Em
um lugar muito distante de onde a ação de tudo
acontece, uma garota de dezessete anos, recém formada em
Hogwarts, cabelos castanhos e espessos, porém um pouco mais
controlados do que antigamente, observava de sua janela a chuva que
caía de leve e molhava o asfalto da rua de uma pacata cidade
completamente trouxa, enquanto apreciava o som das gotas deágua
batendo na janela.
O
sol estava escondido por entre as nuvens e o clima estava muito
triste. Ela olhava com tédio pela janela, desejando que visse
através dela algo que seu coração desejava mais
que tudo, mas que sua consciência sabia que era impossível.
Mas ouvir sua consciência e acreditar nela era tudo o que ela
menos queria nesse momento. Era a primeira vez na vida que Hermione
Granger se recusava a aceitar a verdade e fechava os olhos e tampava
os ouvidos para a realidade, cada vez a consumindo mais e sugando
toda a felicidade que ela ainda tinha no fundo, no fundo.
"Por
quê?", ela se perguntava. Ela se jogou no travesseiro e ficou
encarando o teto. "Isso não podia ter acontecido".
Então,
algumas batidas na porta do seu quarto a tirou de seus tristes
pensamentos e lamentos.
-
Entra. - respondeu a garota, num tom tedioso.
A
porta se abriu e uma mulher entrou.
-
Filha, tem um amigo seu aí. Diz que quer falar com você.
Falo pra ele vir no seu quarto?
Hermione
se sentou na cama.
-
Quem é, mãe?
-
É o Ronald.
Hermione
se levantou depressa.
-
Não, não deixe que ele venha aqui. Eu vou lá.
Avise-o que eu já vou.
A
mãe de Hermione sorriu, disse um "Tudo bem" e se afastou.
Hermione
respirou profundamente e saiu do quarto. Passou pelo corredor e
chegou à sala de estar, onde encontrou um moço alto,
ruivo, magro e cheio de sardas, sentado em um dos sofás.
-
Oi, Mione.
Hermione
murmurou um "Oi" baixinho e se sentou no outro sofá.
-
Ronald, desculpe a grosseria, mas... O que você queria? É
que eu não estou muito legal ultimamente...
Rony
se levantou, andou até o sofá em que a amiga estava,
sentou-se ao lado dela e passou o braço pelo seu ombro.
-
Por que, Mione? O que houve? - perguntou ele, sorrindo.
Hermione
o olhou com uma cara indignada e se apressou a tirar o braço
do garoto de cima dela. Então ela se levantou e encarou Rony
com uma expressão de desgosto.
-
Você ainda me pergunta o porquê? - exclamou ela - Você
tá doido, Ronald? O que está havendo?
Ele
se levantou e parou de frente a ela.
-
Hermione, não tem motivos pra você estar desse jeito!
Está tudo bem.
-
Como não tem motivos? - gritou ela - Como não? E não
está tudo bem! O HARRY ESTÁ MORTO! - berrou ela,
enquanto muitas lágrimas corriam pelo seu rosto - E nunca mais
vai ficar bem...
Hermione
começou a chorar e soluçar, se jogando no sofá.
Rony ameaçou de abraçá-la, mas parou quando
Hermione disse entre soluços:
-
Fica longe de mim.
Rony
se abaixou e olhou para ela.
-
Mione... Vai fazer quase quatro meses que ele morreu. Quando você
vai esquecer?
Ela
ergueu o rosto que estava, até o momento, escondido por entre
almofadas e encarou o ruivo.
-
Nem que eu vivesse por mais mil anos, isso não seria tempo
suficiente pra esquecer tudo, Ronald. Não dá pra
esquecer o Harry. - ela passou a mão pelo cabelo e enxugou o
rosto das lágrimas, mas não adiantava. Ela chorava cada
vez mais e mais.
Rony
encarou várias partes da sala, menos Hermione. Estava olhando
para o tapete quando disse:
-
Você gostava muito dele, não é?
FLASHBACK
Harry
entrou no Salão Comunal carregando sua vassoura nas costas.
Hermione estava o esperando para lhe contar uma novidade, e assim que
o viu entrando, se levantou para ir abraçá-lo. Mas Gina
chegara primeiro. Harry jogou a vassoura no chão, deu um
abraço em Gina e então lhe deu um beijo.
