CAPÍTULO UM: O PREÇO

"Não!" Lily gritou instintivamente adiantando-se. Dumbledore não podia estar morto. O símbolo e o ícone da guerra contra Voldemort não podia ter tombado. Mesmo a Maldição da Morte não podia assassinar Albus Dumbledore. Não era possível. Ele não podia ter-se ido. Se ela conseguisse chegar até ele, tudo ficaria bem--

"Não, Lily!" braços forte de repente agarraram-na por trás e arrastaram-na de volta. Comensais da Morte estavam avançando, e um Voldemort sorridente adiantava-se na direção deles também, seus olhos vermelhos queimando de poder e satisfação. A despeito disso, Lily lutou desesperadamente para chegar até seu velho mentor, mas Sirius Black arrancou-a do chão e empurrou-a através da abertura. "As portas, Hestia!"

Jones lançou o feitiço imediatamente e a parede de mármore fechou-se com um barulho. A abertura fechou-se bem a tempo; a passagem estremeceu e trovejou quando feitiços impactavam contra a barreira e Sirius continuou arrastando-a. Os Aurores também estavam correndo e Lily notou distraidamente que só havia dois deles, quando antes houvera cinco. Sirius devia ter vindo sozinho, mas ela não se importava no momento. Desesperada, Lily tentou afastar-se mais uma vez.

"Temos que voltar," ela implorou. "Não podemos deixá-lo!"

"Ele está morto, Lily," Sirius disse baixinho. "Não tem nada que podemos fazer--"

"Não!--Temos que-- que--"

"Vamos, Lily! Temos que sair daqui antes que esse lugar desabe." Sirius parara e olhava-a no olho. Seu rosto estava tão pálido quando Lily se imaginava estar, mas a voz ainda era dura. "Vou carregar você se precisar, mas vai ser mais rápido se você correr."

Albus... Lágrimas mornas surgiram pelo seu amigo, mas Lily piscou, afastando-as. A realidade interveio. Não havia tempo e Sirius estava correto. Ela soltou um suspiro trêmulo quando o teto acima deles começou a tremer. "Vamos."

Poucos entenderiam o quanto aquelas palavras custaram a ela.

Cadeiras voaram quando Professor Snape e Professor Fletcher mergulharam atrás do diretor, quase virando a mesa no processo. Lupin estava deitado de costas no chão, remexendo-se um pouco e estremecendo inexplicavelmente. Estudantes surpresos no salão gritavam, procurando feito loucos por ameaças -- mas não havia nenhuma e mesmo se houvesse, Harry não teria notado. Estava ocupado demais correndo até o homem a quem ele crescera conhecendo como um tio. Madame Pomfrey também se apressou na direção do diretor; Snape e Fletcher lutando agora para segurá-lo enquanto o corpo de Remus entrava em convulsão.

Harry alcançou o estrado e pulou nele, só para ter Hagrid, tendo acabado de chegar de outra missão de Dumbledore, agarrando seu braço. Freneticamente, Harry tentou afastar-se, mas o meio-gigante era forte demais e conteve-o com facilidade.

"Me solta!"

A multidão de professores em torno do diretor dobrara de tamanho e Hagrid olhou na direção deles antes de responder. "Não posso fazer isso, Harry. Você tem que ficar afastado agora. Não sabemos o que está acontecendo--"

"Não quero saber!" Harry interrompeu com urgência. "Preciso--" a outra mão de Hagrid fechou-se em seu ombro, impedindo qualquer chance de fuga.

"O Professor Lupin não ia querer que você se ferisse," o guarda-caça respondeu com firmeza. "Você pode ficar aqui e assistir, mas não vai chegar perto."

Harry soltou um suspiro zangado e decidiu não objetar. Discutir com Hargrid era como tentar montar um centauro. Simplesmente não adiantava.

Ansiosamente, ele observou Snape, Fletcher e Pomfrey se inclinarem sobre Remus, tentando todo tipo de feitiço para acordá-lo. O diretor estava quieto agora, mas se isso fora causado por uma Corpo Preso bem lançanda ou outra coisa, Harry não sabia. Contudo, Remus parecia mais pálido do que o normal sob as luzes brilhantes do Grande Salão e Harry achou ter visto algo brilhando sob as pestanas fechadas do diretor. A enfermeira e os dois professores falavam muito baixinho para ele conseguir ouvir, mas os olhares preocupados nos três rostos eram impossíveis de disfarçar numa distância tão curta.

