Saint Seiya pertence á Masami Kurumada e Toei.

Atenção: Universo Alternativo.


Família e outros erros

por Pisces Luna

I

Ela iria embora para sempre de sua vida se não conseguisse chegar a tempo para parar aquele trem.Tinha mais ou menos meia-hora para chegar até o outro lado da cidade e impedi-la de partir.

- Meia-hora?

- Sim!

- Tem certeza?

- Tenho.

- Certo! Eu te ligo depois e digo no que deu.

- Ok! Dirija com cuidado.

Ele desligou o telefone, tomou mais um gole de seu café, deixou a xícara sobre a mesa de centro e vestiu o casaco, foi até a porta principal, destrancou-a, depois deu mais três voltas na chave e fechou-a novamente, desceu pelas escadas do prédio e ganhou a rua.

- É melhor eu correr. - deu partida na moto e rumou para a estação o mais rápido que conseguiu.

Ele correu...

...correu...

...e correu mais...

...e correu de novo...

...e de novo...

...e novamente...

Nada o impediria, estava determinado a fazê-la desistir daquela idéia maluca de ir embora, eles se gostavam tanto. Não concebia a idéia de que ela sequer cogitasse a possibilidade de deixá-lo sem se despedir e sem prestar esclarecimentos.

Chegou ao local, estacionou a moto de qualquer jeito bem rente à guia e diante da entrada principal, a rua apinhada de pessoas descarregando malas e um trânsito insuportável, até que veio um funcionário irritante atrás dele.

- Hei senhor! Não pode estacionar aqui.

- Não me interessa!

- Se deixá-la aqui vamos rebocá-la.

Ele fitou o homem com um ódio arrebatador e por um segundo ficou indeciso, pensou em voltar lá e bater boca com o outro, mas se permanecesse iria bater em mais alguma coisa por ali. No segundo seguinte pensou: uma multa ou a mulher que gosto? Sem dúvida a multa terá um prejuízo lastimável e... No que estou pensando? Ela é mais importante! E voltou a seguir seu trajeto.

Outro problema: qual plataforma seguir? Muitos trens e muita gente. Sim! Precisaria pedir informação e se tem uma coisa que grande parte dos homens não gosta é de ter que pedir informação.

Fitou o enorme espaço e em letras muito chamativas percebeu a existência de uma placa indicando o balcão de informações. Forçou um pouco a vista e viu apenas uma pessoa na fila pedindo ajuda. Era seu dia de sorte! Correu para chegar ao lugar... sim! Só uma pessoa ali! Uma mulher! Na verdade uma senhora – aproximou-se mais – Uma velha surda!

- Não ouvi minha filha, poderia repetir? – pedia a idosa à atendente.

Definitivamente, quando se está com presa acabava-se toda a humanidade existente no interior do ser humano – ele descobriu isso da maneira mais difícil.

- O próximo! – anunciou.

- Finalmente. – agradeceu em pensamentoe preparou-se para pedir informação.

Depois de ser direcionado para a plataforma correspondente saiu desabalado atropelando tudo e a todos que estavam no seu trajeto. Nada mais importava! Só ela! Apenas ela! Ela que iria embora para nunca mais voltar.

Não! O trem! Porque ele está andando? NÃO!

- ALGUÉM PÁRE ESSA COISA! PÁRE! PÁRE! – ele foi seguindo à locomotiva que soltava fumaça e o apito fazia um barulho estridente, lado a lado com os vagões ele corria, tentou bater em uma das portas para chamar a atenção dos maquinistas – ou, se tivesse sorte, a atenção dela – persistiu em sua loucura, assustando os demais freqüentadores da estação.

Entretanto, mais uma vez – como já foi provado diversas vezes – a potência da máquina superou a do homem e esta seguiu seu caminho. Ele, cansado que estava, deixou-se cair de joelhos, lamentando inconformado a partida do trem e de sua querida ex-namorada.

Uma semana depois ele a reencontrou na festa de aniversário de um amigo dos dois, na realidade, ela tinha ido fazer uma viagem de caráter profissional e como o casal havia brigado achou que ela sumiria de sua vida para sempre sem lhe dar satisfações – como já havia ameaçado diversas vezes.

- Achei que tivesse ido embora de vez.

- Eu pensei nisso, mas não faria isso com você. E outra, realmente acha possível que eu largaria tudo aqui por causa de uma briguinha tola?

- De você eu espero tudo. Mas, devo confessar que tive muito medo de lhe perder.

- Eu senti sua falta.

- Depois desse episódio eu descobri o quanto você é importante para mim e ficar sem você e a minha moto foi à fase mais dolorosa pela qual passei até hoje.

- Me sinto lisonjeada por ser equiparada a sua lambreta.

- Lambreta não! Moto!

- Que seja!

- Tenho duas perguntas a fazer. Posso?

- Claro.

- A primeira é se não está mais zangada comigo?

- Pelos seus ciúmes? Não! Ninguém nunca tentou parar um trem por minha causa antes! – ela o beija ternamente.

- E o segundo é: Quer casar comigo?

A mulher calou-se instantaneamente e por fim pediu:

- Olha, essa é uma decisão muito difícil, pode me dar um tempo pra pensar?

- O quanto você quiser.

Eles aproveitaram o resto da festa juntos, curtindo a companhia um do outro máximo que puderam.

No dia seguinte ele acordou com o sol entrando pela fresta da cortina e ao invés do canto dos pássaros, a buzina dos automóveis na rua.

- Lindo dia. – concluiu sarcástico.

Levantou-se, foi até o banheiro, realizou a higiene rotineira, foi até a cozinha com os chinelos arrastando, preparou o café da manhã e comeu tudo vagarosamente, lembrando-se de que seria mais um terrível dia de trabalho.

Foi para a sala do apartamento, sentou-se no sofá e olhou de esguelha para o telefone e viu que a luz da secretária eletrônica estava piscando: tinha uma mensagem. Esticou o braço para o móvel posicionado na lateral do estofado e apertou o botãozinho laranja.

"Olá querido, espero que esteja tudo bem! Só queria dizer que aceito seu pedido de casamento. Tenha um bom dia. Vamos sair á noite? Beijos".

Ele não pode deixar de conter um sorriso quando terminou de ouvir a mensagem. Começou a rir com a praticidade da futura noiva, quem mais, além dela, aceitava pedido de casamento pela secretária eletrônica? Ah! As conveniências e desvantagens da vida moderna.

Foi até a janela, fitou a rua lá embaixo, abriu o vidro deixando que uma quantidade de poluição do ar generosa invadisse sua morada junto com a poluição sonora vinda do congestionamento que se formara na avenida mais a poluição visual dos outdoors. Sim! Uma promessa de um dia estressante, complicado para a maioria das pessoas da cidade, mas não para ele.

- Lindo dia! Maravilhoso, incrível, sublime dia!

Bem, foi aí que tudo começou. Eu sou Litos e essa é a nossa história: a minha, do meu pai Aiolia e da minha mãe Marin.

PS: Mas não espere muita coisa... nossa vida não é tão poética assim!

Continua...