Teen Titans não me pertence.
N/A: Uma fic super antiga que achei perdida no computador! Não sei porque nunca postei essa história, mas... antes tarde do que nunca!
E para quem acompanha minha outra fic dos Jovens Titãs, semana que vem teremos capítulo novo!
Bjos bjos!
Nossa vida em outra vida
Capítulo 1
Quando o alarme tocou naquela noite de domingo, Ravena não ficou muito contente. Na verdade, não ficou muito contente nem começava a descrever como a empata se sentiu ao escutar aquele som agudo e insistente, indicador de que algo de errado estava acontecendo da cidade. Entre rosnados e resmungos, balbuciou o seu mantra e, meio que a contragosto, fechou o livro de suspense que estava lendo.
E como ela detestava interromper a leitura numa parte emocionante da história.
"Titãs, sala de reuniões, agora!" Ouviu a voz de Robin pelo comunicador e conjurou seus poderes, desmaterializando-se num piscar de olhos e materializando-se bem no meio da sala de reuniões.
O líder dos Titãs, os destemidos heróis de Jump City, já estava lá, dedilhando o teclado com rapidez e tentando descobrir o que de fato estava acontecendo. Estelar estava ao lado dele, mordendo o lábio inferior e olhando apreensiva para a enorme tela, enquanto que Ciborgue e Mutano acabavam de entrar pela porta, obviamente discutindo um com o outro.
"Então, o que está acontecendo?" Perguntou o Titãs biônico, dando uma olhada rápida na sala. "Acho bom ser algo muito importante, porque eu estava massacrando o Verdinho no videogame!"
"Ei! Isso não é verdade!" Mutano retrucou, indignado. "Se tinha alguém aqui levando uma surra, esse alguém era v-"
Robin pigarreou alto o suficiente para fazer o metamorfo se calar.
"A emergência é no cais do porto." Disse o líder com seriedade, virando a cadeira de forma que desse as costas ao computador e ficasse de frente para o membros da sua equipe. "Parece que um intruso foi avistado perambulando pelos galpões. Temos de ir dar uma olhada antes que ele resolva aprontar alguma coisa."
TT ~ TT ~ TT
"Um intruso perambulando por aqui uma ova! Aposto que é um gato vira-lata ou qualquer coisa parecida."
Se Ravena não ficou nem um pouco feliz quando o alarme tocou, agora, vinte e cinco minutos depois da equipe ter se separado para investigar as dezenas de galpões que existiam espalhados pelo porto, ela estava muito, mas muito irritada.
"Por que é que você não esperou até eu chegar na parte em que descobrem quem é o assassino para começar a fazer alguma bagunça por aqui, hein, bichano? Meu humor certamente estaria melhor." Resmungou para si mesma enquanto adentrava o terceiro dos cinco galpões pelos quais ficara responsável. Seus olhos violetas se apertaram por causa da falta de luz, e a jovem heroína se concentrou, tentando sentir alguma presença naquela região.
Mas, como já esperava, não sentiu nada.
Ela tinha certeza de que tudo aquilo não passava de um alarme falso.
"Gatinho, gatinho, por que não aparece logo e damos essa missão por encerrada? Você não tem ideia de como eu quero ir embora."
O silêncio foi sua única resposta, e ela deixou que um suspiro aborrecido lhe escapasse. Parou por um momento e, roçando a ponta dos dedos no comunicador, questionou-se se algum outro Titã havia encontrado alguma coisa que fosse, pelo menos, um pouco suspeita, mas logo chegou à triste conclusão de que, provavelmente, nenhum deles tinha encontrado nada até momento. E, sinceramente, duvidava que encontrariam alguma coisa.
Um alarme falso, sem sombra de dúvidas.
E em pleno domingo à noite. Que maravilha.
Mesmo desanimada do jeito que estava, terminou de vasculhar o galpão e já ia se dirigir ao próximo quando sentiu, de repente, a aproximação de algo. Ou alguém.
