Adaptação do livro de Charlene Sands. Norte da Califórnia, século XIX. Harry Potter sabia que Gina Weasle era passional, orgulhosa, inteligente, além de ser a mulher que ele amava. Mas se ela não se convencesse de que lugar de mulher era em casa, então não teriam a menor chance de chegar a um final feliz!Harry e Gina foram amigos durante toda a infância. Agora, ela era dona de um bar, e ele era o xerife Potter, severo, inflexível... e determinado a fechar o estabelecimento de Gina a qualquer custo! No entanto apesar das enormes diferenças, Gina não conseguia deixar de sentir seu coração pulsar ferozmente cada vez que seus olhares cruzavam!


PRÓLOGO

Crystal Creek

Norte da Califórnia, 1868

Gina Wealey desceu voando a es cada da escola e só parou junto ao rangente portão de madeira. Afobada, desamarrou a corda grossa que segurava os postes juntos.

— E não vá para casa correndo, Ginevra! — advertiu a professora, da porta do estabelecimento. — Não fica bem uma mocinha correr feito louca.

— Sim, Srta. Ashmore — replicou Gina, auto maticamente adotando um passo bem lento. Gostaria que a professora a chamasse de Gina. Toda a vida, sempre desejara ser apenas Gina, mas a Srta. Ashmore achava "Ginevra" mais civilizado e, se havia algo que a professora acreditava lhe faltar, era mais civilidade.

Gina não concordava, mas, como tinha só doze anos, ninguém levava em conta sua opinião.

Exceto Harry Potter.

Assim que saiu da vista arguta da professora, Gina disparou novamente. Tinha de alcançar Harry. Estariam a caminho do córrego juntos naquele exato minuto, se ela não tivesse tido de ficar até mais tarde escrevendo vinte e cinco vezes no quadro-negro: "Não vou mais cuspir na sala de aula. Moças não cospem". A Srta. Ashmore não queria saber se Toby Benton cuspira primeiro.

Esgueirando-se pelos fundos da chapelaria da velha Sra. Whitaker, Gina parou para ver se Mac não estava do outro lado da rua, na frente do bar Silver Saddle, var rendo a sujeira resultante da briga na noite anterior. Ela primava pela limpeza. Odiava quando desordeiros visita vam seu estabelecimento e faziam bagunça.

Ante o caminho ficou livre, Gina disparou novamente, rumo ao córrego. Acabara de ultrapassar a cocheira de aluguel quando se viu despencando para a frente. Caiu de joelhos sobre um fardo de feno desamarrado. Tirando a palha do rosto, voltou-se e viu uma perna atravessada em seu caminho, que causara sua queda.

— Ha, te peguei! — Harry pulou do esconderijo atrás da parede e olhou-a de cima. — Aposto como não viu que eu estava ali!

— Para adivinhar que você estava ali, Harry Potter, só se fosse pelo seu mau cheiro! — Gina levantou-se ex traindo talos dourados da longa trança. Farejou o ar. — Estava correndo demais para captar o odor, mas sinto agora. — Agitou as mãos na frente dele e recuou. — Credo, como você fede!

— Mentira! Está com raiva, porque levou a pior.

— Penas de um dos chapéus extravagantes da Sra. Whitaker tomarão o rumo sul no dia em que levar a melhor sobre mim, Harry Potter!

— Já levei! — O garoto cruzou os braços ao peito. — Sempre levo.

Mais alto do que Gina, olhava-a com ar superior. Ela mal podia esperar para crescer mais dez centímetros e alcançá-lo. Então, poderia fitá-lo diretamente nos olhos verdes, destemida, igual em capacidade e tamanho. O problema era que, à medida que crescia, Harry se espichava na mesma proporção, ou mais. Isso não lhe parecia justo, nem um pouco, embora Harry fosse dois anos mais velho.

— Leva nada!

— Levo.

Não leva.

— Levo. Vamos ver quem chega primeiro ao córrego.

Gina levou a mão ao abdome. Acabara de ter uma menstruação, período em que se sentia cansada e irritadiça. Mas, à parte o detalhe, ultimamente dera para sentir um nó nas tripas sempre que estava com Harry. Fitá-lo no rosto, reparar na ponta de seus cabelos negros causava-lhe o maior alvoroço nas entranhas. Como agora. Não entendia o que se passava, mas não podia recusar uma disputa com Harry, com ou sem nó nas tripas.

— Já estou cansada de bater você sempre — declarou, desdenhosa.

— Eu deixo você ganhar.

— Mentira.

Ele se aproximou e arrebitou o nariz em cima dela.

