Thorin
Seus olhos vagavam pelas cores e sons da cidade e ele pensava em como seu coração havia ficado tão duro. Fili e Kili olhavam maravilhados às atividades, se divertiam e riam levando todos os membros da companhia em sua alegria. Todos menos um. Quando foi que Thorin escudo de carvalho tinha se tornado tão seco a tudo à sua volta? Faziam dois anos que Erabor havia voltado para o anões. Dois anos! A Montanha Solitária e seu esplendor inquestionável voltou a iluminar a terra média, mas o coração de Throrin parecia não estar satisfeito com nenhum de seus feitos. Dain prosperava também, e nessa nova era para a cidade os humanos, elfos e anões haviam concordado em celebrar anualmente a queda de Smaug com um novo festival, o dia dos três exércitos. Neste dia, os governantes de cada um dos três exércitos e suas cortes se encontrariam em um local escolhido para comemorar. Neste ano, o banquete, a festa e as comemorações ficaram ao encango da cidade de Dain, outrora destruída por Smaug.
O Rei sob a montanha deixou seus olhos vagarem pelas pipas coloridas, barracas com guloseimas perfumadas e lamparinas brilhantes que aqueciam a cidade naquela manhã fria. Suas botas faziam um ruído ao tocarem nas calçadas de pedra, mas o som era abafado pela algazarra à sua volta.
Foi então que seus olhos foram atraídos por uma figura pequena que se abaixava em um canto escuro e sujo de um beco. Era um menino e ele estava procurando algo no chão. Antes que o Rei sob a montanha pudesse conjecturar o que chamou a a atenção da criança, ele viu o menino pegar um osso de galinha, quase seco e leva-lo a boca.
Foi então que Thorin enxergou as roupas dele, rasgadas e sujas de lama, sangue e algo amarelo. Os anões não são conhecidos por sua generosidade, e o Rei sob a Montanha havia sido acusado de estar tão doente por ouro como seu avô esteve, mas alguma coisa fez com que Thorin, filho de Thain, filho de Thror estendesse a sua generosidade para aquele menino, naquele momento. Ele nem se deu conta, do momento em que estirou a mão e pagou por um pedaço de pão, tudo que ele via eram as costas magras e encurvadas do menino, que tremiam levemente. Não se deu conta de como seus companheiros de jornada e a corte recém formada de Erabor paravam a sua volta, sem compreender o motivo por trás do comportamento de seu rei. Tudo a sua volta havia dissolvido. As únicas coisas que restavam eram ele e o menino.
Pressentindo a aproximação de alguém o garoto se virou e ao olhar em seus olhos, Thorin congelou. Eram olhos de um castanho-amarelado, âmbar e amendoados. Quando Thorin encarou o garoto, os olhos que o encararam de volta não eram olhos de um garoto inominado, da cidade de Dain. Eram os olhos de Mírië. O anão sentiu o tempo parar.
