H.l. hattai

Por: LoneWolf

Tradução: Aryam


Gênero: yaoi, mistério, sobrenatural, narração em primeira pessoa = Duo

Classificação: +16 (lemon, linguagem pesada e mente pervertida)

Casal: 2+1, 1x2x1 (menção de 3x4x3)


Parte 1

Sempre soube que havia algo estranho com Heero Yuy. Só não sabia o quão estranho era até descobrir. Tá, isso não foi muito profundo. O que quero dizer é que ele sempre foi tão frio e indiferente. A princípio, achava que era algum complexo de superioridade ou coisa assim.

Não me leve a mal. Ele é bom no que faz – muito bom. "O Soldado Perfeito" é quase perfeitamente correto.

E eu sou loucamente, apaixonadamente, para-o-inferno-com-o-resto-do-mundo em aishiteru e tesão por ele. Sim. Os dois de uma vez. Não é melhor assim? Eu aishiteru ele e faria qualquer coisa para fazê-lo feliz, e eu o desejo e faria qualquer coisa para fazê-lo feliz – dois tipos diferentes de felicidade, é claro. Heh.

E sei que estou usando aishiteru estranhamente, mas português é uma porcaria quando é para expressar como duas pessoas estão ligadas uma na outra, então pego emprestado uma das minhas palavras japonesas preferidas, porque é perfeita. Tipo, em português, tudo o que posso dizer é: "Eu amo Heero Yuy". Eu também amo chocolate – especialmente no Heero –, mas não significa que quero passar o resto da vida com um frasco de cobertura de chocolate... Bem, como sempre me perdi e mudei de assunto. Não consigo manter minha boca sob controle, não consigo manter minha caneta sob controle também. Falando sem parar, esse sou eu.

Hum, enfim. Falava de Heero. Acho que a primeira vez que desconfiei, foi quando ele recebeu aquelas missões...


Ele estava sentado, encarando o computador. "Não, Duo." Heero tem uma dúzia de maneiras para falar não, que vai desde fingindo-pois-sabe-que-deve-dizer-não-mas-na-verdade-significa-sim até absolutamente-só-por-cima-do-meu-cadáver-cai-fora-se-perguntar-de-novo-omae-o-korosu. Esse está no meio da escala – não realmente sério. Ainda tinha uma chance de fazê-lo dizer sim.

"Ah, Heero. Eu quero acampar e é muito chato sozinho." Sim, eu estava choramingando. Era por uma boa causa. Acampar sozinho é chato, mas não era a razão verdadeira para querer que Heero viesse comigo. No momento, estava de pé atrás dele sentindo uma gentil onda de calor que emana de qualquer corpo quente, cheirando-o e com o maior tesão. Cheirar Heero sempre me deixa assim. É parte da razão de termos uma vida sexual bem ativa.

"Vá com Trowa ou Quatre." Não é a coisa mais idiota que ele poderia sugerir? Afinal, todo mundo sabe sobre Trowa e Quatre. Eles viriam, mas quem queria ser o segura-vela com aqueles dois pombinhos apaixonados namorando? Ainda mais quando o que queria mesmo era estar namorando – e muito mais – com Heero.

"Nem. Eles estão sempre, hum, ocupados." Quem disse que não consigo ser discreto? "E Wufei não tem graça." Diga que estou mentindo. Wufei não é um cara ruim na vida real, e ele em uma viagem de acampamento é algo totalmente diferente. Eu acho. Acredito que seja como aquele provérbio da árvore caindo na floresta. Enfim, Wufei acampando com outras pessoas já não é uma visão agradável. E Wufei acampando apenas comigo é apenas dois passos do para ambos.

"Não sou divertido." O jeito que ele falou foi tão engraçado. Foi com aquela voz fria, direta, sem emoção, mas podia ver seu reflexo no monitor. Franzia o cenho. Você conhece a expressão. As sobrancelhas se juntam, a testa enruga e ele fica tão sério. Sabia que era melhor não rir. Ele ficou um pouco mais relaxado atualmente.

"Sim, você é." Eu sorria, e não só da expressão dele. Oh, não éramos como Trowa e Quatre – ainda – mais esperava que ficássemos ao fim da viagem de acampamento. Tinha apenas uma barraca, sabe como é, e tinha a sensação que se conseguisse dar um empurrãozinho inicial, Heero Yuy seria um animal selvagem no saco de dormir. Heh. Prefiro dormir pelado. Imaginei que isso ajudaria. Não que eu tenha o corpo mais fabuloso do mundo – o título pertence a Heero –, mas tenho certeza que o meu era bom o suficiente para chamar a atenção. Oh, mencionei? É verão. Muito quente pra dormir dentro do saco de dormir. E se eu casualmente rolasse em cima dele enquanto dormia, chamasse seu nome e deslizasse minha mão em seu short spandex*... Sim. Tinha tudo planejado. Até o fim dessa viagem estaríamos transando como um par de coelhos tomando Viagra.

"Tenho uma missão." Alerta vermelho! Um alarme piscando escandaloso ligou-se na minha cabeça. Meu plano se quebrava bem na minha frente. Estava pronto pra qualquer coisa que não fosse uma missão. Conheci padres Jesuítas devotados que eram menos fanáticos com suas missões que Heero Yuy. Era um bom sinal. Sabia que se conseguisse direcionar a mesma devoção pra mim, estaria feito. Porém, também era frustrante, porque, no momento, ele não me dava essa devoção que eu queria dele – e muito.

