Título: Perdas e Danos
Autora: Mary Spn
Beta: TaXXTi (Minha amada e fiel companheira).
Avisos: Contém relações sexuais entre homens, angústia, sofrimento, drama... Snif! (Já estou chorando aqui... *Brinks*)
Sinopse: Alguns sonhos podem ser construídos, assim como destruídos do dia para a noite. Mas quando a esperança e o amor permanecem vivos, sempre há uma chance de ser feliz.
Dedicatória:
Costumo dedicar minhas fanfics à alguém especial, a um de meus amigos, como uma maneira carinhosa de presenteá-los. Esta fanfic quero dedicar a uma pessoa que nem está há muito tempo no fandom, mas já conquistou a todos com seu sorriso fácil, sua alegria e seu bom humor. Aquele tipo de pessoa que consegue te colocar pra cima com uma simples palavra, que faz você parar e pensar: Preciso conhecê-la pessoalmente. Felizmente, terei este prazer dentro de poucos dias, e mal posso esperar...
Sim, Marina Morena, esta fic é um presente pra você! Sei que não é seu aniversário, nem qualquer data especial, mas quis te presentear simplesmente por você ser esta pessoa linda, amiga, sincera, com a qual descobri ter muita afinidade. E você sabe que nossa afinidade não é apenas pelo fato de amarmos o mesmo homem (Sam Winchester / Jared Padalecki... kkkk), mas por descobrirmos que temos muitos valores em comum. Como eu já disse, você foi um achado na minha vida e eu espero que nossa amizade dure para sempre! Te adoooro!
By the way, espero que curta o seu presente, e se não gostar, pode reclamar com a diretoria! Hahaha. Beijos!
Perdas e Danos
Capítulo 1
Sua respiração estava ofegante, seus pés doíam muito devido ao frio, cansaço e pelo fato de que os tênis que calçava, além de estarem úmidos por causa da neve, eram menores do que o seu número. Corria sem pensar por onde ia, becos escuros, estradas escorregadias; estava no seu limite. O medo e a exaustão faziam seu coração bater acelerado, de repente se viu em um lugar que nunca havia estado antes. Um bairro nobre, a rua iluminada, com lindas casas, a maioria delas enfeitadas com luzes natalinas. Já seria natal?
Parou diante de uma praça com grandes árvores iluminadas com lâmpadas coloridas. Um lindo presépio estava colocado entre elas e um grande Papai Noel motorizado ficava sentado em uma poltrona vermelha. Maldito Papai Noel. Lembrou-se da sua infância, quando todos os anos o esperava, e ele nunca apareceu, aquele filho da puta.
Afastou as lembranças rapidamente e voltou a olhar para trás. Não estava sendo seguido, mas o instinto de sobrevivência o fizera correr mais do que suas pernas podiam suportar.
Sentou-se no banco da praça, que estava úmido e gelado, assim como suas roupas e seus tênis. O frio fazia todo o seu corpo tremer e até seus ossos doerem. Precisava encontrar um lugar seguro e quente para se abrigar por aquela noite. Mas onde?
Atravessou a rua e caminhou mais alguns quarteirões, parando diante de uma casa que tinha as cortinas entreabertas. Apesar do frio que sentia, ficou ali parado durante algum tempo, observando... A casa era linda e através da fresta na cortina podia observar um casal e um filho, que deveria ter mais ou menos a sua idade, sentados à mesa fazendo a ceia. No canto da sala havia uma lareira e logo adiante uma enorme árvore de natal, com muitos presentes embaixo dela. Os três conversavam e sorriam enquanto comiam, pareciam ser uma família feliz. Por um instante, Jared sentiu seu coração aquecido, imaginando como seria fazer parte de uma família assim. Como seria ter uma mãe, um pai, um irmão... Alguém que se importasse com ele, que cuidasse, que lhe desse carinho.
Resolveu sair dali antes que alguém o visse e acabasse chamando a polícia. Sentiu suas pernas paralisadas pelo frio, e decidiu que precisava arranjar urgente um lugar para se abrigar, caso quisesse estar vivo ainda no dia seguinte. Olhou ao redor e ficou tentado ao ver a porta da garagem daquela casa aberta. Talvez pudesse se esconder ali até a manhã seguinte, para se proteger do frio e da nevasca, que agora castigava ainda mais seu corpo cansado.
- x -
- Alguém mais quer? – Mark Pellegrino perguntou quando servia o seu prato pela segunda vez. – A ceia está maravilhosa, amor. – Falou se dirigindo a Sonya, sua esposa.
