– Argh – Dizia Negi enquanto acordava e se levantava.

Olhando a seu redor, ele viu um ambiente num branco ofuscante, mas conforme seus olhos se acostumavam com a claridade, ele começou a perceber a presença de um pacote de soro e outros instrumentos hospitalares

– Eu... Estou num... HOSPITAL? – bem assustado, Negi se deitou novamente na cama e começou a olhar para o teto, tentando entender o que estava acontecendo.

A porta abriu e Asuna entrou no quarto com uma sacola na mão e uma expressão um tanto quanto séria e de concentração no rosto, com a cabeça baixa. Ela foi direto em direção a uma cadeira que estava encostada na parede do quarto e a arrastou para perto da cama, ainda sem perceber que Negi, apesar de ainda deitado com a cabeça no travesseiro, já estava acordado. Sentou na cadeira e tirou da sacola uma rosa, que começou a cheirar enquanto uma fina e pequena lágrima descia pelo seu rosto.

– Cebolinha... Quando é que você vai acordar...? – Outra lágrima começou a correr pelo seu rosto e Asuna finalmente não conseguiu se controlar e caiu em choro. Choro esse, entretanto, que não se devia apenas ao fato de Negi ter passado seis meses em coma. Esse choro, na verdade, era motivado muito mais por um fator completamente diferente. Os seus sentimentos por Negi.

Infelizmente, mesmo com o pequeno garoto já acordado, tanto a tenra idade quanto a perceptível inocência daquele professor-mirim o impediam de entender o quanto Asuna havia se sacrificado por ele. E mais do que isso, quanto ela seria capaz de se sacrificar por aquele garotinho tão mais jovem que ela.

– Asuna-... san? Porque está chorando?

Negi calculou rapidamente que deveria ter passado por um longo período deitado naquela cama. Tempo o suficiente para que aquela durona amolecesse por causa dele. O que ele não sabia, entretanto, era a segunda motivação daquele choro. Asuna, em todas as aventuras ao lado de Negi e após tudo o que passou para ter uma força capaz de se igualar a de Negi e a de quaisquer outros usuários de magia que pudessem vir a enfrentar o filho do homem que a salvou, criou vínculos muito fortes com todas as suas colegas, mas, acima disso, começou a criar um vínculo muito forte de necessidade para com Negi.

Sempre que se via em necessidade de ajuda, Asuna pensava em recorrer a Negi. Quando se sentia solitária, também. Quando precisava de um companheiro para uma atividade em dupla, quando tinha vontade de dançar, quando estava com vontade de viajar, quando saia para trabalhar entregando jornais e queria companhia para conversar, quando estava estudando (coisa que raramente fazia) trigonometria e precisava de um professor... Em todas essas e muitas outras situações, Asuna sempre pensava em Negi como sua primeira opção. Sua mente estava completamente desviada para ele. Asuna estava amando. Amando um moleque que nem tinha 11 anos direito.

– Ce... CEBOLINHA? – Asuna se levantou rapidamente da cadeira olhando para Negi – Você acordou?

– Como assim, Asuna?

Após um momento de calmaria, Asuna se desmanchou em um choro descontrolado enquanto pulava para cima daquela cama de hospital e abraçava Negi como se ele tivesse quase morrido.

– CEBOLINHA, SEU SAFADO, COMO É QUE VOCÊ FAZ UMA COISA DESSAS COM A GENTE! TODO MUNDO TAVA QUASE MORRENDO DO CORAÇÃO AQUI E VOCÊ NÃO MELHORAVA E... E... – Asuna chorava cada vez mais enquanto abraçava Negi, sem conseguir mais falar, até que um médico entrou no quarto.

Era um senhor alto, de rosto quadrado com uma barba bem-aparada e um óculos bem grosso no rosto, que segurava uma prancheta nas mãos e portava uma caneta no jaleco impecavelmente branco, que estava, ainda, sem seu nome. Ele caminhou compassadamente em direção aos dois jovens que se abraçavam, com uma expressão bem neutra no rosto.

– Ehem, senhorita Kagurazaka-sama, poderia, por favor, soltar o paciente? – O médico olhou para os dois se abraçando e sua boca se dobrou em um sorriso bem pequeno, mas sincero – Ora, ora, olha só quem acordou. Se não é o pequeno adormecido. Olá, senhor Springfield-san. Seja bem-vindo de volta após esses seis meses de coma.