Hermione
disfarçou, pegou um livro na estante do lado de Harry e subiu
para os dormitórios sem falar mais nada.
FIM
FB
Hermione
não respondeu. Ao invés disso, perguntou:
-
Como está a Gina?
-
Péssima. Mas não tá pior que você, não.
Pelo menos ela sai pra rua e não fica trancada no quarto o dia
todo.
-
Escuta aqui, se eu fico no meu quarto...
-
Desculpa, Mione. Não quis te ofender nem nada.
Hermione
se sentou, abraçou algumas almofadas e voltou a chorar.
Desejava
mais que qualquer coisa no mundo. Desejava que Harry pudesse estar
ali, sentado naquele sofá, sorrindo. Desejava que ainda
pudesse abraçá-lo, conversar com ele, relembrar os
tempos em que ela o ajudava com os trabalhos de poções.
Desejava que ela pudesse dizer a ele tudo o que sentia, todo o amor
que estivera guardando por tanto tempo por medo de feri-lo ou perder
uma amizade. Não devia ter esperado tanto tempo. Acabou por
perder as esperanças, a felicidade, a amizade e o Harry, tudo
de uma só vez. Ela sentia como se tivesse perdido tudo; ele
era tudo pra ela. E que viver não fazia mais sentido como
antes. Não valia a pena levantar numa bela manhã
ensolarada se não poderia ver os olhos de Harry brilhando sob
o sol. Não valia a pena sorrir se Harry não estaria ali
para sorrir junto. Não valia a pena sonhar, se não
havia mais Harry para viver em seus sonhos. Não valia mais a
pena viver se ela não tinha mais o Harry para amar...
-
Hermione... Hermione... Você tá acordada? - perguntou
Rony - Você me ouviu?
Ela
abriu os olhos.
-
Não, não. Eu tava só pensando. - ela passou a
mão pelo rosto. - Rony, seria muita grosseria te pedir pra ir
embora?
O
ruivo arregalou os olhos.
-
Por... Não, não, claro que não. Eu já
estou indo.
Ele
se levantou e andou até a porta. Hermione foi até ele e
abriu a porta. Então, o ruivo se virou para ela, colocou as
duas mãos no seu ombro e foi se aproximando.
-
Tchau, Rony. - disse Hermione, dando leves tapinhas nas costas do
amigo, que saiu pela porta, derrotado. Mal ele tirara o pé da
sala de Hermione e ela já tinha batido a porta e corrido de
volta para o quarto.
Puxou
uma caixa debaixo da cama e começou a tirar várias
coisas de dentro dela. Fotos, livros e várias outras coisas
muito diferentes umas das outras para estarem guardadas no mesmo
lugar. Mas todas elas tinham algo em comum. Todas elas lembravam
Harry. Várias fotos que eles tiraram juntos todos esses anos,
presentes de Natal e de aniversário que Hermione recebera
dele, cartões... E até algumas lascas da velha Nimbus
2000. Ela gostaria que pudesse ter também a varinha dele, mas
com certeza ela estava com alguém por aí. Hermione
pegou uma foto de Harry e a olhou por vários minutos. Ela
voltou a olhar para dentro da caixa e uma saudade enorme começou
a tomar conta dela. Ela não sabia mais o que fazer. Não
tinha mais vontade de fazer nada. Só queria ter a chance de
ter o Harry de volta, nem se fosse por quinze minutos. Nem se fosse
pelo menor tempo suficiente para dizer que ela o amava e para
abraçá-lo com força e nunca mais deixá-lo
escapar de seus braços.
Então,
de repente, uma coruja repousando com uma carta um tanto longa atada
à sua perna entrou pela sua janela. Não era uma coruja
estranha.
-
Hermes?
Hermione
foi até a coruja pensando em o que Percy poderia ter pra falar
para ela, soltou a carta e a coruja, no mesmo instante, voou janela
afora. Hermione se sentou na cama, desenrolou a carta e começou
a ler:
"Querida
Hermione...