Enquanto isso, o Professor Flitwick estava levando os alunos para fora do salão. Muitos deles hesitavam, olhando preocupados na direção de Remus durante a saída, mas os Slytherins murmurravam excitados enquanto passavam e Harry vislumbrou Draco Malfoy sorrindo. Não muito longe, Hermione chamou sua atenção e murmurrou uma pergunta: Ele está bem? Mas Harry só pôde dar de ombros. Mesmo Hagrid parecia desconfortável.

Após vários minutos, Harry era o único aluno que sobrara no Grande Salão. O resto, não importava o quão relutante, estavam se dirigindo para seus respectivos dormitórios e para longe da ação. Ele era o único lá para ver o que acontecia -- exceto pelo fato de nada estava acontecendo. Remus ainda estava absolutamente imóvel no chão e Harry só não que temia que ele estivesse morto por causa do ligeiro movimento do peito. Alguém, ele notou, conjurara um travesseiro para apoiar a cabeça dele, sobre o qual Harry notou um pouco de sangue onde ela batera no chão duro. Mas a ferida fora habilidosamente tratada então aquilo não podia ser o motivo de Remus continuar inconsciente.

Antes que Harry pudesse começar a pensar em outras razões, contudo, o corpo do diretor convulsionou com força e Remus acordou de supetão. Ele olhou em torno cegamente por um instante, até que Snape e Fletcher pegaram seus braços moles e o fizeram deitar-se de novo. Os outros professores só observavam num silêncio chocado enquanto Remus lutava contra eles sem pensar. Sua respiração era curta e rápida e seu peito estava de repente cansado com o esforço.

"Calma, Remus," Fletcher começou calmamente. "Não precisa--"

"Não se mexa," Snape interveio irritado. "Você só vai se ferir mais."

Remus balançou a cabeça. "Sentar," ele chiou. "Preciso me sentar."

Harry nunca vira Remus Lupin perder o controle, nem parecer tão perdido ou confuso. Seus olhos azuis estavam arregalados e dardejando cegamente pelo Grande Salão, e sua cabeça virava de um lado para o outro, procurando algo que não achava. Cuidadosamente, Snape e Fletcher o ajudaram a se sentar, mas os dois professores parecia extremamente infelizes com a situação. Trêmulo, Remus imediatamente pressionou as duas mãos na testa, como se tivesse medo da cabeça explodir.

"Onde estou?" ele sussurrou para o silêncio. Harry viu os olhos dele se fecharem de novo.

"Em Hogwarts," Fletcher respondeu gentilmente. "Você ainda está em Hogwarts, Diretor."

"O Ministério..."

Fletcher franziu o cenho. "Não, você está em--"

"O que tem o Ministério?" Snape interrimpeu de novo.

"Se foi." Os olhos de Remus abriram-se. "Meu Deus, ele se foi." Ele pôs-se de pé cambaleando antes que alguém pudesse detê-lo, e quase caiu antes que Snape e Fletcher o pegassem.

"O que quer dizer com ele se foi?" A Professora Sinistra quis saber friamente.

"Voldemort..." Ele tropeçou um passo para longe dos dois professores, apertando as mãos trêmulas nas têmporas mais uma vez. Vários professores arfaram e todos ficaram pálidos; às suas costas, Harry sentiu Hagrid tensionar-se. Remus, contudo, não viu nada disso enquanto tremia e fitava o chão. De súbito, porém, sua cabeça levantou-se com força e um olhar de horror cruzou seu rosto. "Não," ele sussurrou. "Dumbledore..."

Um grito agudo cortou o ar. Era uma canção bela e triste, mas ainda assim forte e de partir o coração ao mesmo tempo. Depressa, Harry seguiu o olhar de Remus com os olhos e sentiu os outros fazendo o mesmo. Na ponta distante do Grande Salão, uma criatura vermelha e dourada voou na direção deles. Apesar de Harry só ter visto uma fênix uma vez antes, ele reconheceu o pássaro imediatamente. Era Fawkes.

Gracioso e em péssimas condições, a fênix aterrisou na mesa diante do diretor. Seus olhos grandes fitaram apenas Remus, que, depois de um instante, esticou uma mão trêmula para tocar as penas queimadas de Fawkes.

"Ele se foi, não é?" Remus sussurrou.

