Chrno Crusade é de autoria de Daisuke Moriyama, todos os seus direitos resguardados.
I don't believe angels
por Pisces Luna
Capítulo I
Era uma noite fria na mansão Havenheit e Satella estava reclusa em seu quarto, deitada sobre as fofas almofadas de penas de ganso e coberta por uma colcha um pouco grossa. O corpo cansado pedia repouso, os olhos vermelhos por não conseguir repousar e o cérebro funcionando a mil por hora. Assim, com os olhos fechados, ela virava-se de um lado para o outro, jogando os cabelos ruivos hora para a direita, hora para a esquerda e tendo que afastar a franja do rosto que estava lhe incomodando e fazia cócegas em seu nariz.
Ouviu as doze badaladas do relógio que ficava na sala de jantar, o som tinha ecoando pelos corredores do enorme local, fazendo-o até parecer um campanário com tamanha intensidade. Não conseguia dormir de jeito algum, sentou-se na cama, depois levou o pé direito ao chão e logo em seguida o esquerdo, sentindo um frio subir-lhe pelas pernas assim que entrou em contato com o assoalho frio. Andou perto do biombo, onde tinha pendurado o penhoar preto, vestiu-se com ele e foi até perto da sacada de seu quarto, abriu as cortinas deixando os feixes do luar adentrarem o recinto.
Começou a refletir sobre tudo que tinha acontecido nos últimos tempos. Relembrou em sua mente o dia em que conhecera as três pessoas que mudaram sua vida para sempre e a deram outro sentido. Três? Na verdade, eram quatro.
Rosette; impulsiva, irritante, metida, briguenta, chata. Porém, determinada e com um senso de justiça muito forte, tinha que admitir.
Azmaria; ingenuidade e doçura que apenas as crianças têm. Via nela um pouco de si mesma refletida no passado, quando ainda era menina e ainda tinha o carinho dos pais e da irmã, antes da tragédia. Depois, ela mudou muito, parecia que o coração havia secado e apenas o desejo incansável de vingança contra todos os demônios a motivava.
E por uma ironia do destino agora era com um demônio que ela dividia o mesmo teto. Chrno. Nunca pensou que o teria como colega de luta.
E por mais que agora nutrisse uma simpatia crescente pelos três, não iria demonstrá-lo de forma alguma. Nunca! Não era da sua personalidade fazer essas coisas.
Entre as diversas situações que enfrentou com os três, algumas em particular lhe marcaram. Como aquela luta no subterrâneo contra o Black dog, que estava matando todos os mafiosos de Nova York. Não foi a situação, nem o monstro, nem as pessoas que morreram que a marcaram, mas as palavras de certa pessoa durante aquela ocasião.
Estavam os três - ela, Rosette e Chrno no esgoto - o cão dos infernos tinha acabado de escapar-lhe pelas mãos por bem pouco. Os dois tentaram intervir e salvaram a sua vida, pilotando uma moto que tinha sido construída por Elder - um cientista maluco que trabalhava na ordem de Magdala – e foi destruída pelo monstro um tempo depois.
Depois de uma discussão habitual com Rosette que na época era para mim a mais insuportável das pessoas, ela e Chrno resolveram prosseguir caminho atrás do Black dog, mas sem a moto era quase impossível alcança-lo. As palavras da bruxa da jóia foram diretas e ríspidas.
- É inútil! O ritual de massacre do Black Dog não vai parar enquanto ele não tiver devorado toda a máfia de Nova York.
- Por quê? - perguntava Rosette - Por que você desiste tão facilmente?
No final, a missão foi concluída, o cão foi contido e os poucos integrantes da máfia salvaram-se. Mas, as palavras daquela freirinha idiota ficaram martelando em sua cabeça durante muito tempo, talvez por isso sempre se lembrasse mentalmente daquelas palavras cada vez que era tomada instantaneamente por um sentimento de desesperança.
