Nota da autora: Essa é a (talvez nem tão) esperada continuação de "E Eu Sonhei Com Campos Onde Choviam Campos Carmesins". Eu não coloquei isso na sinopse da história porque... bem, aí não ia sobrar espaço para colocar a sinopse propriamente dita da história -.-" Nisso que dá fazer títulos absurdamente longos, eu sei. E ela se passa dezessete anos após o fim da outra. Se você não leu a outra fanfic... você provavelmente vai conseguir acompanhar essa daqui, por causa da diferença de tempo. Mas eu acharia interessante você ler a outra primeiro. Mas, faça como quiser." Agradecimentos à Oli, por betar a fanfic! Love ya!

Boa leitura

:Antes que Eu me Esqueça

:Prólogo – Antes Que Eu Acorde

:Autora: Cindy "MiWi"

Olhou ao redor, perguntando-se o que estava fazendo ali. Por mais que tentasse, não conseguiu se lembrar. Ele poderia estar com medo – medo de tantas coisas ruins que poderiam estar acontecendo com ele, medo da pessoa que o trouxe até ali. Mas ele não sentia nada disso, mas apenas uma vaga curiosidade.

Ao se virar e encará-la, porém, mesmo isso se dissipou, como uma nuvem de fumaça tomada pelo vento noturno.

Cabelos encaracolados, castanhos como as areias da praia – moldura perfeita ao redor de seu rosto, caindo sobre seu busto, cachinhos rodeando seus seios.

Sentiu vontade de estender a mão para tocá-la, para despi-la desta última vestimenta, tirando os longos cabelos da frente de seu corpo convidativo. Sua mão ergueu-se, trêmula, cada nervo em seu corpo plenamente ciente daquela presença, daquela mulher onipresente naquele quarto.

Ele quis dizer ao seu corpo para não reagir, não ainda, não agora, apenas para falhar completamente.

Ela percebeu isso, um largo sorriso em seu rosto confirmando o fato. – Oh, eu perguntaria se você possui uma varinha no seu bolso ou se está apenas feliz em me ver – e deu um passo na direção dele, colando seu peito contra o dele, apenas para que ele pudesse sentir o bater compassado de ambos os corações, o subir e descer ritmado da garota contra ele. – Mas, oh, você está nu. Pessoas nuas não possuem bolsos, não é mesmo? – sussurrou ela contra seu ouvido, mordiscando o lóbulo de sua orelha. Ele deixou escapar um gemido, mas se arrependeu disso logo em seguida, pois ao ouvir isso a mulher se afastou dele.

Ele chegou a achar que havia quadros, inquisitivos, a observarem aquela cena, mas quando ele se virou para mandar que saíssem dali, não encontrou nada – nem os quadros, nem as molduras, nem nada.

Riu-se, formando cachinhos com a ponta de seus dedos, girando como uma pequena criança que sonha se tornar uma bailarina. Riu do homem paralisado à sua frente. – Por quê? Por que você está aqui? – foi a única coisa que ele foi capaz de murmurar, ao sentir que sua voz havia voltado. Ainda assim, suas palavras saíram entrecortadas por sussurros, leves gemidos, um leve arfar de peito que ele sabia não ser proveniente de extremo cansaço.

Passou a mão pelos cabelos, encostando-se contra a parede – uma das únicas coisas presentes naquele estranho cenário, afora a cama coberta por lençóis de cetim vermelho e a janela fechada ao mundo, e as velas acesas ao redor deles. – Por quê... ? Você sempre me perguntou isso, não é mesmo? – disse ela, pendendo a cabeça para o lado, na direção dele. – Desde a primeira vez, quando eu comecei a lhe visitar em St. Mungo – deu de ombros. – Você mal se lembra da maioria das minhas visitas, mas eu tenho certeza de que você se lembra de que eram as únicas – sua voz havia se reduzido a um murmúrio, mas o homem não teve dificuldade alguma em ouvi-la, tão próxima dele se encontrava a mulher.

O homem se contorceu levemente ao ouvir isso, mas não demonstrou nenhuma outra reação. – Sim, e você nunca me respondeu.

Mas quando ele quis procurar no fundo de sua mente as outras visitas daquela mulher, deparou-se com o vazio. Nada, nada. Não havia nada em sua mente, senão a mulher, aquele cenário, aquela necessidade.

Ele estava começando a se esquecer, mas de repente ele não se importava mais.