O modo como a cabeça de Fawkes caiu e a lágrima prateada que caiu silenciosa na mesa foram a única resposta que precisavam.

"James? James? Droga, Pontas, fale comigo!"

"Acha que ele vai sobreviver?" Uma bruxa que ele não conhecia fez a pergunta, mas ele nem se importava. Um aceno zangado de sua mão limpou o sangue dos olhos. Só então Peter percebeu que estava tremendo.

Ele chocoalhou James novamente. Isso não podia estar acontecendo. "Vamos, cara, acorde," ele implorou. "Não faça isso comigo!"

"Acho que temos alguma chance?" a bruxa infernizou-o. Estavam muito para dentro do subsolo, debaixo do Ministério e a poeira estava em todo lugar. O elevador tinha aterrisado com força e ele mal conseguira arrastar seu amigo para longe dos destroços. Ela não fora de muita ajuda. "Tem muito sangue aqui, sabe."

Ele a ignorou. "James?"

"Você podia tentar reacordá-lo, sabe."

"Acha que já não tentei isso?" ele reclamou zangado. "Se achasse que funcionava, ficaria tentando o tempo todo!"

"Bom, não tem motivo para brigar comi--"

"A menos que você seja uma curandeira, cala a boca!" Peter resmungou. "Tenho coisas melhores para fazer do que ouvir essa sua baboseira inútil!" Ansiosamente, ele se voltou para o amigo. Tentara todo feitiço que conhecia para acordá-lo, e preocupava-o o fato de James não estar se mexendo. "Vamos, James... acorde... Temos que sair daqui antes que os Comensais da Morte apareçam--"

A bruxa gritou e ele se pôs de pé rapidamente, a varinha na mão e procurando por ameaças. Peter nunca fora talentoso em magias de combate como James ou Sirius, mas seu amigo estava em perigo. "O que foi?"

"Ele se mexeu!"

"O que?" Imediatamente ele caiu de joelhos de novo, soltando a varinha e não se importando para onde ela ia. Mas James estava realmente se mexendo. "James? James, consegue me ouvir?"

"Humm..."

"Isso mesmo, James," ele disse desesperado. "Acorde."

Os olhos de seu amigo abriram-se. "Prefiro acordar e ver o rosto de Lily," James murmurrou. "Você é feio."

"Desculpe. Lily não está aqui." E eu não sei onde ela está.

"Tudo bem," James sussurrou. "Onde estamos?"

"Debaixo do Ministério," ele respondeu. "Mas temos que ir antes que os Comensais da Morte nos alcancem." Seu coração se acelerava. Estavam ali há muito tempo. "Acha que consegue se mover?"

"Não." a voz de James eram bem calma.

"Como?" Ele estivera procurando por rotas de fuga, mas sua cabeça chicoteou de volta para o rosto do amigo.

"Um pequeno problema, Peter. Não consigo sentir minhas pernas."

Peter conteve algumas palavras que sua mãe super-protetora nunca teria perdoado-o por tê-las dito. Estar perto de Sirius nunca fora bom para seu repertório de palavras... Engoliu com força. Ele não sente as pernas. De súbito, Peter sentiu frio por dentro. Isso não era nada bom.

"Tem certeza?" foi tudo que conseguiu perguntar.

"Bastante, na verdade," James replicou, e sua voz estava contida com a dor. "Confie em mim, Rabicho. Posso ser um idiota, mas não ia inventar isso."

Peter engoliu em seco. "Era minha esperança."

"É. A minha também." Os olhos de James voaram pelo túnel subterrâneo onde estavam e vislumbrou a bruxa que ainda os fitava. Com um grande esforço, ele se apoiou nos cotovelos e voltou a cabeça para a passagem escura à direita de Peter. "Acho que vocês dois devem--"

"Se chegar a terminar essa idéia, Pontas, vou azará-lo agora," Peter interrompeu-o com zanga. Sabia exatamente o que o amigo ia dizer. "Não vou deixar você. Então nem comece. Nem pense nisso."

James fechou a cara. "Ouviu isso?" ele exclamou e Peter ouviu. Passos e gritos no andar acima deles e ambos sabiam o que aquilo significava.

"Sim," ele respondeu, surpreso por sua calma. Seu coração batia acelerado, mas pelo menos uma vez na vida, ele não estava morto de medo. Talvez fosse porque um de seus amigos dependesse dele e Peter falhara com eles vezes demais. "Mas não tem a menor chance de que ele o deixe aqui, então nem comece."