Por que você desiste tão facilmente Satella Havenheit? - Perguntava para si mesma na penumbra de seu quarto, movendo-se desconfortavelmente de um lado para o outro, ou olhando para o céu escuro, como se pudesse achar a resposta pregada ali.
Mas, era a quarta "pessoa" que assombrava seus pensamentos. Desgraçado, cretino, insuportável! - pensava furiosamente fechando os olhos e imaginando-o como se estivesse diante dela. Como poderia aquele homem arrancar-lhe as noites de sono? Estava com medo de dormir e revê-lo? Sim, porque sonhava com ele. Sonhava sem nunca ao menos tê-lo visto. Mas, aquela serenidade do olhar não era normal, aquele sorriso simples, aquele jeito tão particular dele. Às vezes achava que não era humano. Na última noite, ele murmurou:
- Estou chegando, Satella.
Está muito quieta - pensava Chrno analisando as atitudes da freira. Ele virou um pouco a cabeça para ver melhor sua expressão. Os olhos perdidos fixos em algum ponto do relógio, as mãos amassavam um pedaço de papel qualquer.
- QUANDO ISSO TUDO VAI ACABAR? - gritou Rosette se levantando de súbito e chutando a cadeira que estava sentada alguns segundos antes – NÃO AGUENTO MAIS ESSE TERRORISMO DO AION!
Chrno deixou-a extravasar, mirando-a. Depois se levantando, ficando diante da garota que tinha acabado de despencar na cadeira novamente, a franja tapando os belos olhos azuis. As mãos dele pousaram sobre os ombros caídos, enquanto a olhava.
- Ás vezes eu entro em desespero e só você para me acudir – falou como em confissão.
- Pare de tentar carregar o mundo nas costas, nós vamos passar por tudo isso juntos.
- Hum... – a loira ergueu o rosto – Tem razão! – ergueu-se de um pulo, ficando um pouco maior que Chrno. – EU SOU ROSETTE CHISTOPHER, EU VOU... Quero dizer... NÓS VAMOS TIRAR ISSO DE LETRA. COMO SEMPRE FIZÉMOS.
- Assim que se fala! – disse indicando com o polegar em afirmação e sorrindo.
Depois um silêncio caiu sobre a sala e Rosette o quebrou um tempo depois.
- SÓ TEM UMA COISA QUE AINDA ME INCOMODA... TER QUE FICAR NESSA MANSÃO ASSOBRADA COM AQUELA OFERECIDA.
- O sentimento é mútuo! – proferiu a ruiva aparecendo no andar inferior trajando um penhoar preto e cumprido até os pés.
- Falando no diabo... – provocou a loira – Bom, se a carapuça serviu bem, quem sou eu para contrariar, não é?! Ouvindo atrás das paredes agora?
- Se você não gritasse feito uma gralha eu poderia estar confortável em meus aposentos, mas parece que faz isso para acordar a casa inteira!
- Vocês duas podem falar mais baixo?
- NÃO SE INTROMETA, CHRNO! – responderam as duas em uníssono com os olhos brilhando de raiva.
O demônio abriu a boca para dizer algo, mas preferiu conter suas impressões particulares para não confronta-las. A freira e a caçadora de jóias poderiam passar uma impressão medonha naquele horário da noite, figuras dignas de deixar qualquer um com medo e não conseguir dormir sem uma fraca luz de lampião para iluminar os ambientes. Oh sim! Elas dão arrepios nesse estado.
Enquanto isso, no andar superior, Azmaria se preparava para descer e tomar alguma coisa (Leite quente é a melhor pedida! – diziam as irmãs da ordem de Magdala). Estava frio naquela época do ano em São Francisco, por isso se deu ao trabalho de vestir roupas quentes.
Aos tropeços, por causa da sonolência, desceu pelas escadas quase não fazendo barulho por onde passava, quando se espantou com o barulho da campainha vindo da porta.
Quem fazia visitas aquele horário da manhã? Pior, quem fazia visitas aquele horário da manhã no momento em que a ordem de Magdala está em guerra com as forças das trevas?
