇA A MERDA DESSE CORAÇÃO VOLTAR A BATER!
- Sakura...
- CALE-SE, SHIKAMARU!
Desespero, dor, angústia. Estava cega por esses sentimentos, de tudo que bombardeava-lhe a mente a única coisa coerente que conseguia raciocinar era que não podia parar, que o loiro não morreria.
- Naruto-kun, por favor, não me deixe. – O dorso do loiro estava manchado. Das lágrimas dela, do sangue de todos. – Eu... eu prometo que se você voltar eu vou parar de te bater a cada idiotice que disser e... e que se quiser comer lámen nas suas cinco refeições diárias e também na sobremesa, eu faço! Mas acorde! Volte pra mim... Volta...
Pressionou com um pouco mais de força, utilizando chakra na massagem cardíaca. Um. Dois. Três.
Um. Dois. Três.
Tum...
Um. Dois. Três.
Tum, Tum...
Um. Dois.
Tum, Tum, Tum, Tum...
Era fraco, tão fraco que seus dedos quase não o sentiram, o que poderia ser fatal e matá-lo de vez. Fez a respiração boca a boca apenas mais uma vez para certificar-se que o silvo de ar entrava pela boca entreaberta.
As lágrimas continuaram sendo sorvidas de maneira desesperada, mas um pequeno esgar de lábios contrastava com a visão. Ele tinha voltado, seu Naruto tinha voltado. Pensar na possibilidade de ouvir aquela voz alta e irritante quase a tinham matado, ele não podia morrer. Ele estava lá, ele sempre estava lá.
Parando para olhar o loiro que agora parecia apenas dormindo, sorriu tranqüila. O cansaço se abatendo sobre seu corpo completamente exaurido. Olhou para Shikamaru vitoriosa, o moreno – tão abatido, ferido e desgraçado quanto todos eles – apenas sorriu.
E esse sorriso foi a ultima coisa que viu antes de desmaiar.
A boca estava com um gosto ruim, aquela sensação pastosa de quando se dorme por muito tempo. Provavelmente se tivesse algo no estomago já teria botado-o para fora, e ainda sequer havia aberto os olhos.
- Sakura-chan?
Não conseguiu distinguir a voz que lhe chamava, mas alguma coisa dizia que era familiar. Sem a mínima vontade de abrir os olhos resmungou alguma coisa.
- Vamos, Testuda, acorda, precisamos de você!
Ah, era Ino. O que será que aquela porca queria agora? Estava tão bom dormir, apesar do intenso calor e de sentir a roupa úmida, o corpo estava tão cansado, que em qualquer situação poder recostar-se era bom.
A rosada resmungou alguma coisa, certamente meia dúzia de xingamentos, coisa que a loira ignorou, sabendo que teria que apelar para conseguir tirá-la fora dessa cama.
- Sakura, tem três dias que você está dormindo. Não quer saber como está Naruto?
Num solavanco a rósea se colocou sentada, fazendo uma careta de dor e caindo deitada novamente, mas dessa vez com os olhos abertos. Virou para olhar a amiga com expressão abatida.
- Como está o Naruto? – A pergunta veio naturalmente, saindo de seus lábios como se não fossem nada além de ar.
-Está estável, mas ele não acorda. É como se tivesse entrado numa espécie de coma, o que é estranho porque... não tem mais nenhum arranhão nele.
Sakura murmurou concordando, dessa vez parando para observar o cômodo. Era branco, como um quarto de hospital, mas os móveis não pareciam ser o que adornavam um.
- Onde estamos?
- Na ala pessoal da Tsunade – Ino suspirou. – Metade do prédio foi destruído e a outra parte está comprometida. Os shinobis restantes estão trabalhando para concertar, essa foi a parte que ficou pronta primeiro. Trouxemos tudo que conseguimos recuperar dos equipamentos para cá, e os pacientes em estado mais grave, e você, é claro. Com os níveis de chakra praticamente zero, qualquer infecção que você pegasse, morreria.
- Eu precisava salvá-lo, Ino. – A voz estava pastosa, soando estranha até aos próprios ouvidos. A loira suspirou resignada.
- É esse o problema, Testuda, você sempre precisa salvar todo mundo. Só queria saber quem irá salvá-la de si mesma e a sua irresponsabilidade. Mais dois minutos daquele jeito e você teria morrido.
- Está tudo bem, Ino. Me deixe descansar, por favor.
- Vou pedir para alguém trazer algo para você comer, ok? – A loira perguntou, com um sorriso miúdo nos lábios. – E... – ficou pensativa. – Melhor você descansar, depois conversamos mais.
- Claro.
Aquele era o tipo de lugar que jamais deveria estar cheio e seria engraçado se não fosse trágico o fato de ser o único recanto de Konoha por onde a guerra não havia passado nem perto.
