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Capítulo I

- Neji-san?? – perguntou Hinata, ao notar a súbita distração do primo. Este sacudiu de leve a cabeça.

- Desculpe, Hinata-sama. Eu me distraí... pode repetir o que estava dizendo? – disse ele. Neji tinha se distraído ao olhar nos olhos dela.

Apesar de serem idênticos aos seus, era como se os olhos dela tivessem algo diferente, como se os dela emitissem um brilho completamente diferente do que havia nos de qualquer Hyuuga ou de outra pessoa.

Talvez os olhos dela fossem normais. E o "problema" fosse com ele, com Neji. Talvez somente ele estivesse enxergando este brilho em Hinata-sama.

Aquilo tinha começado desde que Neji a vira treinar algumas semanas atrás. Não pela primeira vez, claro. Mas depois de muito tempo afastado deste costume, ele o fez. Sem interesse em jutsus, sem interesse em movimentos. Mas sim, interessado na garota de longos cabelos azuis que treinava com tanto afinco naquele dia. Algo estava errado, ele notou.

FLASHBACK

Hinata socava e chutava o boneco há horas, com uma expressão de raiva contida no rosto, e onde seus punhos batiam, ficava uma marca vermelha. Tão de perto, onde Neji estava, ele podia sentir o cheiro doce de sangue.

Neji nunca a vira com aquela expressão. Era surpreendente que tanta raiva podia existir em alguém como ela. Era como se a menina estivesse fazendo aquilo inconscientemente, como se quisesse estar sozinha e gritar. Mas ao invés disso, espancava um boneco de treinamento como se sua vida dependesse daquilo.

"O que a leva a fazer isso? Apenas a vontade de se provar? Apenas a vontade de mostrar que herdaria a liderança deste Clã, e o faria com êxito? Todo grande ninja treina com dureza, mas Hinata-sama é... especial. Não é justo ela mesma se machucar assim.", pensou, contradizendo o que ele mesmo pregou durante tanto tempo em sua vida; queria que Hinata parasse de treinar, cuidasse de suas mãos e o resto de seu corpo.

- Hinata-sama? – disse ele, baixinho, saindo detrás dos arbustos que o cercavam. Hinata não se virou de imediato, mas parou por um instante e murmurou:

- Neji-san. – e se virou para encará-lo, o rosto extremamente rosado pelo treino, ofegando. – O q-que estava fazendo escondido... aqui?

- Não importa a quê vim aqui. Hinata, não acha que já chega de treino por hoje? Está anoitecendo e está aqui há horas. – disse ele, um leve tom de preocupação na voz. Hinata olhou para o chão e juntou as mãos.

- Eu... ainda não terminei a seqüência. – murmurou ela. Suas mãos pingavam sangue. – Vou voltar para a mansão quando t-terminar. – e se voltou para o boneco de madeira, fazendo menção de continuar mesmo com Neji ali parado, a observando.

- Hinata-sama... por favor, não faça isso com você mesma. – murmurou ele. Ela parou, de costas para o primo. Como se esperasse que ele fosse embora.

- Você... n-não entende, Neji-san. P-por favor, vá...

- Sabe que temos mais em comum do que imagina. Não martirize seu corpo desta forma. Fale comigo.

- Eu não p-posso parar, N-Neji-san... sabe disso! – disse ela, diminuindo ainda mais sua fina voz.

- Brigou com seu pai, não é? Ele te disse aquelas coisas de novo, não é? Hinata-sama...

- N-não é da... sua...

- Não é da minha conta? Vai, Hinata, diz. Diz! – insistiu ele, desejando saber o que houve, desejando fazer com que o sofrimento dela cessasse. Era apenas uma questão de que ela explodisse e dissesse tudo aquilo que queria dizer.

- N-Neji-san… - sussurrou ela, ainda de costas para ele.

- Você não pode descontar a sua raiva nos treinos, Hinata-sama... não faça isso com você mesma! Olhe o seu estado! – disse Neji, se aproximando mais dela.

Ele mesmo não podia entender sua atitude, sua vontade de proteger Hinata dela mesma e dos outros. Ele apenas o fazia naquele instante.

Hinata virou seu rosto para Neji e seus olhos prateados brilhavam com pequenas lágrimas que ameaçavam transbordar para suas bochechas.

- Você está muito cansada... vamos voltar para a mansão. Estou te observando há horas, mal pode ficar de pé. – replicou Neji. E de fato, Hinata tinha uma postura caída, ofegava e seus olhos estavam cansados. Parecia desejar desesperadamente uma cama.

- E-eu não quero voltar pra lá agora, Neji-san... – respondeu ela. Hinata provavelmente não queria ver seu pai agora. E com certeza tinha seus motivos. Neji no fundo sempre achou que Hiashi era muito duro com Hinata; nunca soube lidar da maneira certa com sua filha.

- Certo... – disse ele. E por alguns minutos eles ficaram parados ali naquele canto afastado do jardim. Hinata observando Neji, e Neji observando o boneco de madeira.

Ele então se aproximou ainda mais de Hinata, e, parado à sua frente, desamarrou uma das faixas de seu próprio braço direito.