Preciso chamar Rosette! – pensou a menina e se lembrando logo em seguida de que a missão seria dificilmente cumprida, considerando que a freira tinha um sono muito profundo.
Sua segunda opção foi Chrno, mas pensou na possibilidade deste estar vestidos em trajes pouco apresentáveis.
O mordomo era uma possibilidade, mas chegara à mansão á poucos dias e mal conseguiu conversar com o senhor Steiner.
Satella é a opção mais adequada no momento. Deu meia volta nos calcanhares e se preparava para subir, mas no momento que depara com a dona da casa saindo ligeira da sala de visitas e se preparando para abrir a porta se espanta.
"Telepatia?" – pergunta-se a garotinha – "Não!".
- Azmaria? – disse Chrno surgindo da saleta.
- Chrno, o que estão...
- Suba lá pra cima! – disse o demônio apreensivo e seguindo a mulher que acabara de passar diante da escada e seguiu para o aposento ao lado que daria direto para entrada principal. Nos seus calcanhares Rosette vinha apressada, a arma já engatilhada no caso de uma emergência.
Pensou em recuar, mas Azmaria não poderia deixar seus amigos enfrentarem riscos sozinhos. Preferiu ficar e ver o resultado de sua atitude. Aos pulos chegou ao final da escadaria, esgueirou-se silenciosamente até o batente do corredor que daria para a entrada principal e a distância ficou vendo os três em posição de guarda, prontos para atacar a qualquer movimento agressivo.
"Pode entrar, está aberta". – anunciou Satella empunhando seu objeto de combate típica da bruxa das jóias e que carregava sempre consigo. Ela permanecia parada á uma distancia considerável da porta, enquanto Chrno e Rosette estavam um de cada lado do batente, prontos para atacarem.
A porta se abriu devagar e uma voz conhecida dos membros do convento foi pronunciada em alto e bom tom.
- Perdoem-me o inconveniente de aparecer tão tarde da noite, mas devo dizer que não esperava ser recebido com uma "arma" apontada pra cabeça.
Satella entreabriu os lábios ao ver a figura que adentrava sua mansão. Um espécime peculiar de, aproximadamente, 1,80 m e pele de um tom meio opaco. A roupa pesada de tom escuro escondia um corpo que estava longe de ser esguio e algum vestígio de músculos pouco desenvolvidos podia ser notada, junto com os ombros largos e fortes. Os olhos azuis eram muito bonitos e os cabelos loiros curtos era a moldura do rosto ideal para um homem como aquele que continha uma expressão divertida e ao mesmo tempo serena sem vestígios de preocupação. E o pior - ou melhor - feições que ela conhecia muito bem...
- PADRE REMINGTON? – berraram Rosette e Chrno ao mesmo tempo – O QUE O SENHOR FAZ AQUI?
- Visita! – respondeu sorridente – Irmã Kate está muito irritada com os últimos acontecimentos, ela pediu para que eu viesse aqui e visse como vocês estão indo.
- E isso tinha que ser ás três da madrugada? - perguntou Rosette incrédula - Como vou saber se você é quem diz que disse que era?
- Que confusão com as palavras - replicou Chrno - Mas, você tem razão. Como saberemos?
- Padre? - Azmaria apareceu por detrás da parede.
- Não se aproxime, Azu - pediu Satella ainda com o braço empunhado em posição de ataque.
- Não acredita em mim?
- E porque deveria se nem o conheço?
- Já teria atacado se quisesse ferir algum dos presentes!
- Não se estivesse tentando ganhar nossa confiança para se embrenhar no nosso meio. TIRE AS MÃOS DO BOLSO DEVAGAR! SENÃO, EU JURO QUE ACABO COM VOCÊ.
O padre fez o que foi pedido e ainda com vestígio de divertimento na face não ousou em desobedecer às ordens que eram estipuladas.