Juntei os pedaços do meu plano, tentando salvá-lo. "Quê? Eu acabei de-"

Naquele momento, o computador apitou. Heero abriu um e-mail, leu e deletou. Eu ainda estava pasmo com seu "Tenho uma missão", e nem pensei em ler por cima de seu ombro até ouvi-lo dizer: "Ninmu ryoukai". Mas era tarde demais.

Entretanto, não desisto tão fácil. "Posso ajudar?" Esse sou eu. Sempre tentando ajudar Heero nas missões. Na verdade, odiava esperar sentado por ele – torcendo para que voltasse inteiro. E talvez essa missão envolvesse passar a noite, e teria minha chance de por a mão em suas calças no fim das contas.

"Iie". Lembra como ele falou "Não, Duo" antes e eu disse que não era sério? Pois é, esse era sério. Sempre que ele dizia "iie" firme com aquele toque de frieza na voz, sabia que eu tinha tantas chances de convencê-lo do contrário quanto uma bola de neve durar no inferno. Menos, realmente. Pelo menos uma bola de neve no Inferno derreteria e apagaria um pouco do fogo por algum tempo.

Meu plano explodiu em um milhão de pedacinhos flamejantes como uma nave espacial naqueles filmes antigos de ficção-científica.

Uma vez. Exatamente uma vez em todos esses anos consegui quebrar aquele "iie". E foi muito bom. Chegarei nessa parte eventualmente.


Então você está aí sentado coçando a cabeça dizendo: "Duo no baka, por que isso te deixaria encucado? Ele nunca quer que você o acompanhe nas missões". Bem, está certo. Exceto que, lembra o que eu estava tentando terminar de falar antes de o computador apitar? Estava dizendo: "Eu acabei de checar dez minutos atrás". E lembre-se de como o apito veio depois de ele anunciar que tinha uma missão. Certo. Eu sabia que não tinha nada lá quando ele avisou, o que significava que ele sabia que a missão estava vindo antes de ela chegar. Muito estranho, né?! O suficiente para me deixar desconfiado. Principalmente se acrescentar as duas outras vezes que isso aconteceu nos últimos dez meses.

Está surpreso que juntei tudo? Bem, deixe-me explicar uma coisinha. Posso agir como um bobo, mas não sou. Quero que as pessoas me subestimem. Fico com a vantagem quando acham que sou burro. E sou bom nesse jogo. É divertido, de certa forma, ver as pessoas cometerem esse erro. E todo mundo o faz.

Exceto Heero. Acredito que ele tenha me subestimado por cinco minutos, depois enxergou além do fingimento e manteve um olho alerta em mim desde então. Oh, claro, ele usa o "Duo no baka" mais do que qualquer um – ainda hoje – mas acho que é apenas o jeito dele de me mostrar que sabe e não vai arruinar meu disfarce. Aprendi a amar quando ele diz isso. Penso como sendo um modo de dizer aishiteru, então interpreto assim, mas ninguém mais entende.

De volta à história.

Estava desconfiado. Dei de ombros e disse "Beleza" no meu melhor tom irritadiço e saí dando patadas do quarto. Era o que Heero esperava. Sempre saio para dar uma volta – ou melhor, dou patadas – quando bravo. Ajuda a clarear a cabeça e descontar a frustração em nada mais que no chão e nos meus pés. O chão não reclama e meus pés estão acostumados. Mas, dessa vez, estava apenas um pouco irritado. Mais intrigado. Oh sim. Agora está assustado, não está? Duo Maxwell intrigado. Mundo, cuidado! Então saí caminhando, pensando e planejando, e finalmente decidi o que fazer. Fiquei surpreso por levar tanto tempo para chegar a uma conclusão. Era tão incrivelmente óbvio.

Eu o seguiria.

Pare de rir. Já o segui várias vezes. Algumas delas ele nem percebeu até ser tarde demais. Espere pra ver. Uma dessas vezes é parte da história.

Voltei para o quarto. Heero, colocando um par extra daquele short spandex delicioso na mala, curvou-se levemente – o suficiente para fazer seu traseiro se salientar. Oh, cara, que bunda linda ele tem, ainda mais quando envolvido naquele spandex que deixa muito pouco para a imaginação.

Todos acham que corpos nus são tão eróticos. São. Acredite, já vi vários deles e têm suas vantagens. Mas a provocação quase-mas-não-exatamente nu de uma spandex ou de roupa íntima ou ainda um pedaço de pano astuciosamente posicionado ou uma folha ou, diabos, uma conta de eletricidade segurada direito no lugar certo. Pra mim, é muito excitante. É o que me faz sentar e pensar, realmente imaginar sobre o que se esconde. Quando Heero está na minha frente peladão é tipo "OH!", e eu o como com os olhos por um minuto ou dois, depois a nudez perde seu apelo porque não há mistério – ou, mais provável, um pula no outro e fodemos loucamente; em ambos os casos, ver se torna secundário. Mas quando fantasio, mesmo sabendo exatamente como ele é e especialmente quando ele está me dando olhadelas provocativas consciente ou não, posso encarar e fantasiar por horas.

