CAPITULO I


Teteru andava de um lado para o outro, o medo estava estampado em sua face. Ele podia escutar os gritos de sua esposa, que vinha de dentro do quarto. Mesmo agora, vários meses depois de receber a notícia, Teteru ainda não conseguia entender como sua esposa poderia ter engravidado outra vez. Após o difícil parto de sua quarta filha, que tinha piorado a delicada saúde de Iraha, os dois decidiram que não poderiam arriscar uma quinta criança. Iraha começou a beber um chá de ervas especial, que a impediria de conceber qualquer criança. Além disso, a saúde precária de sua esposa, tornou muito difícil que ambos tivessem esse tipo de intimidade. Foram poucas vezes, desde o nascido de sua pequena Nike, há quase dois anos, que ele tinha tocado em sua esposa como um marido.

E, ainda assim… mesmo depois de tantos cuidados… Iraha tinha engravido outra vez. Agora, nove meses depois, ela estava dando à luz a sua quinta criança e Teteru temia, mais do que qualquer coisa, que ela não fosse capaz de sobreviver dessa vez.

Depois do que pareciam ter sido horas de espera torturante, os gritos de Iraha sessaram, dando lugar ao choro de um bebê. Teteru queria correr… ele queria invadir aquele quarto e ver se sua esposa estava bem, mas forçou-se a ficar quieto onde estava. Ele sabia melhor do que interromper a parteira no meio de seu trabalho. Foram mais um par de minutos, antes da porta se abrir e a velha parteira, Nana, saísse.

– Nana! Como ela está?! – Indagou, no momento em que a parteira fechou a porta.

Nana soltou um suspiro cansado, mas sorriu.

– Iraha-sama está bem. De alguma forma, sua saúde não parece ter sido afetada. Ela está cansada, mas isso é de se esperar. Você pode entrar.

Teteru conseguiu respirar mais facilmente, antes de sorrir agradecido e entrar no quarto. A cena que o cumprimentou, fez com que um imenso sorriso se espalhasse em seus lábios. Sentada na cama, com a pele ainda brilhando pelo suor e os cabelos acobreados bagunçados, estava sua amada Iraha. Em seus braços, um pequeno embrulho de cobertores brancos.

Iraha ergueu os olhos verdes, que brilhavam com uma misto de emoções, enquanto um sorriso carinhoso se espalhou por seu rosto.

– É uma menina. Venha vê-la. É tão linda.

Teteru sorriu, indo se sentar ao lado de Iraha, que lhe entregou o pequeno embrulho. Assim que viu o bebê, o duque não pode deixar de se surpreender.

Ele tinha tido quatro filhas antes. Todas eram lindas, mas essa… ela estava em um nível muito diferente. Diferente de suas filhas, que tinham herdado ou o cabelo acobreado de sua esposa, ou o seu próprio cabelo castanho cinzento, essa tinha o exótico cabelo de sua falecida mãe. Era o mesmo tom de prata suave. E os olhos… eram verdes, mas não era o mesmo tom de verde de suas outras filhas ou o de sua esposa. Era muito mais intenso e brilhante… ele nunca tinha visto um verde tão bonito. Teteru sabia, mesmo nesse momento, que aquela bebezinha se tornaria a mais bela princesa de todo o Ducado da Chuva.

– Sion. – Sussurrou Iraha, atraindo sua atenção. – O nome dela será Sion.

Teteru sorriu.

Sion era o nome de uma flor rara do Ducado da Chuva. Segundo as lendas, a flor desabrocharia em qualquer lugar do Ducado, mas isso apenas aconteceria de uma invocadora de chuva cantasse. Não apenas uma invocadora comum, mas alguém que teria uma sincronia perfeita com todos os elementos naturais. Era apenas uma lenda, mas o nome 'Sion', era perfeito para sua mais nova princesinha.


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15 anos depois…


Sion estava cantarolando baixo sentada na sacada de seu quarto, enquanto observava a chuva cair. Naquela paz, ela não conseguia deixar de pensar em como sua vida poderia mudar tanto.

Em um momento, ela era 'Harriet Lily Potter', a Menina-Que-Sobreviveu. Destinada a combater o mais perigoso e cruel Lorde das Trevas de toda a história. A guerra tinha sido cruel. Ela tinha perdido todos que amava, mas no final, ela tinha saído vitoriosa. E para quê? Apenas para ser traída por seus dois supostos melhores amigos, cinco anos depois da guerra. Tinha sido a pior traição. Ron e Hermione a tinham matado, enquanto ela estava dormindo. É claro que os tolos não sabiam que era impossível matar a Mestra da Morte. Oh, aquela lenda idiota era verdadeira. O Mestre da Morte não pode ser morto, não de verdade. Enquanto o corpo físico pode morrer, a essência (a alma, o conhecimento e poder) não podem morrer. Então, quando o corpo físico de seu mestre morre, a Morte toma a essência e a fazia renascer em um novo corpo… uma nova vida.