"Gatinho?" Perguntou incerta, erguendo as mãos e concentrando um pouco de energia negra. Ergueu o capuz, cobrindo o rosto e suas curtas mechas violetas, seus olhos atentos ao menor sinal de movimento. Até que ouviu um miado.
Baixou a guarda.
"Não posso acreditar. É um gato mesmo."
A pequena e peluda criatura se aproximou da jovem bem de mansinho, enroscando-se nas pernas compridas de Ravena, esfregando nelas o seu pelo macio e sedoso. A heroína franziu o cenho; estava escuro ali dentro, mas não tão escuro a ponto de não fazê-la reparar no pelo do bichano.
Um pelo verde.
"Mutano. O que está fazendo aqui?" A empata perguntou com o rosto vermelho de irritação, bufando ao observar o felino se transformar num rapaz delgado e não muito mais alto do que ela. "Você não deveria estar investigando os galpões da ala oeste do cais?"
"Ei, Rae!" Ele acenou, sorridente e sem se importar com a cara de poucos amigos dela. "Bem, até onde eu sei, é isso o que eu estou fazendo! Aí eu vi você entrar aqui e começar a chamar por um gatinho, então... eu virei um!" O canino dele brilhou, completamente exposto naquele sorriso largo, e Ravena sentiu vontade de arrancar os próprios cabelos. "Você gostou da surpresa?"
"Inacreditável." Ela mais rosnou do que falou, e Mutano tomou aquilo como um grande 'não'. "Me explique uma coisa então, Mutano. Se você está fazendo o seu trabalho, que é investigar os galpões da ala oeste, o que é que você está fazendo aqui, na ala leste?"
O sorriso dele murchou um pouco, e o jovem assumiu uma postura menos confiante. Bem menos confiante.
"Leste? Tem certeza disso? Porque eu estava mais do que certo de q-"
"SIM! Eu tenho certeza disso, porque o oeste é do outro lado! Aqui é o leste! Como você pode não saber disso?"
Ele coçou a nuca, sentindo-se extremamente sem graça. "Bem... eu tenho que admitir que nunca fui muito bom nesse negócio de leste e oeste, direita e esquerda... mas isso é normal, não é? Quer dizer, as pessoas sempre trocam essas coisas, né?" Ele concluiu com um sorriso amarelo, e Ravena se viu obrigada a rolar os olhos.
Patético.
"Vou fazer questão de lembrá-lo disso na próxima vez que você pedir a Ciborgue para dirigir o carro dele." Ela falou naquele tom meio monótono e meio debochado que ele tanto detestava. "E, de preferência, vou falar isso na presença do Ciborgue."
"Aaahhh, qual é, Rae!"
"Ravena, Mutano. Ravena."
"Poxa, isso é muita sacanagem da sua parte! Se o Cib não me deixar dirigir o carro, como é que eu vou te levar no nosso próximo encontro? Eu sei que o nosso primeiro encontro não foi lá muito bom, bem... na verdade ele foi horrível, cheio de gosma e tal, mas aquilo foi tudo culpa do Plasmus... e eu sei que o segundo também foi um desastre, mas eu já falei que eu não fazia ideia de que o Maluco do Controle estava planejando atacar o cinema naquele dia! Então eu pensei em te levar para fora da cidade dessa vez, sabe? Para longe de vilões querendo estragar o nosso dia..."
E foi aí que Ravena sentiu toda a irritação que estava sentindo se esvair completamente, sendo trocada por uma súbita sensação de embaraço e de... de... por acaso ela estava lisonjeada com aquilo?
"Você estava planejando o nosso terceiro encontro?"
A voz que escapou dos lábios dela foi baixa, tímida e incerta. Suas bochechas arderam, e Ravena fez questão de afundar o rosto ainda mais dentro do capuz, tamanha era a vergonha que sentia. Ela não fazia ideia de como Mutano conseguia desestabilizar suas emoções com tanta rapidez e facilidade, mas que ele tinha esse poder de desarmá-la, ah sim, ele tinha.
"É... eu estava. Quer dizer, ainda estou! Err... se você ainda quiser sair comigo, é claro!"
"Ah, bem... acho que eu quero." Balbuciou ela, vermelha feito um tomate. "Seria bom."