– SEIS MESES? COMO ASSIM, SENHOR MÉDICO?

– O senhor sofreu um acidente de carro. Por sorte, a senhorita Sakurazaki-sama conseguiu evitar um acidente mais grave; ela saiu com poucos ferimentos, principalmente cortes, mas nada muito grave. Até tentei colocá-la num quarto aqui no hospital, mas ela se recusou. Já o senhor, apesar de não ter sofrido nada muito grave, entrou em coma e teve que ficar aqui.

– Mas... Doutor, a Setsuna-san não diri... – Asuna tapou a boca de Negi, que começou a se debater loucamente tentando se soltar, quase sem ar.

– Eheheh, bem, doutor, eu já vou indo, vou avisar às outras que o Negi já melhorou! Quando é que ele vai estar de alta aqui do hospital? – Asuna se levantou e foi em direção ao doutor, parando em sua frente, enquanto Negi tentava entender o que ela havia feito

– Bem, senhorita, não tenho certeza de quão rápido o senhor Springfield vai se recuperar, mas ele não sai daqui em menos de duas semanas, pode ter certeza disso.

– Ah, então tudo bem, já vou indo – E começou a sair em direção à porta, dizendo silenciosamente para Negi que não falasse nada e saiu rapidamente. Assim que estava fora do quarto, pegou sua carta de pactio e colocou-a na testa, falando telepaticamente para Negi:

– "CEBOLINHA, NÃO FALE PARA O DOUTOR QUE A SECCHAN NÃO SABE DIRIGIR, ENTENDEU?"

– "Mas porque não, Asuna-san?"

– "Só não fale, cebolinha, só não fale."

– Bem, Negi, o que ia dizendo?

– Ahn? – O contato telepático fora cortado – Nada, nada. Mas me conte mais sobre o ocorrido.

– Bem, senhor Springfield, eu pessoalmente não sei bem o que ocorreu. Apenas sei que a senhorita Sakurazaki-sama estava dirigindo e bateu em um poste. Por milagre, vocês dois só sofreram cortes, isso, claro, além do seu coma grave.

– Mas seis meses de coma, doutor? Que coisa absurda!

– Sim, é. Muitos pensaram que o senhor ia morrer. Inclusive boa parte das meninas que vinham lhe visitar no começo pareceram perder as esperanças e não vinham mais lhe visitar com tanta frequência. No final das contas, apenas algumas dessas mocinhas ainda estavam vindo aqui nessas últimas três semanas.

– Mas... Nossa! Realmente é compreensível. Seis meses é um período muito longo para esperar pela melhora de alguém – Negi se levantou um pouco e encostou-se à parede, para poder olhar melhor para o rosto do doutor. – Quem eram essas garotas, Doutor...?

– Oh, ainda não tinha me apresentado, não? Bem, desculpe a ausência de nome no meu jaleco, ele é novo. Muito prazer em poder conversar com o senhor, meu nome é Tatsuchika Keichi!

– Ah, sim, prazer, Doutor Tatsuchika-sama.

– Apenas Keichi é o suficiente. Bem, essas garotas... Entre elas, acho que posso dispensar a necessidade de falar na senhorita Kagurazaka. As senhoritas Konoe, Sakurazaki, Hasegawa, Fei, Saotome, Karakuri, Ayase, Miyazaki e McDowell estavam quase revezando para passar um tempo com o senhor, mas não vi dedicação maior ao senhor do que a da senhorita Kagurazaka. Mesmo quando outra das garotas estava aqui, ela continuava no hospital. Só saia para comprar algo para comer, para trabalhar ou durante as aulas. Mas nas férias ela praticamente dormia aqui... Quantas vezes eu fui forçado a tirá-la desse quarto, quantas vezes?

– A Asuna-san... Fez isso tudo por mim?

– Não só ela. A Konoe-sama, a Kagurazaka-sama, a Miyazaki e a Ayase-sama faziam quase a mesma coisa, mas nenhuma delas a ponto de passar o dia aqui com você. É um rapazinho bem famoso com as garotas, hein, seu garanhão? Hahaha... Bem, eu vou visitar meus outros pacientes. Aqui está o controle da TV, se quiser assistir algo. Se me der licença... Boa noite e não vá dormir muito tarde! Se bem que depois de seis meses deitado nessa cama acho que o que você menos quer é dormir, hein? Hahaha, agora, com sua licença... – com essas palavras, Tatsuchika saiu do quarto, ainda com um sorriso um tanto quanto cínico no rosto.

