Prólogo

Por amplos corredores uma mulher alta, de cabelos verdes, transportava um imponente ceptro correndo apressada. Majestosos pilares, tapeçarias e quadros enfeitavam os caminhos percorridos, passando-lhe despercebidos. Corria contornando os obstáculos que surgiam à sua passagem, desde pessoas a objectos decorativos. Ao chegar ao fim de um dos corredores, nos confins daquele local, aproximou-se de duas portas ornamentadas. Parou e respirou fundo, tentando acalmar-se. Bateu à porta e abriu-a. Ao entrar deparou-se com várias pessoas que ficaram apreensivas com a sua presença. O seu rosto reflectia preocupação, no entanto a sua postura era altiva, não permitindo aos presentes fazer uma leitura do que se passaria. Encontrava-se numa sala vasta, levemente decorada com algumas poltronas e uma lareira, dando um ar deveras aconchegante ao local. Três quadros enfeitavam as paredes. Um deles, por cima da lareira, continha o retrato de um belo casal, ela de longos cabelos loiros e ele de cabelos negros curtos, ambos com olhos profundamente azuis. Outro quadro retratava uma linda menina de cabelo cor-de-rosa com um sorriso muito doce. No terceiro estava um grande grupo de pessoas, cinco homens e dez mulheres, incluindo o casal do primeiro quadro. A mulher que chegara àquela sala, percebendo os olhares curiosos resolveu pronunciar-se.

- Majestade, precisamos reunir-nos rapidamente. - disse a mulher dirigindo-se a outra que se encontrava à sua frente.

- O que se passa Plutão? – perguntou a rainha com preocupação.

- Minha rainha, temo que o assunto seja sério. – disse pesarosamente. – Penso que o melhor será reunirmo-nos todos para discutirmos qual a atitude a tomar perante a situação.

- Está bem. Convoca as restantes navegantes. Nós organizamos tudo por aqui. – disse para Plutão, que em seguida se retirou, dirigindo-se em seguida para as restantes pessoas presentes. – Não digam nada à Serenidade, não quero que ela se preocupe com nada.

- Claro minha querida. – disse Endymion encaminhando-se até à rainha. – Vou pedir para prepararem a sala de reuniões. – Endymion despediu-se e saiu da sala.

Algumas horas mais tarde, quinze pessoas estavam reunidas em torno de uma mesa cristalina. Tudo naquela sala era composto do mais puro cristal. Um enorme ecrã encontrava-se numa das paredes, onde era possível observar-se os vários pontos do palácio. Não havia janelas de modo a garantir uma maior privacidade, em vez disso, no tecto harmoniosos candeeiros iluminavam o espaço, com tanta intensidade como se o próprio solo ali estivesse. O absoluto silêncio começou a incomodar um dos presentes que não se conteve.

- Afinal porque é que estamos aqui? O que é que se passa? – perguntou rispidamente uma mulher de cabelo loiro curto, reflectindo bastante impaciência. Apesar da sua repentina intervenção, não pareceu surpreender os presentes.

- Urano, acalma-te. – disse a mulher que se encontrava à sua direita, de cabelo azul marinho com uma voz suave. – Plutão, por favor, conta-nos o que se passa. – disse dirigindo-se a Plutão que estava ao seu lado.

- Bem, pedi-vos para se juntarem a esta reunião porque há uma grave quebra no portal espaço-tempo. – os presentes olharam-na com preocupação, esperando que ela continuasse. – Viagens pelo espaço-tempo têm sempre as suas consequências, principalmente quando se interfere com o passado. O facto das nossas vidas passadas saberem o que acontecerá no futuro influencia toda a história, o que está a causar graves distúrbios no portal.

- Percebo. – interveio Mercúrio. – Todas as escolhas tomadas serão em função do que se sabe que está por vir.

- Exacto. – confirmou Plutão. - E da forma como o portal está a reagir… Eu temo que toda a vida, passado, presente e futuro possa estar em perigo.

- Então o que propões? – perguntou Vénus. – Que viajemos ao passado e evitemos que eles descubram a verdade?

- Não. Penso que já interferimos demais. Só iria piorar a situação. – Concluiu Mercúrio.

