O silêncio que se instalou na sala era tão profundo que chegava a doer.
- Tudo bem – sorriu – eu já espera por isso.
Draco Malfoy apenas deu meia volta e saiu da sala o mais rápido possível.
- Nossa, eu achava que seria mais difícil.
Blaise se desencostou da parede e Pansy se levantou da cadeira.
- Escuta aqui, Potter – ele disse fitando a parede - Amanhã Dumbledore vai contar a escola sobre Draco, mas ninguém precisa saber o que se passou aqui! – rumou para a porta e saiu.
- É! Não precisam jogar isso na cara de Draco, nem brincar com isso – Pansy avisou olhando pela janela – Já é bastante difícil pra ele.. Não... Não tenha pena Potter, ou qualquer sentimento grifinório estúpido, isso só irá piorar as coisas. - terminou de falar e se retirou da sala.
- Merlin! O que acabou de acontecer aqui? – perguntou Rony estupefado, enquanto caminhava pela sala de aula vazia.
- Ora, Rony, exatamente isso que você está pensando. – afirmou Hermione calmamente.
- Eu não acredito que o Malfoy é um Veela, muito menos... Muito menos que... - Harry perdeu a fala, enquanto sentava na cadeira.
- Eu já esperava por algo assim, só que não com Harry. – suspirou Hermione se sentando perto de Harry.
- Você já sabia que Malfoy é um meio-Veela? – Harry perguntou, não totalmente surpreendido, Hermione era inteligente demais para não notar.
- Estava óbvio demais – afirmou – A partir do 13° aniversário, as primeiras mudanças começam a aparecer, os cabelos começam a crescer, as feições mais delicadas, a voz mais aveludada, isso porque ele é um submisso.
Harry e Rony continuaram calados e ela continuou.
- Ele também ficou mais gentil, menos arrogante e foi praticamente para zero as vezes que implicava com a gente ou qualquer outra pessoa, e bem... – Hermione corou levemente – Malfoy sempre foi atraente por si só, mas vem ficando irresistível a cada dia, a herança Veela é recebida aos 16 anos, mas não entendo porque e como ele resistiu esse tempo todo, já estamos no início do nosso sétimo ano.
- E porque ele me escolheu como seu parceiro? – perguntou Harry curioso.
- Bem, pelo que eu li, um Veela, após seu 16° aniversário escolhe seu parceiro, por um conjunto de fatores que eu, sinceramente, não sei quais são, eles podem ser dominante ou submisso, tenho que pesquisar mais. - informou a castanha.
- Bem - suspirou Harry, bagunçando mais ainda os cabelos – Espero que ele encontre outro parceiro, dominante... Submisso.. Conjugue ou o que for.
- Não Harry! Quando um Veela escolhe seu companheiro, é pra vida toda, Veelas só se entregam a uma pessoa na vida, e ninguém mais.
o.o.o
Harry estava na janela de seu dormitório com Edwiges ao seu lado. Era muita informação de uma vez só.
Draco Malfoy era um meio-Veela. Escolheu Harry, como seu companheiro,que recusou (mesmo que não houvesse um pedido formal, mas nem ao menos Harry quis tentar.), Malfoy não se relacionaria com mais ninguém se não ele, Harry não sabia se conseguia se imaginar confraternizando com o...Não! Ele não era gay, ou acreditava não ser, estava confuso, bastante confuso.
Ficou acariciando sua amada coruja por um tempo.
- O que você acha que eu devo fazer, hein garota? – perguntou carinhosamente. O animal piou baixo e olhou pela janela.
- Quer voar um pouco? Tudo bem, mas não demore, deve chover hoje à noite, vou deixar a janela aberta pra você – abriu a janela e viu a coruja branca desaparecer na noite escura.
o.o.o
- Você já sabia que isso ia acontecer não é?
Blaise suspirou e caminhou até a cama do amigo, que abraçava os joelhos e escondia o rosto entre eles.
Sentou-se e alisou as longas madeixas, que agora já passavam um pouco do quadril do Veela. Draco soluçou e deitou a cabeça no colo do amigo, que continuou a acariciar seus cabelos quase brancos.
Blaise era um bom amigo, assim como Pansy, ficaram ao seu lado desde o inicio e o apoiaram em sua decisão. Draco sabia que eles eram amigos verdadeiros, não estavam com ele pelo nome ou por se atraírem por seu sangue veela. Blaise era uma das pouquíssimas pessoas que podiam tocá-lo, e isso, era um sinal de confiança, aceitação e respeito.
Blaise lhe entregou a poção, o ajudou a se acomodar na cama e beijou sua testa antes de fechar o lado da cortina, que dava para o resto do dormitório, deixando o outro lado livre para a grande janela.
Olhou pela janela e respirou profundamente. Não podia ser diferente, podia? Realmente fora tolice de sua parte, chamar Potter numa sala deserta e lhe contar que ele era seu escolhido. O rapaz pareceu tão assustado que murmurou um não, tão baixo, mas foi o suficiente para rasgar Draco por dentro. Deveria ter tentado uma aproximação mais sutil, ganhar a confiança dele, mas seria como traí-lo, se aproximar por interesse e sem levar em conta que Harry jamais aceitaria sua amizade, já havia recusado uma vez, provavelmente suspeitaria que a aproximação fosse uma armadilha ou coisa do tipo.
Realmente não havia outro jeito, Blaise e Pansy já o haviam avisado, ele já sabia, mas ainda assim, uma fagulha de esperança queimava em seu peito, e naquela noite após o jantar, essa fagulha foi totalmente apagada. Agradeceu mentalmente pela Poção do Ocultamente, aqueles sentimentos de tristeza, vazio, decepção, desespero e dor, muita dor, na manhã seguinte seriam como se tivessem acontecido anos atrás, ocultos nas profundezas do seu coração.
