"O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos" (Elleanor Roosevelt)
- Quem imaginaria que a final da WNBA seria tão eletrizante???? Um jogo bastante disputado entre os Los Angeles Lakers e Chicago Bulls, que empatam por setenta pontos! Mas a ala Elizabeth Braddock cometeu uma falta na pivô dos Lakers, nos segundos finais do último tempo. Agora, a vitória está nas mãos dessa nova e enorme jogadora: Báááárbara Heeeeeeeeeeeeenklain!!!!!!!!!- a voz de Tim Drake ecoa em cada canto das arquibancadas lotadas de fãs dos dois times.
- Mein Gott, mein freund!-exclama o outro comentarista, Kurt Wagner- Não gostaria de estar na pele de Henklain! Tudo bem que ela tem direito de arremessar duas vezes, mas pivôs normalmente são péssimos em lance livre! Sinceramente, espero que Henklain faça jus ao título de mais nova e brilhante jogadora da NBA!
"Isso! Isso! Isso! Me pressione ainda mais!" pensa Bárbara, revoltada. "Como se não bastasse a torcida do Chicago Bulls me azarando aos berros e dos Lakers cantando vitória!"
Ela está na área conhecida como garrafão. No seu lado esquerdo, há duas jogadoras do Chicago e uma companheira sua dos Lakers. Já na sua direita, ela reconheceu Elizabeth Braddock com um detestável olhar de "Já venci sua guria irritante!" e a capitã do seu time, Dinah Daillan, sussurrando algo que lembrava a Bárbara uma "Ave Maria". Será possível que nem a capitã do seu time confiava nela?
A pivô dos Lakers sacudiu a cabeça e olhou, fixamente, para o seu alvo: a cesta. Como é que poderia se sentir tão pequena??? Ela tinha quase 1,98 metros de altura e era a mais alta do time. Ah! O que o medo não faz. É capaz de penetrar bem no fundo de nossos corações, transformando a esperança em desespero. Desespero??? Por que esse sentimento?? Não estava sendo exagerada??? Afinal, é só um jogo! Nada mais que isso.
"Ah, francamente! Quem eu quero enganar? Se eu errar essa cesta meu futuro já era! Provavelmente, serei morta por esses torcedores fanáticos! Tudo bem que sou alta, mas isso não me transforma em uma mutante capaz de parar bala no peito! E por falar em mutante, por onde será que anda o dragãozinho roxo da Kitty? Desde que comecei a ler as revistas dos X-Mens, quando tinha 11 anos, nunca o vi em nenhuma edição! É claro que mandei vários e-mails perguntando o paradeiro dele ao editor da revista, mas ele nunca me respondeu! Aquele cretino, filho de uma p... Ai!" ela acabara de dar um tapa em si mesma "No que diabos estou pensando???"
O juiz aproximou-se e entregou a bola. A pivô dos Lakers fitou, por um tempo, a cesta e arremessou. Agora, para Bárbara tudo estava, estranhamente, parecido com um filme. Os torcedores gritavam nas arquibancadas, os locutores berravam em seus microfones, entretanto, ela não ouvia nada. E a bola de basquete transcrevia uma rota como se estivesse em câmara lenta, aproximando devagar na cesta, bem devagaaaaaaaaaaar, até que:
- Ela errooooooooooooooooooou! Dá para acreditar na falta de sorte de Henklain?????- comentou Tim Drake.
- Acho que ela quer proporcionar a todos alguns minutos de suspense!-brincou Wagner.
"Proporcionar minutos de suspense??? O que ele tem na cabeça??? Eu estou desesperada e louca para acabar com isso!!" pensou Bárbara, a raiva agora superando o medo "Juro que ainda mato esse comentarista! Aposto que não vai fazer falta nenhuma!"
A pivô dos Lakers passou a mão pela sua testa para impedir que o suor frio deslizasse pelo seu rosto, visivelmente, pálido. Estava suando mais agora do que quando corria pela quadra atrás da bola. Precisava se acalmar e se concentrar. Esquecer tudo em sua volta. Mas, como fazer isso, nesse momento??? Suas colegas dos Lakers a olhavam apreensivas, provavelmente achando que fariam melhor. Seus olhos procuraram a capitã, buscando coragem, no entanto esta agora fazia o sinal da cruz e olhava para o céu, implorando. As adversárias, se pudessem, já a teriam matado com tantos olhares ameaçadores que lançavam (principalmente, Elizabeth). A torcida do Chicago, além de amaldiçoar a pivô dos Lakers por umas dez gerações, proferiam xingamentos. E os fãs dos Lakers, ao invés de berrar incentivos a sua jogadora, estavam, anormalmente quietos, como se cada um, individualmente, fosse palco de uma guerra: o pavor da derrota versus a esperança da vitória.
Com a bola em mãos, Bárbara fechou os olhos, tentando se livrar de todos os pensamentos idiotas do momento (principalmente, da música de Sakura Card Captor que não parava de ecoar em sua mente). Tentava ignorar sua maldita intuição que dizia "Você já perdeu! Já era! Desista!". Além de adorar prever os momentos mais trágicos e desagradáveis de sua vida, sua intuição vivia a atormentá-la. Para depois chateá-la com "Eu avisei, mas você não ouviu...". E o pior era que tudo que previa dava certo. Exceto é claro, os números da loteria, como já teve o desprazer de experimentar.