Aqui
é a Gina e vou lhe explicar porque estou usando a Hermes. Bom,
estou hospedada aqui no Caldeirão Furado, que fica perto do
Ministério, pois estou fazendo meu teste para auror. E
encontrei Percy aqui. Ele foi despedido do Ministério, mas já
conseguiu um outro emprego. E está hospedado aqui também
enquanto o expediente não começa. Bom, ele acabou de
sair quando eu peguei a coruja dele pra te mandar isso!
É,
você já deve ter imaginado que eu estou te escrevendo
por causa do que aconteceu com o Harry.
Eu
devo imaginar como você está triste. É, eu também
estou. Mas tem uma coisa que você precisa saber. Dois dias
antes do dia em que... Bom, você sabe. Dois dias antes, Harry
terminou comigo. Ele estivera quieto comigo por muito tempo antes de
termos aquela conversa. Ele me disse que não podia mais
continuar comigo sabendo que não me amava. Muito menos quando
a pessoa em que ele amava estava não próxima dele e ele
simplesmente sentia como se nunca pudesse alcançá-la.
Essa pessoa era você, Mione. O Harry te amava. E não era
pouco. Ele sempre te amou. Ele me disse que nunca tinha dito antes
por medo de perder você. E quem o perdeu foi você. E eu
achei muito injusto que você não ficasse sabendo desse
sentimento que ele escondeu. Espero que essa carta te alegre um
pouco. E se lembre que ele sempre te amou. Sempre.
Ps: Mais um motivo para eu ter usado a Hermes: Hermes começa com H. Igual Harry e Hermione."
Hermione
fechou os olhos, as lágrimas rolando pelo seu rosto.
Ele
a amava. Ele a amou. Ele sempre a amou. E eles não tiveram a
chance de serem felizes. Não tiveram a oportunidade de se
declarar. Não tiveram um só momento para compartilhar o
amor que sentiam um pelo outro. Hermione sentia como se sua vida
inteira se resumia no momento em que estaria junto com Harry. E esse
momento nunca mais chegaria. Ela sabia que devia estar feliz por
saber que ele a amava, mas pensar nisso só fazia o remorso de
não ter se declarado antes crescer ainda mais e mais em seu
coração. Se ela não tivesse sido tão
estúpida, talvez ele pudesse ter ouvido-a dizer que o amava. E
ela o teria ouvido dizer "Eu te amo, Hermione". Mas agora ele se
foi. Ele se foi pra sempre e nada que ninguem pensasse, dissesse ou
fizesse poderia mudar essa situação.
Estava
tudo acabado.
-
Não dá pra continuar sem você, Harry. Não
dá...
Mas
Hermione não iria deixar de viver. Ela iria aprender a viver
sem o amor da sua vida. Não seria nada fácil, mas era a
única opção que restava para ela.
Alguns anos depois...
-
Eu vou erguer a cabeça, continuar com a minha vida, tentar
realizar meus sonhos. Mas eu nunca vou o esquecer, mãe. Ele
vai estar sempre aqui, no meu coração. - disse
Hermione, enquanto tomava café da manhã no dia
seguinte.
-
É assim que se faz, filha. E lembre-se que você ainda
tem amigos como o Rony...
-
Mãe, você não está ajudando em nada -
disse Hermione, sorrindo, se levantando e se refugiando em seu
quarto.
Hermione
estivera, durante esse tempo todo, escrevendo um livro. Um livro que
contava sobre tudo que passou em Hogwarts. Tudo que passou ao lado de
Harry. Onde conta em detalhes todo o sentimento que tinha por ele e
como ele havia se tornado uma das coisas mais importantes da vida
dela. O livro estava quase terminado, mas ainda faltava uma
conclusão. Hermione pegou a pena e começou a escrever:
"Perder
o amor de sua vida é abrir uma ferida que nunca vai se fechar.
É uma ferida que, a cada lembrança, abre e arde cada
vez mais. Porém, toda essa fase horrível pela qual
estou passando e sei que ainda vou passar para o resto da minha vida,
eu consegui tirar alguma coisa. Eu descobri que até o amor
mais profundo pode acabar um dia. Um amor pode morrer antes mesmo de
começar. Juntos, até que a morte os separe. Ou no nosso
caso, deixe de unir. Foi isso. A morte acabou com o amor. E agora eu
sei que nem a mais apaixonada das lágrimas pode vencer sobre a
morte e até o mais profundo remorso é inútil
quando o fim realmente chega."