O cemitério era um lugar frio, grande e assustador. Passar por entre as lápides procurando uma em especial parecia tortura, observar outra dezena de pessoas fazendo o mesmo, também. Alguns choravam ajoelhados na terra, outros ofertavam flores e faziam orações, mas todos, sem exceção – assim como Ino lhe dissera – haviam tirado o dia para chorar e sofrer, pois depois dali havia muito trabalho a ser feito.
Era por isso que tinha ido lá, primeiramente. Antes conversara com Ino sobre as grandes perdas, os amigos que não haviam sobrevivido. Eram tantos... Lee, Gai-sensei, Kakashi-sensei, Iruka, Shino, Kiba, Tsunade e, até mesmo, a doce Hinata. Sem contar, é claro, Sasuke, que tivera sua ultima batalha ao lado daqueles que haviam dando o sangue para trazê-lo de volta.
Não parecia justo.
Jamais seria justo.
Depois passara pelo quarto de Naruto, ficara horas admirando-o, vendo como a cor azeitonada de sua pele havia retornado. Parecia tão bem e descansado, que poderia levantar a qualquer instante. Mas ele já estava daquele jeito à uma semana e nada havia mudado, sequer havia algo que pudesse fazer.
Com passos vagarosos, passou por todos os túmulos de conhecidos, deixando encima deles uma pequena rosa branca e uma prece. Prestou uma homenagem maior à Tsunade-shishou, mas apenas estagnou ao parar na frente do túmulo do Uchiha.
O mármore negro característico e o emblema logo acima deixavam a imagem do moreno austera até mesmo depois de morto. Parecia ter demandado muito tempo a construção daquela lápide, e sorriu ao ver o cuidado que todos ali tiveram para com seus entes queridos.
Mesmo que Sasuke fosse considerado um traidor, se não fosse por ele talvez ninguém estivesse realmente ali. Por isso, dissera-lhe Ino, haviam cuidado da lápide dele como se ele jamais tivesse ido.
Sentara-se em silêncio, as lágrimas emudecidas desenhando seu rosto. Absorta em seus pensamentos não viu o tempo passar e mudar. O céu já estava nublado há dias, o cheiro de chuva era carregado pelo vento, mesmo que ela não se fizesse presente.
Sentiu as primeiras gotas no topo da cabeça, levantou o rosto e fechou os olhos, deixando que a água da chuva levasse consigo toda a dor e sujeira. Chorou até as lágrimas acabarem, até a dor resignar e se tornar um profundo e latente pulsar dentro do peito, passou a mão pelo mármore, como uma carícia de despedida e sentiu uma mão pesar em seu ombro.
- Eu realmente o amei... – Sussurrou num lamento, enquanto virava o rosto em direção ao desconhecido que se solicitara. – O que está fazendo aqui?
O loiro sorriu miúdo, os cabelos sempre num loiro vibrante estava escuro e caído pelo rosto, os olhos azuis escurecidos e baixos, a expressão amarga de quem havia sofrido e visto muita coisa durante uma guerra.
- Acordei me sentindo agoniado, e sabia que te encontraria aqui. Então fugi e vim te buscar.
Sakura sorriu sem chegar aos olhos, ficando em pé e se aproximando do loiro sem a habitual roupa laranja, apenas a camiseta com o símbolo Uzumaki e uma calça preta. Sem pensar duas vezes aproximou-se e levantou o rosto para encará-lo nos olhos, enfiou as mãos miúdas em seus cabelos tão encharcados quanto os próprios e suspirou.
- Achei que fosse te perder também.
Ele sorriu, aquele sorriso dele mesmo, escancarado, jovem e despreocupado. Aproximou o rosto do dela, colando os lábios em sua testa e murmurando sob sua pele fria:
- Eu sempre estarei aqui por você, Sakura-chan.
E colocou-a entre seus braços, apertando forte, sendo correspondido na mesma intensidade.
- Eu fiquei com tanto medo, tanto medo de te perder!
- Shh... Eu estou aqui, está tudo bem 'ttebayo. – As mãos faziam movimentos circulares nas costas dela, os lábios agora estavam em seus cabelos, o nariz deliciava-se com o cheiro impregnado neles, mais fortes por causa da chuva.
- Eu... Naruto-kun, olhe pra mim! – Ela afastou-se o rosto do loiro, mas não saiu do enlace de seus braços. Ele olhou, a expressão meio séria, meio feliz. – Eu amo você, Naruto. Não sei como, o porquê. Só tenho certeza que é completamente diferente do que senti pelo Sasuke, é mais tranqüilo, é como... estar em casa. – Ela sorriu, com o raciocínio. – Acho que é por isso que me senti tão desesperada quando te vi caído naquele chão, se eu te perdesse, Naruto-kun, seria como se eu não tivesse uma casa para voltar.