Ela tinha renascido como a quinta filha do Duque da Chuva, em um mundo completamente diferente. Não havia magia, mas ela tinha nascido em uma família que tinha um poder especial. Evocar a chuva por meio de sua voz. Oh, mas é claro que ela não poderia ser apenas como o resto de sua família. Ela tinha se ser algo mais. Ela precisava ser especial. Sion não podia apenas evocar a chuva, mas ela estava em completa sincronia com a natureza a sua volta, o que não fazia apenas com que as lendárias flores Sion surgirem, mas também lhe permitia controlar todos os sete elementos: água, terra, fogo, ar, relâmpago, luz e trevas.

Porém, mesmo com isso, Sion não podia ser mais feliz.

Ela tinha uma família!

Um pai bobo, que chorava quando ignorado. Uma mãe amável, que tinha lhe ensinado a cantar. Quatro irmãs mais velhas, que adoravam brincar de vesti-la. E uma avó… Sion não gostava muito dela. Tohara era uma mulher severa, que sempre evidenciava sua preferência por sua irmã, Nike. Apesar de que não era por isso que Sion não gostava dela. Tohara tinha a mesma política de Dumbledore: 'Tudo pelo bem maior' e 'os fins justificam os meios'. Sua avó estava pronta para fazer qualquer e sacrificar qualquer um, apenas por um objetivo. E isso era algo que Sion não suportava.

Oh, Sion tinha visto o olhar de medo e receio, escondido pela máscara de indiferença que Tohara usava, quando ela controlou os elementos pela primeira vez. Sua avó a via como uma ameaça silenciosa, algo que poderia ser um perigo para seu pequeno país.

O vento tremulou ao seu redor, sussurrando em seus ouvidos.

–Eu sei que está aí, Kaachan. – Falou, sem precisar se virar para ver sua mãe.

Iraha sorriu, saindo de seu pequeno esconderijo.

Ela nunca conseguia surpreender sua filha mais nova.

– Seu pai quer falar com você e suas irmãs. Ele está na sala.

– Aconteceu alguma coisa? – Era raro Teteru fazer uma 'convocação'. Sion sabia que sua avó tinha saído há alguns dias, e deixado ordens para que seu genro cuidasse de tudo, mas não tomasse nenhuma decisão tola.

– Parece que recebemos uma carta do Rei do Sol. Seu pai parecia um pouco preocupado com isso.

Sion estreitou os olhos por um momento.

Os boatos sobre o Rei do Sol eram variados, mas havia uma coisa que todos tinham em comum: que o rei era um homem de coração frio e escuro, que não perdoava aqueles que o desafiavam. Ela nunca tinha sido alguém que acreditava em boatos, mas isso não significava que ela não era capaz de formar suas próprias opiniões, usando os poucos fatos comprovador que tinha disponível. Em apenas três anos, desde sua coroação, o Rei do Sol tinha dominado todos os países, tornando-se o 'Rei do Mundo'.

Sion não era ingênua. Sua outra vida tinha lhe ensinado algumas coisas. Para alguém conseguir, em tão pouco tempo, dominar inúmeros países e nações inteiras, subjugando exércitos e reinos… Sion tinha certeza de que o Rei do Sol não era alguém que deveria ser provocado levianamente.

Chegando na sala, Sion se sentou ao lado de Nia, que era a Segunda Princesa do Ducado da Chuva, enquanto sua mãe tomava seu lugar ao lado de seu pai. Em silêncio, ela observou como seu pai parecia um pouco incerto. Seja lá o qual fosse o conteúdo da carta enviada pelo rei, era algo sério.

– Recebi uma carta do Rei do Sol. Ele disse que está disposto a permitir que o Ducado da Chuva continue como uma nação autônoma. – Explicou Teteru, encarando suas filhas. Isso não seria fácil para ele.

Internamente, Sion se sentiu aliviada ao escutar aquelas palavras. Com a determinação do Rei do Sol em subjugar todas as nações, pequenas e grandes, ela tinha temido pelo pequeno país em que vivia. Não havia muito no Ducado na Chuva. Eles eram pobres em comparação a outros países, sendo que a única coisa que tinham de diferente, era a chuva. Mesmo assim, ela tinha temido que a ganancia do dito rei poderia ser grande o suficiente para não poupar nem mesmo um país tão pequeno e pobre. Então, saber que seu pequeno país seria deixado em paz, era um alívio. Contudo… Sion podia ver a preocupação no rosto de seu pai. O fato de que o Ducado da Chuva seria poupado, não parecia vir sem algumas consequências.

– Mas em troca da autonomia, ele exigiu que mandássemos nossa princesa 'mais bonita', para se casar com ele.

E lá estava.

Sion franziu os lábios ao escutar aquilo.

Por que o Rei do Mundo, alguém que poderia ter qualquer mulher que quisesse, decidiria que queria fazer uma princesa de um país pequeno e sem qualquer tipo de riqueza prospera? Isso não fazia sentido.

