Mais uma. Presente pra Maika. Baseada no Degél, de Lost Canvas. Se ela chegar até esse ponto sem ter preparado um bom comentário, haverá represálias.

Brincando, apenas.

Mas não duvidem do poder das represálias.

Execução

Era um dia nublado. O ar estava pesado, havia parado de chover a poucos instantes, e ainda assim a praça estava cheia de curiosos, apesar da imundície em que se encontravam as pedras toscas do chão, cobertas de barro e lama.

Mas, é claro, não seria qualquer chuvinha que afastaria essa multidão das duas execuções agendadas para a manhã, não é? Kamus ajeitou sua gola mais uma vez naquela manhã, nervoso como raramente havia se sentido.

Deus, como eles eram jovens! Tanto o rapaz quanto a moça mal pareciam ter 15 anos. E, ainda assim, morreriam naquela manhã, a não ser que recebessem a graça de um indulto real, o que era quase impossível de acontecer. Pois o rei havia concedido apenas um indulto em seus anos como monarca da França.

Duas crianças, acusados de heresia, agitação e sabe-se Deus mais que absurdo. Uma menina de longos cabelos loiros e um jovem de cabelos castanhos arrepiados, que olhavam para aquele patíbulo com um ar desafiador.

Será que eles sabiam o que estavam desafiando? O poder de toda a monarquia da França, uma das mais antigas da Europa? E, além disso, o poder atemporal da distante Roma?

O carrasco se aproximou e cobriu a cabeça de ambos com sacos de tecido grosso, que não abafariam gritos, mas que ocultariam expressões de dor. Era tremendamente estranho ver a passividade com que submetiam aquilo. Kamus tentou gritar, mas sabia que qualquer protesto cairia em ouvidos dispostos apenas a escarnecer ou a incluir mais uma pessoa no patíbulo.

Eles foram conduzidos até os dois laços de corda rústica, que rapidamente foram passados em torno de seus pescoços, sobre as vaias e o escárnio da multidão. E então a praça pareceu silenciar-se, quando duas cortinas, na varanda do segundo andar de uma das casas em torno daquela praça foram afastadas, para dar visão ao monarca da França e seu séqüito de nobres.

Kamus fixou seu olhar no rei, no imperador e deixou que toda sua frustração fosse transmitida. Era errado, muito errado, exigir a morte de dois jovens por piores que fossem os crimes cometidos, por terem apenas tentado salvar o mundo.

Mas então o carrasco puxou uma alavanca e ouviu-se apenas um ranger de madeira e corda e o silêncio da multidão mudou-se lentamente de assombro para expectativa, apenas. Os jovens pareceram tremer por alguns instantes para finalmente pararem de se mexer completamente.

E Kamus percebeu que ele mesmo tremia com as convulsões que se esperavam dos dois jovens. Pois os olhos do rei da França, do Imperador do Inferno estavam fixados diretamente nele, no cavaleiro de Aquário, e a multidão transformava-se em vultos que gritavam de dor, cujas roupas e carne espalhavam-se como farrapos pelo chão, e o que parecia um dia nublado, tornou-se noite e treva eterna, e a própria praça de pedras desiguais letamente deu lugar ao basalto sólido e negro e...

Os olhos verdes como a morte estavam fixados nele.

- Levante-se, Kamus de Aquário. Pois pelo meu poder lhe concedo vida novamente, vida essa que empenharás em meu serviço. Deixai o sono gentil da morte e vá até o santuário, de onde me trarás a cabeça de Athena.

Kamus engoliu em seco, e se viu limitado apenas a assentir, mudamente.

Porque execução remete a ordem, não apenas a morte dos dois jovens. Saori e Seiya, bem entendido.