- Não, obrigado – Jensen Ackles, seu enteado, respondeu de mau humor.
- Você mal tocou na comida, querido – Sonya observou.
- Estou sem fome, eu vou para o meu quarto – Jensen empurrou o prato e fez menção de se levantar.
- Mas Jensen, você não vai esperar para abrir os presentes? - Sonya falou, decepcionada. Tinha cuidado dos preparativos com todo carinho e queria que aquela noite fosse perfeita.
- Eu falei que se não fosse um carro, não precisava comprar nada – O garoto loiro adorava provocar a sua mãe. Ultimamente, era um dos seus passatempos favoritos.
- Sente-se e termine o seu jantar, Jensen. Por favor – Pellegrino falou com a voz em um tom autoritário – Enquanto você reclama por não ganhar um carro, tem muita gente passando frio e fome lá fora.
- E se eu terminar de comer o que coloquei no prato ou não reclamar mais, vai acabar a fome no país? – Jensen riu, debochando.
- Você irá ganhar um carro quando for pra faculdade, querido. Já conversamos sobre isso – Sonya tentou amenizar a situação. Não gostava de ver seu filho e marido se desentendendo.
- Ou quando merecer – Pellegrino completou.
- Já posso ir, agora? – O loiro não esperou resposta, se levantou e foi para o seu quarto. Tudo o que queria era ter podido ir passar o natal com seus amigos, longe de sua mãe e seu padrasto. Já não aguentava mais o jeito superprotetor e sufocante de sua mãe, sempre lhe dizendo o que fazer, com quem sair, estipulando horários... Já não era mais uma criança há bastante tempo, mas ela parecia não ter se dado conta disso.
- Você não deveria falar com ele neste tom, querido – Sonya falou calmamente para o marido, assim que Jensen sumiu de suas vistas. – Ele está passando por uma fase difícil, a adolescência não é fácil pra ninguém.
- Ser adolescente ou passar por uma fase difícil não é motivo para deixar a educação de lado. Você deveria ser mais enérgica, e não mimá-lo o tempo todo. Ele tem uma família, tem tudo o que precisa. Eu sei que não sou o pai biológico, mas tento suprir suas necessidades da melhor maneira – Suspirou, desanimado. Já estava cansado de bater sempre na mesma tecla, mesmo sabendo que sua esposa jamais mudaria em relação à Jensen.
- Eu sei disso. Me desculpe, é que... Hoje é natal e o pai dele nem sequer ligou. O Jensen é um bom garoto, eu tenho certeza que essa revolta toda vai passar logo, você vai ver.
- Tomara que seja só isso mesmo – Pellegrino puxou a esposa para se sentar no seu colo e a beijou. – Vou até lá fechar a garagem, depois podemos ir nos deitar, o que acha? – Sorriu, cheio de intenções.
- Hummm... Boa ideia. Vá lá, eu espero por você.
Alguns minutos depois que Pellegrino saiu pela porta, Sonya ouviu ele gritar por ajuda do lado de fora. Quando se aproximou, viu o marido entrar correndo, carregando alguém em seus braços.
- Você me assustou... O que houve? Quem é que você...?
- Encha a banheira com água quente, rápido. Ele está com sintomas de hipotermia – Pellegrino subiu as escadas correndo e colocou o garoto sobre a cama, no quarto de hóspedes.
Sonya fez o que o marido pediu, mesmo sem entender o que estava acontecendo e de onde tinha surgido aquele garoto imundo.
- Quem é ele, amor? – Perguntou enquanto o marido tirava as roupas sujas e molhadas do garoto.
- Eu o encontrei na garagem, coberto com alguns jornais, tentando se proteger do frio.
- Mas você acha que é seguro trazê-lo para dentro de casa, deste jeito? – Sonya estava horrorizada com a atitude do marido.
- Eu não podia deixá-lo morrer, mulher! Ele precisa ser aquecido imediatamente! A banheira está cheia?
- Parcialmente.
- Ok. Cheque a temperatura, eu irei levá-lo.
Mark deitou o garoto na banheira, tendo o cuidado de segurar sua cabeça fora d'água. O corpo dele ainda tremia muito, mas aos poucos ele parecia estar recobrando a consciência, assim como normalizando a sua respiração.
Quando se deu conta de que estava nu em frente a estranhos, o garoto se encolheu na banheira, envergonhado.
- Está tudo bem – Pellegrino fez sinal para que a mulher se afastasse. – Não tem do que se envergonhar.
- Como eu vim parar aqui? – O garoto falou com a voz cansada.