- Então e se a Saturno usasse o ceptro? Todos iriam renascer e voltaria tudo ao normal. – disse Júpiter entusiasmada.

- Mas se eu fizesse isso todos os inimigos que foram derrotados também renasceriam. – tais palavras deixaram os presentes pensativos. Toda a existência em perigo? O que poderia ser feito para evitar tamanha catástrofe?

Mais uma vez o silêncio instaurou-se naquele local. Todos procuravam uma solução para aquele problema, até que a rainha interveio.

- A única solução é usar o Cristal Prateado. – todos olharam para Serenidade incrédulos levando-a a justificar tais palavras. - Somente o Cristal Prateado tem o poder de os fazer renascer sem afectar os inimigos que foram derrotados.

- Mas alteza, para isso teria de ir até ao século XX a invocar os poderes do cristal prateado, e isso é um grande risco, o portal está instável e a rainha não está habituada à viagem. – afirmou Plutão.

- A Plutão tem razão Serenidade. – disse Endymion levantando-se da cadeira onde estava e encaminhando-se até à esposa. - Além disso toda a história seria reescrita. Isso não será igualmente perigoso? Pensa bem, poderemos nem chegar a conhecer-nos, a nossa filha poderá nem nascer. - afirmou Endymion com uma enorme preocupação - Todo o futuro deles, toda a nossa vida deixará de existir como a conhecemos…

- Sim, eu sei. Mas não vejo outra solução. É um risco que temos de correr. Somente dessa forma a vida deles seguirá o curso normal. – disse Serenidade decidida. – Não podemos correr o risco de tentar alterar aquilo em que já interferimos. Não podemos pôr em causa toda a existência deste mundo. Eu acredito no destino. – disse fitando Endymion. – Acredito que o destino se irá encarregar de nos juntar novamente. Temos de acreditar, não temos alternativa. – Serenidade encaminhou-se, por fim, até Plutão. – Vamos, temos de resolver isto o quanto antes. – Quando se preparavam para se retirar da sala, uma jovem rapariga de cabelos cor-de-rosa deteve-as.

- Eu vou. Fui eu a responsável. – afirmou a jovem. - Se não tivesse abusado nas viagens pelo portal nada disto teria acontecido.

- Serenidade, ainda não tens um verdadeiro domínio do Cristal Prateado, minha filha. – disse a rainha acariciando o rosto da princesa.

- Mãe, não posso permitir que te arrisques nessa viagem, eu já o fiz inúmeras vezes, para mim será mais fácil. – a rainha olhou para Plutão que acenou afirmativamente perante as palavras da princesa. – Mãe eu consigo fazê-lo. Confia em mim. Só terás de me dizer exactamente o que tenho de fazer.

A rainha explicou à filha o que teria de fazer: as navegantes, o mascarado, os Shitennou e todos aqueles que os tivessem conhecido, desde que tivessem tido influência relevante nas suas vidas iriam renascer (os pais de todos eles, amigos, as Starlight, a princesa Kakyuu, etc.), uma vez que não poderiam alterar as suas memórias, seria demasiado grave caso algum deles viesse a encontrá-los e os confrontasse com a história passada, pondo em causa tudo o que pretendiam. A princesa iria limitar-se a fazê-los renascer e a alterar a memória das restantes pessoas que eles conheciam e que não iriam renascer noutra época com eles. Pediu-lhe apenas que fosse acompanhada pelas suas guardiãs para ficar mais descansada.

A princesa e as guardiãs eram observadas por todos eles enquanto se encaminhavam par o portal. As portas fecharam-se após a entrada das cinco raparigas.

- Oh não! – disse a rainha alarmada lembrando-se de algo.

- O que foi Serenidade? – perguntou Endymion apreensivo ao ver a preocupação estampada no rosto da mulher.

- Esqueci-me de dizer-lhe que as Starlights e a Kakyuu têm de renascer no planeta deles e não na Terra! – afirmou a rainha angustiada.

Ao chegar ao século XX, a princesa Serenidade inspirou enchendo os pulmões tanto quanto pôde, concentrou-se e ergueu as mãos ao céu invocando os poderes do cristal prateado. Uma luz enorme surgiu do Cristal ofuscando tudo e todos.

Continua…