Ele se virou quando fechei a porta, arruinando minha vista. Oh bem, seu peito é quase tão bom quanto – a regata revelando apenas o suficiente pra botar fogo na minha mente e em outras coisas de novo – e nem peitoral nem bunda chega aos pés do seu rosto. Os olhos me fascinam toda vez.

Já sei, passo muito tempo lendo poetas românticos e obcecando com essa história de "os olhos são a janela da alma". Ora, o que vi naquelas janelas era lindo e assustador. Assustador porque eram seus olhos de missão – frios, duros, azul mortal como o céu a 9,145 quilômetros sem uma máscara de oxigênio. Lindo porque os vi diferentes uma ou duas vezes e sabia que em algum lugar debaixo de todo aquele gelo havia alguém quente e carinhoso, que eu queria desesperadamente que me desejasse.

Veja como é. Queria – ainda quero – que ele me deseje.

Quando nos conhecemos, era um moleque inseguro e Heero – tão jovem quanto eu e mais confuso sobre muitas coisas – estava decidido quando se tratava do que estávamos fazendo ali. Sempre sabia o que fazer, o porquê e como. É, eu o idolatrava e por isso o atormentava sem descanso. Queria ser tão bom quanto ele. Queria receber um tapinha nas costas depois da missão. Queria que ele me dissesse que fiz um bom trabalho. Tá certo, ficaria contente apenas com a parte do "bom trabalho".

Um mês depois, percebi que cobiçava Heero desde que o conheci – e mesmo agora. Ele é lindo, então todo mundo deve entender. Por que levei tanto tempo? Quero dizer, estava andando por aí com uma clava na cueca quase aquele mês inteiro. O que posso dizer? Às vezes sou um tolo.

Por favor, não pense que é apenas uma fase gay e, por favor, não levante a questão de genética ou uma mãe dominadora. Não engulo essa baboseira. Tentei dos dois jeitos com ambos os sexos e descobri que gosto de ficar dos dois lados da equação sexual. O melhor modo de conseguir isso é com outro cara que se sente do mesmo jeito. Não digo que não aprecio uma garota bonita, mas no sexo, homens ganham de lavada. Fui claro?

De qualquer jeito, cerca de seis semanas depois de perceber que o cobiçava, andava de ombros caídos me perguntando por que diabos queria dormir com alguém que era um completo desgraçado... quando me toquei que era apenas parte disso. O que eu queria mesmo era que ele me quisesse o suficiente para que ficasse por perto depois da guerra. Parei de repente. Querer a mim, certo? Entende-se assim, não apenas meu traseiro, mas eu, Duo Maxwell, sexo, taras, trança, boa pinta, boca grande, insanidade e tudo. Sabia que a única razão de querer isso seria se o amasse. Era muito perigoso. Ninguém sobreviveu ao amor de Shinigami. Era tarde demais. Eu aishiteruava ele e não conseguia mudar. Sou muito parecido como Heero é com suas missões se tratando de aishiteru. Era como deveria ser, não é? Fiz uma rápida oração para Deus, Maria e todos os anjos os implorando que o mantivesse vivo, e me convenci de que se qualquer um pudesse sobreviver a mim seria Heero Yuy. Esse é um vaso ruim de quebrar.

Refletia sobre tudo isso quando o senti dar tapinhas no meu rosto. "Duo?" Acho que provavelmente me chamou algumas vezes antes disso, mas estava muito perdido para tê-lo escutado.

Ele me tocou, pensei. "Sim, Heero?" pude ouvir meu tom de voz sonhador e sabia que estava sorrindo como uma garotinha colegial depois do seu primeiro beijo de língua. Mas ele me tocou. E não para me bater. Sua essência dominava o ar a minha volta, preenchendo-me. Conseguia sentir o sangue fugindo do meu cérebro para uma parte que definitivamente não era com o que queria estar pensando naquela hora.

"Você está bem?"

"Sim Heero?" Sim, ainda havia um ponto de interrogação no final.

Whap!

"Itai!" Não foi forte. Não de verdade. Apenas o suficiente para chamar minha atenção e me fazer pensar que fui atingido. "Por que diabos me deu um tapa?" Então me lembrei de como estava me portando. Ele notou em meus olhos e graciosamente ignorou a pergunta.

"Volto em três dias," soou aquela voz firme estou-em-missão-omae-o-korosu.

Assenti com a cabeça. Foi embora. Fiquei inquieto. Troquei o peso de uma perna para outra. Cocei o nariz. A orelha. A cabeça. Brinquei com a trança. Cantarolei algumas notas de uma musiquinha que não consegui lembrar o nome. Quando chequei meu relógio pela décima vez, decidi que trinta segundos era um bom começo. Abri a porta e passeei para o corredor, olhando para os lados, casual, como se considerasse ir ao banheiro. Depois fui rapidamente para a escadaria.

Na porta de entrada dos dormitórios, vi Heero talvez a uns trinta metros. Andava na direção leste. Que estranho. Os Gundams estavam escondidos ao norte da cidade. Hum, pensei, talvez esteja indo a algumas quadras de distância para ter certeza que não está sendo seguido. Fiquei orgulhoso de mim mesmo por tirar essa conclusão. Sabia exatamente como ele pensava. Claro, nunca me ocorreu que eu era um daqueles que ele não queria que o seguisse.

