Harry Potter™, personagens e lugares, não me pertencem.
CÁRCERE
Capítulo I
O garoto de olhos acinzentados desceu as escadas lamacentas em direção ao recinto que exalava um cheiro fétido. Odiava aquele lugar. Odiava aquela situação. Praguejava diariamente contra o responsável por colocá-lo naquela encruzilhada: o próprio pai. Lúcio fugira e restara ao filho o legado de vigiar os prisioneiros de guerra, dispondo de péssimas condições de alimentação e higiene: um dos modos encontrados por aquele que não deve ser nomeado para puni-lo.
Ouviu vozes e altas gargalhadas: os colegas de serviço divertiam-se, provavelmente usando de métodos de tortura para com os prisioneiros. Houve tempos em que a suposta brincadeira o divertiria; agora não mais. Os meses se passavam e a certeza de que lutar ao lado de Voldemort era o melhor a fazer, esvaía-se.
- O que está havendo?
- A garotinha aqui está dizendo que não nos deixará tocá-la, senhor Malfoy. - Apesar dos últimos acontecimentos o nome Malfoy ainda era capaz de inspirar respeito. - Acredita nisso? - Prosseguia o homem debochado.
Draco sorriu. Não um sorriso cínico. Não um sorriso de quem havia achado graça. Simplesmente um sorriso de quem não aguentava mais nada daquilo. Olhou para dentro da cela cuja porta, a exemplo das outras, apresentava apenas uma pequena abertura. Foi então que a viu: acuada a um canto, os olhos desafiadores, ignorado o fato de estar nas mãos do inimigo, suja e mal vestida.
- Ora, é lógico que eu te encontraria aqui, não é? Foi esse o castigo dado ao seu pai pela covardia, Malfoy?
Era incrível como mesmo em momentos como aquele ela não abandonava a arrogância.
- Continua sendo tão estúpida quanto antes, não é, Granger? Capturada pelo inimigo e fazendo provocações...
Ela o olhou, cínica. Ele fechou a porta atrás de si, deixando-a sozinha no pequeno cômodo.
- Quando ela chegou? - Perguntou aos companheiros.
- Há quatro dias. Estava até ontem à noite sendo interrogada sobre o paradeiro de Potter.
- Aposto que não revelou nada.
- Nadinha. Mas o Lord está feliz mesmo assim. Tem certeza de que o Potter ou o Weasley virão resgatá-la.
- Creio que sim. Mas deixem-na por minha conta, sim? Trata-se de uma vingança pessoal.
Os dois homens concordaram e partiram. Draco ficou a pensar que talvez esse posto não fosse tão ruim assim. Pelo menos ainda tinha a oportunidade de fazer Hermione Granger pagar por todas as humilhações do tempo de escola.
Draco Malfoy abriu o pequeno recorte da porta e encontrou a garota morena sentada no fino colchão a um canto da cela. Abriu-a de uma vez.
- Olá, Granger.
Ela o olhou, odiando a si mesma por ter se deixado capturar. Chegava até mesmo a pensar que preferia morrer a agüentar Malfoy e seu ar de superioridade. Pelo menos seria por pouco tempo: sabia que em breve os amigos viriam em seu socorro.
- O almoço. - Acrescentou, deixando uma bandeja em cujo prato havia uma sopa rala de legumes e um pedaço de pão.
Ela apenas fitou a suposta refeição, não fazendo qualquer movimento em sua direção, apesar da fome que sentia - a última coisa que ingerira fora uma pequena porção de macarrão 15 horas atrás.
- Se eu fosse você, não desprezaria a comida, Granger. Nunca se sabe quando terá outra oportunidade dessa. - A frase, dita com o intuito de aterrorizá-la, tinha uma parcela de verdade: não raramente os prisioneiros eram alimentados apenas uma vez por dia. - E afinal, como é que a senhorita-sabe-tudo se permitiu cair nas garras no inimigo, hein?
- Ora, sua situação aqui é tão ruim que nem esse tipo de informação compartilham com você, Malfoy?
Ela sempre tivera essa capacidade de descobrir as fraquezas, cutucar as feridas. Mas se Hermione Granger era mestre em jogos psicológicos, o garoto à sua frente era ainda melhor.
- Granger, Granger... Já lhe ocorreu que talvez eu esteja neste posto por opção e continue a trabalhar nas investigações tanto quanto antes? E que talvez eu mesmo tenha colaborado com a sua captura?
Os olhos castanhos o fitaram, cinicamente.
- Talvez, por exemplo, eu tenha conseguido informações sobre a localização da nova sede da Ordem da Fênix, desde que a do Lago Grimmauld foi descoberta. Confesso que foi bem audacioso instalá-la sob a sua antiga casa. - Ele usava de suspeitas da época anterior à fuga do pai, em que estava efetivamente no caso, na esperança de que elas tivessem obtido confirmação. Não que estivesse tão marginalizado no "lado das trevas" a ponto de ser privado de informações como essa, mas simplesmente desde que fora obrigado a assumir esse cargo, se isolara de tal modo que não tinha notícias do mundo exterior.
Porém as palavras quase surtiram o efeito desejado. Só não o fizeram porque a menina à sua frente, já quase que completamente transformada em mulher, sabia muito bem ocultar o que sentia. Uma prova disso eram os mais de três anos apaixonada pelo melhor amigo, à sombra, com medo da rejeição.
Percebendo que seria arriscado continuar ali e não conseguir responder a alguma possível indagação da grifinória, o loiro deixou a cela, não sem antes dizer um "boa noite" regado a prepotência. Hermione ficou novamente entregue ao escuro e à solidão aos quais já começara a se habituar.
N/A: Obrigada por ler até aqui! A fic será composta por cerca de quinze capítulos, quase todos com esse tamanho, e conterá algumas cenas NC-17. Espero que gostem. E revisem! :)