— Deixo, sim.

Gina sentiu um alvoroço por dentro outra vez. Harry não cheirava mal, de fato. Na verdade, quando ele chegava pertinho assim, gostava do cheiro dele, mistura de sabonete e terra.

— Harry, não estou com vontade de correr hoje.

— Está com medo de perder desta vez?

— De jeito nenhum!

— Então... ei!

Gina largara na dianteira, voando pelo fundo das lojas. Ao descer o morro coberto de verde e contornar o pinheiral, já sentia os pulmões em chamas, os cabelos voando selvagens para longe do rosto. Ria alto, correndo dispa rada. Sentia-se viva e incrivelmente livre.

— Vamos, tartaruga! — provocou, cônscia de que Harry se aproximava rapidamente. Já podia ouvir seu resfolegar.

Já se avistava o córrego a cerca de cem metros. A gigantesca pedra cinza, o marco de chegada, erguia-se bem em frente. Gina tinha de chegar primeiro. Tinha de vencer. Não podia deixar Harry batê-la. Olhou por sobre o ombro e o viu a um passo de distância. Com o peito e as pernas ardendo, fez um último esforço.

— Ganhei! — gritou, em júbilo, ao dar o chute na pedra. Harry chegou um segundo depois. — Levei a melhor! — gabou-se, curvando-se para recobrar o fôlego.

Harry apoiou as mãos nos joelhos e deixou pender a cabeça, tragando o ar com força.

— Levou, mas vou à forra — prometeu. — Logo, nunca mais vai ganhar de mim.

Gina escorregou para o chão, pernas esticadas, inclinou-se para trás apoiada nas mãos e contemplou o córrego. A água do degelo das Sierras era profunda, azul e convidativa. Desta vez, acreditou nas palavras de Harry. A cada disputa, ganhava a corrida por uma margem menor. Ele quase a batera desta vez, e logo á faria comer pó.

Ficou triste, mas não o deixaria saber de seu medo. Viu-o se sentar a seu lado e pegar uma folha morta, manuseando-a. Ambos concentraram-se na folha marrom.

— Não tem nada de mais perder de vez em quando, Gina.

— Você já deve estar acostumado.

— Ganho de todos os meninos da escola. - Ela sorriu.

— Mas não de mim.

— Não tem mesmo importância — assegurou Harry. — O mais importante para mim é sacar mais rápido. Para quando for o xerife da cidade.

— Eu é que vou ser a xerife, Harry. Não você.

O garoto expressou desdém. — Gina, mulher não pode ser xerife.

— Mamãe diz que as mulheres podem ser o que qui serem. Nenhum homem tem o direito de dizer o que uma mulher pode ou não fazer na vida.

— Ela fala assim porque é dona do bar, Gina. Tem de ser durona com a rapaziada.

— Nem por isso eles deixam de frequentar, certo? Ma mãe diz que a gente tem de agradar à freguesia. Bom uísque a preço baixo, esse é o segredo do negócio.

Harry concordava.

— Não tenho nada contra a sua mãe, Gina, mas lugar de mulher é em casa. — Com um brilho lascivo nos olhos e erguendo repetidamente os sobrolhos, completou: — Tendo bebês.

Gina riu nervosa. Não sabia se deveriam falar dessas coisas, mas costumavam conversar sobre tudo.

— E isso o que você quer, Harry?

— Acho que sim. Depois que me tornar xerife, quero dizer. Quero um monte de filhos.

Harry não conhecera os pais, que morreram muito cedo. Criado pelo irmão mais velho na fazenda, Gina sabia o quanto ele sentia falta de uma família de verdade.

— Mamãe não pode ter mais filhos. Não tem marido. Meu pai nos abandonou quando eu era bem pequena. Mas mamãe é uma boa mulher, Harry. Vai à igreja todo domingo.

— Mas as outras senhoras não falam com ela.

— Mamãe diz que elas é que perdem. - Harry deu de ombros.

— É por isso que você também não tem amigas, não é?

— Não preciso de amigas, Harry. Tenho você, e um dia serei a xerife da cidade. — Gina o esmurrou no braço e sorriu, determinada a mudar de assunto. Não se impor tava com o fato de não ter amigas, não de verdade, mas gostaria que Harry não falasse mais disso. — Deixo você ser meu assistente.

— Está dizendo tudo ao contrário, Gina. Eu vou ser o xerife e talvez, se atirar bem e tudo o mais, talvez eu a deixe ser minha assistente.

Gina formou um amplo círculo com os braços e bateu as mãos no chão coberto de folhas de outono.

