Debaixo de sete chaves
"Toda vez que eu vejo você
Sinto uma coisa diferente
Toda vez que eu penso em você
Te vejo nos meus sonhos,tão carente(...)
Sorria que eu estou te filmando
Sorria o coração tá gravando
O seu nome aqui dentro de mim..."
O salão principal estava cheio. Conversas e risadas enchiam o ambiente. E na ponta da mesa da Casa Ravenclaw, alguém abria exageradamente um jornal, cuidadosamente perfurado em pontos estratégicos. Por entre os furinhos, um par de olhos castanhos passava direto pela Hufflepuff e se detinha na mesa de Slytherin. A garota tomava cuidado, todo o cuidado do mundo, para que ninguém notasse sua persistente observação. Mas sua preocupação em não se deixar notar era infundada. Ninguém estaria interessado no que Luna Lovegood estava fazendo. Ninguém jamais dava atenção a ela.
A garota estava em seu sétimo ano na escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, pela segunda vez. Segunda porque, por causa da infiltração de Comensais da Morte na escola, em seu sexto ano, ele foi anulado, e todos os alunos tiveram que ficar mais um ano por lá.
O ano anterior tinha sido bem legal. Ela tinha amigos! Harry Potter, Hermione Granger, Ron Weasley e Neville Longbottom haviam voltado à escola para concluírem seus estudos em magia. Ela e Ginny Weasley formaram, com eles, um grupo de grande popularidade, lembranças da Armada de Dumbledore e da vitória sobre Voldemort. Na verdade, ela e Neville eram vistos com grande espanto pela maioria dos bruxos. Não entendiam como aqueles dois, tão estranhos e destrambelhados, poderiam ter sido úteis à AD. Suas qualidades não eram reconhecidas pela maioria.
Mas Luna não se importava. Passara grande parte dos seus anos de Hogwarts sozinha, e ficava feliz por ter amigos então. Eles a ouviam, mesmo falando aquelas coisas meio doidas, a convidavam para se divertir... Enfim, levava uma vida feliz e animada e não ia reclamar. Para ela, aquelas pessoas e seu pai eram as coisas mais importantes do mundo.
Mas agora estava tudo diferente. Os quatro amigos mais velhos tinham terminado os estudos. Ginny andava ocupada demais, pois era capitã da equipe de quadribol de Gryffindor, e monitora-chefe. Quase não podia mais conversar. Luna voltara a ser só.
Era em parte por causa de Ginny que aquela paixão tinha surgido. Na tentativa de conseguir alguns minutinhos de atenção da sua única amiga, Luna passou a frequentar as arquibancadas dos treinos de quadribol, e ele costumava estar lá espionando. Ele era bonito... Não tinha como não olhar.
Seus minutos eram preenchidos por aquela adoração muda, platônica, por aquele rapaz. Ele não olhava pra ela. Nem desconfiava. E ela ficava feliz assim mesmo, só por poder ficar ali olhando. Para ela, só isso bastava.
E através do seu jornal furado ela mirava embevecida para Draco Malfoy, alheia a tudo o que acontecia à sua volta.O rapaz continuava na escola, assim como sua namoradinha e muitos Slytherins que haviam abandonado Hogwarts na hora da batalha final. Mesmo assim, ao verem a escola reaberta, voltaram correndo. Aliás, quase correndo, porque foi bem difícil convencer a todos da importância de se reabrir a Casa Slytherin. Levou um ano, e só depois desse período eles puderam voltar, sob os olhares críticos de todos os alunos das demais casas. Draco, como Luna, estava no sétimo ano.
Ele andava bem menos exibido, não parecia mais tão arrogante, mas continuava extremamente seletivo com relação às pessoas que andavam em sua companhia. Luna não sabia, mas era bem o tipo de pessoa que não passaria pela sua rigorosa seleção.
Mas ela não se importava com nada. Não se importava com Pansy Parkinson ali perto, nem para as outras garotas ao redor. Só queria ficar ali olhando aquele rosto e sonhando com coisas que, para ela, um dia talvez fossem possíveis.