"Peter, você sem dúvida é uma das pessoas mais idiotas que já conheci," James resmungou carinhosamente, e Peter sorriu sem querer. Evidentemente, a estranha calma que sentia não se estendia para suas mãos trêsmulas, mas pelo menos conseguia respirar.

"Claro que sou." Rapidamente, ele olhou em torno. Os túneis subterrâneos abaixo do Ministério ainda estavam quietos, mas quanto tempo isso duraria, Peter não sabia. Tinha que tirar James dali e depressa -- mas como? A menos que um milagre acontecesse nos trinta segundos seguintes, James não sentia as pernas e isso deixava Peter com uma escolha infernal. Não ia abandonar o amigo; fazê-lo não era nem uma opção para um Maroto, mesmo um que se desgarrara por tantos anos. Respirou fundo. Não importa as coisas estúpidas que já fiz, nunca traí meus amigos, Peter pensou desesperado. E não vou começar hoje.

"O que vamos fazer?" a bruxa perguntou de repente, tirando sua atenção do pequeno problema.

"Nós?" Peter repetiu com dúvidas. Ele com certeza não tinha intenção de carregar a bruxa nervosa e assustada na sua tentativa de resgatar James. Suas próprias tentativas falíveis de heroísmo eram suficiente para fracassarem sem ajuda dela.

"Sim, nós," James interrompeu antes que ela pudesse replicar. "Para onde mais ela vai?"

Peter franziu o cenho. "Certo... hã, James, sabe o caminho para sair daqui?"

"Claro que sei," o Auror respondeu com firmeza. Então a confusão atravessou suas feições empoeiradas. "Se eu soubesse onde estamos, pelo menos..."

"Ah. Nada bom."

"Não diga," James suspirou, olhando em torno de novo. "Bom, só tem dois caminhos e um deles é a saída. Já que temos cinqüenta por cento de chance, diria para irmos pela direita."

Peter engoliu em seco e teve que perguntar. "Para onde a direção errada nos leva?"

"Para um beco sem saída." James sorriu como desculpas.

"Ótimo."

"Tire-os daqui!" Sirius berrou.

Estavam na rua agora, e bem no meio da Londres trouxa. A velha cabine telefônica vermelha que antes fora a entrada de visitantes do Ministério da Magia fora arrancada e reposicionada para pelo menos trinta metros de onde ficava; Sirius estava de pé bem na frente dela e sabia que não estava perto da onde ela deveria estar. Os escritórios e edifícios próximos estavam em ruínas e a lixeira que estivera ali naquela manhã desaparecera. Destroços cobriam a rua e o beco parecia mais amplo do que antes -- e então Sirius percebeu que era porque pelo menos um prédio fora completamente destruído pela explosão no subsolo.

E é claro, trouxas curiosos começavam a se aproximar.

Ele escutou sirenes e resmungou baixinho, virando a cabeça na direção delas. Luzes piscando e veículos motorizados -- exatamente o que ele precisava. A versão trouxa para execução das leis. Fantástico. Sirius gesticulou loucamente para sua minguada força de Aurores enquanto o chão tremia novamente. "Tire os trouxas daqui!"

"O que devemos fazer com eles?" Hestia Jones exclamou.

"E o que me importa?"

Flashes surgindo no rosto dele e os repórteres trouxas se aproximando. Ou talvez alguns deles fossem bruxos também, mas Sirius não tinha tempo para se importar -- e devotamente esperava que quaisquer bruxa ou bruxo tivesse o bom senso de se afastar enquanto Voldemort estava sob os pés deles. Hestia saiu para ação imediatamente, contudo, afastando os curiosos com gritos zangados e um aceno sugestivo da sua varinha. Eles fugiram assim que ela lançou faíscas gigantes na direção deles, completamente traumatizados. Antes, tal demonstração descuidada de magia teria significado dias de trabalho para os Obliviadores, mas pelo que Sirius sabia, todos eles estavam enterrados no Ministério.