Ela abriu os olhos, decidida:
- Eu vou conseguir!- murmurou para si mesma. Então, lançou a bola e fechou, em seguida, os olhos. A escuridão, rapidamente tomou conta de tudo. Parecia ter afastado da mente de Bárbara todo medo e insegurança que tinha no momento. Na verdade, parecia ter acabado com tudo, ela não ouvia nada. Um súbito silêncio reinava, mas não a incomodava. Ao contrário, Bárbara sentia-se livre, solta, calma... ela tinha se esquecido de tudo... o motivo pelo qual estava lá... porque se empenhava tanto no treino... na emoção de defender seu time favorito...o medo da derrota.. a esperança de vencer a partida... foram apenas segundos que pareciam séculos.
Entretanto, alguma coisa a segurou e Bárbara abriu os olhos, assustada. Dinah estava lhe abraçando e suas amigas corriam ao seu encontro para fazer o mesmo. Drake gritava alguma coisa em seu microfone que ela não conseguiu entender direito, pois Kurt berrava, ao mesmo tempo, em alemão. Os torcedores dos Lakers não se continham de tanta felicidade, uns davam línguas para os sofredores do Chicago", outros preferiam xingar e fazer gestos obscenos. As jogadoras adversárias estavam de cabeça baixa, não acreditando na derrota e, Elizabeth Braddock perdera, completamente, a pose de jogadora experiente. Estava ajoelhada, chorando como uma criança que acabara de quebrar seu novo presente de Natal.
Demorou um tempo para Bárbara entender o que estava acontecendo: ela ganhara. Conseguira fazer a cesta. Los Angeles Lakers ganhou por sua causa. Sua carreira estava segura por um bom tempo e sua intuição errou, pela primeira vez em sua vida. Estava tão alegre que não percebeu um senhor, com mais de dois metros, aproximar-se, com um troféu na mão.
- Parabéns pela vitória!- disse ao entregar-lhe o troféu da WNBA.
- Obrigado!- respondeu Bárbara, com a voz fraca, admirando-o. Não porque esse senhor era bonito, ao contrário, ela nunca vira alguém mais feio. Porém, ele era o famoso Shaquille O'Neel, um dos melhores jogadores de basquetes de todos os tempos.
-G... g... g... gostaria d... d... de dizer- continuou ela, gaguejando- que é u..u...u..uma hon...hon..honra para m...mim... conhecê-lo!
- Au!- exclamou O'Neel.
- Hããããããã...."au"?-indagou Bárbara.
- Au! Au! Au! Au!- latiu O'Neel. Ele agora estava de quatro, imitando um cachorro.
Bárbara olhava perplexa, sem saber se ria ou chorava. "Definitivamente, era melhor rir" pensou ela enquanto gargalhava. O'Neel encarou-a e, de repente, pulou em cima da garota e começou a lamber seu rosto!
- Aaaaaaarrrrrrrrrrrrrg! Nããããããããããooooooooo!- gritou Bárbara.
Em um quarto bastante desorganizado, cheio de pôster de jogadores de basquete, uma garota de 11 anos acordava assustada. Em cima dela, uma cadela vira-lata encontrava-se lambendo seu rosto e latindo de alegria. Ela suspirou. Detestava quando Akasha fazia essas coisas. Bárbara colocou sua cachorrinha no chão e mandou que fosse dar uma voltinha. Depois, juntando toda coragem que tinha, saiu de sua cama quentinha e confortável (apesar de sua preguiça resistir bravamente), calçou suas pantufas e foi para o banheiro. Lavou, demoradamente, o seu rosto, enxugou-o e olhou, fixamente, para o espelho.
O espelho refletiu a imagem de uma jovem, aparentando ter 15 anos, de cabelos castanhos e encaracolados e olhos verdes bastante sonolentos. Ela tentou forçar um sorriso, mas desistiu ao ver a expressão de lerdeza que seu rosto estava tomando. Para evitar criticar-se sarcasticamente, Bárbara dirigiu-se à janela.
Assim que a abriu, uma brisa suave bateu em seu rosto, bagunçando ainda mais seus cabelos. Imediatamente, ela fechou os olhos, sentindo-se leve, feliz, tranqüila... Ah! Como desejava profundamente ganhar asas só para intensificar ainda mais essa sensação maravilhosa de liberdade que o vento a proporcionava. Certa vez, sonhou que perseguia um rapaz de vestes verdes que, como ela, voava em uma vassoura. Quando contou para sua mãe, ela, literalmente, caiu da cadeira. Bárbara estranhou muito essa reação, mas não deu muita importância. Afinal, sabia muito bem que sua mãe não era uma pessoa normal. Ela não conseguiria explicar, mas, às vezes, achava que sua mãe escondia algo dela.
A garota agora fitava, pensativa, o seu bairro. Estava tudo calmo e silencioso como sempre. Achando a vista muita entediante, olhou para o seu relógio que parecia uma bola de basquete em cima de seu criado mudo.
- Sete horas da manhã! Pelo menos a Akasha me acordou uma hora mais tarde do que de costume!- ela suspirou-Acho melhor eu ir cuidar da minha vida ou vou chegar atrasada no cinema e Nathalie vai me matar!
Quando acordou, Bárbara não fazia idéia do que o destino lhe reservara. Primeiro, porque não acreditava em destino e segundo porque foi algo tão surpreendente que superava seu sonho com O'Neel. Está certo! Isso foi exagerado, mas esse acontecimento, com certeza, mudará a sua vida para sempre.
CONTINUA...
