Threads of an Old Life

Capítulo 1 – O Início

No início um berço de mundos foi criado, orquestrado para o nascimento da árvore da vida – Yggdrasil. Ela era o eixo do universo, sustinha tudo, incluindo nove mundos com condições especiais e seres impressionantes.

O nível mais elevado deste universo era Godheim, a casa dos deuses. Este mundo era regido por vários clãs de deuses, mas os mais poderosos eram: os deuses da fertilidade e da prosperidade formavam o clã Vanir e viviam no reino Vanaheim; e os deuses da caça e da guerra, que formavam o clã Aesir, que viviam no reino de Asgard. Estes dois clãs eram eternos rivais.

A cidade dourada de Asgard, assim chamada por causa do esplendor do palácio do Deus-rei Odin, situava-se no seu centro de um povoado e erguia-se em altura até ruçar as nuvens, as suas paredes eram revestidas de ouro e cobre, e estava a passar dias de má tormenta. O reino era habitado por seres extraordinários, dotados de uma força terrífica, mestres de armas, e alguns até possuíam uma enorme magia. Mas eles tinham um problema, não havia ninguém que lhe ensinasse a usar a magia. Por isso, pediram à deusa Freya do clã Vanir, para que ela, que era uma feiticeira exímia, lhes pudesse ensinar as artes mágicas. Lady Freya aceitou, mas o seu irmão, que se encontrava com ela na altura do pedido, desconfiava das intenções dos Aesires, por isso, só deixou Freya ir a Asgard se ele a acompanhasse. Então os dois irmãos foram ao reino de Odin.

Pensando que os Aesires tinham raptado dois dos seus líderes, os Vanir organizaram tropas e declaram guerra a Asgard. Ao saber disto, pelos seus dois corvos que tudo ouviam, Odin mandou chamar todos os deuses regentes do seu reino ao Valaskjálf, o seu palácio, para receberem as suas ordens para o confronto.

Um homem de grande envergadura, com armadura de ouro e couro, de sábios e astutos olhos azuis, de brancos cabelos compridos, encontrava-se sentado imponentemente sobre o trono e falava para os seus semelhantes e parentes:

- Meu pai, Borr, peço-te que guardes esta nossa casa, enquanto o conflito. – Um homem de uma posição majestosa, a quem Odin retirara as suas características físicas, não se mexeu, mas moveu o seu crânio no sentido positivo, aceitando a sua tarefa.

- Meus irmãos, Vili e Vé, poderão acompanhar-me mais nesta batalha, com a vossa mestria e espirito impecável de liderança sobre os nossos soldados?

Dois homens, ambos com o mesmo corpo e as mesmas expressões de Odin. Embora um tivesse o cabelo curto e outro tivesse o cabelo mais comprido, miraram-se, falando no próprio silêncio e o mais velho, Vili, respondeu:

- Com certeza, irmão, os nossos machados e espadas estão ao teu serviço. – O Deus-rei sorriu afavelmente para os seus dois irmãos, também eles Deuses da criação.

- O mesmo te peço a ti, meu bom tio, Mimir. Preciso da tua sabedoria em combate. – Falou para um homem, já não tão robusto quanto os outros membros da família, com uma silhueta bem mais fina, mas alto e majestoso como os seus pares. Os seus cabelos e barba estavam cinzentos e muito compridos, mas os seus olhos eram vivos como chamas azuis.

- As lutas não têm nada de sabedoria. – Ripostou o velho e respeitado sábio, o sábio dos sábios, ele era a inteligência suprema dos deuses. - Mas emprestar-te-ei o meu conhecimento, se isso te servir para manter a nossa casa intacta.

- Tem razão, meu tio, as lutas não são sábias, muito menos esta que nem motivo verdadeiro tem. Mas precisarei realmente do teu conhecimento, muito obrigado, meu bom tio. – O olhar de Odin pousou então sobre a formosa mulher, alta e de postura correta, de longos cabelos vermelhos entrelaçados com fios de ouro, que usava uma simples túnica. Ele estendeu-lhe a mão e ela segurou-a. Ele beijou-lhe a mão e depois os seus olhos cruzaram-se. – Minha Rainha, cuida dos nossos filhos.

- Cuidarei. Cuida de ti no campo de batalha, meu rei. – Odin, então, levantou-se com a sua capa a ondular-se nas costas, e deixou a Deusa-Rainha sentar-se sobre o trono. Mal Frigga se sentou recebeu as informações e as imagens do que estava a acontecer no universo.

- Desta maneira saberás o que se passa. – O Deus-rei beijou novamente a mão da sua rainha numa despedida e virou-se para a sua família.

