Por Trás do Herói
Ginny Weasley corou, deixou escapar um grito agudo e saiu correndo quando percebeu que Harry Potter estava sentado com sua família à mesa comendo calmamente um farto café-da-manhã.
- Ginny, - ela ouviu seu irmão, Ron, comentar, - Minha irmã. Andou falando em você o verão inteiro.
Durante os dias que se passaram, nos quais Harry Potter se hospedou em sua casa, Ginny não pôde deixar de reparar em como o menino-que-sobreviveu era normal. Um garoto baixo, magro e excepcionalmente simples que adorava quidditch e xadrez de bruxo. Em suma, um menino bruxo de doze anos recém-completados absolutamente normal.
De início, isso causou certa decepção na menina. Ela se pegou esperando que Harry Potter apresentasse alguma particularidade a cada vez que os dois se encontravam n'A Toca e, em seguida, em Hogwarts até que, frustrada, começou a desistir.
Seu primeiro ano na escola foi turbulento. Lord Voldemort, encarnado na figura simpática do jovem Tom Riddle, forçou-a a reabrir a terrível câmara secreta de Salazar Slytherin através de seu diário. No final do ano escolar, a menina foi forçada a descer à câmara para dar a própria vida para que o Lorde das Trevas, aprisionado dentro do diário, retornasse à vida.
Para sua surpresa, Harry Potter a salvou. Como um menino normal de quase treze anos de idade pode lutar contra um basilisco e sair vitorioso? O menino-que-sobreviveu não era tão normal quanto aparentava.
Nos anos seguintes, Ginny observou Harry Potter realizar tarefas que todos julgavam impossíveis para um bruxo de sua idade, cometer atitudes heróicas e salvar uma infinidade de pessoas, entre elas seu pai e seu irmão, Ron. Ginny percebeu, através desses anos que conviveu com ele, que sua maior particularidade era sua benevolência, sua vontade de ajudar as pessoas.
No quinto ano de Ginny em Hogwarts, o menino-que-sobreviveu finalmente reparou nela como mais do que a irmãzinha de seu melhor amigo. Após uma espetacular vitória no quidditch, na frente de todo o salão comunal da casa de Godric Gryffindor, Harry Potter beijou Ginny Weasley.
Os dias que se passaram foram os melhores da vida dos dois até então. Entretanto, era o final do ano letivo e nenhum dos dois possuía muito tempo para se dedicar ao namoro, tendo em vista os exames que se aproximavam.
Então, a morte do diretor Albus Dumbledore, o maior de todos os protetores de Harry, forçou o garoto a se afastar dela.
- Voldemort usa as pessoas chegadas aos seus inimigos. Já usou você de isca uma vez, e foi só por ser irmã do meu melhor amigo. Pensa no enorme perigo que poderá correr se continuarmos a namorar. Ele saberá, ele descobrirá. Ele tentará me atingir através de você.
Ele estava certo, é claro. Não havia como Ginny argumentar em relação a isso. Harry Potter conhecia Lord Voldemort como ninguém. E a menina sabia que aquilo não estava sendo fácil para ele.
- Eu só queria ter convidado você para sair antes. Poderíamos ter tido séculos… meses… anos talvez…
- Mas você esteve muito ocupado salvando o mundo bruxo, - falou Ginny tentando sorrir, sem sucesso. – Bem… não posso dizer que esteja surpresa. Eu sabia que isto aconteceria um dia. Eu sabia que você não seria feliz se não estivesse caçando o Voldemort. Vai ver é por isso que eu gosto tanto de você.
Mas, mesmo então, Ginny sabia que não era verdade, que havia dito aquilo apenas para encorajá-lo. O que a menina mais gostava em Harry Potter não era sua particularidade, sua benevolência. Ela amava muito mais sua simplicidade, sua humildade. Demorou anos para descobrir, mas, naquele momento, Ginny Weasley soube que amava aquele menino absolutamente comum por trás do herói em quem todo o mundo bruxo depositava suas esperanças.