O médico voltou ao quarto, como se tivesse esquecido algo

– Ah, sim, Springfield-san… Normalmente os pacientes que passam por longos períodos de coma têm seus músculos atrofiados. Curiosamente, não foi seu caso. Nem eu nem quaisquer outros médicos entendemos como ou porque isso aconteceu, apesar de termos tentado descobrir isso de várias formas. De qualquer modo, mandarei alguém para verificar sua situação de tempos em tempos. Em cerca de 10 minutos uma enfermeira chegará aqui para lhe auxiliar.

– Ok, senhor Tatsuchika-sama, digo, Keichi-sama, muito obrigado. – E finalmente Tatsuchika se ausentou do quarto.

Negi começou a olhar para o teto enquanto pensava. Vagarosamente pegou o controle da televisão, ainda encostado na parede do quarto, e ligou-a. Começou a zapear entre os canais, mas não encontrou nada de seu interesse. Logo desligou a TV, resmungando:

– Droga, sem os óculos não dá pra ver nem o que vai passar nos canais daqui a pouco...

Ele logo se deitou novamente na cama e, recostando a cabeça no macio travesseiro, começou a olhar para o teto, sem conseguir encontrar sono algum.

– Realmente o Tatsuchika-sama tinha razão... Não tem como eu estar com sono depois de seis meses de coma.

Negi passou cerca de dez minutos olhando para cima, pensando e tentando lembrar como ele havia parado naquela cama de hospital. Mas nada apareceu em sua mente e ele finalmente desistiu desse esforço hercúleo que se provava completamente infrutífero. Passou a tentar decifrar como seus músculos não haviam atrofiado e continuou sem arranjar nenhuma solução. Passou, então, a simplesmente não pensar em nada, tentando apenas ouvir os sons noturnos. Carros passando, motos zunindo, buzinas todo o tempo, passos de poucas pessoas no corredor, que simplesmente passavam direto pela porta de seu quarto e, pouco tempo depois, passos bem calmos, que começavam a desacelerar próximo ao seu quarto. Ouviu, então, o barulho de muitos passos e o som de um golpe e...

– "HEIN? QUE TANTA GENTE É ESSA?" – Negi pensou surpreso, e se surpreendeu mais ainda ao perceber que alguém havia sido golpeado no corredor. – "QUEM FEZ ISSO?" – Se concentrando mais, ele percebeu que alguém estava pedindo silêncio enquanto a porta abria vagarosamente para revelar todas as suas alunas da Sala 2-3 de Mahora. Todas elas com seus uniformes e com fitas, bolos, refrigerantes e, apesar de desejarem fazer a balbúrdia a que tanto eram acostumadas, não podiam, tanto para não atrapalhar os outros pacientes quanto para não atrair muita atenção dos funcionários que ainda estivessem acordados.

– Me... Meninas? – Negi fez uma cara muito assustada enquanto via todas as garotas no seu quarto e tentava entender o que era aquilo – Como vocês entraram aqui? O horário de visitas já deve ter acabado e de qualquer modo, nunca permitiriam um grupo desse tamanho em um quarto de hospital, o que foi que vocês fizeram?

– Bem, Cebolinha, nada demais, aru ne. – dizia Ku Fei, calmamente – A gente só derrubou todo mundo que queria impedir a gente de vir pra cá, aru.

– A Ku Fei está exagerando, Cebolinha. A Yue-chan simplesmente usou um de seus feitiços e botou todo mundo aqui do hospital para dormir enquanto todas nós subíamos aqui – disse Haruna. – Não foi, Yue-chan?

Tímida, Yue se escondia entre as garotas enquanto afirmava que sim. Todas as garotas estavam muito felizes e trocavam abraços com Negi alternadamente, numa confusão que tentaram deixar o mais silenciosa possível. Ainda assim, o médico responsável por Negi ouviu todo o barulho e logo se dirigiu ao quarto. Logo que entrou, foi nocauteado por um chute dado na boca de seu estômago pela Evangeline.

– Ai ai, essas pessoas de hoje em dia, não agüentam mais nem um golpe fraco no estômago e já caem desmaiadas...

– Me... Mestra Eva? Como você saiu da escola, e a barreira?