Satella ficou olhando-o, com um misto de admiração e desconfiança. Um tempo depois, ele disse:
- Posso abaixar meus braços agora? Essa posição está meio desconfortável...
- Faça isso e estouro seus miolos.
Azmaria se aproximou de Rosette que a forçou para trás, para que se afastasse. A menina obedeceu sem muita confiança e um pouco de medo, mesmo sendo a figura do padre e o fato de Satella estar sendo tão violenta.
A garota desviou-se da freira que a segurava - sobre protestos da mesma, mas que não fez nada para impedir - e se aproximou do homem, ficando assim a uma pequena distância do campo de tiro.
O homem olhou para baixo e ela colocou as duas mãos delicadamente no rosto do Padre que se abaixou, ficando no mesmo nível. Eles se encararam por um tempinho, Azmaria continuava com o jeito terno habitual, mas sem sorrir. Visivelmente com assustada e tremendo um pouco os braços, mas ela tinha que aprender a superar seus medos e era isso que iria fazer.
Satella olhava a cena perplexa, irritada por não poder fazer nada e preocupada por tudo que estava se sucedendo diante dos seus olhos. Com uma vontade inevitável de invocar o monstro da jóia, mas incapacitada por um momento.
Foi tenso durante os quase dois minutos que a cena se sucedeu.
- Qual é? Estão brincando de sério é? - perguntou Rosette já se cansando.
- Rosette! - murmurou Chrno com um sorriso leve nos lábios finos.
O martírio terminou quando Azmaria pronunciou, por fim.
- É o padre Remington - disse feliz.
- É um prazer revê-la, Azmaria! - ele disse sorrindo, tirando as mãos delicadas de seu rosto e as segurando entre as suas - A ternura que você transmite é realmente acolhedora.
- Insisto, como você sabe? - perguntava Satella ainda descrente.
- Quer duvidar dela? - dizia Rosette sarcástica - Ai, mas como você é desconfiada hein?!
- NÃO QUERO AMANHECER COM A CABEÇA EM BAIXO DA CAMA, SUA FREIRA PETULANTE! - respondeu irritada.
- ELE NÃO VAI NOS ATACAR! SUA METIDA!
- IDIOTA!
- RUIVA DE BOTICÁRIO!¹
- O QUÊ?
- Vai começar tudo de novo... - suspirou Chrno parecendo cansado - Eu acredito em você, Azu. Bem-vindo, Padre!
- Tem cuidado bem das meninas, Chrno? - perguntou estendendo a mão para ele.
- Sim, só ainda não descobri um modo de apartar a briga dessas duas - apontou para as próprias costas e as duas mulheres estavam prestes a se engalfinhas.
- Compreendo...
- EU ODEIO VOCÊ, ROSETTE CRISTOPHER!
- POSSO DIZER O MESMO, SATELLA HERVEIHT!
- Elas parecem que estão sempre brigando - falou Azmaria compactuando com os mesmo sentimentos de Chrno - Isso me chateia, um pouco.
- Como vai à ordem de Magdala?
- Tudo sobre controle... Por enquanto! Recebemos informações sobre uma possível localização de Aion e, consequentemente, Joshua.
- Joshua? - falou Rosette parando a briga com Satella assim que ouviu a última palavra - Onde?
- São só suspeitas, mas acho que pode estar não muito longe de São Francisco - ele suspirou - Então, acredita que sou eu mesmo?
- Rosette, olhe nos olhos dele! - pediu Azmaria terna - Tenho certeza que vai acreditar.
A freira atendeu ao que foi dito e todos na sala ficaram em silêncio, enquanto eles se encaravam.
- Hahaha... Droga! Perdi! XD - falou aos risos.
- NÃO ME DIGA QUE ESTAVA BRINCANDO DE SÉRIO COM ELE? - rugiu Satella chocada com a revelação - Eu não sei o que ainda faço aqui vendo vocês fazerem e falarem bobagem.