Vencido pelo cansaço, Draco adormeceu em um mundo de sonhos onde "nãos" e Harry apareciam.
o.o.o
Foi o primeiro a entrar e o primeiro a sair do Salão Principal, não queria ver os olhares curiosos e os cochichos sobre si, ainda mais agora com sua herança veela, totalmente liberta provavelmente, alguém tentaria agarrá-lo, só de imaginar alguém, que não Harry lhe tocando lhe causava náuseas.
Harry. Como a vida podia ser engraçada, não? Aquela maldita atração que tinha pelo moreno era isso afinal? Um ano. Um ano escondendo seu sentimento, seu impulso. Se não fosse o feitiço de Dumbledore, ele não sabia o que iria fazer.
Sentou-se sob uma árvore, perto do lago, e começou a ler um livro de Poções, definitivamente Poções o ajudava a esquecer as coisas.
- Posso me sentar com você? – uma voz soou atrás da arvore.
- O que você quer Granger? – perguntou acido olhando a jovem afastar algumas folhas e sentar ao seu lado.
- Você deveria ver a cara das pessoas quando Dumbledore anunciou sobre você.
- Imagino – respondeu seco.
- Olha, Malfoy, eu só quero entender – sorriu gentilmente.
Draco suspirou, e colocou o livro de lado, aquela seria uma longa conversa.
- Começou após o meu terceiro ano, Potter me atraia de um jeito estranho, e isso me enraivecia, após um tempo, meu pai me ajudou a compreender e ao que tudo indicava, ele era o meu Escolhido.
- Tudo o que?
- Primeiro, a atração natural que ele exercia sobre mim, depois o cheiro e por ai vai...
- E como você pretende lidar com isso tudo? – perguntou com curiosidade genuína.
- Francamente, Granger, eu não sei – suspirou, já tinha falado demais, provavelmente, ela iria correndo contar tudo ao grifinório.
- Não se preocupe Malfoy não vou contar nada a Harry, mas o seu caso me deixou curiosa, só conheci uma Veela, mas nunca pude conversar sobre isso.
Hermione suspirou, como explicar ao Malfoy que ela só queria ajudar e...
- Obrigado – respondeu o loiro, se levantando, e ajeitando as vestes.
- Pelo que? – se levantou também, rumando para castelo ao lado do loiro.
- Por tentar entender sabe – sorriu – parece que não, mas é difícil ser um veela, principalmente com muitas pessoas se aproximando por interesse, são raras as que se aproximam por amizade.
- E como você sabe que só me aproximei por amizade? – sua curiosidade falou mais alto
- Seu cheiro é o mesmo de quando está com Potter, diferente de quando está com o Weasley – Draco sorriu quando a castanha corou furiosamente.
- Então podemos ser amigos... Ou.. Tentar...?- estendeu a mão para o loiro.
Draco analisou a mão estendida, e após um minuto a apertou, Hermione sorriu, sabia o que significava aquele toque. Sua intuição dizia que estava no caminho certo.
o.o.o
Hermione era uma menina esperta, mas não só por causa dos livros, mas sim por saber enxergar além dos fatos apresentados. Foi assim que sua amizade com Draco Malfoy floresceu. Aprendeu sobre o mundo Veela, sobre Sonserinos, sobre a filosofia do sangue-puro.
Dois meses depois, Blaise Zabine e Pansy Parkinson se mostravam bem receptivos, deixando todos os seus conceitos sobre eles caírem por terra, aprendeu que sonserinos usam máscaras para se proteger e que é uma arte enxergar através delas. Ganhou três novos e maravilhosos amigos, e era por causa dessa amizade que ela brigava com Draco:
- Você não pode continuar assim, Draco – vociferou Hermione para o loiro, enquanto eles estavam em mesa mais afastada na biblioteca.
- Você não entende? – rosnou Draco sem tirar os olhos do livro a sua frente – Assim é mais fácil.
- Mais fácil como? Você esta deixando de viver por causa disso, e isso é errado. Por Merlin! Há semanas você não aparece no Salão Principal, Draco. SE-MA-NAS! Você tem que se acostumar e superar...
- NÃO DÁ PRA SE ACOSTUMAR COM ISSO, OK? – Draco gritou de uma maneira controlada, mas era claro que estava quase saindo do controle, fazendo a castanha se calar, e recebendo um bando de "shhiiis" enraivecidos.
Draco abaixou a voz, fazendo-a sair dolorida, porém séria.
- É algo com a qual você não se acostuma. Eu posso sentir a presença dele em cada canto do castelo, é tão forte que chega a ser irritante, eu posso sentir o cheiro a distância, e muitas vezes, tenho que mudar meu caminho para não topar com ele e tentar seduzi-lo a qualquer custo. – o loiro suspirou, e olhou para o teto antes de se voltar novamente para ela – Eu não quero que ele fique comigo por obrigação, ou por pena, quero que seja por livre e espontânea vontade, como sei que isso não vai ocorrer, prefiro me distanciar – ele baixou o olhar – Dói menos.
Aquelas palavras atingiram Hermione de um jeito diferente, a dor da rejeição nos olhos nublados mostrava como aquele sentimento era belo e forte.
Draco tirou um pequeno saco de veludo azul do bolso e entregou para a menina
- Entregue isso a Harry, assim ele se tornara parcialmente imune ao meu encanto – ele disse num meio sorriso – Assim se eu sair do controle, ele poderá me deter. Esta bem assim?
Hermione não conseguiu responder, pois Draco já catava fervorosamente seu material e andava o mais rápido e elegantemente possível para a saída e nem um minuto depois Harry entrava na biblioteca.