Fiquei para trás por meia quadra. Depois de seis quarteirões, parou em uma barraca de frutas. Virei para uma banca ao meu lado e olhei por cima de uma revista, agindo como se decidisse se queria comprar, mas o observando o tempo todo. Comprou um pêssego e em seguida subiu a rua. Coloquei a revista que fingia ler de volta na prateleira, percebendo no processo que definitivamente não era meu tipo, e continuei atrás dele. Na próxima esquina, virou norte.

Apressei-me um pouco, diminuindo a distância caso ele virasse outra vez. Não queria perdê-lo de vista. Espiei na esquina – e me vi encarando um beco vazio a não ser por uma caçamba. Desci correndo, pensando que deveria ter um caminho no fim, mas encontrei apenas uma parede sem-saída. Quando criança, sobrevivi identificando todos os esconderijos só de bater os olhos em um beco, rua ou prédio abandonado. Era uma mania enraizada. Não tinha como eu perder um ponto de fuga. Ele desapareceu.

Na metade do beco, olhando em volta, confuso, algo me atingiu no ombro. Olhei para trás. Ninguém. Olhei para o que estava aos meus pés e vi um caroço de pêssego fresco recentemente limpo. Olhei em volta de novo – ainda nada – então ouvi um suave pigarreio e olhei para cima. Cinco andares acima, estava Heero, no telhado de um prédio.

Não precisava vê-lo de perto para saber que estava me encarando com um olhar frio como uma calota polar. E estava bem certo de ser o estou-com-muita-raiva-omae-o-korosu olhar gelado, não apenas o você-está-me-irritando-omae-o-korosu olhar gelado. Após alguns segundos, virou-se e saiu de minha linha de visão, deixando-me ali, olhando para a parede vazia, boca aberta, tentando decifrar como era possível ele subir quinze metros na lateral do prédio em menos tempo do que me levou para chegar até ali. Estremeci. Muito estranho. Deveria ter um caminho secreto para subir ou algo assim. Cheguei à conclusão que não valia a pena tentar descobrir. Se perdi a passagem no meu exame cuidadoso do beco, não encontraria mais.

Agachei, pequei o caroço e coloquei no bolso. Uma lembrancinha.

Teria que pensar em outro plano. Tinha três-

Oh, com licença. Heero acabou de acordar e isso sempre exige minha atenção. Não quero desapontá-lo.


Três dias depois, voltei da sala de aula e abri a porta para encontrá-lo dormindo na cama, de frente para a parede, em nada mais que cueca. Fiquei ali parado, sem fechar a porta, pois sabia que o acordaria – ele tem um sono muito leve – e me deliciei na visão da perfeição com quem dividia o quarto. Acho suas costas quase tão perfeitas quanto seu peito. Caramba. Seu corpo inteiro é maravilhoso e poderia ficar o resto da vida o admirando e ainda encontrar algo diferente para achar lindo toda vez que olhasse. Combinado?

Preocupação afastou um pouco a luxúria e fiz meu usual procedimento de análise pós-missão. Sem sangue no chão. Nem cheiro de antisséptico. Sem ataduras. Nenhum sinal de ferimentos. Descansando calmamente. Essa era uma bela visão, nada a ver com seu corpo. Ei, não se esqueça que eu o aishiteru.

Alguém gritou no corredor. Acho que foi Osama. Ele sempre estava gritando com alguém nos corredores. Acredite se quiser, tem pelo menos um cara nesse mundo com a boca maior que a minha. Pergunte a Heero. Ele vai dizer que é verdade.

Sabia que o grito de Osama acabaria com seu sono, então fechei a porta e fui até a escrivaninha colocar meus livros. Ouvi o som dele levantando da cama e senti aquela essência almiscarada que é tão característica de Heero Yuy invadindo os meus sentidos. É difícil descrever. É uma pitada de algo animal, algo sensual, um pouco doce e alguma coisa pungente. Agora sei o que é tudo isso e porque me deixa duro. Saber não o deixa menos doce – ou menos excitante.

Virei para encontrá-lo centímetros atrás de mim, encarando, mas não o olhar frio verdadeiro. "Nani?" perguntei inocente, tentando absorver o máximo que podia daquele cheiro sem ser óbvio, e tentando não pensar no efeito que causava dentro de minhas calças e rezando para que não fosse aparente. Oh sim, eu não estava apenas duro. Estava duro e molhado. Outra boa razão para sempre usar calças escuras.

Sabia que diria: Duo, se me seguir outra vez, vou te matar.

"Duo, se me seguir outra vez, vou te matar".

Acertei. Falei que não sou tão estúpido quanto pareço.

Nem esperou minha resposta, apenas passou por mim, tão perto que pude sentir o calor de seu corpo. O que não ajudava minhas calças nenhum pouquinho. Afastei-me e o observei pegar seu kit de banho, despiu-se e enrolou-se na toalha. Pensei em acompanhá-lo, mas ele saberia das minhas intenções. Sempre tomo meus banhos tarde, ao entardecer, para poder escovar meus cabelos sem me preocupar com algo chato, como lição de casa, ou importante, como jantar, interferindo. Além do mais, teria outra chance de vê-lo nu quando voltasse – e ele não perceberia que eu estava duro por ele como teria percebido no chuveiro. Assisti enquanto saía, meus olhos seguindo o movimento de sua bundinha arrebitada debaixo da toalha, meu cérebro imaginando as partes que a toalha escondia.

