Minutos para a Meia-noite
Lá estava ele, como de costume sentado na poltrona de veludo azul-marinho encardida. Olhou apreensivamente para o relógio. 23:50 da noite. Há algum tempo percebeu que seu principal carrasco tinha hora marcada para começar a tortura, portanto, ainda lhe restavam 10 minutos de sossego. Sossego? Talvez não fosse a palavra mais apropriada para distinguir aqueles momentos.Quem sabe tensão fosse a melhor.
Mas, naquela noite, o momento estava demorando muito para chegar. Aqueles 10 minutos estavam sendo muito mais tortuosos do que o momento em si.
Olhou mais uma vez o relógio. Agora faltavam apenas 7 minutos. A cada minuto que se passava, mais sentia as sensações do momento. Seus olhos dilatando, sua pele se rasgando, os pêlos e os dentes crescendo, sua aparência lupina refletida no espelho rachado da casa abandonada.
Como num flash, lembrou-se daquele dia negro.
Tinha apenas 5 anos de idade quando fora mordido por aquele lobisomem, Greyback.
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Estava no pequeno jardim de sua casa, brincando com os brinquedos trouxas que seus pais haviam lhe dado. Sua mãe já havia pedido para entrar, mas o pequeno Remo quis continuar brincando no jardim. Devia tê-la ouvido.
Á chegada do anoitecer ouviu ruídos estranhos. Parecia-se com rugidos. Então, por entre os arbustos, viu. Os olhos amarelos, os dentes pontiagudos, a cara peluda. Poderia ser apenas uma criança, mas sabia o que era aquilo.
Tentou agir o mais naturalmente possível que pôde. Levantou-se vagarosamente, juntou seus preciosos brinquedos e caminhou lentamente até a porta de casa.
Porém, a fera foi mais rápida, e em questão de segundos o pequeno Remo foi atacado com uma forte mordida no pescoço, no que resultou um doloroso grito de desespero e horror, além de uma profunda inconsciência.
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Não agüentava mais aquela tensão e angústia, até olhar novamente o relógio. 1 minuto. Olhou a janela. As nuvens estavam começando a dar passagem à ela.
Como sempre, estava linda. Redonda, revestida em um branco lívido e radiante. Porém, não havia coisa ou criatura que o fizesse sofrer mais do que ela.
Levantou-se da poltrona e olhou-se no espelho rachado. Seus olhos já estavam amarelos. Olhou para o relógio e logo em seguida para ela. Meia-noite em ponto.
Então, todas as transformações vieram como um turbilhão.
Os olhos já dilatados, a pele rasgada, os pêlos grandes, os dentes pontiagudos. Então vieram os uivos, dirigidos diretamente à ela. Podia-se perceber a raiva, a fúria, a mágoa, a angústia, o sofrimento, todos juntos naquele tipo de chamado.
Considerava aquela a maior das injustiças. Enquanto ele sofria e se sentia a mais inferior das criaturas, ela permanecia calma e serena em seu lugar.
Era praticamente impossível descrever o momento em que Remo Lupin assumia sua forma lupina, ainda mais quando se tratava das dores excessivas e intermináveis.
Só havia uma coisa que realmente o reconfortava: saber que no dia seguinte voltaria a ser o mesmo Remo de sempre.