— Ai! — gritou, com lágrimas nos olhos à dor súbita.

Harry aproximou-se de joelhos.

— O que foi?

Gina ergueu a mão. Tinha uma roseta de espora enferrujada encravada na palma.

— Calma. — Harry examinou o objeto. — Não vai doer nada. — Antes que ela pudesse pensar, arrancou a roseta.

— Aaaaiii, Harry! Doeu, viu?

Fitou a mão no ponto junto ao pulso. Sangue se derramava do corte, tingindo a pele de vermelho, empapando a manga da blusa.

— Desculpe-me, Gina, mas não tinha outro jeito. — Ele puxou a camisa para fora da calça, rasgou uma tira e improvisou uma atadura. — Aperte com força, para es tancar o sangue.

Gina reprimia as lágrimas. Nunca chorava. Mas nunca sentira tanta dor.

— Está bem...

— Deixe que eu faço isso. — Harry lhe tomou a mão e, concentrado, passou a pressionar o ferimento.

Gina sentiu aquele nó nas tripas outra vez, e sabia que não era por causa do ferimento, mas devido à proximidade do garoto.

— Acho que vai ficar cicatriz— opinou ele. — E bem profundo.

— Não faz mal — murmurou ela, lutando contra a ternura que a dominava por dentro. Não podia evitar reparar nos cílios castanho-escuros de Harry, nos olhos tão verdes, no carinho com que ele cuidava dela.

Era seu único verdadeiro amigo. Ele não se importava com o fato de sua mãe ser dona de um bar, nem quando os colegas o provocavam por brincar com a filha da dona do bar. Harry Potter era seu amigo de verdade.

— A dor diminuiu?

— Diminuiu — afirmou Gina, tentando não mergulhar nos olhos dele. — Espero que sejamos sempre amigos.

Harry a fitou e assentiu.

— Como pode saber?

— Eu sei, Gina. Eu sei.

— Promete?

— Prometo. — Com um novo brilho nos olhos, Harry pegou a peça metálica enferrujada que lhe causara o ferimento. — Quer ver? — Abriu a mão e, num movimento rápido, cortou-se com a espora no mesmo local em que Gina se ferira. O talho não era tão profundo, mas produziu algumas gotas de sangue.

Ele pegou a mão dela e pôs em contato os ferimentos. Ao espalmar a mão, ela notou que a mão dele era maior e mais áspera.

— Amigos para sempre — declarou Harry, solene, enquanto seus sangues se misturavam. Em seguida, retomou a atadura improvisada e cobriu novamente o feri mento da mão dela.

Gina sentia o coração retumbando nos ouvidos. Experimentava aquela sensação esquisita outra vez, misto de enjoo e tremor agradável por todo o corpo.

Num impulso, tomou a mão dele e inspecionou o feri mento. Erguendo a saia, rasgou uma tira da anágua e enrolou a renda branca sobre o corte ensanguentado. Fez pressão, como ele fizera, e ousou fitá-lo nos olhos.

Harry engoliu em seco, o pomo-de-adão se agitando na garganta, e Kate pensou senti-lo tremer.

— Obrigado — murmurou ele.

— De nada.

Harry levantou-se e estendeu a mão para ajudá-la a se erguer.

— Tenho tarefas e meu irmão Jeb não gosta que eu me atrase. Preciso voltar para casa.

— Eu também. — Gina levantou-se, mas ele não soltou sua mão. Em vez disso, puxou-a para perto e beijou-a nos lábios. Seus olhares se encontraram só por um segundo, antes que ele desse meia-volta.

— Até amanhã, Gina.

Ela ficou lá plantada, muda, olhando para as costas dele. Harry a beijara! Fora seu primeiro beijo, e Harry o dera. Vários minutos se passaram, e centenas de pensamentos lhe atravancaram a mente. Estava surpresa, perplexa com o que acontecera. Os lábios dele eram quentes, úmidos, e ela nunca se sentira tão maravilhosa em toda a vida.

Com os braços arrepiados, esfregou-os, e então levou um dedo aos lábios. Formigavam.

Naquele momento, Ginevra Weasley descobriu o que era toda aquela sensação esquisita. Entendeu por que suas entranhas se alvoroçavam quando estava perto de Harry. Percebia agora o que tudo aquilo significava.

Estava apaixonada por Harry Potter. E jamais, em toda sua vida, amaria outro garoto.


Sou apaixonada por essa história e espero que vocês gostem.

Perguntas, sugestões, dúvidas. Podem perguntar que eu respondo!

Até a próxima!