- Um momento, pai. – A voz forte vinha saída de um belíssimo rapaz. Os seus cabelos lembravam a cor das estrelas e os seus olhos a pigmentação da rocha, eram cinzentos. Balder era o filho mais velho de Odin e Frigga, era o Deus da Paz e do Renascer, o herdeiro. – Deixai-me ir contigo. Deixai-me tentar trazer a paz às nossas hostes se algo de horrível acontecer.

- Mas, meu filho… - Odin sabia que o filho era forte, que já era homem mais do que preparado para a guerra, mas o seu coração ainda batia em dor. Então e se acontecesse algo terrível ao príncipe?

- Por favor, meu pai.

- Eu irei também, Balder proteger-me-á, e eu a ele. – Avançou a voz do terceiro filho de Odin e Frigga. Outro rapaz robusto, louro e de olhos doces e amendoados de nome Hermordr.

- Então eu irei também. – Todos se viraram para a voz juvenil. Um rapaz, uma criança, de cabelos de ouro, apareceu com a determinação e confiança no seu olhar azul. Todos o olharam sem saber como lidar com a situação, então a mãe das mães elevou-se do trono dourado e estendeu os seus braços para o mais novo dos filhos de Odin.

- Thor… - Frigga chamou numa voz doce. O pequeno correu para os seus braços e ela ergueu-o do chão. – Nós ficamos aqui. Nós somos a última esperança do futuro, compreendes?

- Mas mãe Frigga... – O pequeno ia a replicar, mas ela colocou os seus finos dedos sobre os lábios de Thor. A criança irrequieta calou-se com respeito. Ele não era filho de Frigga, mas sim da segunda mulher de Odin, Jord, a deusa regente de Manheim, o mundo dos homens, e que por ter essa posição ficava muito tempo nesse mundo, deixando Thor ao cuidado da sua boa madrasta, Frigga.

- Podem partir. – Ditou Frigga, aconchegando Thor nos seus braços e sentando-se no trono. Á sua frente os deuses faziam uma mesura honrosa à sua rainha e viravam costas saindo do salão atrás do Deus-rei.

Entre os dois reinos dos deuses, Asgard e Vanaheim, passavam dois rios, e entre eles estendia-se uma planície de nome Ida. Era nesta planície onde dois exércitos de Vanires e Aesires estavam estacionados, frente a frente. E, como mandava as normas dos conflitos, os dois líderes, aproximaram-se no centro da arena de batalha para uma tentativa de um pedido de paz antes da guerra.

- Voltai para casa. – Ordenou em voz de trovão Odin.

- Devolvei os meus filhos e o campo de batalha abandonarei. Se não o fizerdes na guerra prevalecerei. – Brandiu irado o homem que se apresentava como sendo Njord, líder da casa dos Vanir. A sua aparência física era tão imponente quanto a de Odin, os seus olhos castanhos como a casca de um carvalho miravam-no em desafio. Tinha cabelos vermelhos e um farto bigode sobre a sua boca, da qual saia hálito a mar.

- Devei haver algum engano, Lady Freya concordou vir até ao reino de Asgard por livre vontade.

- Tentais deitar-me sal para os olhos para me cegar, grande Odin? Precisarei lembrai-lhe que a minha vida é feita de mar? – Njord era o deus do mar e da pesca.

- Não teria tal coragem, poderoso Njord. Peço que ouça as minhas palavras: sua filha está tão livre em Asgard, como tão livre no resto do mundo.

- Se assim é por que não está aqui ela aqui para apaziguar o pai? É por que vós a manteis presa! – Acusou apontando o dedo imperioso a Odin, as tropas Vanir brandiram, mas não atacaram, esperavam um sinal concreto.

- Lady Freya também não se encontra em Asgard, foi procurada, mas não achada. Poderá estar entre as valquírias, talvez.

- Mentis, Odin. Então, onde está Frey também desaparecido no momento com a sua adorada irmã?

- É verdade que Frey veio com a irmã, pois tal como vós não confiava na minha índole, e veio proteger a irmã. Lady Freya, bondosa e bonita, veio socorrer um pedido nosso de ajuda. – Quanto mais falava mais o líder Vanir se desacreditava.

- Onde está Frey, então?

- Aqui não quis ficar. Assim que soube que mal algum se abateria sobre a sua irmã, para os braços de Jotun Gerda, sua esposa, regressou. – O silêncio ali chegou. As palavras possíveis tinham sido trocadas, Odin sabia que nada conquistara com elas.

- As vossas palavras não me tocaram. Gosto mais da paz, todos os mundos o sabem, mas por meus filhos debaterei. Libertai os meus filhos, Odin! – Era o último aviso.