O rapazinho coçou a nuca e riu todo sem jeito, mas contente. "Sério? Cara, legal! Eu tava dando uma olhada em alguns restaurantes fora de Jump e achei um que você iria ador-"
Beep Beep Beep Beep
O comunicador da empata apitou na hora, interrompendo a conversa, e os dois se entreolharam, curiosos. Em seguida, desviaram os olhares para o pequeno aparelho na mão de Ravena.
"Ravena falando." Disse assim que apertou o botão, olhando de relance para Mutano. O rosto mascarado de Robin surgiu no visor do pequeno aparelho, e Ravena voltou sua atenção para o líder.
"Ravena, encontrou alguma coisa?"
"Negativo, Robin. Ainda não terminei, mas até agora não vi nada suspeito."
"É, as coisas estão tranquilas por aqui também, e nem Estelar e nem Ciborgue encontraram alguma coisa. Acho que foi alarme falso."
"Mais um, você quer dizer." Ela completou e o viu assentir pelo visor. "Parece que só temos alarmes falsos atualmente."
"Nem me diga. Bem, assim que terminar, nos encontre no portão principal. Vou entrar em contato com Mutano e ver se el-"
"Não será necessário, Robin." Ela o interrompeu, e o líder mascarado franziu o cenho. "Mutano está aqui comigo."
"Sério? E por que isso?"
"Parece que ele... se perdeu." Ravena disse com deboche, o que fez Mutano cruzar os braços e mostrar a língua para ela.
"Eu não me perdi!" O verdinho respondeu, tentando pegar o comunicar da mão da empata. Uma missão sem sucesso, é claro.
"Não quero saber se você se perdeu ou não, Mutano. Já que está aí, termine a ala leste com Ravena e depois os dois vão investigar a ala oeste juntos. Estaremos esperando.
Exasperada, Ravena respondeu. "Não concordo com isso, mas acho que não temos escolha." Ela deu por encerrada a conversa com o líder e pendurou o comunicador no cinto dourado, virando-se para o metamorfo e encarando-o com olhos faiscantes. "Espero que esteja feliz, Mutano. Parece que, por sua causa, nós dois fomos rebaixados a retardatários da equipe. Eu já estou até comemorando."
"Ah, nem vem, Ravena! Não foi minha culpa!" Ele resmungou, fazendo um pouco de manha, e a jovem heroína revirou os olhos.
Ligeiramente aborrecida, falou com a voz neutra. "Vamos. Ainda temos dois galpões para investigar por aqui e mais sabe-se lá quantos na ala oeste. Quanto antes voltarmos ao trabalho, melhor pra gente."
Ela o viu abrir a boca e erguer a mão para contestá-la, mas o rapaz logo pareceu mudar de ideia, baixando a guarda e concordando com um demorado aceno de cabeça.
"Você tem razão." Ele aquiesceu e, enquanto andavam, relanceou um olhar para Ravena. Notou que ela carregava uma expressão determinada no rosto, um pouco cansada, mas determinada de qualquer jeito.
Ela ficava bonita daquele jeito: toda séria e compenetrada.
"O que está olhando?" Ravena perguntou de repente, e o rapazinho sentiu as bochechas arderem.
"N-Nada!" Respondeu rápido, tentando desviar o rosto. "É que... é que você fica muito bonita assim, Rae."
"Oh!" Exclamou, extremamente acanhada. E então, tentou se recompor daquele inesperado elogio e retrucou o metamorfo com rispidez. "Não me chame de Rae. Eu já te disse centenas de vezes que o meu nome é Rav-"
Ela não teve a menor chance de terminar de falar. A fisgada que sentiu na nuca a fez emudecer na mesma hora. Sua visão tornou-se embaçada, e a heroína sentiu-se zonza. Lutando contra a súbita tontura, levou uma mão à base do pescoço. Seus dedos formigavam, mas mesmo assim ainda tinham sensibilidade o suficiente para sentir um pequeno dardo fincado em sua pele. Um barulho estranho, um som oco e forte a fez olhar para os lados, apenas para ver que Mutano encontrava-se caído no chão, inconsciente.
