Capítulos com narradores distintos.

Capítulo 1, Ino


Quando eu te conheci?

Recordo-me de bagunçar você com a paisagem de primavera, a despeito da sua altura, que se fôssemos comparar só seria sensato te igualar com uma azálea bonsai. Talvez isto seja uma pista. Primavera?

Naquela época eu também era um minúsculo ser humano e não conseguia entender a diferença entre hoje e amanhã, dia e noite, inverno e verão. O que era esses tempos simplesmente foram, para a miniatura de cabeça que tinha aquela época, sensações do que eu via, sem entender inteiramente o fluxo do tempo e as verdades da vida. O amanhã era igual hoje, eu brincava em baixo de um céu mar azul abarrotado das cristas de ondas gigantes e quando o sol se põe e tudo que eu via eram luzes distante num novo céu escuro e outras luzes partindo, estas próximas a mim, de dentro das casas. Em uma delas eu morava e se fizesse frio ou fizesse calor eu não entendia e não me importava que isso fosse um ciclo da natureza e da vida.

Sim, agora consigo relembrar que era uma estação animada para a floricultura da família. O que me faz amar a primavera talvez seja um legado dos dias passados com flores. Muitos dias com flores e somente um momento para te perceber entre as cerejeiras floridas.

Eu diria que você nasceu de uma cerejeira e não tem pais. Não esteve dentro de um ventre, esteve brotando em um galho. Não devia ter umbigo, mas a verdade incompreensível é que você tem. Você tem pais e atira sua vida para a morte sem pensar neles. Sem pensar em como isso irá trazer-lhes dor. Você tem pais e cresceu na dúvida eterna de um dia caso viesse ser necessário para a vila, iria precisar se sacrificar pelo bem dela sem ouvir alguma palavra desses pais sobre o que você significava para eles. Agora isso me soa anormal e infeliz. Quando te vi pela primeira vez andando com esses seres que lhe deram vida, vi outra garota normal e feliz.

Anos depois quando falei com você pela primeira vez eu já conhecia um pouco mais sobre o mundo, o suficiente para saber que eu seria uma ninja sucessora de uma nova geração do clã Yamanaka e você iria se tornar uma ninja anônima de clã algum. O que não sabíamos era todo o resto e ainda permaneço egoistamente sem torna-me um instrumento militar perfeito para meu país e minha vila. Você também continua igual, certo? Naquele universo pueril e ilusório tudo possuía uma gravidade duzentas vezes mais pesada, pois sentíamos duzentas vezes mais forte, duzentas vezes mais forte que atualmente. Você zombaria com peso multiplicado em duzentos. O tamanho da sua testa consumia tua personalidade e o tamanho da sua marrafa consumia junto da testa teus olhos folhagem.

Eu não precisava te ajudar, não havia motivo algum. Você cresceria em cima dos seus pequenos problemas de infância e se nesse universo alternativo você não possuísse coragem suficiente, também não seria tão orgulhosa e irritante quanto eu. Admito, somos parecidas. Pode ser aquela teoria das pessoas influenciarem outras por uma mera admiração que sabia sobre você sentir para comigo. Ou foi a amizade e curta companhia que nos oferecemos mutuamente. Ou ainda nossa rivalidade procedente de uma razão boba aprofundou isso e assim nos tornamos ainda mais parecidas, pois do que é regida uma rival se não de comparações? Eu fui o reflexo do teu espelho até lutarmos e empatarmos, iguais também em força, e nesse momento a verdadeira batalha começou.

Eu podei seus problemas, te reguei com confiança e você brotou por si mesma. Agora, Sakura, quem vai superar a outra e ganhar essa guerra?


post scriptum: O título veio da música Fim de Primavera de um cara chamado Gilson (de 1979, não é o cantor gospel). Que me perdoe o Gilson onde ele estiver por eu ter usado seu trecho para uma fanfic desse nível...