Pondo ambas as mãos sobre os quadris, ela olhou para ele com certa indignação, o peito estufado. Não que seus seios fossem grandes demais ou desproporcionais às curvas maduras da mulher, era apenas que ele parecia incapaz de se concentrar em qualquer outro aspecto da mulher quando ela se movia daquela maneira. – Sabe, eu sempre gostei de ensinar as outras pessoas, embora a maioria delas tenha sido tola demais para escutar o que eu tinha a dizer – ela começou a caminhar na direção dele, os quadris descrevendo leves círculos no ar, e ele a observá-la, incapaz de se mover, mesmo que quisesse. – Mas você não... você não podia fugir de mim, mentir para mim, me ignorar – ao terminar de falar, pôs ambas aos mãos ao redor do rosto do homem, como se quisesse ao mesmo tempo admirá-lo e segurá-lo, enquanto ainda sussurrava a última sílaba, 'ar', soltando ao ar um pouco mais de seu feitiço, deixando sua língua estalar no céu de sua boca tão languidamente quando poderia. – Você era o homem perfeito, e tão quebrado quanto poderia estar – sorriu, e o homem sentiu um frio percorrer sua espinha, apesar das janelas fechadas e das velas acesas.

Isso ainda não explica o que você está fazendo aqui – murmurou ele, incerto se deveria ou não agarrar a mulher e calá-la com beijos até a exaustão de ambas as partes. – Eu não estou mais quebrado, nem sou mais tão perfeito.

Ao ouvir isso, ela se colou ao corpo do homem, forçando a girar como se ele não passasse de um mero bonequinho para ela. E girou, girou, as pernas da garota presas ao redor das suas, ambos os sexos tão próximos que ele tinha certeza de que não precisavam ir até a cama para terminar aquilo ali. Seu corpo começava a arder, e ele teria abaixado as mãos para acalmar um pouco o próprio corpo, não fosse ter percebido que a mulher segurava ambas as suas mãos entre as suas, como se tencionasse dançar com ele.

Caíram sobre a cama, ela sobre ele, os cachinhos rodeando agora o peito dele, os cabelos ao redor dos rostos. – Eu ainda não acabei de lhe ensinar tudo o que devia, e eu nunca deixo as coisas inacabadas – disse ela, sua própria voz entrecortada por beijos soltos ao redor da clavícula do homem. Sentou-se sobre ele, prendendo-o sob si com ambas as pernas. Cruzou os braços sobre o peito e o olhou como se ponderasse sobre qual atitude tomar com aquele péssimo aluno.

O nome dela brincou por um momento em sua língua, mas escapou no momento seguinte. Por um ínfimo momento, sentiu seu próprio nome em sua mente, mas ele se foi tão rapidamente quanto viera e não lhe restou nada, senão a impressão de que aquilo não havia passado de uma ilusão.

E ele sentiu vontade de gritar, de dizer a ela que terminasse logo com isso, que ele pretendia ser o melhor aluno possível. E ele realmente teria feito algo do gênero, não fosse ele ter percebido algo muito mais importante. – Ei! – grunhiu, pondo ambas as mãos sobre os quadris da mulher, como se tencionasse tirá-la dali. – Eu deveria estar em cima!

Mas ela voltou a rir, mais abertamente do que antes, jogando a cabeça para trás, deixando que o homem visse sua garganta vibrar, assim como seu estômago, o som ecoando através do quarto fechado. E ele voltou a ficar imobilizado. Sorrindo para ele, ela mergulhou sobre o pescoço do homem, dando beijos e mordidas como se desejasse atiçar ainda mais o pobre homem. Não que isso fosse necessário, foi o único pensamento que cruzou a mente dele antes que ela voltasse a falar. – Você? Em cima? Mas, meu bem... quem você acha que arrancou suas roupas e as jogou no chão? Quem o trouxe até aqui? – e num tom de voz cada vez mais baixo, ela continuou, descendo também seus beijos, atravessando seu pescoço, sua clavícula, e continuando. – Quem o ensinou a ser curioso? Quem o ensinou que você não pode ter tudo o que quer, por mais que você pedisse ao seu querido papai? Quem disse que tudo no que você acredita não passa de mentira e ilusão e tolice? Quem? – continuou ela, voltando a subir cada vez que chegava perto da onde ele queria que ela chegasse. Ele começou a gemer cada vez que ela fazia isso, o que aparentemente a satisfazia, e muito. – Diga-me.