E não demorou nada até ela se juntar a ele.
TT ~ TT ~ TT
TRRRRIIIIIIIIIM
TRRRRIIIIIIIIIM
"Hummm?"
TRRRRIIIIIIIIIM
"Hum? O quê...?" Sonolenta, Ravena gemeu e se remexeu na cama. Uma coberta enorme e bem quentinha a cobria por inteira, conferindo-lhe a estranha, porém aconchegante sensação de estar dentro de um casulo gigante.
Um casulo gigante, confortável, acolhedor, macio,...
TRRRRIIIIIIIIIM
O som chato, incômodo e agudo a fez abrir os olhos e abandonar o conforto que a coberta lhe proporcionava. Uma expressão azeda surgiu em seu rosto, e a heroína de Jump City se sentiu irritada e muito mal humorada por ter sido acordada daquele jeito. Mas que porcaria era aquilo afinal?
Sem prestar muita atenção nos seus arredores, bateu com a mão em alguma coisa que parecia ser um relógio despertador, que caiu no chão com tudo, o barulho irritante cessando na mesma hora.
"Ah, finalmente... paz..." Um raio de sol acariciou-lhe a face, e ela, meio que sem vontade, abriu os olhos.
E deu um pulo da cama, completamente apavorada.
"Onde é que eu estou?"
O cômodo era pequeno e sem muitos detalhes, e não demorou muito até que Ravena o percorresse por inteiro com aqueles olhos esbugalhados e assombrados. Paredes brancas a cercavam para onde quer que olhasse, contrastando com os móveis de mogno bem escuro. A cortina de renda lilás cobria uma janela entreaberta, esvoaçando de leve por causa da brisa da manhã, permitindo que os primeiros raios de sol daquele dia entrassem no quarto. Uma escrivaninha ficava ao lado da porta, suas poucas prateleiras abarrotadas com livros dos mais variados assuntos. Assustada, a empata apertou a coberta de encontro ao peito, suprimindo um grito de horror quando olhou para o lado e viu o seu reflexo num espelho de corpo inteiro pendurado na parede.
Ela não reconheceu a pessoa que a encarava.
"Oh, não! Eu devo ter trocado de corpo com alguém. De novo." Nauseada, recordou-se da experiência medonha que fora trocar de corpo com Estelar e, mais uma vez, precisou engolir um grito iminente. "Calma, Ravena! Muita calma! Isso deve ser apenas um sonho. Não! Um pesadelo! Sim, um pesadelo... e você já vai acordar! Com certeza!" Ah, que ótimo! Agora ela estava hiperventilando. Era só que o faltava. "Azarath, Metrium, Zinthos. Mais uma vez, vamos, você consegue. Azarath, Metrium, Zinthos."
Pressionando os lábios numa linha fina, fechou os olhos com força e começou a repetir o mantra em sua mente. Uma, duas, três, dez vezes.
"Agora, você vai abrir os olhos e tudo terá voltado ao normal."
Mas não voltou. Ela olhou para o espelho novamente e não se reconheceu. Pelo contrário, voltou a ver a mesma menina de antes olhando assustada para ela. Reunindo toda a sua coragem, levantou-se e caminhou até o espelho, examinando com assombro o seu reflexo.
"Isso não é possível..."
Apesar da roupa que ela vestia, um shortinho branco e uma blusa larga, notou que o seu corpo parecia o mesmo de antes. Claro que sua pele estava mais bronzeada do que jamais fora, mas o corpo era o seu mesmo. As mesmas pernas compridas, o mesmo quadril largo, a mesma cintura fina, os mesmos braços ligeiramente definidos. No entanto, enquanto o corpo dela parecia não ter se alterado, o mesmo não poderia ser dito a respeito do rosto.
Havia semelhança, isso Ravena não poderia negar. Mas também havia diferenças gritantes. Passou a mão pela testa e a sentiu lisa. Seu chakra, que deveria estar ali, não mais estava. Seu cabelo ainda estava na altura dos ombros, mas não era mais violeta. Era preto, completamente preto. E seus olhos, que sempre foram de um tom mais puxado para o índigo, escureceram um pouco, tornando-se um azul quase cinzento.