– Hah, seu moleque atrevido. Pedi uma permissão especial àquele velho do Konoe e ele... AI! – Evangeline olhou para trás com uma cara irada ao ter sido atingida por um soco na cabeça. – QUEM VOCÊ PENSA QUE É, SUA MERA MORTAL?

– Eu não sou uma mera mortal, Evangeline-sama, você sabe muito bem que eu sou meio-youkai. – Disse Setsuna, que havia atingido a vampira primordial.

– Setsuna-san? Que anel é esse no seu dedo? – Perguntou Negi, bem assombrado.

– Err... Negi-san, na verdade… como dizer isso... – Setsuna estava desorientada, sem saber o que falar, até que Konoka apareceu e a abraçou por trás.

– Na verdade, Negi-chan, eu e a Secchan nos casamos. A gente contou tudo para o vovô e eu disse para ele que estava cansado de todos esses Omiais e pedi para ele permissão pra que eu casasse logo com a Secchan, a quem eu amo tanto, não é, Secchan, minha linda?

– É... É sim, Ojou-sama – Setsuna começou a enrubescer bastante e a ficar muito sem-jeito perante todos enquanto Konoka acariciava seus seios. – O... Ojousama pare com isso, por favor…

– Ko-Konoka-sama, aqui não é lugar para esse tipo de coisa – Dizia Nodoka, muito encabulada pela cena que ali ocorria.

– Nossa! O que mais aconteceu nesses seis meses em que estive desacordado? – perguntou Negi, bastante surpreso. A partir daí, as garotas começaram a contar todas as novidades a Negi, inclusive explicando a ele porque seus músculos não haviam atrofiado: semanalmente Konoka ia a seu quarto e curava seus músculos, impedindo que eles se desgastassem demasiadamente. Nessa longa conversa, horas e horas se passaram. E em todo esse tempo, uma garota permaneceu solitária, escondida no fundo, encostada na parede quase sem rir e quase sem falar, apenas pensativa: Asuna. Durante as várias horas, ela apenas esporadicamente olhava para Negi e compartilhava da alegria das outras. Isso não passou despercebido a Negi, que ficava mais e mais preocupado com ela.

Durante boa parte da balbúrdia, ele permaneceu calmo e sua preocupação foi quase ignorada por todas. Mas conforme o tempo passava, ele não mais conseguia ocultar esse forte sentimento que crescia dentro dele até chegar ao ponto de as garotas começarem a se questionar porque seu professor estava tão calado. Quando elas iam perguntar...

– Bem, gente, está na hora de por nosso plano de fuga em ação, não acham? Paru, vamos começar? – disse Asuna, passando entre as demais alunas em direção à cama onde estava Negi.

– Asuna-chan, está com pressa? – Haruna perguntou, com uma expressão bem provocativa no rosto. Estava mais do que claro que ela começava a entender, se não já tivesse entendido tudo o que passava pela cabeça da Asuna naquele momento – Tem algo que não quer que ninguém aqui veja?

– Paru, na verdade a questão é o horário. Quanto antes sairmos daqui, mais difícil é que alguém veja a gente tirando o Negi desse... Lugar. – Asuna olhou com uma cara de desdém para Haruna enquanto pegava Negi da cama, deixando todas caladas e tensas. – Estão aí paradas porque mesmo? Achei que iam ajudar a todos nós na fuga daqui, ou não vão?

Todas as garotas começaram a agir rapidamente, executando um intricado plano de fuga, que se dava pela necessidade de sair do prédio pela janela do quarto do professor-mirim. Andar no prédio: 34º.

– Está meio... Alto aqui. Ninguém me disse que era tão alto assim... – Disse Negi, muito assustado, suando muito frio.

– Ah, Cebolinha, você teve a coragem de enfrentar um dos heróis do Mundus Magicus, aru ne. Não vai me dizer que tá com medo de um pulinho desses, aru. – Ku Fei saiu pela janela e começou a descer deslizando pelas paredes e segurando nos parapeitos das janelas até atingir o chão. Kaede fez a mesma coisa, assim como muitas das outras garotas que sabiam lutar. Assim que atingiram o chão, Kaede fez 16 clones e uma torre com eles, enquanto todas as garotas vigiavam o perímetro, impedindo que outros funcionários do hospital vissem o que estava acontecendo. Makie usou seu artefato como uma corda para ir descendo as garotas até o andar onde estava Nagase, seu limite. Os clones foram descendo cada uma das garotas que não tinha capacidades mágicas ou de luta até o chão. Setsuna também levava as garotas ao chão, voando. Ao fim, só restavam no apartamento Setsuna, que acabava de voltar, Konoka, Asuna e Haruna.