Em vez de se preocupar com os trouxas -- e com os indesejados policiais que se dirigiam para ali, com ou sem faíscas -- Sirius virou-se, tentando contar quantas pessoas ele realmente tinha sob seu comando neste desastre. Quando chegara, bruxas e bruxos estavam fugindo do Ministério e a maioria deles aparentemente aparatara para longe. Alguns, porém, permaneciam e podia ver Aurores aparecendo. Quando ele e seus colegas fugiram, não houve tempo para determinar um ponto de encontro; o próprio Sirius tinha aparatado para o Beco Diagonal porque fora o primeiro local que passara pela sua cabeça. A falta de Aurores se provara fatal quando Hestia e quatro outros tinham se decidido ajudar Dumbledore e os refugiados e havia uma grande chance de fazê-lo de novo. Uma contagem rápida disse a Sirius que ainda faltavam doze e um canto assustado de sua mente começou a se perguntar quantos tinham morrido na explosão.

Mas não havia tempo para isso agora.

"Fiquem longe da abertura!" ele gritou de repente, acendo para Oscar Whitenack se afastar da passagem subterrânea que levava ao Ministério, que ainda estava aberta após a saída deles, minutos antes. Assim que percebeu o erro que era deixar o caminho aberto, fogo surgiu da brecha e Oscar caiu para trás, queimando e fumegando. Só a ação rápida de Kingsley Shacklebolt tirou-o do caminho a tempo e o Feitiço de Extinção de Hestia salvou sua vida.

Oscar ainda estava no chão, contudo, deixando-o com nove Aurores. Dez, contando com ele. Sirius saiu em movimento. "Fechem a brecha!"

Vários Aurores se aproximaram, mas mais fogo saltou na direçao deles, antes que alguém pudesse agir, avisando Sirius de que Voldemort e seus seguidores tinham definitivamente passado pela primeira barreira. Um dos Aurores -- achava que fora Mucia Coleman, mas não tinha certeza, cambaleou para trás, apertando um braço que explodiu em chamas. Isso está ficando ruim.

O chão tremeu de novo, quase derrubando Sirius. À sua direita, ele viu Lily, seu rosto manchado de lágrimas coberto de sujeira, cambaleando e mal conseguindo equilibrar-se. Desta vez, contudo, a rua não parou de chocoalhar e mesmo enquanto os Aurores lutavam para fechar a abertura, uma parte do pavimento voou para o alto e quase esmagou vários dos empregados que fugiam. Trouxas próximos gritavam e o pub desabou com um estrondo, lançando fragmentos de madeira voando para todo lado e salpicando a multidão com escombros. Sirius escolheu-se e saltou sobre um banco que voava no esforço de chegar até a brecha ainda aberta, e então ele viu Kingsley e os outros voarem para trás como se varridos por uma mão gigante poderosa.

Lily, ainda em choque, apenas fitava.

"Lily, tire-os daqui!" Sirius gesticulou desesperado para a multidão misturada de bruxas, bruxos e trouxas. Eles ainda fitavam, só assistindo, alvos bonitos e fáceis bem à vista -- e as coisas só iam piorar.

Com um suspiro gigantesco e final, o chão ergueu-se sob os pés de Sirius e lançou-o ao chão. A despeito da situação perigosa e dos Comensais da Morte que certamente iria encontrar, o Auror teve que sorrir. Não era um sorriso gentil, mas definitivamente um que seus colegas reconheceriam. As coisas acabaram de ficar piores.

De costas no chão, Sirius só pôde assistir quando Voldemort e seus seguidores sairam a passos largos do Ministério. Um poder das trevas varria em torno deles, e as bruxas e bruxos que fugiram gritavam de terror -- os trouxas juntaram-se a eles, sem entender muito bem o por quê, mas sabendo que tinham medo do mesmo jeito. Os policiais trouxas que se aproximavam começaram a atirar nos Comensais, reconhecendo a ameaça que eles eram, mas Voldemort apenas riu.

Era a mesma risada aguda que assombrara os pesadelos de Sirius e fê-lo pôr-se de pé. Lily também parecia ter acordado para a ação e pelo canto do olho, Sirius a viu gritando para os bruxos e bruxas para correrem.

Frio.