"O que foi que aconteceu comigo?" Perguntou em voz alta, incapaz de desviar os olhos do seu reflexo. Aquela ali era ela, mas, ao mesmo tempo, não era. E Ravena se sentiu confusa.
"Rachel? Já levantou, querida?"
Ouviu uma leve batida na porta e observou, petrificada, a maçaneta girar.
E a porta abrir.
"Filhota, estou entrando, tá!"
A mulher que entrou no quarto era uma versão mais velha do reflexo de Ravena, com longos e lisos cabelos pretos, olhos ternos e um corpo magro e esbelto. Suas feições eram serenas e doces, e ela usava um fresco vestido de verão sem mangas que cobria-lhe as pernas até a altura dos joelhos.
"Rachel? Filha? Está tudo bem? Você parece assustada..."
Ravena a viu se aproximar, mas não conseguiu se mover. Sentia-se paralisada.
"O que houve, querida?"
"V-Você é a minha... mãe..." Balbuciou e tremeu, mas conseguiu finalmente falar. "Arella... como é possível?"
"Arella? Do que está falando?" A mulher franziu as sobrancelhas e avançou alguns passos, mas Ravena recuou, impedindo-a de se aproximar muito. "Rachel, o que houve? Por que está agindo assim?"
"Eu não estou entendendo." A empata murmurou, olhando desorientada para os lados. "Como vim parar aqui?"
"Este é o seu quarto." Respondeu a outra, e Ravena sentou na cama, fechou os olhos e começou a respirar muito rápido. "Filha, não está se sentindo bem? Se quiser, eu e o seu pai podemos te levar num hospital."
A menção da palavra 'pai' fez um calafrio varrer o corpo pequeno de Ravena.
"Não! Não será necessário!" Respondeu tão rápido que quase mordeu a língua. "Estou bem, de verdade! Acho que... que..." Encarou a mulher, que a encarava de volta com olhos confusos e preocupados. "...tive um pesadelo e acordei me sentindo estranha. É isso! Nada de mais!"
"Ah, filha!" O olhar da mulher se suavizou. "Bem, menos mal que não é nada grave! Agora, que tal ir lavar o rosto e se trocar? Não vai querer chegar atrasada, não é mesmo?" E, dizendo isso, aquela que se dizia mãe de Ravena – ou daquela garota chamada Rachel – saiu do quarto e fechou a porta.
A empata não se moveu por vários segundos. Confusa e completamente perdida, continuou sentada na beirada da cama, tentando achar uma resposta para o que estava acontecendo ali. Ainda em estado de choque, levantou-se devagar e sondou o pequeno e aconchegante cômodo e, ao ver um porta-retratos sobre o criado mudo, sentiu um frio no estômago. Na foto, que parecia ser bem recente, Ravena – ou Rachel, pois não sabia mais quem era – encontrava-se no meio de dois adultos: a mulher que acabara de sair do quarto; e um homem de rosto desconhecido.
"Mas o que é que está acontecendo aq-"
"RACHEL!" Ouviu a mulher gritar e largou o porta-retratos, que caiu no chão com a fotografia virada para baixo. "Ainda não saiu do quarto? Vai se atrasar!"
"Já estou indo," Respondeu, embora não soubesse exatamente para onde deveria ir. Depois de um intervalo de tempo, completou. "mamãe."
Ainda não fazia a menor ideia do que estava acontecendo, todavia, para não levantar mais suspeitas decidiu que o mais sensato a fazer seria seguir com a encenação. Quando deixasse aquela casa, procuraria os Titãs.
Determinada, correu os olhos pelo quarto mais uma vez e estalou os dedos ao avistar o guarda roupa. Abriu a porta do móvel e procurou pelo seu uniforme, mas encontrou apenas roupas normais: calças compridas, alguns shorts, blusinhas, camisetas e um ou outro vestido. Optou, então, por se vestir de uma forma mais neutra e escolheu uma calça jeans desbotada, uma blusa azul marinho e sapatilhas pretas. Por fim, escovou os cabelos e, antes de sair do quarto, testou os seus poderes. Quando eles não funcionaram, suspirou fundo, pois já esperava por aquilo.