- Nos também não sabemos o porquê você estar aqui, já que vive reclamando!
- Esta é a minha casa, Cristopher. E é melhor falar baixinho, meu mordomo é que lava suas anáguas.
Rosette estava vermelha de raiva, mas não de vergonha, pois isso não era problema para ela, considerando que era a pessoa mais descontraída e irreverente que poderia se conhecer na vida.
- Você é uma mal-humorada, Satella - respondeu fazendo beicinho e mexendo os ombros - Não ligue para ela - disse Rosette agarrando o braço do padre para si.
- X-D Ro-roset-te! - balbuciou Chrno espantado com a audácia da moça, sem falar Azmaria que ficou lívida de vergonha.
- Primeiro preciso ser apresentado à dona da "pequena" casa - disse irônico.
- Hum... Certo - suspirou a loira desapontada - Esse é Padre Remington, membro importante da ordem de Magdala. Padre Remington, isso é Satella! - aponta para a ruiva que a encarou com os olhos cheios de ódio.
- Prazer, senhorita. Devo supor que não é casada para que eu a trate por senhora - vai diante da mulher e faz uma pequena reverência e pegando uma das mãos dela, para aplicar-lhe um beijo dócil.
Ela ficou sem palavras com a gentileza mesclada de audácia do homem loiro, mas mal os lábios quentes encostaram-se à costa de sua mão gélida e ela puxou o membro a força, para afastá-lo dele. Era um sinal óbvio que estava incomodada com sua presença naquele lugar.
- Sou encarregado da Ordem de Magdala e, como acabaste de ficar sabendo, venho para trazer informações a irmã Rosette e seu ajudante Chrno. Devo pedir desculpas por não ter avisado de minha chegada, mas uma eventual mensagem poderia ter sido extraviada. Por isso, uni o útil ao agradável e optei por fazer uma surpresa.
O homem já estava de pé. Era um pouco mais alto que ela, obrigando-a a erguer um pouco o rosto para fitar o semblante do mesmo. Mas, continuou calada enquanto ele, sem pudor algum, prosseguia seu relato.
- Talvez eu não seja tão bem-vindo como pensei precipitadamente, mas sequer poderia ser considerando que sou praticamente um intruso em sua morada. Mais uma vez peço desculpas.
- Aceitas - replicou.
- Se não fosse abusar, gostaria que me cedesse um quarto por essa noite e amanhã pegarei a estrada. Estou definitivamente cansado e duvido que algum hotel na cidade me acolha esse horário.
- Certo! Temos um quarto de hóspedes e não verei problema em cedê-lo. Mas, que fique claro uma coisa: eu não fui com a sua cara.
- Que pena! Fui muitíssimo com a sua! - ele sorri simplório - Agradeço a acolhida. Rosette e Chrno, falo com vocês depois. - pega uma pequena mala de viagem e sobe ao andar superior – Azmaria? Poderia me indicar o quarto de hóspedes? Não ouso dar mais trabalho a dona da casa.
- Sim - disse a menininha olhando nervosa para Satella e depois indo atrás do padre.
- Boa noite – falou tranqüilo, subindo o fim da escada e sumindo no corredor superior com Azmaria em seus calcanhares.
Rosette soltou um suspiro e depois se virou para a outra mulher.
- Viu o que você fez? Deixou-o amuado.
- E quem disse que eu me importo? - respondeu com selvageria
- Está tudo bem, senhorita Satella?
Todos se viraram na direção oposta e deram de cara com o mordomo, vestindo um enorme roupão grosso sobre o pijama que tinha pernas cumpridas. Apesar do horário, ele não deixava de faltar com, o que considerava suas obrigações.
- Ah, acordamos você? - perguntou Satella parecendo sentida finalmente com a gritaria.
- Nada com que deva se preocupar. Só lamento não ter levantado a tempo para atender a porta.
- Tudo bem. Aproveitando, faça-me um chá, Steiner! - falou andando em sua direção para chegar a cozinha.