Ambos estavam meio corados, o loiro sorria bobamente, sem realmente ter certeza se aquilo estava acontecendo.
- E... Pare de me olhar assim, SEU IDIOTA! - Sakura gritou, dando-lhe um forte cascudo na cabeça.
É, era real.
- Doeu, Sakura-chan. – Resmungou, fazendo um biquinho. Sakura riu, passando a mão levemente no lugar que tinha acertado.
- Desculpe. É que...
- Eu também te amo, Sakura-chan. – A rosada corou pela declaração súbita. – Mas acho que você sempre soube disso.
Nisso tomou seus lábios com os dela, os próprios quentes contra a pele fria da garota em seus braços. Não deu tempo para ela recusar, sequer foi muito além do que aquele simples gesto. Não era desesperado, voraz e sequer faminto. Era só um beijo, tímido e carinhoso. Sem línguas brigando por espaço, apenas os lábios.
Ela o afastou um pouco, tomando fôlego.
- Eu nunca achei que você realmente me amasse, eu sempre te tratei tão mal.
Ele sorriu, e balançou a cabeça negativamente.
- Ele também. – Indicou a lápide. Ela pareceu pensativa.
- É habito do amor ser tão masoquista?
- Eu nunca vou te fazer sofrer. – Ele sorriu, ela sorriu, as testas se uniram e as esmeraldas cruzaram com aquelas grandes e azuis pedras de lápis-lazúli.
- Será que ele aprova? – Perguntou num sussurro, como se o que fizesse fosse proibido.
- Se ele não puxar nossos pés durante a noite, está tudo bem. Eu acho. – Ele respondeu da mesma maneira, fazendo cara de quem vai aprontar algo.
- Idiota...
Rindo, Sakura o abraçou, deu-lhe um selinho e voltou para olhá-lo. Com a mão ao redor da sua cintura , começaram a fazer o caminho para fora do cemitério. Era bom e diferente. Naruto sempre estivera ali, e por isso jamais parara para pensar no que faria caso o perdesse.
Mas aquele dia fizera com que chegasse numa conclusão incômoda, que o amava. Era um antigo bordão que sua mãe lhe dizia: quando você não sabe o que está sentindo, você está amando. E, bom, perto do loiro ela nunca sabia o que sentir.
- A Ino vai te matar... – sussurrou, alheia.
- Você não vai deixar ela fazer isso, não é, Sakura-chan?
Um sorriso travesso brincou em seus lábios.
- Talvez.
Voltaram a caminhar em silêncio e, ao cruzar os portões da cidade pararam, sem saber em que direção seguir.
- Para onde nós vamos?
- Para casa.
- Mas eu já estou em casa.
Ambos sorriram cúmplices e se colocaram no caminho do apartamento do loiro. Ainda não sabia o que estava sentindo, e estava tudo bem assim. Porque quando não se sabe o que se está sentindo, se está amando.
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"O pior já passou e nós podemos respirar de novo
Eu quero te abraçar bem forte, você tira a minha dor
Há muita coisa deixada de aprender, e ninguém contra quem lutar
Eu quero te abraçar bem forte e roubar sua dor"
(Broken – Seether ft. Amy Lee)
Fim.
Yoo minna!
Gente, hoje era o último dia e eu nem sabia. Podia jurar que era ontem, mas pelo menos cá estou, com uma one-shot que vinha martelando na minha cabeça desde o começo do ano. Tudo que faltava era coragem e inspiração para escrever. O interessante é que tudo saiu praticamente diferente do que eu tinha imaginado no começo.
Verdade, não se parece com nada na história inicial, a única coisa que manteve foi a música, que eu amo de paixão e acho praticamente tudo a ver com o casal!
Então, primeira fic minha NaruSaku, eu acho muito fofo esse shipper, na verdade, eu gosto de qualquer shipper. Podia ter feito algo mais fluffly, mas eles combinam com o universo real do anime queria algo mais impactante do que qualquer história bobinha.
Quanto ao nome, Lápis-Lazúli, a pedra azul mais linda que existe e da cor dos olhos do meu Naruto-kun. Quem conhece Pedra Granada já sabe que gosto de fazer essas associações. RS
Enfim, sei que vocês não perguntaram, mas eu fui muito bem o ENEM, acertei cerca de 70% da prova, e acredito que já posso arrumar minha mala e ir pra capital fazer minha faculdade! :D
Agora, quero saber o que acharam. Não está betado porque, bom, terminei tem 20 minutos e não podia deixar pra amanhã.
Lembrem-se: Reviews previnem a morte prematura de uma ficwritter.
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Beeijos.