– Ara, que sorte sua Sion! – Exclamou Mira, abraçando a irmã mais nova, fazendo com que ela se virasse para encarar as suas irmãs. Todas, com exceção de Nike, que parecia muito confusa, estavam lhe enviando sorrisos maliciosos. – Você é a mais bonita de nós e, como o Rei do Sol quer a mais bonita, então é você que deve ir se casar com ele!

Sion arqueou uma sobrancelha ao escutar aquilo.

Suas irmãs estavam querendo usá-la como sacrifício vivo?

"Mas… pensando bem, não seria uma ideia tão ruim." Pensou Sion, analisando a situação. Ela sabia nada sobre o Rei do Sol. Sua idade, sua aparência ou mesmo sua personalidade. Havia boatos, mas ela não gostava de se basear nesse tipo de informação. Mesmo assim, ela poderia ver alguns benefícios em aceitar aquela oferta.

Já fazia algum tempo, que Sion tinha começado a pensar que ela deveria deixar o Ducado da Chuva. Não só porque uma parte dela, uma parte muito grande dela, desejava ver o mundo… fazer algo emocionante. Também havia aquela outra parte dela, que desconfiava cada vez mais da forma como Tohara lhe olhava. Ela não queria arriscar continuar a viver sobre o comando de sua avó. Não com a forma como sua avó a encarava sempre que se viam.

– Esperem um momento! – Gritou Nike, fazendo com que todos a olhassem. – Nós não podemos simplesmente mandar a Sion! Ela é só uma criança!

– Ah, não me diga que você quer ir no lugar dela, Nike? – Indagou Nia, com um meio sorriso maldoso.

– Ele é o notório Rei do Sol. Ele não perdoa ninguém que o desafie. Dizem que ordenou a decapitação o cozinheiro, porque ele serviu uma sopa muito fria. – Comentou Kara, estremecendo internamente.

– Isso mesmo, com seu coração frio e cruel, ele conquistou o mundo em apenas três anos, depois de subir ao trono! Dizem que, durante as batalhas, ele não poupava nem mesmo as mulheres e crianças.

Sion revirou os olhos internamente.

Sim, eram aqueles boatos que se espalhavam por todo o mundo.

Sion não queria se deixar intimidar por tais boatos. Ela sabia como as pessoas poderiam criar as mais absurdas teorias. Sua outra vida tinha lhe ensinado muito sobre isso. Contudo, parecia que Nike estava muito intimidada sobre aqueles boatos, dada a forma como ela tinha empalidecido com as palavras de suas irmãs.

– Não se preocupem. Eu aceito ir. – Afirmou, terminando com qualquer discussão que suas irmãs poderiam fazer, enquanto voltava seu olhar tranquilo para seus pais. – Eu irei para o Reino do Sol e me tornarei a noiva do Rei do Sol.

– Sion, você tem certeza disso, querida? – Perguntou Iraha, olhando para sua filha com receio.

Um pequeno sorriso surgiu nos lábios de Sion ao escutar a preocupação de sua mãe.

– Sim, eu tenho certeza. Além disso, eu sou a melhor opção. Se uma das minhas irmãs fosse enviadas, elas acabariam presas no calabouço, antes da hora do jantar. – Não era mentira. Suas irmãs não tinham nenhuma habilidade diplomática, e causariam uma guerra em poucos minutos. Não que ela pudesse culpá-las. No Ducado da Chuva, ninguém se importava com a etiqueta e a diplomacia. Sion tinha que agradecer a sua experiência anterior, como Harriet, para sua conhecimento da diplomacia e etiqueta social.

– Nesse caso, você partirá em um navio no final do dia. – Declarou Teteru, um pequeno sorriso agradecido para Sion.


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O oceano era bonito e o ar tinha um cheiro agradável.

Sion não podia deixar de sorrir, enquanto olhava a bela vista, no convés do navio, que a estava levando até o Reino do Sol. Com a velocidade atual do vento, que ela estava controlando, eles deveriam alcançar seu destino no dia seguinte.

Eles tinham deixado o Ducado da Chuva na noite anterior. Tinha sido uma despedida um pouco chorosa, entre ela e sua mãe. Suas irmãs estavam mais aliviadas, por não serem as escolhidas para se casar com o Rei do Sol. Seu pai tentou ser o mais diplomático possível, mas no final, tinha cedido as lágrimas e balbuciado em meio ao choro para que ela fosse cuidadosa. A única coisa estranha, era o fato de que Nike não tinha ido se despedir.

Isso era estranho.

De todas as suas irmãs, Nike era a mais protetora dela não que Sion precisasse muito de sua constante proteção. Ainda assim, a Quarta Princesa sempre tinha sido uma grande protetora e apoiadora de Sion. O fato de que ela não tinha aparecido para se despedir era estranho.

– Princesa Sion, você pode cantar para nós? – Perguntou um dos marinheiros, sorrindo um pouco nervoso.

Sion sorriu com o pedido.

– Claro, será um prazer cantar para todos.