Rosette revirou os olhos por causa do pedido, pois nem nesse horário a mulher dava sossego para ninguém.
- Você é uma mimada - e saiu na direção oposta, subindo as escadas às pressas.
- Ela não quis dizer isso, Satella - falou Chrno tentando amenizar o gesto.
- QUIS DISSER SIM! - gritou do segundo andar, fazendo-os se assustar.
- Hehe... Com licença! - e vai atrás da amiga.
- Aiai, que noite! - respondeu massageando a fronte - Vamos, Steiner!"
- Sim, senhorita!
A mulher sentou-se em uma cadeira no canto da cozinha e enquanto via-o preparar o chá, desabafou sobre o estranho que acabara de chegar inesperadamente.
- Ele me parece ser um bom homem, senhorita! - disse fervendo a água em uma chaleira - Pelo menos, pareceu de relance...
- E desde quando você consegue ver a personalidade das pessoas através do perfil delas? - perguntou sarcástica e irritada.
- Eu gostaria de ter sido fotógrafo, senhorita. Sempre fui bom em captar o melhor ângulo das pessoas.
- Steiner!
- Haha... Porque você não gostou dele afinal?
- Eu acho que ele pode ser um... Demônio. - replicou enigmática com uma pontada de seriedade - Não confio nele.
- Para mim me parece um homem normal.
- Homens normais não aparecem nos sonhos das pessoas - falou quase sussurrando, mais para ela mesma do que para o outro acompanhante.
- Como disse, senhorita? - perguntou não entendendo o que a outra havia pronunciado.
- Nada! Dê-me o chá! - pediu estendendo as duas mãos e as mangas do roupão rolaram pelo braço, até chegarem ao cotovelo.
- Você só o viu uma vez, imagino que terão tempo para conversar com mais calma.
- Não muito tempo. Ele diz que irá embora amanhã mesmo.
- Rápido.
- Isso mesmo, eu desconfio de tamanha rapidez - disse assoprando o líquido e tomando um gole da bebida fumegante.
- A senhorita desconfia de todos.
- Não perguntei, Steiner.
- Desculpe, senhorita! Mas, me permito tomar certas liberdades por já conhecê-la desde pequena.
- Eu sei. Não precisa se desculpar, eu estou um pouco nervosa e cansada.
O relógio da sala de visitas tocou alto, dando duas badaladas, indicando o horário que já se anunciava.
- Vai amanhecer logo, eu vou me recolher - a mulher virou o que sobrou na xícara de encontro a sua boca e depois se levantou da cadeira - Até daqui á pouco, Steiner.
- Até daqui á pouco.
E a moça subiu rumo ao seu quarto.
N/A: Minha primeira colaboração nesse fandon e espero que os leitores gostem dessa fanfic de Chrno Crusade que, se tudo der certo, será a primeira de outras que virão.
A idéia de escrever sobre esse casal me veio enquanto eu assistia o animê: Estava dando uma cena em que a milícia da ordem de Magdala vasculhava um parque e apareceu o Remington. No momento seguinte, a cena foi "cortada" e apareceu a Satella, ou vice-versa, não me recordo direito.
Eu fiquei deslumbrada com a idéia de algo do tipo e a partir daquele momento me apaixonei por esse casal muito pouco provável. Questione-me se Remington não ficaria melhor com a irmã Kate, mas acho que com o contraste entre as personalidades ficaria melhor assim.
Outra coisa, como vi o animê há muito tempo, não me lembro de alguns detalhes, por isso estou revendo as partes que acho mais cruciais. Por isso, compreensão é sempre bom caso eu cometa algum erro. Então, me baseio na versão animada e por isso pode ter alguma divergência com o mangá, isso eu não sei bem ao certo.
E rewiens são sempre muito bem-vindas. Se tiverem uma crítica ou uma sugestão podem me mandar que irei ler com muita atenção.
Atenciosamente.
Pisces Luna
23/01/07
