Título da Fic: Amor da Vida Nossa

Autora: Flora Fairfield

E-mail: florafairfield@yahoo.com

Categoria: Romance/Drama

Classificação: PG-13

Sinopse: Anos após a derrota de Voldemort, Draco encontra uma Gina ainda traumatizada por tudo o que aconteceu com ela durante a guerra. Ele se apaixona, mas será que o amor pode mesmo curar todas as feridas? D/G Pós-Hogwarts

Disclaimer: Eles não são meus. São da J.K. Rowling e da Warner. Eu não vou ganhar dinheiro algum com essa fic. Ela se destina apenas à diversão de fãs desocupados (!) e que adoram o Draco e a Gina como eu.

N/A: Essa fic é meio que a menina dos meus olhos no momento. Ela vai ser curta. Apenas três capítulos e um pequeno epílogo e vai ser totalmente centrada no Draco e na Gina. Os dois podem parecer meio descaracterizados (principalmente o Draco), mas isso é intencional, já que a fic se passa mais de dez anos depois deles saírem de Hogwarts. Todas as mudanças nos comportamentos dos dois não vão ser completamente explicadas, mas eu vou dar boas dicas no decorrer da história. Principalmente no caso da Gina. Bom, o que mais eu posso dizer? Não muito agora, mas no final desse capítulo há algumas observações pertinentes que eu não quero fazer agora para não estragar um pouco a narrativa.

PS: Se vc gosta do Draco e da Gina juntos, então LEIA!!! E tenha fé em mim porque ninguém gosta mais dos dois do que eu!!!! O que não vai me impedir que dar uns bons sustos em vocês... mas podem ficar tranqüilos que maluca, eu não sou (pelo menos não muito...).

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"O poeta é um fingidor./ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente." (Fernando Pessoa)

"Tarde demais o conheci, por fim/  Cedo demais, sem conhecê-lo, Amei-o" (Shakespeare)

"... para criaturas pequenas como nós, a vastidão só é suportável através do amor." (Carl Sagan em "Contato")

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Capítulo 1: Encontro

27 de janeiro

Draco Malfoy olhou para o relógio impaciente. Ele estava terrivelmente atrasado. Passou pelo Monumento a Vittorio Emanuele II quase correndo, esbarrando nas pessoas na rua. Finalmente, chegou à base da escada que leva ao Capitólio ofegante. Ele detestava estar ofegante. Detestava estar em desalinho. "E tudo isso para quê?", ele se perguntou mentalmente, enquanto fazia o melhor possível para se recompor antes de começar a subir, "Para encontrar uma garota que com certeza nem vale a pena". Em retrospecto, contudo, ele não poderia deixar de pensar que em toda a sua vida ele nunca encontrara uma garota que realmente valesse a pena. Uma voz no fundo da sua mente tinha o incômodo hábito de observar que o problema talvez estivesse nele e não nelas, mas Draco preferia fingir que não ouvia. Aliás, desde que ele podia se lembrar, essa tinha sido a sua especialidade: fingir não ver, não escutar, não se importar. Ele era bom nisso.