– Setsuna-chan, Kono-chan, podem descer, eu fecho tudo aqui com a Asuna-san.

– Posso confiar, Haruna-san? – Perguntou Setsuna, séria.

– Vá, confie, Secchan.

– Ok, então. Vamos, Ojou-sama! – Setsuna abriu as asas e desceu pela última vez, com Konoka.

– Asuna-chan...

– O que foi, Paru, sua safada?

– Acho que eu entendo o que você está sentindo...

– Hm? – Asuna começou a ficar sem jeito – Do que você está falando? Está ficando louca?

– Não, Asuna-chan. Acho que quem está ficando louca aqui é você. Louca de amor. Acho que sei que sentimento é esse que você está nutrindo por certo alguém...

– E-eu não sei do que você está falando, Paru. Acho que você deve estar confundindo algo...

– Oh, por favor, Asuna-chan... EU CONHEÇO MUITO BEM ESSE FEDOR QUE ESTAVA NESSE QUARTO ENQUANTO O NEGI-CHAN ESTAVA AQUI! E ele vinha exatamente de você! Esse cheiro azedo é indiscutivelmente, inconfundivelmente o cheiro de amor no ar! – Haruna falava apontando para Asuna e sorrindo como se estivesse jogando algo na cara dela.

– Paru, você está confundindo as coisas – disse Asuna, acuada – Eu não quero nada com o cebolinha! Vamos logo terminar o que temos que fazer aqui e fugir! – Asuna virou as costas para Haruna e ficou olhando para a janela enquanto esta usava seu artefato para criar um clone de Negi que ficaria ali para disfarçar a fuga.

Paru desenhava e desenhava, mas o que mais complicava no seu trabalho era ter que similar, também, a personalidade de Negi. Além de dificultar seu trabalho, como ela previu, gastou muito de sua energia, o que a impedia de materializar alguma ferramenta que a permitisse descer sozinha do andar em que estavam. Para isso Asuna estava lá, já que poderia usar seu Kankahô para descê-las com segurança.

Cerca de meia hora depois, Haruna terminou de fazer um clone muito bem feito, a quem deu todas as instruções sobre como agir e deixou deitado na cama, enquanto o médico Keichi acordava. Ela e Asuna se dirigiram à janela. Haruna então subiu nas costas de Asuna, que pulou pela janela e começou a usar o Kankahô levemente para diminuir a velocidade delas. Assim que chegaram, Haruna desceu das costas de Asuna e elas começaram a correr em direção a Mahora, uma do lado da outra. Passaram cinco minutos em silêncio, até que Haruna finalmente falou:

– Asuna-chan. Sabe a Honnya-chan?

– Sim, Paru, o que tem ela?

– Ela vai se declarar.

Asuna enrubesceu e desviou o olhar. Haruna percebeu um leve desapontamento em seu rosto.

– E daí?

– "E daí"? É isso que você fala em relação ao que a Honnya-chan vai fazer, Asuna? Tem certeza que é só isso que você vai falar?

– Eu... Eu gosto é do Takamichi-sensei – Asuna mentia, mas sabia que não era isso que sentia de verdade. Ela começou a sentir um aperto em seu coração e levou a mão até lá – É dele que eu gosto. Ninguém mais, ninguém menos, Paru.

– Oh, será se isso é verdade mesmo, Asuna-chan? Por que você levou sua mão ao peito dessa maneira? Que expressão de sofrimento disfarçado é essa em seu rosto? Por que você está corada? E o mais importante... Por que você está chorando?

Asuna não havia percebido, mas finas lágrimas escorriam pelo seu rosto e desciam até seu pescoço. Sua concentração em tentar esconder seus sentimentos foi tanta que ela não percebeu que eles na verdade já estavam à mostra há muito tempo. Seu coração começou a bater desenfreadamente, mas ela lutou bravamente por mais alguns silenciosos minutos, até que finalmente desistiu. Parou de correr e Haruna, assim que notou, parou e voltou até onde estava Asuna. Ela tinha caído em cima dos próprios joelhos e estava chorando descontroladamente no chão, sem saber mais o que fazer. De pé, em frente à Asuna, Haruna a olhava de cima, com um olhar de pena, entendendo o porquê de ela estar assim.

