Antes de fechares os olhos…
Chove. A chuva bate com força no chão e em nós. Sinto o meu corpo gelar e as roupas se encharcarem. Aperto-a mais para mim na tentativa de a proteger de algo inevitável. Pelo meu rosto caem lágrimas que se msituram com a chuva, é como se no fundo Deus chorasse comigo pela perda de uma anjo. Ela ainda respira. O seu corpo permanece frio mas ainda consigo a respiração lenta e custosa. A cada segundo que passa uma parte dela se desvanece deste mundo e o meu coração arde por saber que a minha única missão é segurá-la nos braços sem poder fazer nada que lhe impeça este destino. Eu não quero isto. Eu sou o Harry Potter. Eu sempre salvo os meus amigos… sempre! E os que eu não posso salvar, eu torno-os na minha razão de lutar. Mas a ela não… Eu rezo a qualquer Deus que me queira ouvir que não a leve. Porque ela é tudo pelo que eu vivo e eu sei que no segundo em que o seu coração parar não haverá mais razões para permanecer neste mundo. E não… não me venham dizer que o tempo cura, nem que outros aqui permanecem… Isso não interessa, nada interessa se a sua alma deixar de permanecer ao meu lado. Ela treme mas eu sei que o meu calor já não chega para a aquecer. Se eu pudesse eu parava o mundo agora… Apenas para te impedir que vás. Apenas para ser continuares a iluminar os meus dias e não a assombrar a minha memória. Eu quero que tu sejas a minha vida como sempre foste. A minha alegria e algo que me insipire a acordar todos os dias. Eu não quero que sejas mais um fantasma na minha cabeça. Mais uma alma estropiada pela guerra. Mais um arrependimento ao qual nunca irei superar. Porque eu até posso me tentar convencer que os meus pais morreram por auto-sacrificio e que eu não tive culpa. Eu posso acreditar que não havia forma de salvar o Cedric e que a culpa de ele ter ido comigo não foi minha. Dizerem-me que o Sirius saiu porque assim tinha de ser, porque o seu espirito não o deixaria permanecer em casa. Podem-me mesmo tentar convencer que eu nada poderia ter feito perante o grande numero de Devoradores da Morte e salvar Dumbledore. Culpem o destino, o inimigo, a guerra… mas eu sei, que quando o corpo dela for inerte e ausente de vida, a culpa será apenas minha. Eu poderia ter-te impedido. Implorado para que não fosses e não expor-te ao perigo. Tu não deixarias mas talvez eu te pudesse ter protegido. Se eu não estivesse preocupado de mais em vingar os mortos mas sim em proteger os vivos tu não estarias agora aqui agonizando nos meus braços.
Apesar de tudo, tu sorris. Com esse sorriso doce que eu sempre conheci e que me confortava quando todo o mundo parecia querer congelar o meu coração. O rosto meigo parece calmo apesar de eu saber que ela sofre. Ela não tem medo de morrer. Hermione é corajosa e tudo o que ela fez por este mundo, eu sei, ela irá para um sitio melhor. Um sitio onde não há dor nem guerra, nem morte nem ódio. Um sitio para onde eu gostaria de ir com ela. Olho para ela e deposito-lhe um leve beijo nos lábios. Ela sorri-me apenas mais uma vez mas uma lágrima percorre-lhe o rosto. Uma lágrima de alegria. Eu choro mais intensamente. Eu não quero. Ela simplesmente não pode ir. Porque eu sou o herói desta história e em todas as histórias o herói ganha e acaba feliz com a sua amada. Nem que seja na eternidade. Mas isto é demasiado cruel. Está acima do limite da dor humana, depois de me obrigarem a viver em sofrimento por uma vida inteira, me colocarem a pessoa que amo nos braços para a ver morrer lentamente. Sinto um leve aperto na minha mão. Ela não tem forças para falar e o corpo já quase é inerte. A chuva não pára e sem forças para que a voz saia, eu ainda oiço os seus lábios murmurarem um leve Amo-te.
E então eu fechei os olhos para deixar as lágrimas cair e ela fechou-os porque o cansaço já não os permitia segurar mais.
A única diferença é que ela nunca mais os abriu.