- Neji-san...

Ele não disse nada, apenas pegou uma das mãos de Hinata e enrolou a faixa branca no punho e nos dedos dela. Rasgou o que sobrou e se pôs a fazer o mesmo com a outra mão da prima. As faixas se tingiram levemente de vermelho.

Hinata ficou olhando o trabalho do primo, passando uma mão na outra. Neji apenas deu um leve sorriso para ela, e se afastou, rumo à mansão.

A noite já caíra e o céu estava pontilhado de várias estrelas quando Hinata voltou a treinar.

FIM DO FLASHBACK

- Eu estava te perguntando porque não recebeu nenhuma missão recentemente. – repetiu Hinata.

- Ah, sim. Bem, TenTen se machucou pra valer na última missão, então... estamos vendo se ela melhora. De qualquer forma, não têm chegado muitas missões ultimamente. – respondeu ele. Neji parecia de certa forma chateado com o "marasmo" de sua vida ninja.

- O que houve com ela? – perguntou Hinata.

- Pra ser sincero... não tenho a mínima idéia, Hinata-sama. – disse ele, e bocejou.

Hinata pareceu pensar por um instante, e então sorriu para ele.

- Já que estamos nós dois à toa, vamos fazer alguma coisa. Faz tanto tempo que não ficamos juntos como agora. – disse ela, a última frase mais para si mesma do que para ele.

- Ta bom. – respondeu ele. Hinata se levantou do degrau do pátio e entrou correndo na mansão.

"Faz tanto tempo que não ficamos juntos como agora.". Era verdade. Quando eram pequenos passavam horas conversando e brincando juntos. Mas reviravoltas acabaram separando os dois drasticamente, e durante muito tempo Neji – e Hinata também – achou que fosse irremediável. A morte de Hyuuga Hizashi, o crescente ódio de Neji pela Souke... e talvez a maior das reviravoltas fosse o Chuunin Shiken. Em que Neji não apenas derrotou Hinata, mas a humilhou, de modo desnecessário. E ele nunca se esquecera do olhar que Hinata lhe lançou quando saiu do hospital e o viu pela primeira vez. Um misto de tristeza e um sentimento que ele sequer soube nomear.

Dois minutos depois Hinata apareceu segurando uma caixa de madeira.

- O que é isso, Hinata-sama? – perguntou Neji. Ela se sentou ao lado dele.

- É um Jogo de Xadrez.

- Ah...

- Sabe jogar? – perguntou ela.

-Se eu sei jogar? Claro que sei jogar! – mentiu ele, cruzando os braços enquanto Hinata organizava as peças no tabuleiro.

Ele não tinha a mínima noção do que fazer.

- As damas primeiro. – disse ele, baixinho, para disfarçar. Hinata virou o tabuleiro e modo que as peças brancas ficaram de costas para ela. Movimentou um peão.

Neji a imitou. E a cada jogada de Hinata Neji a imitava, até que não entendeu o que ela fez com um cavalo e teve de inventar sua própria jogada.

- N-Não pode mover um peão na diagonal... – disse ela, quando Neji fez isso.

- Ah... foi sem querer.

- Não sabe jogar, né? – perguntou ela. Neji não respondeu. – Não precisava mentir para mim, eu posso te ensinar a jogar, Neji-san.

Neji lançou um olhar para Hinata que a fez corar.

- Parece que sou melhor que você no xadrez... – disse Hinata, baixinho. Neji fez cara de desdém.

- Não é justo, eu aprendi hoje.

- E está se saindo bem, Neji-san. – disse ela, sorrindo para ele. Neji olhou-a, sem graça.

"A Hinata-Sama é tão meiga. Eu perdi seis vezes!", pensou ele.

- Hinata? – perguntou uma voz vinda detrás deles. Os dois pararam de andar e olharam para trás.

Hiashi estava parado ali com a testa levemente franzida.

- Hinata, já treinou hoje? – perguntou ele, rispidamente.

- A-Ainda não, pai, eu...

- Está esperando o dia acabar? Ou você acha que só tem de treinar quando estiver com sua equipe? – disse Hiashi.

- Já estou indo p-pai. – respondeu Hinata, e saiu andando, quase correndo na direção oposta da dos dois. Hiashi se virou para Neji, olhando-o com profundidade.

-É bom ver que você e Hinata estão se aproximando de novo, Neji. – falou – Apesar de distraí-la um pouco, sua presença inspira minha filha. – concluiu, com seu tom de sabedoria. E foi embora, dando-lhe as costas, deixando Neji sozinho.

A presença de Neji na vida de Hinata não a inspirava. Apenas fazia bem a ambos. E isso era suficiente.

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N/A: Eu adoro a história dessa fic. É tudo meio mirabolante demais, mas eu adoro ela. E NejiHina é tão meigo *--*
Eu postava essa fic numa Comunidade do Orkut, e lá eu parei no capítulo XV. Parei por muiiitos meses, e fico admirada de saber que as pessoas ainda me procurem pra saber o que diabos eu fiz com a fic. Espero que vocês daqui gostem também *---*

*senta e espera comments*

Beijos, gente. :*

Angelic H. Cherry