Ouvi dizer que algumas pessoas confundem Heero com uma garota à primeira vista. Não consigo entender como, a não ser que estejam olhando apenas para sua bunda. Nunca vi uma garota com as costas como a dele, ou ombros tão fortes, ou bíceps tão grandes, ou cintura tão estreita. Mas, talvez, se estivessem inteiramente focados na bunda – eu entenderia perfeitamente como isso aconteceria... Claro, seria mais óbvio nessa situação. Às vezes, como agora, ele anda com os calcanhares alguns centímetros fora do chão e dá longos passos deslizantes, com os joelhos levemente flexionados. A coisa dos calcanhares faz sua bunda se destacar um pouco e os passos longos faziam o balanço mais saliente. Então, sim, acho que posso ver como alguém poderia cometer esse engano.

Coloquei uma bermuda – larga devido a minha condição –, minha camisa dos "Fallen Angels" e cai na cama. Teria, ahm, aliviado a tensão nas partes baixas, mas os banhos de Heero são muito rápidos para poder realmente aproveitar. Deitar de barriga para baixo, escondendo de vista o mastro, seria bom o bastante por enquanto. Além do mais, Nakamura me trouxe uma antiga edição do "Lobo Solitário – Kozure Okami" número doze – o único faltando na minha coleção – e estava louco para ler quase tanto quanto estava louco para ter Heero. Ler o mangá seria bem mais seguro no momento.

Tinha acabado de ler a décima página quando notei que minha bermuda não estava mais desconfortável, e a porta abriu. Falei que ele toma banhos rápidos. Olhei para cima, mantendo o mangá na minha frente para não parecer óbvio que estava assistindo enquanto ele ia até o espelho e penteava o cabelo. Um minuto depois, trocando o peso de uma perna para outra, a toalha escorregou pelos quadris me dando uma vista tentadora de dois terços daquele traseiro, que começou a desfazer todo meu relaxamento. Alguns segundos depois... caiu. Deus, amava olhar para aquela bunda.

Ele não parecia incomodado que eu estivesse encarando – ou talvez nem soubesse. Porém, acho que sabia sim. Ele sempre pôde sentir olhos nele, assim me disse. Virou-se me dando uma vista frontal, como esperava que fizesse, para depois esconder tudo naquela horrível cuequinha branca que insistia em usar, vestiu um spandex preto limpo e regata. Heero nunca foi original para se vestir. Tentei mudar isso e consegui, até certo ponto, sucesso, mas acho que ele sempre terá preferência pelo spandex e regata dentro de casa. Tudo bem. É apenas mais daquele erotismo não-exatamente-nu que amo, e posso ver ao vivo todos os dias. Droga, sou um baita de um sortudo.

"Você tem as tarefas dos últimos três dias?" perguntou.

Ele estava ao lado da minha cama. Eu deitado lá, cheirando-o. Nossa, ele tem um cheiro tão bom. Claro, foi tudo o que precisei para retornar ao meu estado de quando ele saiu para o chuveiro. "Ahm..." De jeito nenhum eu conseguiria levantar para entregar o que me pedia agora – não sem dar um show do meu pau duro dançando de um lado para outro dentro da minha bermuda. "Tenho, na frente do meu livro de cálculos". Apontei para a pilha de livros na escrivaninha, torcendo para que fosse o suficiente. Será que ele usava alguma colônia? Não conseguia imaginar o Soldado Perfeito dando a mínima para como ele cheirava, mas seja lá o que for, fazia com que eu o cobiçasse mais.

Como disse, sou um baita de um sortudo. Heero foi até a mesa e pegou a folha de lições de casa, a qual eu prestativamente copiei para ele, em seguida se sentou para fazer o que faltava das tarefas. Seria um fim de semana longo e sem graça. Por outro lado, pensei voltando para o "Lobo Solitário" e fingindo ler, poderia passar assistindo-o fazer as lições. Oh, com certeza havia muitas outras coisas que preferia vê-lo fazendo – como sorrir aquele delicado sorriso secreto que apenas eu via e dizer que me aishiteru, ou sorrir malicioso daquele jeitinho sacana me dizendo que queria fazer amor. Ou, naquele momento em particular, tirar a roupa e dizer que quer me comer sem parar até o sol nascer. Mas Heero fazendo dever de casa pode ser uma bela visão também. É pra mim, pelo menos. Considerando que estou completamente apaixonado pelo cara. Sou suspeito pra falar.

Vi seus olhos se virarem de esguelha para mim. Sabia que estava sendo observando e queria que eu soubesse. Fazer o quê. Voltei minha atenção para o mangá, contentando-me apenas com bisbilhotadas rápidas enquanto ele trabalhava. Heero fazia lição de casa e não tinha motivos para provocá-lo. Ao invés disso, pensei no beco e como em nome de tudo que é sagrado ele conseguiu chegar naquele telhado. Aquilo ainda me incomodava pra caramba. O suficiente para voltar lá e tentar descobrir, só pra ter certeza que não estava perdendo o tato – ou a cabeça. Mas simplesmente não havia um caminho para cima que eu pudesse encontrar. Ele pulou, escalou, voou ou teletransportou, qualquer uma das alternativas sendo evidentemente impossíveis.

Também pensei em como o seguiria da próxima vez.

