Cap. 1 – O adeus à rua dos Alfeneiros.
Era noite. Uma brisa suave soprava na rua dos Alfeneiros. A rua estava vazia, à exceção de um gato preto que atravessava lentamente a rua. A única testemunha do passeio do gato pela rua era um jovem de cabelos rebeldes que observava a rua escura. Seus olhos verdes passeavam de um lado para o outro, procurando algum sinal de perigo. Ao ver o gato atravessando, abriu um pequeno sorriso e pensou consigo mesmo: "deve ser mais um dos gatos da Sra. Figg".
Muitos pensamentos passeavam na mente de Harry Potter nos últimos dias. Ele lembrava dos acontecimentos do seu sexto ano de escola. A lembrança de Dumbledore chegando para buscá-lo agora estava tão distante que parecia ter acontecido há séculos. Seu último verão na Toca; as aulas de Dumbledore, que revelavam o passado de Tom Riddle; a busca da Horcrux, que se revelou falsa; quem era R.A.B.; A batalha da Torre de Astronomia; e, finalmente, o assassinato de Alvo Dumbledore, o maior bruxo da atualidade, traído pelo professor de sua própria escola, alguém que Harry agora odiava ainda mais que Voldemort: Severo Snape.
Harry viu o reflexo de seu próprio rosto se contorcer de raiva quando a lembrança de Snape tomou conta de sua mente. Por diversas vezes imaginou estar frente a frente com o traidor. O homem que traíra seu maior protetor. O homem que causou a morte de seus pais. O homem que indiretamente causou a morte de seu padrinho Sirius.
Harry estava convencido de que Snape era tão ruim quando Lord Voldemort.
Esses pensamentos de raiva ajudavam Harry a não pensar no assunto que ele tentara evitar o verão todo: Gina Weasley. Harry Olhou novamente para seu reflexo no vidro da janela. Não tinha mais o olhar de raiva. Era apenas o reflexo da tristeza. E, de alguma forma, percebeu que ele era muito pior que a raiva. Estava impotente, não tinha saída. Ele sentia a obrigação de protegê-la. Não podia expô-la ao perigo que estava prestes a enfrentar. E este pensamento o fez sentir fraco e derrotado. Não podia tê-la ao seu lado, era muito perigoso, mas também não conseguia esquecê-la.
- Droga! - falou em voz alta.
Virou-se para sua cama. Estava desarrumada e com vários papéis em cima da cama. Cartas de Rony e Hermione eram a maioria. Mas, no cantinho, perto de seu travesseiro, estava uma carta de Gina. Estava amassada de tanto ser manipulada. Harry leu a carta por incontáveis vezes, tentando absorver todas as palavras. Nem precisava ler a carta de novo para lembrar o que estava escrito:
Querido Harry,
Espero que esteja tendo um verão divertido. Aqui na Toca a única coisa que se ouve é a palavra casamento. Mamãe está ficando desesperada, falando que estamos atrasados com os preparativos.
Gui está se recuperando muito bem, mas os médicos acham que ele deve ficar com algumas cicatrizes. Mas ele não se importa. Ele e Fleur estão muito felizes.
Ron também parece estar muito preocupado com o casamento. Anda de um lado para o outro falando sozinho, ou com uma carta na mão, que ele esconde toda vez que alguém aparece.
Por que será, heim? Acho que tem algo a ver com uma garota de cabelos castanhos que conhecemos, não acha?
Espero vê-lo em breve. Estou com saudades.
Um beijo
Gina.
Harry leu as últimas linhas tantas vezes que parecia ouvir a voz de Gina recitando as palavras. Costumava ficar no escuro com a carta na mão, tentando sentir sua presença. Mas, ultimamente, estava decidido a não deixar Gina Weasley tomar conta de seus pensamentos. Tinha coisas muito sérias para pensar. E, se ele queria vê-la segura, tinha que pensar numa forma de derrotar Lord Voldemort.
A profecia novamente ecoou em sua cabeça. "Um não poderá viver enquanto o outro sobreviver".
Aquilo soava como uma sentença de morte, mas também era sua única esperança, como se fosse uma prova de que era possível derrotar Voldemort.
Mas Harry estava mais preocupado no caminho a trilhar antes de enfrentar seu inimigo. A destruição das Horcruxes era obrigatória. Repassou mentalmente as Horcruxes que faltavam: "o medalhão, a taça, a cobra, alguma coisa de Gryffindor ou de Ravenclaw..."
Essa frase ficava se repetindo em sua mente o tempo todo. Era sua forma de tentar simplificar uma tarefa extremamente difícil. Não tinha idéia de onde começar. Dumbledore não deixara nenhuma indicação, nenhum caminho a seguir caso ele não estivesse mais aqui para ajudar.
Harry se sentiu desamparado. Não tinha mais ninguém para guiá-lo. Nenhum adulto que pudesse oferecer conselhos ou indicar o melhor caminho. Seus únicos companheiros agora eram Rony e Hermione. Não que estivesse fazendo pouco caso dos amigos, ele tinha certeza que jamais encontraria amigos mais incríveis que os dois, mas sentia falta de alguém experiente, com mais conhecimento que os três, para guiá-los nessa tarefa. Dumbledore se fora, assim como Sirius. E não conhecia mais ninguém que pudesse preencher esse vazio. Os membros da Ordem estavam ocupados demais tentando achar Comensais da Morte, e lutando com eles. Além disso, Dumbledore dissera que ele não deveria falar sobre esse assunto com ninguém. Ele manteria sua palavra. O segredo era necessário para o cumprimento da missão.
