É a minha primeira fic, então resolvi fazer algo pequeno... Eu mudei um pouco o modo como Luka e Abby resolvem a história de ir pra África em "Strange Bedfellows". Espero que gostem!

Abby estava preenchendo o último prontuário do dia, e estava feliz por poder ir embora depois de mais de 12 horas de trabalho. Suas costas doíam e ela se sentia muito cansada. Sua barriga crescia a cada dia em uma velocidade impressionante. O peso extra, o fato de ter de andar pra lá e pra cá, na correria do hospital, e ainda ter que ir ao banheiro a cada meia hora estava deixando-a exausta no fim do dia. Ela então terminou de preencher o prontuário, foi para o Lounge, tirou o jaleco, o estetoscópio, vestiu o casaco e saiu ao encontro de Luka. Eles iam para a casa dele, o que faziam praticamente todos os dias após o plantão. Abby só ia ao próprio apartamento pegar as correspondências e pegar algumas roupas, embora tenha preparado o quarto do bebê no seu apartamento também, além no apartamento do Luka.

Ela o encontrou na recepção e eles atravessaram as portas automáticas. Chegando na parte de fora, Luka disse, tentando ser casual:

"Eu estive mantendo contato com o Carter." Abby não pôde deixar de demonstrar sua surpresa.

"Sério? Você contou sobre nós...?"

"Não, não... Ele está em Darfur, agora, no Sudão, e precisa de mão-de-obra extra, precisa de mais médicos, então ele pediu que eu passasse um mês por lá e aproveitasse para levar alguns medicamentos que estão em falta por lá. E eu falei que ia."

Abby demorou alguns segundos para compreender o que escutava, embora já tenha ouvido a mesma coisa antes, mas era o contrário. Ela namorava o Carter e ele dizia que Luka precisava de ajuda na África.

"Você está indo pra África? Pretendia me falar sobre isso alguma hora?"

"Eu estou falando agora... pessoas precisam de ajuda lá, e eu posso ajudá-las. E eu estarei de volta antes do bebê nascer, mas se você não quiser que eu vá, eu não vou."

Abby não se sentiu capaz de responder. Eles simplesmente continuaram o caminho até o carro.

Os dois entraram no carro e passaram todo o percurso quietos. A cabeça de Abby estava explodindo, sentia raiva, e ao mesmo tempo estava assustada ao se imaginar sozinha e grávida. Ela tinha muitas coisas para falar a Luka, mas resolveu esperar até chegar em casa. Luka queria saber o que se passava na cabeça dela, mas não se atreveu a falar nada durante todo o caminho. Sabia que não seria uma conversa fácil... Chegando no apartamento de Luka, eles entraram e foram para a sala. Ela se sentou no sofá e ele permaneceu de pé, a alguns metros dela. O silêncio perdurou por alguns segundos, um não se atrevia a olhar para o outro. Luka, então, resolveu falar.

Ponto de vista de Abby

"Se você não quiser que eu vá, eu não vou..."

"É, você já disse isso, Luka, e eu não entendo por que você põe essa decisão nas minhas costas! Sabe, é você quem vai ficar longe do bebê, que não vai ver a minha barriga continuar crescendo a cada dia, vai ser você que corre o risco de perder o momento do nascimento dessa criança, Luka. VOCÊ, e não eu!" Abby percebeu que haviam lágrimas em seu rosto, mas não se importou.

"Eu disse, estarei de volta antes do bebê nascer!"

"Sim, é o que você diz... Mas quem garante que você não vai pegar outra doença tropical, ou levar um tiro na cabeça de algum guerrilheiro maluco, ou encontrar alguma boa razão por lá que o faça ficar mais tempo... O Carter encontrou, por que não aconteceria o mesmo com você?" Parei por um momento ao imaginar Luka com outra mulher. Lembrei da vez que ele voltou com malária, ele estava com a Gilliam...

"Luka, quando eu decidi continuar com essa gravidez, eu sabia que você estava ao meu lado. Mas nós estávamos juntos há pouquíssimo tempo, e eu sabia que, um dia, a gente poderia simplesmente não dar certo. Um dia, você poderia ir embora e seguir com a sua vida, se casar, ter outros filhos... Muitas coisas desse tipo passaram pela minha cabeça, e confesso que você voltar prá África não foi uma delas... Quando eu decidi não abortar, eu sabia que um dia poderia ter que fazer isso sozinha... E talvez você ache que não, mas eu posso, sim, fazer isso sozinha, se for preciso..."