- Eu te encontrei na minha garagem. Você estava com as roupas molhadas e com sintomas de hipotermia. Por isso eu te trouxe pra cá. Eu sou o Mark. Mark Pellegrino. Qual o seu nome?
- J-Jared.
- Jared... Eu vou te deixar sozinho pra que você possa terminar seu banho. Aqui tem toalhas limpas e um roupão. Depois conversaremos, ok?
- Obrigado – Jared fez como o outro lhe pediu, tomando um banho razoavelmente demorado e quando saiu da banheira, vestiu o roupão felpudo, sentindo que o ambiente todo era aquecido, inclusive o quarto.
Secou seus cabelos que estavam mais longos do que de costume, e sentou-se na beirada da cama, sem saber exatamente o que fazer.
Pellegrino entrou no quarto com uma bandeja, contendo torradas e um prato de sopa. Jared sentiu seu estômago roncar de fome ao sentir aquele cheiro delicioso.
- Imagino que você esteja faminto – O homem loiro depositou a bandeja sobre uma mesinha que havia no quarto. – Sente-se aqui – Apontou-lhe uma das cadeiras e se sentou na outra, esperando que comesse.
- Obrigado – Jared falou e começou a comer, sem cerimônias. Estava mesmo faminto. Não sabia quando tinha comido algo decente pela última vez.
- Você tem família, Jared?
- Não.
- Mas deve ter alguém... Ou um lugar pra morar, não é?
- Não - Suas respostas eram monossilábicas.
- Nem um abrigo? Um lugar para dormir? Que idade você tem, garoto?
- Dezesseis – Jared olhou para a porta e viu um garoto loiro, que deveria ter mais ou menos a sua idade, o observando.
- Certo. Então você... vive nas ruas? – Pelas roupas que o garoto vestia, Pellegrino já suspeitava.
- Sim.
- Eu vou ligar para a assistência social, eles devem conseguir um lugar para você ficar.
- Não! – Jared largou a colher e se levantou da cadeira, assustado. – Só me devolva minhas roupas, eu vou embora.
- Você está fugindo de alguém?
- Não. Eu só não quero voltar para nenhum abrigo. Eu posso me virar, eu...
- Se eu não tivesse te encontrado, você teria morrido de frio, na minha garagem, Jared. Se você não quer, tudo bem. Eu não vou ligar para ninguém. Agora sente-se e termine de comer, por favor. Tem pente e escova de dentes nova no banheiro. Você pode passar a noite aqui, esta cama é bem quente e confortável.
- Mas eu... Mesmo? – Jared não estava acostumado com tamanha bondade.
- Sim. Amanhã pela manhã conversaremos e veremos o que fazer, ok?
Mark desceu as escadas e foi para a sala, onde sua mulher e seu enteado o esperavam.
- Você vai mesmo deixá-lo dormir aqui? E se ele for algum marginal? – Sonya não estava gostando nada daquilo.
- O garoto tem dezesseis anos, meu bem. Está fraco e desnutrido. Não acho que ele possa fazer mal a alguém.
- Ele não é mais uma criança, Mark! Como eu poderei dormir sabendo que tem um mendigo dentro de casa? Você precisa tirá-lo daqui agora! – Sua voz era quase histérica.
- Pelo amor de deus, Sonya... Poderia ser o Jensen, eles tem quase a mesma idade! Como eu posso mandá-lo de volta pras ruas com este frio? Está nevando e hoje é natal! Ele não irá conseguir outro abrigo, deixe-o ficar apenas por esta noite? Por favor? Eu trancarei o quarto por fora, eu prometo! – Abraçou a mulher e beijou seu pescoço, com carinho, tentando acalmá-la.
- Jensen, certifique-se de trancar a porta do seu quarto, sim? – Falou para o filho que já ia subindo as escadas.
- Sim, mamãe! – O loiro respondeu com ironia, sem olhar para trás.
- Vou deixá-lo ficar somente esta noite! – falou brava. – Certifique-se que a porta dele seja trancada e pela manhã trate de colocá-lo para fora. – A mulher foi para o quarto, zangada.
Mark seguiu até o quarto de hóspedes e ao abrir a porta, viu que Jared já estava dormindo. Ajeitou o cobertor sobre ele e apagou a luz, deixando apenas um abajur aceso. Sentiu um aperto no coração ao olhar para o rosto magro e abatido do garoto. Lembrou-se de sua infância quando, sendo criado pelos avós que eram muito pobres, muitas vezes passou frio e fome. Não podia se lamentar, já que, ao contrário de Jared, aos sete anos, depois de ser levado para um abrigo, teve a sorte de ser adotado por uma boa família.