Ah, achou que a ameaça dele tinha me assustado? Quantas vezes ouvi "Duo, omae o korosu" daqueles lábios atraentes? Inferno, às vezes ele até diz isso quando estamos prestes a transar. Acho que significa o mesmo de quando ele diz aishiteru, só que mais sexual... É, definitivamente mais sexual. Mas, roubando uma fala de Shakespeare, eu "morreria" em seu colo com muito prazer.

É isso mesmo. Só porque duas pessoas se aishiteruam não significa que não podem aproveitar uma transa gostosa, quente e suada aqui e ali. Mais frequente em nosso caso, já que temos muito tesão um pelo outro também. As vezes que mais sei que ele me ama são quando ele aparece sorrateiro por trás de mim, me agarra sem razão aparente e arranca nossas roupas para depois perguntar se quero comê-lo selvagem e longamente ou se queria ao contrário, que ele me comesse. Quero dizer, como se precisasse perguntar quando ele estava pelado e pulsante na minha frente. Mas ele o faz. Amo sua espontaneidade terna. Fico sabendo que ainda o deixo louco e que ele se importa com o que quero ao mesmo tempo. A propósito, caso esteja se perguntando, minha resposta para sua pergunta sempre é "os dois".

Hum. Onde estava? Oh, sim. Tentava decidir como o seguiria da próxima vez. O que fez eu me perguntar como fui pego. Ei, se não sabe como estragou tudo, como se pode tentar evitar o erro da próxima vez? Veio a mim perguntar a estúpida questão: "Então... como me encontrou?" O pior que poderia acontecer era ele me fulminar com o olhar e não responder, mas não achei que aconteceria.

Levantou o olhar, surpreso, um pouco nervoso por ter seus estudos interrompidos, mas orgulhoso demais para não responder, como suspeitei. "A trança," comentou. "Não tem muitas dessas no Japão". Voltou para seus livros.

Nunca vai me ouvir dizer que não sou um completo baka às vezes. Essa era uma dessas vezes. Era incrivelmente óbvio. Estava parado na banca de jornal, o rosto escondido por uma revista, mas, dã, meu cabelo completamente à vista. E Heero estava certo. Poucas pessoas, ainda mais garotos, no Japão têm tranças de um metro dependuradas na cabeça. Muito menos têm cabelos castanhos macios. Algumas vezes vaidade tem um preço.

Pensei em tirar os cabelos da trança na próxima vez, talvez deixar em um rabo-de-cavalo, mas a cor ainda daria bandeira e seria um inferno para desembaraçar. Nem sequer cogitei um coque. Tentei exatamente uma vez e cortaria a cabeleira toda antes de fazer de novo. Sim, cabelos longos têm seus problemas. E também não estava muito a fim de pintá-lo de preto. Consegue mesmo me ver com raízes coloridas? Além do mais, cabelos negros, roupas pretas, pele pálida. Eu pareceria como um cosplay de vampiro ou criatura das trevas similar. Teria que bolar uma alternativa.

Então o ouvi dizer: "Não achei que Peitões nota 10 era seu tipo de revista".

Oh merda. Ele me viu com aquilo na banca. Se fosse Playboy poderia até dizer que era por causa dos artigos. Então realmente prestei atenção no que ele falou. Merda! Ele suspeitava – pelo tom de sua voz, tinha certeza – que eu não curtia garotas. Queria rebater com "Claro que é", mas seria mentira. A única resposta que consegui bolar sem ser mentira foi: "Não queria que me visse". Essa foi a que usei.

Que foi? Queria que dissesse diretamente que preferia rapazes – especificamente ele? Não queria assustá-lo. Então ele respondeu algo que fez meu coração parar por um momento.

"Hn. Não faz o meu tipo também."

Encarei-o de boca aberta, mas seus olhos estavam fixos na lição de casa. Bosta! Ele tinha acabado de dizer que não tinha interesse em garotas? Oh merda, oh merda, oh merda. Poderia perguntá-lo? CLARO que não. Ele pode até gostar, apenas não tem preferência por aquelas com dois quilos de silicone nos seios. Hmmm. Mas se ele gostava delas tábuas, talvez eu pudesse... Cortei essa linha de pensamento na hora. Era melhor tentar uma sedução mais objetiva com todas as cartas na mesa. Queria que ele me quisesse, sem precisar fingir ser uma garota. Além do mais, seria uma mentira.

Estava com problemas para focar no mangá ou nos meus planos para segui-lo. Minha mente ainda girava em círculos em torno de suas últimas palavras e o seu real significado.

Hmm... Com licença novamente. Ele voltou do trabalho, vai entrar pela porta a qualquer segundo e quero estar lá para beijá-lo e dizer "olá", e falar o quanto senti sua falta hoje. Sempre faço isso quando chego em casa primeiro, e sou sincero em cada palavra.


Uma hora depois, enquanto íamos para o jantar, finalmente bolei um jeito de descobrir sobre o que eram as missões secretas de Heero. Ele mantinha anotações das missões no computador. Talvez pudesse hackear.