Lágrimas começaram a cair descontroladamente, e eu não conseguia mais controlar o tom da minha voz. Não sei se eram os hormônios, ou toda essa história de ser mãe mudou o meu jeito de encarar as coisas. Mas dessa vez eu simplesmente sabia que não podia deixar de falar tudo o que sentia. Luka, ao ouvir minhas palavras, apenas olhou para o chão, absorvendo tudo o que estava escutando. Como ele não disse nada, eu continuei:

"Se você realmente que deve um favor ao Carter, se você acha que lá na África pode salvar mais vidas do que salva aqui..." Dei uma pausa, ao mesmo tempo retomando o fôlego, tentando controlar as lágrimas e tomando coragem em dizer tudo o que pretendia. "Se você acha que as pessoas lá precisam mais de você do que as pessoas daqui, eu acho que você realmente deve seguir seu coração e ir."

Nisso, Luka olhou para os meus olhos, que a essa altura estavam vermelhos e inchados, em seguida olhou para a minha barriga e, sem dizer uma só palavra, virou as costas e começou a andar em direção à porta. Eu fechei os olhos, chorando ainda mais, em desespero. Era isso. Ele vai embora. Eu o perdi para sempre. Subitamente, eu me lembrei... Eu precisava contar a ele, antes que ele se vá...

"Luka..." Ele se virou, e eu percebi que havia lágrimas em seu rosto também.

"Tem uma coisa que eu preciso te contar... Era pra ser uma surpresa, era pra você saber só na hora do parto..."

"Eu estive fazendo consultas secretas com a Janet há um bom tempo. Estivemos escondendo uma coisa de você. Não a culpe, foi a meu pedido..."

Luka subitamente pareceu preocupado. "O que houve, algo errado com o bebê?"

Então eu contei, chorando desesperadamente.

"Eu estou grávida de gêmeos!" Ele fez uma expressão de surpresa e questionamento. Será que ele não ia acreditar em mim? Então eu continuei. "Um menino e uma menina."

Então, a expressão dele mudou, ele não mais me questionava, parecia ter assimilado o que ouvira. Parecia feliz. Mesmo assim, ele virou as costas pra mim.

Nisso, voltei a chorar desesperadamente. Não acreditava que depois de tudo ele ia embora assim. Que não ia falar nada sobre a notícia que eu acabara de dar.

Mas ele não foi embora. Ele foi e direção ao telefone, olhou pra mim e começou a discar. Eram muitos números, o que me fez perceber que era uma ligação internacional. Ele então colocou o telefone na orelha e esperou. Quando a pessoa do outro lado da linha atendeu, ele colocou a chamada no viva-voz e eu logo reconheci aquela voz familiar.

"Oi Carter, é o Luka."

"Oi Luka, tudo bem? Já tem uma resposta pra mim?"

"É, Carter, eu tenho..." Luka não tirava os olhos de mim. Eu não conseguia encará-lo. Não sabia se agüentaria ouvi-lo falar ao Carter que ia se juntar a ele. Então virei o rosto, chorando ainda mais. Droga de hormônios!

Ponto de vista de Carter

Eu estava na cabana onde costumo dormir, e fiquei feliz com a ligação de Luka.

"Ótimo, e qual é?"

"Antes de responder, acho que você deveria saber sobre algumas coisas que aconteceram depois de você ter ido embora. Eu e a Abby... Nós voltamos, estamos juntos de novo... Ou pelo menos... estávamos." Carter pôde sentir a tensão na voz de seu amigo, e resolveu conter a surpresa, mantendo-se quieto. Ele pôde ainda escutar os soluços de Abby ao fundo, e percebeu que estava no viva-voz. Ela parecia chorar de uma forma que ele nunca havia presenciado, deixando-o ainda mais surpreso. O que havia de tão errado? Por que ela sofria tanto? Seus pensamentos foram cortados quando Luka voltou a falar. "Depois que nós voltamos, eu percebi o quanto ela me faz feliz... De uma forma que eu só senti duas vezes em minha vida... a primeira com Danjiela e a segunda quando eu e Abby namoramos pela primeira vez. Era um sentimento de plenitude, e eu achei que nada poderia tornar aquilo melhor do que já era..."

"... então a Abby me deu uma notícia, que me fez perceber que, sim, havia como me tornar ainda mais feliz. Ela me disse que estava grávida."

Carter quase engasgou quando ouviu as últimas palavras do amigo. Abby, grávida? Parecia tão improvável quanto magnífico.

"Sim, ela está grávida, de 28 semanas. E por todo esse tempo estivemos curtindo a gravidez juntos, felizes, fazendo planos, discutindo sobre nomes, sobre batismo, fazendo compras para o bebê, arrumando o quarto dele na minha casa e na dela... até que você me pediu para me juntar a você eu contei a ela..."

Carter botou a mão na testa, sabia que não devia ter feito o que fez, conhecendo a Abby, sabia que ela ficaria louca. Mas como ele poderia saber?