Harry estava tão distraído com seus pensamentos, que nem notou o relógio bater meia noite. Era dia 31 de julho. O dia de seu aniversário. Ele finalmente completava 17 anos, e atingia a maioridade. E, também, hoje reencontraria seus amigos Rony e Hermione, que prometeram ir buscá-lo na casa de seus tios. Mas, absorto em pensamentos mais sérios, Harry não lembrou disso. Apenas adormeceu e sonhou com uma enorme cobra tentando enforcá-lo. Mas, para sua alegria, um enorme leão dourado aparecia bem a tempo de salvá-lo. O resto da noite transcorreu sem nenhum outro sonho.
Na manhã seguinte, Harry acordou com um estrondo, seguido de um grito.
- Ahhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!!!! – reconheceu a voz de Tia Petúnia.
Ele desceu correndo as escadas, com a varinha em punho. Estava preparado para lutar com Comensais ali mesmo, na sala da casa de seus tios. Mas, no lugar de pessoas encapuzadas, reconheceu os cabelos vermelhos de Rony saindo da lareira.
- Vocês trouxas ainda não arrumaram essa lareira? Por que diabos ficam tampando a saída??? – disse ele, com uma voz irritada.
Harry não conteve o riso. Tia Petúnia ali, parada, imaginado como era possível um mesmo pesadelo se repetir. Tio Valter e Duda chegaram correndo na sala, e viram Hermione sair da lareira, tropeçando em Rony.
- Ai! Rony, eu disse que não devíamos ter vindo usando a rede Flu. Eu devia ter aparatado com você, seria muito melhor.
- Você só diz isso porque já tem sua licença para aparatar. Como é que iríamos voltar com o Harry também? Até parece que você ia conseguir voltar com nós dois.
Os dois seguiam a discussão, sem se importar com as caras de espanto dos Dursley, e com o riso disfarçado de Harry. Quando ele não conseguiu conter a gargalhada, os dois saíram do "transe" de olharam para ele.
- Harry!! Parabéns, cara! – disse Rony, indo até ele, e dando tapinhas em seu ombro.
- Feliz aniversário, Harry! – disse Hermione, dando um abraço nele. Ela também aproveitou e deu uma boa olhada nele, verificando se estava tudo bem com o amigo.
- Obrigado! Vocês querem, ah... entrar? – disse Harry, mesmo eles estando já dentro da casa.
- Bom dia. Tudo bem com vocês? – disse Hermione aos Dursley, de maneira simpática.
Tio Valter e Duda ficaram mudos, mas, para espanto de Harry, tia Petúnia respondeu, com uma voz trêmula.
- Bom dia...
- Nós, bem..., viemos buscar o Harry... – continuou Hermione, que olhou para Harry esperando ele dizer alguma coisa.
- É. – disse o garoto com firmeza – Vou embora de sua casa.
- Eu... eu sei. – mais uma vez a resposta de Tia Petúnia surpreendeu Harry.
- Sabe? Como? – desta vez foi Rony que perguntou.
- Ahh... bem, eu recebi esta carta... – ela estendeu um pedaço de pergaminho um pouco amassado.
Harry leu a carta, que tinha poucas linhas.
Prezada Senhora Petúnia Dursley,
Gostaria de avisá-la que, conforme nossa conversa no último verão, seu sobrinho Harry Potter se tornará maior de idade no dia 31 de julho deste ano. É provável que ele irá querer sair de casa assim que esta data chegar. Gostaria de pedir a Senhora que trate seu sobrinho que forma decente nesta oportunidade de hospedá-lo, já que certamente esta será a última.
Grato por sua compreensão,
Alvo Dumbledore.
Harry olhava com olhos arregalados para a Tia.
- Quando isso chegou??
- No fim de maio, antes de você chegar de férias. – ela respondeu.
"Antes de ele morrer" pensou Harry, de forma sombria.
Hermione olhava de forma assustada, eRony estava sério. Harry estava se lembrando que realmente Tia Petúnia estava tratando ele de forma mais gentil que o normal, apesar de fazer isso apenas quando estavam sozinhos. Harry finalmente concluiu.
- Bem, eu vou mesmo embora hoje. Só vou terminar de arrumar minhas coisas.
- Eu e Ron cuidamos disso, Harry, pode se despedir de sua família. – disse Hermione. E os dois subiram as escadas em direção ao quarto de Harry.
O clima da sala mudou repentinamente. Tio Valter parecia estar feliz e desconfiado ao mesmo tempo. Duda olhava o tempo todo para a lareira, com se esperasse que mais pessoas saíssem de lá. E Tia Petúnia, para grande incômodo de Harry, parecia estar realmente triste.
- Ãhn... é... bem, acho que já vou indo.- disse o garoto, muito sem jeito.
Tia Petúnia não se conteve. Abraçou o sobrinho, e disse baixinho em seu ouvido.
- Boa sorte. Sei que vai atrás do assassino de seus pais. Espero que consiga derrotá-lo.
Harry se soltou do abraço, e olhou para a escada. Rony e Hermione estavam descendo com suas coisas. Os três de dirigiram para a lareira e Harry, antes de entrar nas chamas verdes disse, olhando para a tia.
- Adeus.