Oh, estou te escutando morrendo de rir, e está certo. Heero é um gênio do computador, não eu, mas, ei, valia a tentativa. Agora só precisava de algumas horas sozinho com o computador. Preferiria bem mais ter algumas horas sozinho com Heero – um par de algemas, um fraco de cauda de chocolate, um par de latas de chantili e uma cereja completa com o cabinho para segurá-la no lugar. Achava que precisava das algemas para mantê-lo sob controle até mostrá-lo que gostava disso e o resto porque queria comer uma banana split feita com a banana do Heero. Pensei que ele poderia me matar não importando o que eu fizesse, então deveria mesmo aproveitar ao máximo no caso de não ter outra chance.

O jantar naquela noite foi o melhor. A escola chamou um chefe de cozinha especial de um dos restaurantes locais para fazer sushi para os estudantes. Admito, normalmente a ideia de peixe cru reviraria meu estômago, mas se é feito perfeitamente, posso muito bem aproveitar sushi. Pedi para o chef me dar uma fatia de atum para experimentar. Comi, preparado para ficar enojado, então fechei os olhos e suspirei. Estava no paraíso dos sushis. Quando voltei ao mundo real, falei para ele que tinha sido o melhor que já comi e queria um pouco de tudo e que ainda o recomendaria para todos os meus amigos que procurassem por um fornecedor de sushi. Ele encheu meu prato. Não deixe ninguém te convencer que bajulação – e oferecer uma boa propaganda – não funciona, especialmente com chefs. Não, eu não tinha nenhum amigo que precisava de sushis. Mas se tivesse, eu o teria recomendado.

Acho que surpreendi Heero naquela noite. Ele terminara com seu arroz e vegetais cozinhados a vapor – estava em um de seus surtos vegetarianos outra vez – muito antes de eu engolir o último delicioso pedaço. Posso pensar em apenas mais duas coisas no mundo que amo mais do que um sushi perfeito. Sexo – com Heero, claro – e Heero Yuy me mostrando o quanto ele me aishiterua – não necessariamente nessa ordem. O primeiro sempre envolve o segundo, mas ele pode fazer o segundo do outro lado de um cômodo lotado de gente com nós dois vestindo ternos e sem ninguém perceber.

Sushi foi a melhor coisa que consegui aquela noite. Voltamos para o quarto e fizemos o dever de casa. E eu esperei pacientemente pela minha oportunidade.


Minha chance veio um mês depois quando ele recebeu outra missão misteriosa. Dessa vez, eu o persegui de perto por uns vinte quarteirões antes de ele parar, olhar na minha direção e balançar a cabeça. Depois se enfiou entre um amontoado de pessoas. Sabia que o tinha perdido. Pelo menos não tinha me matado. Talvez ele estivesse considerando isso como um jogo – um desafio para provar que podia me enganar. Pensei que pudesse interessá-lo e deixaria tudo mais divertido para mim. Sempre estou disposto a um bom jogo de caça, especialmente quando a presa é Heero. Minha perseguição foi fracassada, voltei para o quarto, sentei frente ao computador e comecei a procurar pelas anotações.

Heero e eu raciocinamos muito diferentes. Sou um espírito livre, pensamentos voam por milhões de caminhos de uma vez. Sim, eu sei. Você já percebeu isso. Heero tem esse jeito de pensar quadrado e hierárquico sobre as coisas. Tudo era perfeito e estruturado, e tinha de encaixar como em um jogo de tetris. Acho que faz mais sentido para quem pensa da mesma forma.

Portanto, provavelmente não deverá se surpreender quando eu disser que fiquei confuso com as duas dúzias de subdiretórios em seu disco rígido pessoal. Quero dizer, sei o que são subdiretórios, mas eu só tinha três no momento: lição de casa, jogos e variados; poderia encontrar qualquer coisa em menos de dois minutos com meu sistema de arquivamento. E os nomes dos arquivos dele. Socorro, por favor. Acho que ele passou muito tempo trabalhando com sistemas de computadores para nerds porque nenhum dos nomes tinha mais que cinco caracteres – e estou falando de letras normais, não kanjis.

Quer saber? Que seja, tinha três dias para encontrar o que queria antes que ele voltasse. Vasculhei no primeiro subdiretório na lista "aot". A próxima pasta continha diretórios com sequências numéricas – 19501, 19502, blá blá blá. Levei alguns minutos para entender que eram anos e meses. Falei que a mente dele era estranha.

Bem, Duo Maxwell não é alguém que seria derrotado por algo tão simples quanto nomes vagos. Não quando se está decidido a encontrar algo sobre o homem mais importante de sua vida. Imprimi toda a lista de seu diretório. Trinta páginas. Cara, ele tinha um monte de porcarias no computador.

Comecei a procurar entre as páginas, tentando adivinhar o que esses códigos significavam. Tinha um, ldc, que conclui ser lição de casa porque tinha pt e qum e jap, e outros nomes de classes abreviadas nele. Descartei. Após umas três horas, tinha mais meia dúzia de candidatos, um deles tinha quase certeza que era o certo. Comecei por ele. Claro, os arquivos estavam codificados. Nunca deixe ninguém te dizer que Heero Yuy é nada menos que absolutamente completo em tudo o que faz – incluindo aishiteru e entusiasmo sexual.

