- Diga "adeus". – O homem apontou a varinha para a mulher deitada no chão. Um jato de luz verde saiu da ponta da varinha, atingindo-a.

- MAMÃE!!

Ela acordou ofegante. Fazia tempo que estava tendo pesadelos. Desde que ela visitou a antiga casa em que morava. E era sempre o mesmo sonho.

Velho idiota. Se não fosse por Dumbledore, ela não teria essa droga de sonho toda a noite. Isso acontece desde semana passada. Se ela não tivesse dado ouvidos, se ela não estivesse na sua casa de origem...

- Tem certeza que quer entrar, Julie?

- Está preocupado com o que, tio Henry? É apenas uma casa. – Eles estavam em frente ao portão de uma casa. A casa era velha, mas não acabada, de classe média alta. As janelas estavam quebradas. Provavelmente, crianças andavam jogando pedras. Que coisa fútil.

O portão era grande, preto e estava enferrujado. Ao centro, tinha o brasão da família, escrito "Bright" na parte de baixo. Dava pra ver o jardim através da grade do portão. Com certeza, a casa estava abandonada há anos. O jardim estava cheio de ervas daninhas e o mato estava muito alto e isso acabava dando um ar mais sombrio a casa, junto com o musgo nas paredes.

- Quantas casas de muggles! Antigamente, aqui era povoado por bruxos... – Henry disse, enquanto observava as casas vizinhas. – Temos sorte de não encontrar ninguém a essa hora.

- É hora do almoço, o que você espera? – Disse ironicamente. - De qualquer maneira, eu irei sozinha.

- Ah, não vai não.

- Mas...

- Shiu. Você só tem 13 anos.

- Como se eu me importasse com minha idade. – Ela tentou abrir o portão. – Trancado. – Olhou pros lados. – Nenhum muggle por perto.

- Alohomora! – Um facho de luz azul saiu da ponta da varinha de Henry. – Como é bom ser maior de idade. – Sorriu sarcasticamente.

- Você ama fazer isso comigo, não é? – Com desgosto.

- Sim. – Disse ele feliz.

Caminharam até a porta com certa dificuldade. Afinal, a grama estava alta. Chegaram até a porta da frente. Ela tentou abrir, mas também estava trancada. Henry logo se adiantou apontando a varinha na fechadura.

- Aqui não. Tem umas crianças muggle saindo daquela casa. – Apontando com a cabeça.

- Hein? Onde?

- Vira a cabeça! - Virando a cabeça dele com as mãos. – Viu?

- Ouch! Isso machuca, sabia? – Duas crianças saiam da casa da frente para a rua. Elas carregavam uma bola e logo começaram a jogar futebol. Como era uma rua sem saída, era bastante tranqüilo para as crianças brincarem.

- Sim, mas eu não me importo. Não sou eu mesmo. – Sorriu sarcasticamente.

- Então? Como vamos fazer agora? – Guardou sua varinha dentro do bolso interno do sobre tudo marrom.

- Essa porta parece bem velha. – Batendo nela. – "Em Roma, faça como os romanos.".

- Como? – Julie virou os olhos com desgosto. Como era possível que ele não entendeu?

- Chute a porta. – Disse calmamente.

- O QUE?! – Henry não esperava por isso.

- Chute a porta, seu surdo. – Julie estava impaciente agora.

- Mas as crianças vão olhar!

- Primeiro, o jardim esta um matagal. Ou seja, tem arbustos atrapalhando a visão delas. – Henry abriu a boca pra falar algo, mas Julie logo o cortou. – Estou falando. Mesmo com os arbustos tampando parcialmente a visão, se você fizer o Alohomora, elas iriam ver uma luz azul. E como são crianças, pela a própria natureza curiosa delas, elas viriam aqui.

- Sim, mas como barulho que irá fazer, elas também virão.

- Não é bem assim. Tirando os americanos, qualquer pessoa com o bom senso, não iriam atrás de pessoas arrombando uma casa velha. Especialmente duas crianças com, no máximo, 8 anos. – Ela olhou para ele como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. – Quer que eu desenhe?