Você – foi tudo o que ele conseguiu murmurar, e ela pareceu gostar da resposta. Ela ergueu seu rosto até poder encará-lo nos olhos, e ele se perguntou se era a primeira vez que ela fazia isso, ou se ele simplesmente estava concentrado demais em outras partes do corpo da mulher nas outras vezes. Não, ele não achava isso possível; como ele poderia escapar daqueles olhos? Como? E ele que achava que apenas olhos cinzentos, ou azuis ou verdes ou negros como a noite poderiam conter tamanho magnetismo... ah, cores não tinham nada a ver com isso. Ao encarar os olhos brilhantes e vorazes e possessivos da mulher, a íris mesclada de tons de chocolate e âmbar, ele percebeu isso de uma maneira assustadora.

Ótimo! Você está começando a aprender – disse ela, e começou a beijar o sexo ereto do homem. Ele mal ouvia o que ela dizia agora, contanto que ela continuasse. Fechou os olhos, segurando os lençóis com força, desarrumando a cama. Arqueou os quadris, como se isso pudesse fazer a mulher ir mais rápido. Na realidade, isso apenas a retardou, pois ela ergueu a cabeça novamente. – Agora, você precisa aprender a dizer o meu nome direito, pois eu quero ouvi-lo muitas vezes quando você terminar.

Ele abriu os olhos com fúria, com fome. Fitou o teto. – Eu sei o seu maldito nome.

Ao ouvir isso, ela começou a fazer cócegas nele, com a ponta de seus dedos, fazendo pequenos círculos aqui e ali. – É? Prove-me. Eu quero ouvi-lo.

Quando ele não disse nada, ela apenas apertou o membro do homem pela base, e ele não pôde fazer nada senão gritar. – Granger!

Balançando a cabeça e deixando os cachinhos rodearam sobre o corpo do homem, fazendo cócegas, ela o olhou com severidade. – Não, não. Você não deve gritar o meu sobrenome. Eu espero que você diga Hermione. Levante a língua, estale, o resto é fácil – disse ela, e voltou a brincar com ele.

Ele se segurou com mais força aos lençóis, ergueu os quadris, começou a murmurar em delírio. - Hermione... Hermione...

Ela sorriu, subiu, e voltou a enterrar o rosto contra o pescoço dele.

Ele gritou ao sentir ela morder seu pescoço.

Quando seu rosto apareceu sobre ele, havia sangue escorrendo de seus lábios.

Ele gritou tão alto que seus gritos finalmente ecoaram além daquele quarto, e ela apenas sorriu. – Eu te vejo outra hora, Malfoy. Foi um prazer estar aqui. Não ouse se esquecer de mim.

E desapareceu.

: Wiltshire, 2010

Draco poderia ter acordado gritando, bufando, mas ele não fez isso. Não conseguiu evitar, contudo, que seus olhos se abrissem depressa, levemente assustados, levemente aturdidos. Mas ele conseguiu não gritar – e isso era um avanço, pois na primeira vez que ele tivera aquele tipo de sonho, ele gritara tanto que acabara acordando Chris.

Não conseguiu evitar, tampouco, que seu corpo reagisse àquele sonho. Sentou-se na cama – parecida com a do sonho, mas que continha apenas lençóis brancos, e não vermelhos como o sangue - e virou-se para pôr os pés para fora da cama. Ele tinha apenas duas maneiras de se livrar daquela maldita ereção, e ele não daria esse prazer a uma maldita Sangue-Ruim, de tal forma que ele já se conformara a tomar um banho frio cada vez que tinha esse tipo de sonho.

Ouviu um ruído ao seu lado, e se virou com calma na direção daquele lado da cama. Chris estava lá, de pé, a camisola negra caindo sobre seu corpo de criança. A luz do quarto ainda estava apagada, mas era uma noite de lua cheia e esta era o suficiente para perceber a direção do olhar da menina, e Draco teria enrubescido se ainda tivesse vasos sangüíneos suficientes para isso em seu rosto. Mas não pôde evitar que suas mãos se fechassem ao redor do lençol com controlada raiva ao perceber a natureza do som produzido por Chris.

Ela ria – risadas abafadas, como se ela tivesse medo que Draco a descobrisse ali. Apoiando os cotovelos sobre as pernas e a cabeça sobre as mãos, Draco suspirou com cansaço. – Volte a dormir, Chris. Está muito tarde para você ficar perambulando pela casa.

