Sussurros.

Eu não escuto nada além deles.

Sussurros tristonhos, sussurros de pessoas que tinham muito ainda para viver.

É assim que é a morte? Um nada indolor, mas sem objetivo? Tantas almas esperando o fim do tempo, para depois continuarem a esperar o fim do mundo?

Se isso é a morte, para que morrer? Para que continuar morto?

Eu me lembro claramente da oferta.

O centauro me ofereceu a morte. A outra opção era me juntar a eles.

Será que é tarde demais? Será que agora eu tenho que ficar para sempre aqui? Ou será que eu ainda tenho uma saída? Eu posso ainda ser parte deles? Me juntar ao exército que me derrotou?

Eu vejo uma luz. Um ponto brilhante em frente. Olhando para ele, eu vejo o mundo. Eu vejo uma chance. Eu tenho certeza que aquele é o caminho.

Mas, se aquele é o caminho, por que as outras almas fogem dele? Por que eu sou o único que não teme?

A luz me chama. Tenho que segui-la.

Eu vou em direção ao mundo, no sentido oposto ao das outras almas. Eu consigo sentir que elas me olham como um louco, mas eu sei que devo me manter no caminho. Eu não posso hesitar, ou então eu perderei o mundo. Eu não quero perder minha vida.

Eu posso estar morto, mas ainda assim quero viver, e não vou deixar minha chance passar.

O mundo se aproxima. O que primeiro era um pequeno ponto de luz à distância, perdido no meio da escuridão, agora é terra. Não me importa onde eu vou parar, qualquer coisa é melhor que a morte.

Eu abro meus olhos.

Imediatamente, percebo ter voltado. Eu estou de volta ao mundo, eu tenho meu corpo novamente.

Outra coisa que percebo é quão frio eu estou.

Eu posso estar vivo, mas meu corpo não está. Essa maldição é algo que eu vou ter que aceitar. Não é um preço alto, já que eu estou de volta à vida.

O centauro me cumprimenta. Eu me ajoelho em frente a ele, jurando fidelidade. Ele faz um som que eu nunca esperaria vindo de uma criatura tenebrosa como aquela em um momento tão solene. Ele ri. Não uma risada malévola, nem uma risada falsa, mas uma risada de puro contentamento.

Ele me manda levantar, falando que eu não preciso me abaixar perante a ele. Segundo ele, ele apenas é um comandante militar, e não estamos em guerra.

Eu me ressalto ao ouvir o "estamos" que ele usou. Eu posso ter voltado nesse exato momento, mas ele já sabe que sou um homem dele. E eu fico feliz com isso. É óbvio que esse bando guerreiro que ele lidera é um bom lugar para se lutar.

Ele anuncia a todos que estamos voltando. Essa pergunta me deixa curioso, fazendo-me perguntar:

-Voltando para onde, senhor?

Os guerreiros olham estranho para mim. Todos percebem que eu sou um recruta novo, e por isso não mais estão à vontade. Eles devem achar que eu ainda não sou leal.

Como eu queria poder provar minha lealdade.

Após alguns momentos, porém, o centauro me responde:

-Para onde? Você deveria saber para onde. Só tem um lugar nesse mundo onde nó podemos viver.

Eu me lembro agora.

Partes do meu passado passam pela minha mente. Lembranças de notícias sobre um lugar terrível, um lugar onde apenas os não-vivos prosperam.

Que ironia, eu indo para lá por vontade própria. Eu estava lutando contra os habitantes de lá há momentos.

- Estamos indo para as Ilhas das Sombras, novato. Mas não se preocupe, lá é um lugar tão bom quanto outro qualquer.

Eu sorrio, junto do centauro.

Não, junto de meu comandante.