Com um suspiro - e depois de se certificar que sua aparência estava aceitável - ele começou a subir as escadas. O sol de inverno já estava se pondo e o céu já se tingia de um azul mais escuro. Ainda havia, contudo, claridade suficiente para que ele pudesse enxergar seus passos e as pessoas ao seu redor. Alguns turistas estavam descendo, outros subindo, com máquinas fotográficas nas mãos, falando animadamente apesar das expressões cansadas. Afinal, já era o fim do dia e eles provavelmente estavam andando desde a manhã. Havia muito na cidade para se ver. Na primeira vez que pôs os pés em Roma, ainda um menino, Draco se sentiu como eles, impressionado, fascinado até. Isso havia sido, entretanto, há muito tempo atrás. Agora, Draco Malfoy subia as escadas que levam à Praça do Capitólio com um ar indiferente. O mesmo ar com que ele encarava tudo na sua vida. Ele não era mais um menino vendo o mundo pela primeira vez. Longe disso, ele era um homem de trinta anos que havia perdido todas as suas ilusões da infância. Como todo mundo, ele tinha a sua cota de arrependimentos, mas preferia não prestar atenção a eles. O contrário, na realidade: ele preferia simplesmente ignorá-los e seguir com a sua existência, já que o passado não pode ser mudado. Ele, Draco Malfoy, há muito se conformara com as suas escolhas da juventude e com as suas conseqüências. Ele já estava acostumado com o fato de que passaria o resto dos seus dias como um pária no mundo mágico. Por isso é que ele estava subindo a escadaria do Capitólio no fim de uma tarde de inverno para ver uma trouxa com quem vinha se encontrando no último mês. Nenhuma bruxa de família respeitável aceitaria vê-lo. Ele sabia disso. E o pior é que não era por nenhum dos atos hediondos do pai dele e sim pelos seus próprios.

Não que, na opinião dele, seus atos tivessem sido assim tão horríveis. Ele não carregava a Marca Negra no braço. Tinha sido orgulhoso demais na sua juventude para aceitá-la, para ter alguém o dominando daquele jeito. Não. Na realidade, o maior pecado de Draco Malfoy foi exatamente o da indiferença. Ele recusou a Marca, sim, mas ao invés de lutar, ele simplesmente fugiu. E quando Voldemort foi finalmente destruído pelo único e insuperável Harry Potter, tudo mudou. O mundo mágico saiu de uma guerra cruel e sangrenta, que foi vencida apenas a um alto custo, mas nada mais foi igual. As pessoas ainda não estavam completamente recuperadas mesmo quase dez anos depois. E aqueles que sofreram ou que perderam pessoas queridas nas batalhas, começaram a culpar não só os Comensais da Morte e os outros aliados de Voldemort, mas também todos aqueles que escolheram não se envolver. Tornou-se vergonhoso para qualquer um não ter lutado na guerra. Assim, apesar da ausência da Marca Negra ter garantido uma vida fora de Azkaban a Malfoy, sua indiferença o condenou ao ostracismo social. Sim, ele ainda tinha dinheiro, mas era só. Ele conseguira fazer do nome Malfoy algo ainda mais detestável do que o usual e tudo porque ele simplesmente não se importava com nada além da sua própria pele. Não foi por falta de coragem que ele fugiu. De forma alguma. Foi por simples indiferença.

Não lhe sobraram muitas opções depois disso. Ele saiu da Inglaterra e foi morar em Roma, longe de tudo. Ironicamente, passou a viver mais próximo dos trouxas, onde ninguém o conhecia. Logo ele, racista e arrogante como ninguém mais. Lembrando-se de todas as tolices nas quais acreditara quando era jovem, Draco deixou escapar um leve sorriso. Ele escolheu aprender pelo jeito difícil, é verdade, já que a vida é uma professora implacável, mas não deixou de aprender. Não, Draco Malfoy não era mais um menino. Ele era um homem. Um homem sem ilusões, sem sonhos e sem muita esperança, mas ainda assim, um homem.

Finalmente, alcançou o alto da escada. Colocando as mãos nos bolsos do casaco, Draco afastou todos os pensamentos sobre o passado da sua mente - afinal, não é muito produtivo pensar sobre o que nunca vai mudar - e começou a circundar a praça, à procura da garota. Ele olhou cuidadosamente ao redor. Ela deveria estar perto da estátua do Marco Aurélio, no meio do Capitólio, mas não estava. Draco a procurou com os olhos pelas fachadas dos três palácios que circundam a praça, mas ainda assim não a encontrou. Com um suspiro resignado, ele olhou para o relógio uma última vez. Não, ele não podia realmente culpá-la. Esperar que ela ainda estivesse ali quase uma hora e meia depois da hora marcada era um pouco demais. A verdade, contudo, é que ele não se importava. Por mais triste que isso pudesse parecer, ela não faria falta alguma.