Ao invés de fazer isso, porém, ela se aproximou de Draco e o abraçou, o abraço que uma criança dá em toda pessoa que precisa de ajuda. – Paizinho, não se preocupe. Um dia você irá encontrar alguém que goste de você.

E saiu do quarto.

Se tivesse ficado mais um pouco, teria percebido que Draco bateu sonoramente com a cabeça contra a parede. De propósito. E de novo. E de novo. Ele achara que esses malditos sonhos com a Sangue-Ruim iriam sumir quando ele saísse de St. Mungo, mas já haviam se passado cinco anos e aquelas estranhas fantasias não haviam perdido uma gota sequer de intensidade.

Por que tinha que ser com a maldita Sangue-Ruim?

E, para piorar, Chris ainda tinha mais noção sobre relacionamentos amorosos do que ele, um homem de trinta e seis anos, e ela tinha apenas dez!

Passou a mão pelo rosto com desânimo e olhou para baixo, percebendo que não precisaria mais de um banho frio. Bem, o comentário de Chris realmente havia servido como um belo balde de água fria.

Abaixou a cabeça, os longos cabelos loiros escorrendo sobre sua face, grudando-se ao seu suor. Dentre tantas mulheres, porque tinha de ser a maldita Sangue-Ruim a invadir seus sonhos? Não é como se ela fosse a única mulher que ele tivesse conhecido.

Ao olhar para fora através da larga janela e perceber a noite de lua cheia que se estendia até onde os olhos de Draco alcançavam, ele teve certeza de que iria sair de novo amanhã. Conhecer mulheres, na vã esperança de que uma delas ocupasse o lugar da Granger em sua mente.

Não, Granger não. Sangue-Ruim.

Lembrou-se que ela dissera que aqueles preconceitos apenas refletiam o medo de Draco em descobrir que ele não era tão superior quanto pensava – que ele precisava ter méritos próprios além de sua estimada linhagem se quisesse se manter como um bruxo importante.

Esfregou a testa. Não, não. Ele não deveria dar ouvidos a ela. Não poderia.

Mas o que ele poderia fazer, se por mais de cinco anos ele não ouvira outra voz que não a dela? E agora, quase seis anos depois, ele ainda podia ouvir tantas palavras cada vez que fechava os olhos.

Sua mãe não veio lhe visitar, não é mesmo? Mas é perdoável; ela está em Azkaban, tendo pesadelos e pesadelos, noite após noite, não é mesmo?

Seu pai não veio lhe visitar, não é mesmo? Mas ele está apenas honrando a sua linhagem, foragido há algum tempo.

Você ainda tem pesadelos com o arco-íris, não é mesmo? Com a chuva? Com os campos onde choveram gotas carmesins? Mas você merece cada momento desses.

Cada. Maldito. Momento.

Draco fechou os olhos com força, decidido a nunca mais pensar naquele maldito dia. Mas não pôde deixar de se lembrar de outro dia, ocorrido há tão pouco tempo.

Alguém resolvera provocá-lo enquanto ele tomava uma bebida no Caldeirão Furado. Dissera que ele era apenas um maluco, um fraco, por ficar daquele jeito por causa de uma maldita magia que sequer fora dirigida a ele.

E ele se lembrou daquele vazio, daquela sensação de ter cada minúscula parte de sua magia tomada dele, e da sensação de tê-la devolvida no momento seguinte – mas ligeiramente diferente, ligeiramente envenenada. A sensação de encarar o infinito, o espaço aberto, e então se perceber confinado em seu próprio corpo, em sua própria alma.

E agora ele se lembrava da sensação de bater no homem até ele gritar por ajuda. Tantos socos sobre aquela face que ela se tornou vermelha, e então roxa, e o sangue começou a escorrer através de suas narinas, através de seus olhos. Seguram-no, mas não antes que sua visão se transformasse num borrão de fúria, sua mente, uma névoa indistinguível.

Ele só não voltou aos quartos frios de St. Mungo por causa de Chris.

Não havia nada que poderia fazer ele gostar de pensar dessa maneira.

Resignado, voltou a se deitar na cama, sem a mais vã esperança de voltar a dormir. Fechou os olhos.

Você mal se lembra da maioria das minhas visitas, mas eu tenho certeza de que você se lembra de que eram as únicas.

Puxou o lençol para cima, tampando a própria cabeça – querendo, ansiando, que isso afastasse aqueles malditos pensamentos.

Malditos, malditos.

Ia ser uma longa noite.