Asuna estava destruída. Ela sabia, muito bem, que Nodoka sempre fora louca por Negi, desde que o conhecera. E sabia que ela faria de tudo para conseguir ficar com Negi. Mas ela não sofria por isso. Sofria por saber que Negi poderia ser seu, se ela tivesse falado com ele antes. Mas seu medo da rejeição, seu medo por serem primos, medo de que ela não fosse nem metade daquilo que aquele garotinho merecia a faziam congelar e a impediam de avançar e de lutar por aquele de quem tanto necessitava.

– Asuna-chan, não fique assim, eu entendo bem o que está sentindo...

– NÃO, NÃO ENTENDE, PARU! VOCÊ NÃO SABE PELO QUE EU ESTOU PASSANDO! – Asuna empurrou Haruna, se levantou rapidamente e saiu correndo em direção a um beco escuro, onde se se encostou a uma parede e continuou a chorar, tentando clarear as idéias e controlar os ânimos. Um esforço que se provou completamente infrutífero. A cada momento que passava, ela ficava mais transtornada e confusa em relação ao que estava sentindo e a como lidaria com esse grande problema que havia criado. Haruna foi procurando Asuna por todos os cantos, mas como não a achou, acabou se irritando.

– AH, JÁ CHEGA DESSA FRESCURA, ASUNA! – Paru rapidamente usou seu artefato para invocar uma série de seres similares ao Mokona, que tinham fachos de luz em suas testas, e os mandou para procurar Asuna. Um deles a encontrou pouco depois e sua criadora foi estava aquela garota tão forte completamente destruída e desolada. Haruna logo se sentou com ela, encostando-se na parede, mas ficou olhando para cima e notou algo interessante.

– Olha Asuna-chan, olha o céu, como ele está bonito...

–...

– Asuna, não adianta ficar assim e você sabe muito bem disso.

–...

– Não adianta ficar calada, isso não vai resolver sua paixão...

– É... É verdade, não é, Paru? – disse entre soluços. Asuna começou a chorar muito intensamente – Mas... Mas o que eu faço, Paru? O QUE EU FAÇO, PARU? – Asuna começou a gritar – O QUE, O QUE, O QUE, SOCOR...– Asuna recebeu um tapa, do nada – Hein? Quem me bateu?

– Hoho, fui eu, sua mortal inferior! – falava uma Evangeline sorridente – Você está agindo como uma verdadeira criança humana, com esse seu chororô. Nem parece uma princesa. Tá parecendo muito mais uma criançona no colegia... – Asuna se vingou pelo tapa, chutando Evangeline no rosto – Quanta ousadia! Você continua se atrevendo a bater em mim, uma vampira primordial, sem se preocupar com as consequências? Prepare-se para sua morte!

– Eva-chan, essa não é a hora. – Paru disse com um semblante frio e controlado – Caso não tenha percebido, estamos com um caso de coração partido aqui.

– Oho, eu sabia. Estava até óbvio demais o que se passava por aqui... – Uma pequena lágrima escorreu do canto do olho esquerdo de Evangeline enquanto ela desviava o olhar. Nem Asuna nem Paru perceberam isso, tanto porque Asuna estava olhando para baixo quanto porque Paru estava muito preocupada com ela – Você precisa, princesinha, é de coragem para ir atrás daquele que você ama. E você não parece estar conseguindo juntar essa coragem... – Eva rapidamente limpou a lágrima de seu rosto enquanto se virava para as duas amigas – Explique sua história para nós. Talvez possamos lhe ajudar.

-Não sei não, Paru... Eu acho muito difícil vocês poderem me ajudar... É um amor não correspondido... E ele dificilmente sente ou vai sentir a mesma coisa por mim...

– É, mas eu tenho que concordar Asuna-chan, eu também me apaixonaria por ele fácil se eu não já estivesse apaixonada por outra pessoa... Ele é bonito, forte, galante, inteligente, talentoso... Tanta coisa boa... – Haruna desviou o olhar e começou a olhar para o nada, com olhos brilhando e babando, pensando naquele ser lindo por quem ela estava apaixonada. – Ops, desculpe. Acabei me desconcentrando e pensando naquela coisa linda, mas vamos continuar... O que você espera? Espera simplesmente que ele apareça aqui e diga que está apaixonado por você?