Ele quase não notou as figuras encapuzadas atrás de Voldemort até que fosse tarde demais. Um saiu detrás de um Comensal e prendeu as mãos esqueléticas no pescoço de um Auror, puxando-a. Kingsley tentou lançar um Patronus não muito longe, mas um Comensal interveio -- caos o rodeava e Sirius desviava de vários feitiços e foi pego por pelo menos dois outros, apesar do fluxo de adrenalina evitar que ele sentisse os efeitos imediatos deles, exceto por uma dorzinha lá no fundo. Mal era capaz de seguir a ação dos Comensais da Morte e dos Dementadores saindo da abertura, mirando trouxas e bruxos. Havia gritos em torno dele e outro prédio caiu. Sirius desviu uma Maldição da Morte e lançou uma -- não tinha tempo para gentilezas e havia inimigos demais, bem mais do que ele achara possível. Estava tremendo, ele sabia, perto demais de Dementadores demais, mas não tinha tempo para se incomodar. Só podia lançar magias e desviar feito louco, rezando para que Lily conseguisse levar os outros para um local seguro e que seus companheiros ficassem bem.

E Voldemort continuava rindo.

Sirius vislumbrou Rabastan Lestrange à sua esquerda, e mal conseguiu mergulhar fora do caminho antes que um jato de luz vermelha o atingisse. Arriscou olhar em torno e rapidamente desejou que não o tivesse feito; a cena era pura loucura. Um Dementador se inclinava sobre um policial trouxa e vários outros trouxas estavam mortos por perto. Uma criança gritava à direita de Sirius; tolamente, Hestia arrastou a garotinha para longe, só para ser atingida por uma maldição. Mas a Auror apenas cambaleou e não caiu, resmungando desafiadora para seu atacante e mandando o Comensal para o ar.

Outro prédio desabou. Magias enchiam o ar, muitas acertando os Aurores e não muitas acertando o inimigo -- havia apenas quatro deles de pé agora: Sirius, Kingsley, Dawlish e Hestia, que estava trêmula e cambaleante. Oscar ainda estava desmaiado, e mesmo enquanto assistia, Alice Longbottom caiu com um grito. A rua continuava chocoalhando, embora Voldemort já tivesse passado pelas proteções construídas rapidamente. Corpos cobriam o chão agora, trouxas e bruxos. Não eram diferentes na morte.

Estavam lutando uma batalha perfida. Embora odiasse admitir para si mesmo, Sirius sabia que era verdade. Havia simplesmente Comensais demais, Dementadores demais -- e ele só tinha quatro Aurores e Lily, que não tivera o bom senso de sair enquanto podia. Esticando a mão enquanto ela se aproximava, Sirius agarrou seu braço. "Está louca?" ele explodiu. "Vá embora!"

"Não sem você!" Lily olhou-o feio, e Sirius só conseguiu resmungar. Conhecia aquele olhar.

"Você não foi treinada para isso!"

Como resposta, Lily atirou uma maldição que derrubou um Comensal desavisado. Ela nem mesmo lhe deu um olhar triunfante; além disso, Sirius mal tinha tempo para discutir. Maldições voavam rápido demais e os Aurores estavam ocupados demais -- e bem lá no fundo, ele sabia que iam perder. Era só uma questão de quantos deles iam morrer antes. Sentia-se tão frio.

Comensais da Morte na Londres trouxa. A idéia não o deixava em paz; ele não conseguia agüentar deixá-los para trás. Dementadores na Londres trouxa. Fazia-o sentir-se vazio por dentro, principalmente sabendo o que ele tinha que fazer. Gritos ainda enchiam o beco, saindo dos prédios ainda de pé. Aqueles que podiam fugir o fizeram -- mas o que o resto faria? Os trouxas não podiam ver os Dementadores e vários corriam direto para os braços deles... Sirius estremeceu e então Kingsley tombou. Três Aurores contra uma legião de Comensais da Morte, além do Lorde das Trevas. Sirius alegremente daria suas vidas para salvar os inocentes, mas sabia que isso não funcionaria. Por um instante ele brincou com a idéia de desafiar Voldemort, mas sabia que o Lorde das Trevas não era um tolo. Sirius nunca teria chance de enfrentá-lo sozinho.

"Plano Zulu!" Sirius gritou, virando e arrastando Lily para fora do caminho de uma maldição. Não havia nada a fazer, exceto correr. Detestava fazê-lo, mas tinha que salvar aqueles que podia -- e sacrificar os que não podia. Encontrou os olhos de Lily. "Saia daqui, Lily!"

Sem esperar por respostar, ele saiu correndo, dirigindo-se para o corpo inconsciente de Kingsley Shacklebolt. Nunca deixe um amigo para trás. Os Aurores não abandonavam os seus, a menos que não tivessem escolha -- atrás dele, Sirius ouviu um estalo e devotamente esperava que a esposa de seu melhor amigo tivesse fugido enquanto podia. À distância, ele viu Hestia agarrar Oscar, que recuperava a consciência e vislumbrou Dawlish arrastar Alice para longe antes de aparatar. É isso, ele pensou com raiva. Mas isso não acabou!