Ainda com as mãos dentro dos bolsos, parado perto da estátua, com todas as pessoas se movendo ao seu redor, Draco se sentiu subitamente muito cansado. Cansado da sua própria vida. Ele não podia deixar de pensar que estava estagnado, enquanto todo o mundo, até mesmo as estrelas que não demorariam a aparecer brilhando no céu, estavam em constante movimento. Ele sabia que não conseguiria continuar desse jeito por muito tempo. Ele precisava de algo pelo que viver.

Tentando decidir o que fazer - e ao mesmo tempo tentando adiar essa decisão o máximo possível - ele se virou e começou a caminhar na direção oposta às escadas, pretendendo se sentar um pouco num degrau em frente à fonte da praça. Foi esse simples ato, essa simples escolha, entretanto, que acabou por mudar toda a sua vida - em todos os sentidos possíveis - pois foi quando Draco se virou que ele a viu. Em vários momentos nos anos seguintes, ele se pegou imaginando o que teria acontecido se a garota que ele deveria encontrar tivesse ficado esperando, ou se ele simplesmente tivesse resolvido ir embora, ou se ele tivesse chegado na hora certa. Ele não a teria encontrado, então. E tudo seria diferente. Para a sua sorte e para a sua ruína, contudo, ele não tinha chegado na hora, nem encontrado a garota, nem ido embora. Ele estava lá. E ela também.

Sentada no exato lugar em que ele pretendera se sentar, ela era, como ele, a única outra pessoa no Capitólio que não parecia estar se movendo. Com um caderno apoiado no colo e segurando despreocupadamente uma caneta entre os dedos, ela mantinha a cabeça levantada, os olhos presos no horizonte. Instintivamente, Draco se virou para olhar naquela mesma direção e compreendeu na hora porque ela parecia tão absorta.  Diante dele, estava o anoitecer mais bonito que os seus olhos já haviam presenciado. No céu, era possível vislumbrar os mais variados e lindos tons de azul, mais escuros no alto e se tornando gradativamente mais claros conforme iam se aproximando da linha dos prédios da cidade lá embaixo. Por um instante, ele ficou sem fôlego, sem palavras, absolutamente boquiaberto diante de tamanha beleza e diante de como essa beleza teria passado despercebida não fosse por aquela mulher sentada silenciosamente na praça. Ele não podia acreditar que era uma pessoa capaz de simplesmente ignorar algo tão lindo. Quando finalmente a noite terminou de cair, e um azul escuro passou a servir de pano de fundo para as estrelas, ele conseguiu tirar seus olhos do horizonte e se voltar para a mulher. Ao contrário dele, ela ainda tinha os olhos travados na mesma direção. Ele a observou por vários momentos, também sem fôlego, tentando absorver cada pedacinho de informação sobre ela. Havia algo naquela mulher que o atraía. Um certo ar de beleza e de melancolia. Seus olhos eram os olhos mais tristes que ele já vira. Tão tristes que chegavam a ser impressionantes. E entravam em conflito com o seu cabelo extremamente vermelho, que lembrava vida.

Ele não percebeu o quão estranho devia estar parecendo para qualquer pessoa que o observasse, parado no meio do caminho entre a estátua e a fonte, com as mãos nos bolsos, olhando para ela como que inebriado, sem conseguir se mexer. Ele mal percebeu quando ela, pressentindo-o, tirou os olhos do horizonte e olhou diretamente na direção dele. Ainda enfeitiçado, ele praticamente não notou quando ela guardou lentamente o caderno e a caneta na bolsa e se levantou. Sem conseguir sair do lugar, tudo o que ele conseguiu fazer foi observar, enquanto ela caminhava devagar. Foi só quando ela parou exatamente na frente dele e o olhou com grandes e castanhos olhos indagadores que Draco pareceu sair do transe. Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, ele mesmo não sabia o quê, mas, antes que pudesse falar, foi interrompido por uma voz melodiosa.