"E no momento que vi a reação dela eu me arrependi de ter sequer pensado em ir, em deixá-la. Eu vi o quanto eu preciso estar aqui, presente, e não porque eu ache que ela não pode fazer isso sozinha, porque eu realmente acho que ela pode, o que até me conforta, porque eu sei que ela ficará bem se um dia eu... bem, o que eu quero dizer é que, mesmo podendo fazer tudo sozinha, ela não quer fazer nada sozinha... e eu não quero que ela faça nada sozinha, porque ficar ao lado dela só me faz mais feliz a cada dia. E ao ver a sua expressão ao contar a ela sobre ir à África me fez ver o quanto eu a machuquei, e eu me sinto terrível agora... e eu só espero que um dia ela possa me perdoar por tê-la feito sentir dessa forma."

"Ela é uma mulher incrível, Carter. É meiga, e ao mesmo tempo forte, independente. Ela me faz sentir como eu nunca achei que poderia sentir... e há alguns minutos ela me deu uma notícia que apenas aumentou esse sentimento... ela me disse que teremos gêmeos! Um menino e uma menina!" Os olhos de Carter arregalaram de excitação. Ele mal acreditava que estava ouvindo a tudo aquilo, era simplesmente extraordinário. Abby, a mulher que um dia ele amou e sua grande amiga e Luka, outro grande amigo, quase um irmão, estavam formando uma família. Era muito mais do que ele podia imaginar. Ele percebeu que Luka estava emocionado há um bom tempo, desde a hora que ele falou sobre a gravidez e sobre a Abby o perdoar... Carter também percebeu que nunca tinha participado de um telefonema e falado tão pouco, mas não se importava. Sabia que ele ali era apenas um pretexto para que Luka falasse tudo o que queria para Abby.

"E eu ainda não sei o por quê eu ainda estou aqui, e não estou ao lado da Abby, pedindo o seu perdão porque..." Mas Luka não teve tempo de terminar sua frase, porque Abby se levantou o mais rápido que sua nova forma permitia, correu até ele e o beijou apaixonadamente. As lágrimas de ambos se misturaram quando os rostos se encostaram, e nenhum dos dois pareciam poder conter novas lágrimas de surgirem. Após alguns segundos, que pareciam a eternidade para eles, Abby interrompeu o beijo e disse:

"Eu te amo..."

"Eu também te amo... muito..."

Carter, ainda do outro lado da linha, estava realmente se sentindo deslocado. Mesmo há milhares de quilômetros de distância, ele estava atrapalhando o momento.

"Carter... eu te ligo mais tarde..."

"Claro..." Ele disse, sorrindo, e desligou o telefone.

Algum tempo depois, os dois pareciam estar finalmente em paz. Luka estava sentado no sofá e Abby estava deitada, com a cabeça recostada no peito dele. Ele acariciava a cabeça dela com a mão direita e a mão esquerda repousava sobre a barriga dela.

"Então..." Abby falou, pegando a mão de Luka e colocando-a na parte mais à direita de sua barriga "...este é o menino..." e, movendo a mão dele para o lado oposto "...aqui está a menina."

Ele não conseguia parar de sorrir. "Ainda não acredito que você escondeu isso de mim! E eu achando que você está ganhando peso rápido demais, achei que estava comendo demais, escondida de mim!" Os dois riram.

"Eu já disse, queria que fosse surpresa. Janet não queria mentir pra você no começo, mas eu fiz a cabeça dela... então a cada consulta que você ia, ela colocava o ultrassom em um lado da barriga, e eu disse a você que não queria saber o sexo, então não houve grandes problemas."

Luka fez uma cara de bravo, mas Abby sabia que não era sério. Ele, então, ficou pensativo por um momento, e depois disse:

"Abby, os bebês precisam de um quarto para cada um... E eu realmente acho que eles deveriam crescer em uma casa, com uma sala grande para eles brincarem, um jardim com bastante grama, em uma rua com várias casas com famílias, para eles poderem brincar com as crianças da vizinhança... e um quarto com uma grande cama de casal para nós, para as noites que eles tiverem pesadelos e quiserem dormir com a gente."

"Você quer dizer... que a gente deve morar juntos? Em uma casa?"

"Exatamente. O que você acha?"

"Achei que você até que demorou para perguntar." Abby disse em tom sarcástico. Luka olhou para ela e disse desconfiado:

"Você sabia que eu ia te chamar pra morarmos juntos?"

"Claro, essa história de fazer um quarto para o bebê em cada apartamento foi toda pensada por causa dos gêmeos! Teríamos mesmo que ter tudo em dobro!" Abby olhou pra ele, rindo. Ela não queria ter estragado a surpresa, mas estava se divertindo muito contando tudo pra ele, agora.

"Que manipuladora e calculista! Que tipo de mãe eu fui arranjar pros meus filhos!".

"Ei, de acordo com o que você acabou de falar para o Carter, o melhor tipo!".

E os dois riram, felizes como nunca.