– Ou está esperando simplesmente que isso vá embora, que essa paixão simplesmente desapareça como se fosse mágica? – questionou Evangeline – Saiba de uma coisa... Na minha longa vida de vampira primordial, eu, apesar de ter cometido carnificinas ao redor do mundo, também observei muito os humanos e suas tolas atitudes. E se há uma coisa que eu descobri, é que essas paixões nunca morrem... Podem diminuir, mas sempre continuam lá no fundo, como se fosse uma fome insaciável. E a única maneira de "esquecer" alguém é se apaixonando por outra pessoa. E nem sempre isso acontece.

– É... Sério, Eva?

– Sim, princesinha, seriíssimo. E uma paixão como essa que você está sentindo demora para ser esquecida. E não só isso... Sempre ficam resquícios dela. Quão apaixonada você está por ele?

– Muito... Eu iria ao Mundo Mágico de novo se eu tivesse que fazer isso pra ficar ao lado dele. Abandonaria minha vida, minhas amigas, minha escola... Tudo que eu tenho aqui no Mundo Antigo... Tudo por ele. Eu... Eu não tenho mais dúvidas... Ele é o amor da minha vida.

Uma grossa lágrima escorria pelo rosto de Evangeline enquanto ela desviava o olhar. Seu rosto, enrubescido, não escondia seu embaraço diante a um amor tão forte quanto o que ela sentia e que Asuna aparentava mostrar por alguém.

– Apesar de ser uma princesa e das fortes, devo ressaltar, você não deixa de ser uma humana inferior. O que é tanto que lhe impede de revelar seus sentimentos? É a diferença de idade? A diferença de maturidade? A diferença de comportamento? O nível social de vocês?

– Na verdade, Eva-chin... – começou Asuna.

– EVA-CHIN É O CARAMBA, SUA HUMANA! – Eva, em um instante, levantou a mão, mas não conseguiu atingir Asuna. Haruna parou seu golpe materializando um pequeno escudo de braço que ela rapidamente fez desaparecer.

– Sem violência, Eva-chan, por favor.

– Mas porque vocês insistem em não me respeitar?

– Porque a gente gosta de ti, ainda não percebeu, ô pirralha? Agora posso continuar? – Replicou Asuna, já um pouco sorridente após a pequena confusão que ali se passou. – Na verdade... O grande problema é que além de termos idades muito distantes... Nós somos parentes... Primos, eu acho.

– Ah, idade não importa. Se importasse, eu nunca ia conseguir um marido, não é verdade? E, além disso, quem se importa que sejam primos? Primos nem são parentes... Mesmo que fossem irmãos, o que teria demais? Pare para pensar, vocês nem foram criados juntos, é só agir como se não fossem parentes consanguíneos e pronto.

– É... É verdade, não é, Eva-chan, não tem nada demais...

– Claro, Asuna-chan! Escute a Eva-chan, ela tem razão! Continue, Eva-chan! – exclamou Haruna, percebendo que sua colega, apesar da brutalidade no tratamento com Asuna, estava obtendo resultados bem melhores que ela.

– Só que eu não sabia que o Takamichi era parte da família real... Quando você descobriu isso?

– Taka... – Asuna começou

– Michi? – Haruna completou

– Sim, o Takamichi... Ou... Você não está apaixonada por ele, Asuna?

Asuna olhou com uma cara de espanto para Evangeline e aos poucos seu choro se transformou em um sorriso escandaloso

–... HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA, eu não acredito! Eva, você estava esse tempo todo pensando que eu ainda estava apaixonada pelo Takamichi? – Asuna respirou um pouco e se acalmou, para voltar a falar – O que eu sentia por ele... Eu vim perceber que não passava de uma paixonite, comparada ao que eu sinto pelo Negi.

– Awn... Não é lindo, Eva-chan?

Eva parou. Por um momento, pareceu que todo seu corpo parou. Desde sua respiração até os seus pensamentos. O ar saiu completamente de seus pulmões, assim como a força pareceu esvair de seus membros. Ela bambeou, mas para sua sorte, seu movimento passou despercebido para duas colegas. Tudo deu um branco instantâneo. Ela simplesmente esqueceu onde estava e com quem estava, o que fazia e o que tinha que fazer. A única coisa que se passava em sua cabeça era o resumo do que ela tinha acabado de ouvir:

-"Asuna está apaixonada por Negi..."