Encontrou a 'mãe' na cozinha, lavando louças na pia.
"Finalmente, filhota!" A mulher sorriu, e Ravena fez o seu melhor para retribuir aquele sorriso. "Está se sentindo melhor?"
"Humm... claro." Murmurou e andou rápido até a porta, mal vendo a hora de sair daquela casa e procurar pelos seus amigos, no entanto, uma voz muito familiar a fez congelar antes mesmo de alcançar a maçaneta.
"Não vai dar 'bom dia' ao seu pai? Acredito que te criei melhor do que isso, mocinha."
Aquela não era a voz do seu pai, Trigon, o Terrível, porque Trigon não falava daquele jeito suave e sibilante. Aquela voz pertencia a outra pessoa – uma pessoa que Ravena tinha certeza que conhecia, mas que, por algum motivo, não conseguia se lembrar.
Inspirando e expirando bem devagar, girou nos calcanhares, na direção daquela voz tão familiar. Viu um homem – o mesmo homem do retrato – sentado confortavelmente à mesa da cozinha, lendo jornal e bebericando café. Ele aparentava ter uns quarenta anos de idade, tinha cabelos curtos e prematuramente brancos e um corpo musculoso escondido sob um terno escuro. Um cavanhaque da mesma cor do cabelo contornava um queixo quadrado e um tapa-olho preto cobria o olho direito do sujeito.
"Rachel. O gato comeu sua língua?" Ele riu uma risada abafada, e Ravena estremeceu dos pés a cabeça.
Por que não conseguia se lembrar de onde conhecia aquela voz aveludada? E por que aquela voz a assustava tanto?
"Bom dia." Falou rápido, e o homem franziu as sobrancelhas grisalhas.
"Está tudo bem? Sua mãe disse que você acordou se sentindo estranha."
"Sim. Quer dizer. Estou melhor." Uma gota de suor escorreu da sua testa ao queixo, e seu coração batia tão rápido que estava a ponto de explodir. "Obrigada."
O sujeito fez uma cara de desconfiado e se levantou. Ele avançou devagar até Ravena, e a jovem heroína estava tão paralisada pelo medo que não conseguiu evitar a aproximação. Quando deu por si, ele estava bem na sua frente. "Se quiser, posso te dar uma carona. Só vou terminar meu café."
O som de uma buzina fez a mulher que estava debruçada sobre a pia olhar de relance para a janela e sorrir.
"Acho que não será necessário, Wilson!" Ela falou e deu uma piscadinha para Ravena. "Parece que a Rachel já tem carona!"
O homem ficou nitidamente desanimado e tornou a sentar à mesa e abrir o jornal. "Por que é que tenho a impressão de que estamos te perdendo para esse garoto, hein? Ah, de qualquer forma... até mais tarde, mocinha. Boa aula para você!"
Ravena não entendeu direito o que ele quis dizer com 'perdendo-a para algum garoto' e muito menos com 'boa aula', no entanto não se importou muito. Quando o ouviu se despedir dela, abriu a porta e disparou para fora de casa. Correu até a calçada e estacou assim que viu uma moto preta e vermelha parada na rua.
E, quando pôs os olhos sobre o rapaz apoiado naquela moto, sentiu um alívio imenso.
"Robin." Sussurrou apenas para si mesma e correu até ele.
Ele podia não estar trajando o seu típico uniforme – mas sim roupas normais e um óculos de sol no lugar da máscara –, mas Ravena reconheceria aquele cabelo espetado em qualquer lugar.
"Não sabe como estou aliviada em te ver. Você é a primeira coisa aqui que parece fazer algum sentido." Confessou ela, e o rapaz abriu um sorriso enorme e retirou os óculos escuros, revelando belos olhos azuis. A visão deixou a moça perplexa, não por causa da beleza daqueles olhos, mas sim porque ela não esperava ver o seu líder – que sempre foi tão obcecado em esconder sua verdadeira identidade –, de repente, sem máscara.
