PROLÓGO
- Está tudo bem? – perguntou Toshiko quando sua filha entrou no veiculo.
Sora virou-se para sua mãe e sorriu. – Sim.
Toshiko olhou atentamente para sua filha, enquanto esta dava partida no carro. – Tem certeza? Aconteceu alguma coisa entre você e o Taichi? Você voltou num instante.
- Ah... Ele não estava em casa. – limitou-se a responder sem olhar para sua mãe, prestando atenção na rua à sua frente. Seguiu em direção à rodovia.
Toshiko sorriu para a filha e fechou os olhos um momento. Não seria uma viagem longa, mas levaria ainda algum tempo para chegarem ao seu destino.
Apesar de concentrada no caminho, o pensamento da ruiva estava longínquo. Algo a consumia. Uma ansiedade intensa tomava conta de seu ser.
Sora, hoje com 22 anos, era filha única e após a morte de seu pai, quando tinha 15 anos, morava apenas com sua mãe em Odaiba. Havia seguido a profissão de seu pai, por insistência de sua mãe, tornando-se uma renomada advogada. Tinha se formado há pouco tempo, mas o suficiente para já ter uma boa clientela.
Seu celular tocou. Era Taichi. Namorava ele há oito anos. Taichi era seu amigo de infância, se conheciam desde a mais tenra idade. E ao chegarem à adolescência, as pessoas começaram a falar que o relacionamento que possuíam ia além de uma mera amizade. Tentou colocar vários limites em sua amizade, mas quando deu por si, Taichi havia se confessado e a pedido em namoro. Apesar de dizer a si mesma que talvez o que sentia por ele fosse realmente apenas amizade, resolveu dá-lo uma chance e estavam juntos até o momento.
Como qualquer outro relacionamento, seu namoro com Taichi foi marcado por altos e baixos. E continuava sendo. Colocou o fone de ouvido e atendeu a ligação.
- Moshi moshi. – respondeu ao atender a ligação.
- Hei. Tudo bem? – disse Taichi alegremente.
- Sim. E você? – perguntou casualmente.
- Estou bem. Você já está vindo para cá? – questionou ansioso.
Sora demorou alguns segundos pensando na melhor forma de responder.
- Na verdade, acabei de passar por sua casa... E... Você não estava. – respondeu concentrada na estrada.
- Hã... Bom... Já estou em casa agora.
- Bem, agora não posso ir até ai. – disse meio áspera.
- Por quê? – questionou surpreso Taichi.
- Estou indo para um lugar e não posso me atrasar. – respondeu simplesmente.
- Você não me disse nada. Onde está indo? – perguntou meio autoritário.
Sora respirou fundo e suspirou. Detestava quando Taichi ficava enciumado e a tratava como se fosse sua propriedade.
- Preciso levar minha mãe num lugar. – disse tentando ser calma. Às vezes Yagami conseguia ser extremamente infantil, e precisava reunir toda a sua paciência e mais um pouco para tolerar isso.
- Sua mãe? – perguntou de forma desconfiada.
- Sim. Minha mãe. – já estava perdendo a paciência.
- E posso saber onde você tem que levá-la? – seu tom de voz aumentava ligeiramente.
- Não. O que minha mãe faz ou deixa de fazer não diz respeito a você. – explodiu Sora sem conseguir mais se segurar. Já estava farta das atitudes de Yagami. Não conseguiria suportar muito mais. Estava tão nervosa, que agarrou o volante com força.
Sua resposta deixou Taichi paralisado e, ao mesmo tempo, completamente furioso.
- Ok. Desculpe-me se sou tão inconveniente assim. – respondeu Taichi de grosso modo.
Sora suspirou mais uma vez. E ali estava o que detestava ainda mais, Taichi se fazendo de coitado e insinuando que a culpa fosse dela. Fechou os olhos por um segundo.
- Taichi... – disse alterada acordando sua mãe.
E foi como num piscar de olhos. Apenas ouviu o grito de "Cuidado" de sua mãe e a buzina do outro carro que vinha à sua frente. Sora havia entrado na contramão e ao tentar desviar do carro, o carro que vinha atrás não conseguiu diminuir a velocidade, batendo em seu carro. Perdeu completamente a direção e após o carro capotar duas vezes para fora da estrada, perdeu completamente os sentidos. A última coisa que vira foi o rosto de sua mãe coberto de sangue.
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Estava consciente. Ainda não havia aberto os olhos, mas podia ouvir os ruídos ao seu redor. Sentia seu corpo dolorido. Todo seu corpo doía. Sentia-se imóvel. Sua cabeça parecia querer explodir. Começou a abrir os olhos lentamente, demorando-se no processo devido ao desconforto que esse simples gesto lhe dava.
Quando finalmente, abriu-os por completo tentou se localizar. Não sabia onde estava. Movia os olhos de um lado para o outro tentando achar algo familiar. Mas nada lhe vinha à cabeça. Nada.
Viu uma mulher vestida de branco entrando no lugar. Esta ao vê-la acordada levou um susto e saiu correndo. Voltou instantes depois com um homem ao seu lado. O homem chegou rapidamente ao lado de Sora e sorriu aliviado.
Ela olhou-o atentamente. Usava óculos, tinha o cabelo azul e a pele pálida. Lutou consigo mesma para buscar algo em sua mente que lhe desse alguma informação. Mas não conseguiu nada. NADA. Não sabia onde estava. Não sabia o que tinha acontecido. Não sabia por que estava ali.
- Sora? ... Sora? – chamou o homem com preocupação ao notar seu estado. – Aconteceu alguma coisa, Sora?
De repente, começou a entrar em pânico e ficar inquieta. Não conseguia respirar adequadamente. Seu coração disparou e lagrimas caíram descontroladamente por seus olhos.
- Onde eu estou? – perguntou desesperada.
- Sora, por favor, se acalme. Você está no hospital... Sora. – disse Joe Kido tentando segurar Sora quando está começou a tirar o acesso em seu braço.
- Quem é você? – indagou assustada. – Quem é Sora?
Joe ficou sem reação. "Não pode ser...".
- Me solta! – gritou Sora descontrolada. – Quero sair daqui!
- Rápido. 2mg de lorazepam. – disse Kido à enfermeira enquanto segurava Sora.
A enfermeira imediatamente correu para injetar a medicação em Sora. Esta foi aos poucos se acalmando até que seus olhos começaram a se fechar novamente.