- Vossos filhos não estão sobre minha alçada, nobre Njord. – Apesar das palavras ditadas ainda pela boca de Odin, Njord não as ouviu e gritando ferozmente, como uma forte onda contra uma rocha, atacou Odin.

O aesir esquivou-se a tempo de não levar a machadada certeira que lhe deferia ter cortado o corpo ao meio. Os exércitos viram o confronto entre os líderes, e começou a guerra. A fúria entre fações era tão grande que os rios que envolviam a planície brotaram jorros de águas com a batida das armas. Deixando os soldados e o solo molhados e enchendo tudo de lama.

O deus Odin levou as mãos ao cinto da sua armadura e retirou um machado de dois gumes entre relâmpagos e trovões. Depressa a sua arma se debatia contra o machado de Njor, que era claramente uma arma inferior. Pois a arma de Odin era arma inquebrável feita em terras de Svartalheim, criada pelas mãos dos mais habilidosos ferreiros, os anões. No entanto, o machado de Njord mostrava uma maior intenção, para além de estar nas mãos de um grande deus, com o sentimento de justiça e a força da proteção paternal.

Talvez por causa do seu forte sentido, as Nornas, as deusas do destino e da fortuna, estivessem a dar a sua sorte a Njord, impelindo-o a dar golpes que Odin só por pouco evitava que fossem fatais. Mas então, algo aconteceu. Talvez não tendo a influência das Nornas e sim apenas da própria vida. O manchado de dois gumes saltou para fora da mão de Odin, ao mesmo tempo que este tropeçou numa poça de lama.

Ao ver o seu inimigo no chão, Njord, achou que era a hora da justiça e levou o seu machado acima da cabeça ganhando impulso para dar o golpe final em Odin. Só que ainda as suas mãos desciam para desferir o golpe quando uma enorme pedra, perfeitamente redonda, caída do céu se abateu contra a cabeça do deus Vanir.

O machado Vanir caiu ao chão sem atingir o seu objetivo, a grande pedra também se enterrou parcialmente na terra e Njord cambaleou desorientado. Odin chamou a sua arma que pelos ares lhe chegou à mão. Com um trovão poderoso invocado às nuvens por Odin, Njord caiu ao chão sendo acertado por aquela energia. O trovão não atingiu só Njord como também a pedra que estalou.

O deus ficou atento, talvez alguma criatura fosse sair do interior da pedra. A pedra quebrou e abriu-se exatamente ao meio. E de lá de dentro rolou um pequeno corpo de um inocente bebé. Os olhos de Odin abriram-se em surpresa.

Nesse momento o céu ficou claro e cavalos alados foram vistos. Eram as valquírias, as filhas dos deuses, guerreiras valorosas. Os soldados pararam de lutar ao vê-las aterrar com os seus majestosos corcéis no meio do campo de batalha. Entre elas encontrava-se a sua líder – Lady Freya. Ela desceu do seu cavalo e foi para perto de Odin, que se tinha agachado perto de uma pedra e que embrulhava alguma coisa na sua capa, que depois segurou nos braços, junto ao seu peito.

- Parem com esta guerra tola. – Ordenou a Deusa de absoluta beleza, de vestes ricas, seios volumosos, cabelos louros encaracolados e longos, e de grandes olhos cor de cereja vermelha. – Vanires, recolham as armas. Eu encontro-me livre como sempre fui.

Os vanires acataram as ordens rapidamente, compreendendo então que estavam a derramar sangue sem motivo. Algo que os aterrorizava, pois eram seres que amavam a paz, eram deuses da prosperidade e não da maldade. Vendo o recuo dos Vanires, Balder, mandou as tropas recuarem. E assim as tropas voltaram cada uma para o seu lado. No meio, Freya verificava se seu pai ainda estava vivo. E estava. Afinal Odin nunca mataria um semelhante por causa de um engano.

- Grande Odin, desculpe esta confusão.

- Lady Freya, no lugar do vosso pai, eu agiria da mesma forma. Dever-lhe-ia tê-lo informado do que andava a fazer por terras de Asgard.

- Lamento imenso, grande Odin. – A deusa era sincera, como todos os Vanir não gostava da guerra, houvesse quem dissesse que eles eram de alguma forma descendentes dos elfos da luz, então ver-se culpada de uma guerra era-lhe muito penoso.

- Depois disto, Lady Freya posso pensar que os Vanir estariam dispostos a aceitar um tratado de paz? – Era o que o rei de Asgard há muito almejava. Paz entre as duas fações de deuses, por fim a confrontos inúteis.

- Com certeza grande Odin, estaria totalmente disposta a isso. – Aceitou a jovem deusa.

- Pois então trate dos ferimentos do seu pai e assim que se der a sua recuperação, juntos, aqui nesta mesma planície, falaremos sobre os termos do tratado.