- Tentando se lembrar daonde nós nos conhecemos, Malfoy? - ela perguntou. Draco franziu as sobrancelhas confuso.

- Nós nos conhecemos? - ele disse em voz alta antes que pudesse se controlar.

- Sim - a mulher respondeu com um leve sorriso. Malfoy não pôde deixar de notar que o sorriso, entretanto, não chegou a alcançar os olhos dela, que permaneciam tão tristes quanto antes - Hogwarts - ao ouvir isso, Draco se sentiu quebrar por dentro. Então aquele anjo que ele encontrara com certeza o desprezaria - Cabelo vermelho - ela continuou, vendo que ele ainda não sabia com quem estava conversando - Sardas e vestes de segunda mão? - "Meu Deus!" ele exclamou mentalmente.

- Weasley.

- Exato.

- Meu Deus - ele repetiu, dessa vez em voz alta - Você deve me odiar - Draco sussurrou mais para si mesmo do que para ela.

- Odiar? - Weasley disse calmamente - Não. Eu não tenho mais forças para isso.

- O que...

- Nada - ela interrompeu - Esqueça o que eu disse. É besteira. Mas não, eu não te odeio - Draco demorou alguns segundos para compreender o que ela estava dizendo. Não era possível, era? Todos no mundo mágico o desprezavam e ela era uma Weasley só para piorar. Ele nunca fora particularmente bondoso com Weasleys - Eu preciso ir agora - ela disse finalmente quando ele não abriu a boca - Ciao, Malfoy - e, após um momento esperando que ele se pronunciasse, o que ele não fez, Weasley começou a se afastar. Mais tarde, lembrando-se da cena, Draco não se perdoou por não ter feito nada além de vê-la ir embora, mas ele estava como que encantado. Não conseguiu fazer seus pés se mexerem ou seus lábios articularem alguma palavra.

Quando desceu as escadas do Capitólio naquela noite e foi caminhando para casa, Draco tinha a certeza que não a encontraria de novo. Ele achava que os Céus não poderiam nunca recompensar a sua estupidez com outro encontro com ela. E ele não sabia virtualmente nada sobre a pequena Weasley. Deus! Ele não se lembrava sequer do primeiro nome dela! Não tinha idéia de onde ela morava. Pelo que Malfoy sabia, ela poderia muito bem estar em Roma só de férias. Poderia estar de partida no dia seguinte. E ainda assim, ele sabia que, mesmo que nunca mais a visse, ele não poderia esquecê-la. Talvez fosse pelo seu estado de espírito no momento em que a viu pela primeira vez - sim, pela primeira vez, porque ele nunca a tinha visto realmente antes - ou talvez fosse pelo momento em si, que tinha sido tão mágico. Um instante perfeito na ampulheta do universo, quando o tempo pareceu parar para que ele pudesse observar toda a beleza que há no mundo. Ou talvez fosse simplesmente porque havia tanta tristeza naqueles olhos castanhos que Draco se sentia perseguido, assombrado por eles. Não poderia haver no mundo outra pessoa que carregasse sua tristeza de forma tão evidente, tão transparente e que ainda assim - ou quem sabe até mesmo por isso - continuasse tão bonita. E tão frágil.

Malfoy continuou andando e continuou vivendo, fazendo o possível para colocar de lado os acontecimentos daquele anoitecer - se é que se pode chamar aquilo de acontecimento. Ele achava que tinha apenas conseguido parecer bastante tolo. Não conseguia evitar, contudo, de virar o rosto toda vez que vislumbrava uma sombra de cabelo vermelho na rua, com a esperança vã de que fosse ela. Cada vez que ele se descobria enganado, entretanto, ele se sentia mais distante daqueles olhos e daquela voz. Ele não tinha esquecido, mas tinha apenas colocado a vontade de vê-la novamente junto com os outros pensamentos que ele escolhia ignorar. E, como sempre, ele estava sendo bem sucedido. Ele sempre era bem sucedido quando se tratava de fingir que não estava vendo, ou escutando, ou se importando.