Os gritos morreram -- os Dementadores e os Comensais da Morte usados todos os alvos exceto pelos Aurores. Os trouxas remanecentes estavam mortos ou sem alma e Voldemort começava a se concentrar nos inimigos fugindo. De súbito, um arrepio correu pela espinha de Sirius e olhos vermelhos encontraram os seus --

Mas ele aparatou antes que Voldemort tivesse uma chance de agir.

Peter conjurara uma maca para James porque era mais fácil para ele controlar do que do um corpo flutuando, mas ainda batia com o amigo nas paredes de vez em quando. Acima deles, os gritos ficavam mais altos e Peter sabia que os Comensais da Morte buscavam alguém -- só podia rezar que não fosse por eles. Infelizmente, porém, sabia que Voldemort queria James morto. E eu, Peter pensou honestamente. E nós somos grandes alvos agora. Sua mãos ameaçaram começar a tremer de novo, mas Peter endireitou-as antes que James pudesse ver. Tinha que ser forte agora -- por seu amigo e pela bruxa desconhecida que ele acabara com a responsabilidade de salvar.

"Está indo bem, Peter," James de repente disse baixinho. "Estaremos fora daqui logo."

Peter deu uma olhada no amigo antes que tentar enxergar o túnel escuro mais uma vez. "Sou tão fácil de ler?"

"Depois de tanto tempo? É."

"Estamos indo pelo caminho certo?" a bruxa perguntou baixinho. Pelo menos ela parecia compartilhar os medos deles. James soava calmo demais.

"Acho que sim," Peter respondeu, engolindo em seco. Como James consegue fazer isso o tempo todo? Suas mãos estavam tentando tremer de novo. "Não parece faltar muito."

Continuaram caminhando em silêncio, os passos ecoando contra a pedra fria. Os túneis eram antigos e empoeirados; Peter duvidava que alguém tivesse estado neles em séculos. Quando perguntara a James como ele os conhecia, seu amigo só respondera que os Aurores sempre sabiam tudo sobre o Ministério. Infelizmente, esse tudo não vinha com senso de direção, então ainda estavam na base da adivinhação... e sem saber se aquele era o caminho que os levaria para a salvação ou a morte. Com a minha sorte, Peter pensou arrependido, isso será o beco sem saída. Mas pelo menos ele não estava sozinho. A presença de James era reconfortante, embora o amigo estivesse incapacitado no momento. Pelo menos não estava sozinho.

"Peter?" James de repente disse baixinho. Sua voz estava contida -- de dor, Peter pensou de forma incorreta. "Acho melhor pararmos."

Ele franziu o cenho. "Por que? Não deve faltar muito."

"Consegue ouvir?"

"Ouvir o quê?" a bruxa perguntou nervosa enquanto Peter forçava a audição para escutar algo além de seu coração batendo. Tinha certeza que o trovejamento nos ouvidos não era o som de alguém se aproximando, mas então o que era aquele som de arrastado...?

"Peter, se abaixe!"

Uma sombra preta horrível varreu a escuridão na direção dele e Peter mal teve tempo de pular para o lado. A bruxa gritou e ele a escutou procurando pela varinha -- James xingou e rolou para o chão com um som seco... mas tudo que Peter sentia era frio, vozes frias ecoando na sua cabeça.

"Não há saída, Pettigrew... A menos que prefira a morte, é claro. Tenho certeza de que nosso Mestre ficaria contente em arranjar isso, afinal de contas..." Escuridão.

Frio. "Seu pai está morto, Peter. Sinto muito, não havia nada que pudessemos fazer..."

Ele estremeceu, afastando-se. Uma risada ecoava nos seus ouvidos; a risada de Voldemort. Lembrava-se de perceber que era tarde demais, de que não tinha volta -- e que condenara os amigos em vez de salvá-los. Tentara protegê-los e fracassara de novo -- Não! Os olhos de Peter abriram-se. Uma clareza repentina surgira na mente ante o pensamento dos amigos, de James. Havia dois Dementadores e um quase em cima do amigo, que não conseguia se afastar. A varinha de James estava erguida, mas eles estavam perto demais.

"Expecto Patronum!" Peter gritou.