Odin fez uma vénia com a cabeça à qual a lady correspondeu da mesma forma, para logo depois virarem as costas um ao outro e seguirem rumos diferentes. O grande Deus ainda carregava o bebé embrulhado na sua capa quando as valquírias se elevaram aos céus nos seus cavalos alados e ele se aproximou das suas hostes.

- Deus, meu pai, o que carregas nos braços? – Questionou Balder que se acercara para ver se Odin tinha algum ferimento grave, coisa que não se verificava.

- Trago aqui, talvez, a razão da nossa vitória. – Declarou Odin, baixo para apenas os familiares que o cercavam o ouvissem. – Vamos voltar para Valaskfálf. Lá contar-vos-ei tudo.

Os nobres aesires encontravam-se no salão nobre e dourado do palácio de Odin. Estavam admiradíssimos, após ouvirem o relato que do Deus-rei acabara de fazer. Odin estava em pé, pois relatara a história de maneira apaixonada e glorificada. Sentada no trono estava a rainha Frigga, que sustinha um sorriso deliciado e no seu colo, calmo e impassível, como nenhum bebé humano sabia ser, estava o nascido da pedra.

- É um filho de Jotun, um gigante de pedra, uma vez que nasceu de um ovo de pedra. O melhor será enviá-lo para Jotunheim. – Falou um dos deuses, provavelmente desconfiado de como é que um ovo de gigante aparecera num campo de batalha.

- Eu nego essa sugestão. – Negou Frigga, sempre numa voz serena e com um sorriso luminoso. Parecia o sorriso de uma mãe que acabara de parir um filho. Ao verem aquela expressão na sua Rainha sabiam que aquele bebé seria mais um príncipe para o seu reino. Mas apesar da chegada duvidosa do bebé, ninguém era capaz de dizer que não há bondosa rainha, que tinha o coração de ser a mãe de todos eles. O seu amor era tanto que dava para quanto ou mais que isso.

- Que nome lhe vais dar, minha amorosa rainha? – Questionou Odin, que também se sentia como se tivesse acabado de ser pai.

- Eu nomeio de Loki, filho de Frigga. – Riu-se a rainha.

- E filho de Odin. – Corrigiu subtilmente o Deus-rei, fazendo a sua rainha sorrir ainda mais, ao deparar-se com a aceitação do marido para a adoção. – Meus familiares e amigos, deem as boas-vindas a mais um membro na nossa família, príncipe Loki, filho de Odin.

Os deuses gritaram em entusiasmo, era como realmente mais um membro da sua família tivesse nascido. E no fundo era assim mesmo, além de que, aquela criança, mesmo sem saber, tinha salvado a vida de Odin. Ela fora mandada pela vida para ser entregue ao deus pais poderoso de Asgard, o pai Odin, mesmo não tendo o sangue deste.

O pequeno Thor não conseguia dormir. Por isso, saiu do seu leito e percorreu o palácio. Estava curioso. Ainda não o tinham deixado ver o bebé que nascera da pedra e que diziam que era seu irmão. Como seria uma pessoa nascida de uma pedra? Seria ela também uma pedra? Seria bonito ou um ser horrendo?

Entrou por uma porta. O quarto estava escuro. Uma enorme e bicuda janela deixava passar a luz cinzenta do luar e brilhante das estrelas. Esta luz estava projetada sobre um grande berço em ouro com lençóis em ceda branca.

Aproximou-se lentamente e colocou a sua cabeça por cima das barras do berço. Estendeu uma mão e puxou o lençol de seda. Susteve a respiração com o que viu. Um bebé de pele porcelana dormia sem barulho. Tinha uma cara redonda e uns cabelos negros, os mais escuros que ele alguma vez vira.

Então lembrou-se de respirar, provocando um suave som de sopro. O bebé abriu os olhos. Uns magníficos e grandes olhos verdes que ficaram sintonizados nos olhos azuis de Thor. O pequeno príncipe deu um sorriso e o bebé, mesmo sendo tão pequeno, pareceu imitá-lo. Estendeu os dedos e passou-os pelas bochechas do bebé. Tinha uma pele suave e fria. E então quando ia a retirar os dedos, a pequena mãozinha do bebé agarrou-lhe o indicativo.

A partir daquele momento ficou completamente maravilhado por aquela criatura. E prometeu em nome do seu pai, Deus Odin, que protegeria aquele bebé, tal como já protegia o seu irmão mais novo Meili.

A noite foi avançando e eles ficaram ali. Com o olhar verde do bebé perscrutado o olhar azul da criança. E com a pequena mãozinha agarrada ao dedo do mais velho. Selando um destino sem saberem.

Continua…