Olha, eu nunca pensei em como eu iria morrer. Quando era pequeno, tinha medo da morte, então eu nem pensava nela. Quando cresci, não perdi tempo com isso, tinha o Lorde das Trevas do meu lado. Mas eu virei espião de Dumbledore, então sabia que poderia morrer em uma batalha a qualquer momento.
Agora, morrer nas mãos do Lorde das Trevas, é muita ironia da vida. Ou melhor, nos dentes de Nagini.
Eu tentei não entrar em desespero. Mas não se consegue muito isso quando tem uma cobra mordendo o seu pescoço, então a única coisa que fiz foi gritar pela dor. Pela raiva de morrer. Pela culpa, ou talvez, até pelo amor. Os sentimentos se misturam quando se está morrendo.
E aqui estou eu, caído no chão, derrotado, insano, pensando apenas em como falhei em minha missão com Dumbledore. Com Lily. Jamais poderei transmitir o que sei sobre Harry Potter. Jamais alguém saberá do meu amor por Lily. Jamais alguém vai se lembrar de mim como um herói. Incompreeendido, okay, mas herói.
Enquanto tento limpar o sangue que sai das minhas ''picadinhas carinhosas'' feitas por Nagini, lembro-me de Lily. A única que amei. A única mulher que me fez ter desejos de homem. A única para a qual diria ''Eu te amo''. Se tivesse viva. Mas está morta, assim como estou morrendo.
Ouço barulhos, passos. Harry Potter entra, junto com os seus amigos Weasley e Granger. Ele olha para mim espantado, como se nunca tivesse visto alguém morrendo. Mas acho que ele está mais espantado pelo fato de EU estar morrendo.
Em minha mente enevoada, lembro. ''As lembranças!'' . Eu vou morrer, então ele pode saber. Pode saber o porque da morte de Dumbledore. Pode saber mais sobre sua mãe. Pode saber mais sobre seu professor detestável.
- Pegue-as - digo, quando ele se aproxima, com as mãos no meu pescoço - Leve- as para a penseira.
Dei a ele as principais lembranças. O que ele precisava saber. Não mais do que isso. Minha mente está perdendo o foco, um zumbido entra no meu ouvido, e estou mole e fraco. Está chegando a hora.
- Olhe para mim - digo. Olho bem no fundo dos seus olhos verdes, rindo de mim mesmo por morrer olhando nos olhos dela. De Lily. Pelo menos terei esse prazer, antes de morrer. Uma onda de paz e carinho me encheu, e pequenas lágrimas saíram do que costumava ser meus olhos.
- Tem os olhos da sua mãe - Meu primeiro e último elogio a Harry Potter. Ele merece. Espero que entenda as minha lembranças. Espero que me entenda.
De repente. Tudo se torna negro. Depois branco. Depois cinza. Mas apenas escuto sua doce voz, a voz de Lily, na minha direção.
- Sev, você foi tão corajoso.
É, talvez a morte não seja o fim de tudo.