No início da primavera, todavia, quase dois meses depois do encontro, aconteceu algo que ele não pôde ignorar. Draco estava passando em frente a uma livraria, perto da Praça de São Pedro. Ele já havia passado por ali muitas vezes. Na maioria delas, simplesmente passava direto, sem se preocupar em olhar. Mas naquele dia, sem nenhum motivo em especial, ele resolveu parar por um instante, olhando a vitrine, sem procurar por nada específico. E lá estava, meio que esperando por ele, um livro pequeno, de capa vermelha, que trazia em letras brancas o nome da autora: Virgínia Weasley. Por um segundo, ele hesitou. Não poderia ser a mesma pessoa, poderia? Afinal de contas, a Weasley que ele conhecia era uma bruxa. Dificilmente, teria um livro publicado por trouxas. Ele tentou se convencer de que não era ela, tentou fazer seus pés saírem da frente da livraria e seguirem seu rumo, mas foi inútil. Antes que ele pudesse se dar conta, ele estava dentro da loja, folheando o livro. Eram poesias. Na contracapa, estava uma foto dela. Inegavelmente era ela. A mesma Weasley. Virgínia. Ele comprou o livro. Não sabia exatamente por quê. Nunca fora um leitor muito voraz. Especialmente não de poesia, mas a sede de conhecê-la, de entender o que havia por trás de toda aquela tristeza voltou com toda a força a sua mente.

Do lado de fora da loja, ele tirou o livro da sacola e o observou de novo. O nome era "Desencontro". Sem saber o motivo, ele achou na hora que o título combinava bem com Virgínia, com aquela expressão nos olhos dela, enfim. Ele teve que se controlar para não sentar no meio-fio e começar a ler imediatamente. Não, ele não faria isso. Ao contrário, continuou finalmente o seu caminho, andando em direção ao Castelo de Sant'Angelo para atravessar a ponte. Foi aí que o destino mais uma vez interviu. Ele poderia ter atravessado o rio por outra ponte. Poderia ter se demorado mais na livraria. Poderia ter se decidido por ler o livro sentado no meio-fio. Qualquer uma dessas opções seria perfeitamente razoável, mas, se ele tivesse escolhido qualquer uma delas, ele provavelmente não teria se deparado com a autora do livro, apoiada na mureta da ponte, mais uma vez fitando o horizonte. Draco não pôde deixar de se assustar com isso: com o fato de que diante das inúmeras possibilidades da existência, o destino estava conspirando para que ele a encontrasse mais uma vez. "Só que dessa vez" ele pensou "eu não vou confiar na sorte".

Ele foi se aproximando devagar, sem fazer barulho, até que estar do lado dela, também apoiado na mureta, olhando para frente. Ela não pareceu tomar conhecimento da presença dele por algum tempo. Ele também não disse nada. Apenas esperou, procurando não encará-la para não correr o risco de se perder novamente naqueles olhos.

- Virgínia - ele murmurou por fim, fazendo-a se virar para olhá-lo.

- Você não acha estranho - ela perguntou - que os italianos usem a mesma palavra 'ciao' quando querem dizer 'oi' e quando querem dizer 'até logo'?

- Como? - ele disse sem entender o que ela estava querendo dizer.

- A palavra 'ciao'. Eu acho estranho - e depois, balançando a cabeça - Esqueça. Eu só estava pensando - e ela se virou novamente para o horizonte.

- Você sempre faz isso? - ele perguntou, intrigado.

- O quê? Pensar? - ela respondeu com um ar divertido que novamente não chegou a alcançar os seus olhos.

- Não! - ele corrigiu rápido - Olhar para o horizonte. Da outra vez, você também estava fazendo isso - ele respondeu se sentindo bastante estúpido.

- Foram só duas vezes que você me viu assim - ela falou, virando-se novamente para encará-lo.

- Mas então por que eu tenho a impressão que você o faz sempre? - Draco perguntou, quase se perdendo de novo naqueles olhos.