"Uau!" Ele exclamou e correu a mão pelo cabelo preto de Ravena, o que deixou a garota ainda mais confusa do que já estava. "Também senti a sua falta."
E então, ele a segurou pela nuca e a beijou.
Bem nos lábios.
"O que pensa que está fazendo?" Ravena conteve uma centelha de raiva e perguntou assim que ele rompeu aquele breve beijo. O jovem riu da pergunta dela e estendeu um capacete cinza rajado de azul à empata.
"Beijando a minha namorada, o que mais?"
"Sua namorada? Desde quando sou sua namorada?" A mão dela tremeu quando segurou o capacete, e Robin franziu as sobrancelhas.
"Desde o ano passado. Rachel, o que está acontecendo? Você está... estranha."
Ravena deu um passo para trás e jogou o capacete no chão. "Meu nome não é Rachel, Robin. E eu não sou sua namorada."
"Robin? O que é isso? Do que está falando?"
Mais uma vez, ela sentiu um calafrio horrível transpassar o seu corpo. "Por que está fazendo isso comigo?" Quis gritar, mas acabou quase chorando.
"Eu não estou fazendo nada!" Ele tentou arrazoar com a jovem, mas Ravena parecia estar fora de si. "E também não estou entendendo. O que houve com você? Brigou com seus pais, é isso?"
"Pare! Pare de falar essas coisas! Eles não são meus pais!" Gritou de novo, apontando na direção da casa. "E meu nome não é Rachel! É Ravena!" Tentou se conter, todavia não aguentou.
Caiu de joelhos no chão, enterrou o rosto nas mãos e começou a chorar forte.
"Caramba, Rachel! Vamos, levante-se." O clone de Robin – que pelo visto não era o Robin que Ravena conhecia – ajoelhou-se na frente dela e a segurou pelos ombros. "Você quer que eu chame os seus pais?"
Ela fez que não com a cabeça.
"Ah, poxa... quer ir para a minha casa, então?"
"Não..." Murmurou, fungando e soluçando. "Só quero ir embora daqui! Quero acordar desse pesadelo! Quero voltar ao normal... eu quero... quero encontrar o Mutano, e a Estelar, o Ciborgue e o Robin de verdade."
O garoto coçou a nuca, sem saber direito o que falar. "Olha, eu não faço ideia do que você está falando, mas se você se acalmar, Rachel, tenho certeza de qu-"
"Pare! Já pedi para parar, Robin! Se isso é algum tipo de peça, de... de trote, eu não sei! Mas por favor, peço que pare."
"Meu nome não é Robin, Rachel! É Richard! Richard Grayson! E eu sou o seu namorado desde o ano passado, quando eu me mudei de Gothan e te conheci no colégio. Poxa vida, o que aconteceu com você? Está agindo feito uma maluca!"
A empata piscou várias vezes e tentou assimilar as palavras dele, mas nada fazia sentido. Fechou os olhos com força e tentou se lembrar de alguma coisa, qualquer coisa, entretanto, apenas uma memória lhe voltava à mente.
O cais do porto. Galpões vazios. Um gatinho verde.
Verde...
Mutano!
"Preciso achar o Mutano." Ela falou de súbito e se pôs de pé, secando o rosto com as costas das mãos. "Ele estava comigo! Sei que ele estava comigo. Eu me lembro dele... e nós estávamos juntos... nós estávamos... estávamos investigando alguma coisa no porto! Sim! Era isso! Tenho certeza!"
"Mutano? Rachel, você não está dizendo coisa com coisa! O que que é um 'mutano'?"
Ainda fungando, olhou bem nos olhos do rapaz e fez o seu melhor para abrir um sorriso confiante. "Eu vou encontrá-lo." Falou, ofegante. "Vou achar o Mutano e descobrir o que está acontecendo... e aí tudo vai voltar ao normal."
E assim, sem esperar por uma resposta, deu as costas ao rapaz e saiu correndo rua afora.