Jared abriu os olhos e por um momento, pensou estar sonhando. Estava em um quarto enorme, limpo e aquecido, em uma cama de casal com travesseiros e cobertores macios.
Sentou-se na cama, percebendo que vestia apenas um roupão que, por sinal, era muito mais confortável e macio do que qualquer roupa que já tivesse vestido. Quando a porta do quarto se abriu, o homem loiro que o tinha acolhido na noite anterior entrou por ela.
- Bom dia! – Pellegrino falou sorrindo e foi abrir as cortinas. – Ou melhor, boa tarde!
- Bom dia – Jared respondeu timidamente.
- Providenciei algumas roupas novas pra você – Mark colocou algumas sacolas sobre a cama. – Já que as suas estavam sem condições de uso. Está fazendo muito frio lá fora.
As palavras de Pellegrino fizeram Jared se lembrar que aquilo era apenas um sonho e que teria que voltar para as ruas em breve.
- Obrigado.
- Vista-se e depois desça as escadas, vou preparar um desjejum pra você.
Jared fez o que lhe fora pedido e ao descer as escadas, ficou deslumbrado com a beleza e o tamanho da casa. Pellegrino o conduziu até a cozinha onde uma senhora chamada Judith lhe serviu suco, frutas, torradas e vários tipos de doces e salgados. Jared nunca tinha visto tanta comida em sua frente.
Serviu-se de algumas coisas, curioso para experimentar o sabor. Tudo parecia delicioso.
- Então, Jared... – Pellegrino começou a falar, um pouco sem jeito. – Eu gostaria de manter você aqui por mais alguns dias, até você estar em melhores condições de saúde, mas infelizmente...
- Tudo bem. Eu já vou embora. O senhor já fez muito por mim, eu não quero dar mais trabalho.
- Bom, você não vai poder ficar aqui em casa, mas... Eu tenho um sítio que fica a algumas horas daqui. Tem algumas plantações, cavalos e alguns animais que são criados lá. Se você quiser ir pra lá, pode ter um quarto, comida e, se ajudar com os serviços, até pode ganhar algum dinheiro.
- M-mesmo? – Jared quase não podia acreditar.
- Basta você dizer que quer – Pellegrino sorriu, percebendo a surpresa e confusão no semblante do garoto.
- Eu... claro que eu quero! – Sorriu pela primeira vez. – Mas... o senhor é um anjo ou algo assim?
- Não – Mark gargalhou. – Estou muito longe disso. Sou só alguém que já passou por dificuldades e quer ajudar.
- Obrigado. Eu não sei nem como agradecer...
- Não tem de quê. Eu preciso dar uns telefonemas, mais tarde partiremos, ok? Fique a vontade, eu volto logo.
- Está bem.
Jared terminou de comer e foi andar pela casa, observando tudo, curioso. Não tinha ninguém por ali, além da empregada. Não ousou tocar em nada, mas quando viu uma porta aberta do que parecia ser uma biblioteca, com estantes cheias de livros, não resistiu. Percorreu os olhos pelos títulos, pegando de vez em quando algum que lhe interessava. Gostava muito de ler e por algum tempo frequentou a biblioteca pública da cidade, até perceber que não era bem vindo por lá.
- Você gosta de ler? – Jared tomou um susto enorme quando o garoto loiro que vira na noite anterior falou com ele. Não sabia por quanto tempo ele estava ali, encostado no batente da porta.
- Eu... gosto – Jared não conseguiu dizer mais nada, sentia-se intimidado pelo rapaz.
- É verdade que o Mark vai deixar você viver lá no sítio?
- Sim. É o que ele disse.
- Sempre bancando o bom samaritano – Jensen balançou a cabeça, indignado, e saiu, deixando o moreno sem entender nada.
Jared tinha ficado curioso quanto àquele garoto. Ele tinha sardas enfeitando a pele branquinha do rosto, olhos muito verdes, cabelos loiros e curtos, além disso, era muito bonito. Ficou curioso em saber o seu nome, mas não teve coragem de perguntar. Será que ele costumava frequentar o sítio para onde seria levado? Será que o veria novamente algum dia?
Continua...
** OBS: A mãe do Jensen na fic é a atriz Sonya Salomaa, para quem não se lembra, ela fez dois episódios de Supernatural como uma Anja, Rachel (6.18 Frontierland e 6.20 The Man Who Would Be King). Meu agradecimento à Sil pela sugestão.
TaXXTi: Obrigada pelo esforço extra, em pleno dia de trabalho, e por sempre atender aos meus pedidos com tanto carinho. Beijokas!