Henry apenas suspirou, pensando "não é possível que ela seja minha sobrinha" e arrombou a porta com um chute. E como previsto, as crianças se assustaram ao ver Henry arrombando a porta.

- Eu falei.

- Eles vão contar para os pais...

- Quer parar de agir como uma criança?! Você tem 36 anos! Deveria estar agindo como um adulto da sua idade.

- E você deveria estar agindo como uma adolescente de 13 anos.

- Tanto faz. – Ela entrou na casa. Henry foi atrás.

Henry estava irritado com Julie. Afinal, era tio dela e merecia respeito. Mas deu um sorriso ao lembrar como a vida dele era monótona sem o humor seco/sarcástico dela. Ele se divertia com essas "brigas".

Ao entrarem, Julie parou na porta, analisando a sala. O papel de parede de cor creme tinha algumas falhas por causa da umidade. Algumas partes da parede estavam com infiltração. O carpete continha algumas marcas de água por causa das janelas quebradas, possibilitando a entrada de chuva e neve. No centro, havia uma velha mesa de madeira negra e um livro de capa preta com escritas douradas em cima. Um sofá de veludo vinho para duas pessoas, estava posicionado em frente a mesa. Uma poltrona, também de veludo, estava do outro lado da mesa. E no chão, em frente a poltrona, havia um descanso para os pés, de madeira. Ao lado direito da poltrona, tinha um criado mudo. Nele, havia um castiçal com uma vela, queimada, quase no fim. Ao lado dele, havia um charuto, com as cinzas caindo no criado mudo. No canto da sala, tinha um vaso com uma planta morta. Pelo o estado dela, não dava para saber qual era. Do outro lado, havia uma estante cheia de livros, no qual ela não se preocupou em ver.

Ela começou a caminhar na sala, quando avistou uma mancha pequena de sangue no carpete. Veio um flash-back em sua mente.

"- CALE A BOCA, SUA VADIA! – Ela viu seu pai batendo em sua mãe. Deu um tapa no rosto. Ela caiu no chão com a boca sangrando."

- Julie? Acorda! – Henry estalou os dedos na frente da garota. – Lembrou-se de alguma coisa.

- Nada... Importante. Acho melhor irmos embora. – Henry apenas assentiu.

Naquela noite, Julie começou a ter pesadelos.

Estava sentada na cama, relembrando o dia em que visitou a casa. Suspirou. Era perda de tempo fazer isso e era perda de tempo tentar voltar a dormir. Ela olhou o relógio em cima do criado mudo ao lado de sua cama. Marcava 06h30min AM. Levantou, foi até a estante ao lado da porta e pegou um livro. Mais tarde, ela teria que se preparar para ir para Hogwarts.

- Pesadelo de novo? - Henry servia ovos fritos a Julie.

- Huhum... – Ela estaca com um pedaço de torrada na boca. Engoliu. – Obrigada.

- Acho melhor mencionar esses sonhos a Dumbledore. – Disse, enquanto se sentava a mesa.

- Eu vou. Por causa daquele velho, eu não tenho conseguido dormir direito. – Ela, de repente, começou a encarar os ovos.

- Que bom. – Ele percebeu. – Ta encarando os ovos por quê?

- Sabe, ovos parecem olhos.

- Hein? - Disse, enquanto mergulhava um pedaço de torrada na gema.

- Olha – pegou o garfo e furou a gema, com um sorriso sádico. – A gema do ovo é como se fosse o um olho. – Os olhos dela brilhavam a medida que a gema escorria. – Quando você espeta um olho, sai sangue. É a mesma coisa com a gema, só que em vez de vermelho, é amarelo.

- Obrigado – disse, tirando o guardanapo de pano do colo e jogou em cima da mesa. – Acabei de perder o apetite. – Ela apenas riu. – Da onde tirou isso?

- Stephen King. Para um muggle, até que os livros dele são divertidos. – Enquanto comia um pedaço do ovo. Henry tava se segurando para não passar mal.

- Vindo de uma Slytherin, isso pode ser considerado um elogio, não?

- Interprete como quiser.

- Olha a hora! – olhando para o relógio de pulso. – Temos que ir para King Cross. Não estou a fim de ter que aturar por um ano inteiro. – disse rindo.