Mas só uma bruma prateada saiu da ponta da varinha e o Dementador mais próximo virou-se para ele, afastando-se da bruxa e atraído pelo seu desafio. O medo ameaçou fechar completamente a mente de Peter. Sempre fora horrível com magia avançada. Seu patronus nunca fora muito bem definido, mesmo quando não estava sob pressão... De todos os seus amigos, ele sempre fora o pior em tudo...

Amigos.

O pensamento foi como fogo em sua mente e de repente ele viu o rosto de James. Viu Sirius e Remus, como tudo fora antes, rindo e brincando como se o mundo fosse deles. Eram inseparáveis. Amigos. Irmãos.

Marotos.

"Expecto Patronum!"

Sem aviso, um cervo saltou da varinha e atacou os Dementadores. Pouco antes de Peter poder piscar, as criaturas fugiram e ele foi deixado observando estupidamente seu cervo dissolver-se. Mal podia acreditar. Aquele fora o primeiro patrono real que criara, o primeiro com forma e significado... Peter piscou e então sorriu um pouquinho. Nunca imaginara que seu patrono fosse Pontas. James!

Ele se virou, procurando onde seu amigo caíra da maca, que ainda flutuava calmamente no ar. James não estava longe, piscando e grunhindo zangado à meia-voz.

"Está tudo bem?" Peter perguntou, ajoelhando ao seu lado.

"Sim. Ótimo." James fechou a cara. "Desculpe não ter sido de grande ajuda, cara... Eu só..."

"Eu sei. Acontece," ele respondeu mais casualmente do que se sentia, cuidadosamente levitando James de volta para a maca. Então voltou-se para encarar a bruxa enquanto ela punha de pé. "Está bem?"

Ela assentiu trêmula. "Obrigada."

"Sem problemas." Peter sorriu palidamente, notando com uma certa diversão que suas mãos tremiam de novo. "Vamos sair daqui antes que algo mais nos pegue, certo?"

"Boa. Idéia." James respondeu numa voz contida que disse a Peter que ele estava furioso consigo mesmo, mas infelizmente, não tinha tempo para lidar com os sentimentos do amigo. James simplesmente detestava se sentir impotente, mas ele superaria, Peter sabia. Ele sempre o fazia.

Vários minutos silenciosos se passaram enquanto os três andavam, cada um apurando os ouvidos para sons de qualquer coisa se aproximando, mas enquanto iam cada vez mais adiante nos túneis, o silêncio ficava cada vez maior. Após dez longos minutos, Peter começou a desesperar-se, se perguntando se escapariam -- mas exatamente quando estava reunindo coragem para expressar sua preocupação, a luz apareceu no fim do túnel literalmente.

"Está vendo aquilo?" a bruxa perguntou sem fôlego.

"Sim." Peter sorriu. "Estou vendo."

Tunk. Sua distração o levara a esquecer temporariamente do amigo e a maca bateu na pedra. Ainda assim, o tom de James foi divertido, "Cuidado com as paredes, Peter."

"Desculpe." Por um consenso silenciosos, apressaram o passo, dirigindo-se depressa para a promessa de liberdade. Finalmente, alcançaram a porta de metal estreita; sua janela pequena e suja passara a luz que eles notaram à distância. Após um instante remexendo-a, Peter conseguir forçar as dobradiças e eles puseram os pés para fora -- e surpreendentemente, no Beco Diagonal. Abobalhado, tudo que Peter conseguir fazer por um momento foi ficar olhando; não percebera que tinha ido tão longe. A pequena porta saía bem perto do Gringotts.

Virou-se para James, que parecia horrivelmente pálido à luz do dia. Sua mãos não tinham parado de tremer ainda, o que dizia a Peter que as coisas ainda piorariam. "Temos que levá-lo para o St. Mungo's."

"Não," seu amigo replicou com um franzir de cenho paciente. "Temos que ir para Hogwarts. É seguro e sei que é onde Albus iria--"

"St. Mungo's," Peter interrompeu-o com firmeza. "Sei que está preocupado com tudo, mas pelo menos dessa vez, James, por favor não banque o herói. Precisamos curá-lo primeiro."

James fechou a cara, mas Peter não ia desistir. Enfim, o Auror resmungou uma resposta. "Certo."

Título Original: Promisses Remembered - Chapter 01: The Cost
Autora: Robin
Tradução: Rebeka