- Porque eu faço isso sempre.

- Por quê? - ele perguntou sem pensar.

- Por muitos motivos - ela respondeu após uma pausa.

Ele não insistiu mais. Só depois que já tinha aberto a boca é ele percebeu o quão pessoal a sua pergunta havia sido. Ele não podia evitar, contudo. Queria saber mais sobre ela.

- Venha - ele falou, encostando de leve no braço dela, para chamá-la.

- Para onde? - ela perguntou surpresa.

- Vamos tomar um café. Não é todo dia que eu encontro uma bruxa disposta a realmente falar comigo.

- Eu não faço mais mágica. Há muito tempo - ela respondeu, seus olhos se tornando ainda mais sombrios. Ele se arrependeu na hora por ter tocado no assunto.

- Bom, então isso explica tudo - ele replicou jovialmente, tentando fazê-la se sentir melhor e fingindo que não tinha percebido.

- Tudo o quê?

- O seu livro publicado por trouxas e o fato de que você não se importa de falar comigo... Agora, venha - ele encostou novamente no braço dela, dessa vez a puxando de leve - Vamos tomar um café. Eu não vou deixar você escapar de novo - ele acrescentou sorrindo.

Ela não protestou mais. Apenas o seguiu e, por todo o caminho até o café, Draco não pôde deixar de se sentir extremamente curioso e extremamente satisfeito também. Ele achara que não a veria mais. Convencera-se de que não a veria mais. E agora, cá estava ela, caminhando do lado dele. E tudo no que ele conseguia pensar eram nos olhos de chocolate dela, tão lindos e tão tristes, e em entender o porquê de tanta melancolia e em fazê-la se sentir melhor...

OBS1: Os lugares mencionados na história existem de verdade e ficam em Roma. O Capitólio é uma praça que foi projetada pelo Michelângelo e a estátua que fica no meio dela é uma estátua do Imperador Marco Aurélio. Na realidade, uma réplica da original, que se encontra atualmente num museu. O Castelo de Sant'Angelo é um castelo que fica perto da Basílica de São Pedro e tem uma ponte na frente dele (uma muito bonita, por sinal), a Ponte Sant'Angelo, que atravessa o Tibre (o rio que corta Roma).

OBS2: Qto à história em si, ela vai ser narrada quase que toda exclusivamente do ponto de vista do Draco. É por isso que, por exemplo, eu chamei a Gina de Weasley até ele descobrir o primeiro nome dela. Além disso, muita coisa vai aparecer meio distorcida, como se nós estivéssemos vendo o mundo através dos olhos dele. Por isso também, nem sempre vai ficar claro na hora o porquê de algumas coisas que a Gina fala ou faz (já que a gente não vai saber o que ela está pensando), mas é essa a intenção mesmo. Eu prometo que no fim, ninguém vai ficar sem entender nada nessa história. Outra coisa: sempre que a Gina for descrita e vcs acharem que ela está idealizada demais, lembrem-se: não é a Gina de verdade que está sendo descrita, mas sim a visão que o Draco tem dela.

OBS3: A idéia de que as pessoas que não lutaram na guerra contra Voldemort passaram a ser tratadas com desprezo, eu tirei de uma passagem de um livro do Ernest Hemingway, chamado "Adeus às Armas", que se passa durante a Primeira Guerra e na qual a personagem principal nota um olhar ou um comentário enviesado (eu não me lembro bem) de um senhor na rua porque ele estava vestido à paisana, quando, sendo um jovem saudável, deveria estar lutando na guerra. Eu extrapolei, então essa idéia, de que seria vergonhoso não lutar, só pro nosso Draco querido ser meio que repudiado no mundo mágico.

OBS4: Sim, houve uma guerra e, não, não foi nada bonito. Nós vamos falar um pouco mais dela na frente.

OBS5: O próximo capítulo vai estar no ar o mais rápido possível. Com certeza antes de sexta-feira!!!!