Agora deve estar pensando que eu estava sem sorte. Errado. Heero fez um minúsculo engano. Sim. Sei que isso te surpreende, mas nunca disse que ele era perfeito – apenas quase. Cerca de um ano antes, uma criança superdotada de 12 anos usou um programa gratuito para quebrar senhas de uma firma de investimento qualquer e roubou mais de meio bilhão de créditos em centavos fracionais. Fiquei fascinado com a história porque a criança roubou muito dinheiro e pensei por um tempo que conseguiria duplicar sua façanha. Desisti depois de uma semana – não conseguia nem ao menos achar o programa na internet – mas lembrei do nome. Quando vi no diretório de Heero fiz como sempre fazia e tentei a sorte. Eu era, novamente, um baita de um sortudo.

Pausei minha busca para pegar o jantar e tomar um banho e... Ficou tarde antes que pudesse terminar. Brinquei com o programa um pouco, mas sabia que não avançaria mais essa noite. Fui para a cama. Uma boa noite de sono e uma nova tentativa de manhã poderiam ajudar.

Estava errado. Levei quase o dia seguinte todo para descobrir como direcionar o programa a um arquivo para decodificá-lo – nenhum programa de quebrar senhas foi feito pensando em novatos – e cerca de duas horas para a decodificação chegar na senha do arquivo, que pensei serem as anotações da missão do mês passado. Felizmente, Heero não usava códigos de nível militar. Li um de meus doujinshis yaoi favoritos para me distrair da espera – e liberar um pouco daquela tensão que mencionei antes – várias vezes. Pois é. Quando se corre por aí cheio de tesão por semanas, você se recupera bem rápido.

Ponderava qual mangá yaoi ler em seguida quando o computador fez um barulho. Corri pra ele e, caramba! Acertei em cheio, era o registro da missão do mês passado. Entretanto, meu sorriso sumiu enquanto lia. Pra começo de conversa, as anotações de Heero eram as coisas mais tediosas de serem lidas no mundo. Onde deveria estar escrito: "Fatiei um Leão com a foice termal. Explodiu com um satisfatório kaboom. Então me virei e..." Heero escreveu: "14:28:43 – Despachei um Leão com o sabre de luz", seguido por uma descrição precisamente geométrica de onde acertou, dos ângulos e distâncias. Considerando que normalmente ele destruía pelo menos trinta em qualquer missão... É. Nada bonito. Perto do final, o ocasional "tempo -Despachei um Áries com o canhão vulcano, blá blá blá" foi quase animador.

E aí estava outro problema. Cheguei ao fim do arquivo e não mencionava nenhuma missão secreta. Examinei novamente e encontrei a abertura naquela perfeita ordem cronológica onde deveria estar. Não tinha nada. Sem indicações que tivesse acontecido qualquer coisa. Mandei o programa de senhas em quatro arquivos de uma vez – os outros dois meses com chamadas misteriosas e outros dois meses nos quais me lembrava de ele ter saído em missões que se recusara comentar.

Era hora do jantar de novo, e estava com fome. Trabalhei tanto que perdi o almoço. Acredite, estava sério quanto a isso. Depois da rotina usual, fui para a cama com outro doujinshi e pensamentos de Heero para me fazerem companhia. Os arquivos estariam prontos de manhã.

No dia seguinte, descobri que aquelas missões estavam faltando também. Levei algumas horas para analisar tudo e encontrar todas as datas e memorizá-las. Quando terminei, já era de tarde. Tinha tempo para mais um. Escolhi um arquivo de cinco meses atrás e esperei. Por volta do mesmo horário, havia um espaço em branco. Não conseguia lembrar se ele tinha estado em missão ou não, mas tinha quase certeza que sim.

Estava cansado. Minha cabeça doía de olhar para a tela do computador e pensar de jeitos estranhos por três dias. Ainda não entendia como ele conseguia. Heero voltaria na próxima hora. Peguei a listagem do diretório. Já tinha rabiscado as senhas ao lado do nome de cada arquivo. Só para completar, coloquei as datas das missões em cada arquivo que li e as datas das missões secretas que pensei estarem faltando, depois desliguei o computador e guardei as folhas em uma das minhas caixas de doujinshis debaixo da cama.

Sabia que ali era um lugar seguro. Ele odiava meus doujinshis. Note que usei o verbo no passado. Agora, a cada um ou dois meses ele traz para casa um yaoi lemon e deixa na cama para que eu ache. Eu sempre saio saltitando quando vejo porque Heero não compra nada que se encaixe em uma classificação abaixo do que "obliterar virgindade a trinta metros". Alguns deles me mostram coisas que nem eu nunca ouvi falar antes – é verdade. São sempre tão divertidos de ler. Juntos, obviamente. Não ache que eu perderia tempo lendo sem ele.

Mais ou menos quinze minutos depois, Heero voltou. Parecia acabado. Ele me fulminou com o olhar brevemente, então pegou suas coisas para banho e saiu. Preciso mencionar que seu cheiro veio junto? Estava grato por ter aliviado a tensão mais cedo porque agora veio tudo de volta com força.

Outros dez minutos se passaram e ele retornou do chuveiro, escovado e vestido, e disse: "Está na hora do jantar".

E assim foi. Fomos para o...

Huh. É isso aí. Vou terminar mais tarde. Heero está parado na porta, nu. Exceto por um fraco de cauda de chocolate e uma lata de chantili que está segurando na frente de sua virilha. Ele sabe me provocar. Ele sabe como eu gosto das coisas apenas um pouquinho escondidas.


Continua...

*Spandex = elastano. Um tipo de lycra bem elástica.