I

A NOVA ÓPERA GARNIER

1874

Opera Garnier era o novo monumental e luxuoso teatro de ópera de Paris, construído sobre um enorme lago subterrâneo. Começada a sua reconstrução em 1857, terminou no presente ano, dando de presente à cidade um teatro de cara lavada, para corrigir os danos feitos no antigo teatro que ali se situara e que fechara há uns anos atrás por a sua estrutura se encontrar em muito mau estado.

A 24 de Dezembro de 1874 foi estreado com a imponente ópera "Roméo et Juliette" de Charles Gounod, com uma bilheteira completamente esgotada! Todas as pessoas da cidade estavam entusiasmadas com o novo teatro e a nova imponente peça baseada na obra de William Shakespeare, que já havia passado em várias capitais importantes de toda a Europa.

Era véspera de Natal, a noite estava linda. Suavemente, caíam flocos de neve sobre o telhado que tinha uma cúpula de vidro sobre o grande auditório das óperas.

Nunca Paris se tinha visto tão deslumbrante como naquele dia. As gentes vestiram-se a rigor como se aquele fosse o evento mais importante das suas vidas. No recinto do teatro, amontoavam-se as carruagens das pessoas mais ricas; a porta principal, com espelhos de cristal e emoldurada a ouro, reflectia tantas caras ansiosas pela sua abertura quantas estrelas existiam no céu! Era o espectáculo do ano: há mais de 17 anos que aquele imponente edifício estava a ser construído e tinha chegado a vez da cidade se perder pela sua beleza arquitectónica, as estátuas, os arcos, os magníficos pilares do Revivalismo!

Nos bastidores, todos os dançarinos e cantores estavam numa roda-viva: eram os últimos minutos antes do espectáculo. Maquilhagem para cá, indumentárias para lá, a confusão era geral e quem não tivesse um ajudante suficientemente competente dificilmente conseguia estar pronto antes das portas abrirem.

Às dez horas em ponto abriram elas. Homens, mulheres, crianças começaram a entrar no teatro, olhando em torno deslumbrados. Cada canto era mágico, possuía riqueza, beleza e musicalidade.

O auditório era simplesmente deslumbrante: no palco, mil e uma velas acesas davam um ar romântico ao cenário. Em cada camarote, dois candelabros de ouro em cada parede iluminavam o compartimento. Em cada pilar, estátuas de anjos celestiais que tocavam melodias nas suas harpas. Todo aquele lugar transpirava poder e encanto, fascinação.

A pouco e pouco, as pessoas iam enchendo os lugares vazios, as cadeiras confortáveis de estofo vermelho. No palco, estava o majestoso pano vermelho com franjas de ouro caídas até ao soalho de madeira.

Faltavam 15 minutos para o início da ópera…

– Carlotta! Carlotta! Rápido, tem de ir vestir o vestido da Julieta! – pedia, quase suplicando, a Sophie Evans, a empregada de Carlotta. Ser empregada da Diva do Opera Garnier não era tarefa fácil e ainda mais sendo Carlotta! Esta encontrava-se sentada num dos camarins a beber sumo de laranja, para poder usufruir em pleno da sua poderosa voz.

– Sophie, traz o meu vestido. Está no meu quarto! – retorquiu amargamente.

Carlotta era uma estrangeira inglesa que caíra no elenco daquele teatro de pára-quedas. Numa visita a Paris, há meio ano, conhecera os agora donos da Ópera, André e Firmin, e num momento de sorte cantara para eles uma pequena demonstração (eles já tinham ouvido falar imenso dos dotes de Carlotta). Assim ficara.

O teatro Opera Garnier era também o lar dos actores. Anexado ao edifício principal, fora construído um enorme edifício para os camarins e dormitórios de cada artista daquele teatro.

Sophie correu apressadamente em direcção às escadas. O quarto de Carlotta ficava no segundo piso. Era aí que viviam os actores mais importantes, Carlotta e Piangi, e os donos do teatro. Os outros actores secundários moravam no primeiro piso e os dançarinos no rés-do-chão.

André e Firmin estavam à entrada da porta principal do auditório, cumprimentando as pessoas que passavam. Mais cedo ou mais tarde iria chegar o novo patrocinador do teatro, o jovem visconde Raoul de Chagny e tudo tinha de estar num brinco! Não devia haver aquela confusão de pessoas que ainda havia: muita gente continuava a chegar de todos os lados.

Dez minutos mais tarde, a afluência das pessoas começou a diminuir. Agora apenas raros casais atrasados chegavam apressadamente, cumprimentavam os donos e entravam no grande auditório em busca de um último lugar vago.

Nessa altura Raoul de Chagny chegou numa luxuosa carruagem preta puxada por dois cavalos brancos. Abriu a porta e desceu lentamente.

Era um homem alto, forte e jovem, estava no topo do vigor. Usava Os seus cabelos, que chegavam aos ombros, esvoaçavam suavemente com a brisa nocturna daquele Natal. Sorriu para André e Firmin, mostrando uma fileira de dentes completamente brancos e perfeitos.

Avançou em direcção a eles de braços abertos.

– Meus senhores, esta será uma grande noite! – disse, entrando no hall do teatro. – Esta noite ficará para sempre marcada na história de Paris!

– Claro, a cidade esperou tanto tempo por este momento! – anuiu André.

– Bem, de qualquer forma, quanto tempo falta para o espectáculo começar?

– Exactamente quatro minutos, visconde. Temos de nos despachar! – respondeu Firmin – O nosso camarote é o número cinco.

Encaminharam-se para o camarote cinco. Por detrás do pano, uma centena de pessoas rezavam para que a mais importante estreia de sempre corresse bem.

Madame Giry, a mentora das dançarinas dava-lhes conselhos, Carlotta preparava a sua voz, Piangi compunha as suas roupas.

Tudo a postos no cenário, os actores puseram-se em posição. Uns segundos depois, o pano vermelho subia…