Capítulo 1 - Despertar

Não havia portas.
Não havia janelas.
Não havia uma cama confortável.
Nem um bom livro para ler.
Não havia uma larga banheira para um banho relaxante.
Não havia privacidade.
Não havia nada, exceto inúmeros olhares.

Olhos esses, que miravam Yagami Raito 24hs por dia, 07 dias por semana. Porém, não eram apenas olhares "comuns" que estavam sob ele.
Raito sabia que ele o observava. Sabia que cada pequena ação que fazia era flagrada, nada passava despercebido, nem sequer um pequeno gesto. Por trás da câmera instalada estrategicamente, os olhos astutos de L não perdiam um lance, um segundo que fosse. Raito havia se tornado muito mais que um suspeito, e vê-lo novamente por trás das câmeras o fez sentir nostálgico.
Devagar, Ryuuzaki recostou-se na confortável poltrona, e agarrou uma rosquinha recheada de geléia de morango, enquanto observava Raito pelas câmeras que possuía naquela cela. Há dias queria ter uma oportunidade de poder ficar a sós com Raito, e aquele não poderia ser o momento mais oportuno.
Conforme ia mordendo a rosquinha, seus pensamentos voltaram um pouco no tempo, para o dia em que seu interesse por Raito ultrapassou o bom senso da justiça.

A pedido de L, Yagami-san havia instalado escutas e câmeras escondidas em sua casa, já que seu filho, Yagami Raito havia se tornado um dos principais suspeitos de ser Kira.
Ryuuzaki sabia que Yagami-san não iria se opor ao pedido, pois sabia que o agente acreditava veemente que seu filho era inocente. L, porém não poderia dizer o mesmo.
Durante o tempo que as câmeras ficaram instaladas na casa dos Yagami, nenhuma atitude suspeita fora vista, muito pelo contrário, Raito havia se comportado exatamente como um jovem da sua idade (um jovem bem estudioso, diga-se de passagem). Todavia, L ainda colocava porcentagens de culpa no garoto, mesmo os demais agentes alegando que as mortes haviam continuado mesmo depois do inicio das gravações.

Raito havia passado mais um dia na pequena cela, da mesma forma que passara as últimas três semanas. Não se recordava de muita coisa, exceto que estranhamente, por livre e espontânea vontade havia pedido que o prendessem, pois ele mesmo não tinha certeza se era ou não Kira.
Logicamente aquilo era parte de seu plano como Kira, mas por ter abdicado do Death Note, o "novo" Yagami Raito não se lembrava de nada, ficando totalmente a mercê dos olhares capciosos de L.
A noite havia chegado rápido, e Ryuuzaki só havia percebido que ficara sozinho quando seu bolo de morangos acabou, e ele precisou ir se servir na cozinha. Watari estava no quarto ao lado, provavelmente conferindo o sistema de segurança, então caberia a ele mesmo vigiar Raito pela noite.
Retornou a sala e jogou-se na cadeira encarando o monitor sem muita animação, fazia horas que Yagami Raito estava deitado no chão.

Ryuuzaki não esperava nada de novo naquela noite, da mesma forma como nada de novo havia acontecido nas outras noites. Entretanto, diferente dos outros dias, Raito levantou-se no chão e deitou no fino colchão em cima do banco que servia como cama, tirando completamente a atenção que Ryuuzaki tinha no pedaço de torta de maçã, o fazendo encarar os monitores com brilho nos olhos.
Nem o próprio Ryuuzaki acreditava no que seus olhos lhe mostravam. Se um dos policiais ou até mesmo Watarai aparecesse naquele instante, veria apenas um rapaz de 18 anos, visivelmente abatido pelos dias encarcerado, dormindo tranqüilamente. Mas para Ryuuzaki, aquela cena continha muito mais do que os outros poderiam enxergar.
Com um movimento rápido, Ryuuzaki correu o dedo para um dos botões a sua frente, fazendo com que a tv minimizasse as imagens de Misa e Yagami-san, deixando apenas uma versão fullscreen da cela de Raito. O garoto havia deitado no banco e em minutos caíra em um sono profundo, provavelmente causado pela fadiga de estar sobre tamanha pressão. Seu braço direito estava virado de forma que sua mão tocava seu rosto, enquanto a mão esquerda pendia ao lado do corpo. Sua respiração era devagar, fazendo seu peito subir e descer em longos espamos.

Ryuuzaki poderia desconfiar que Raito era Kira em todos os momentos de seu dia, exceto naquele. Seus olhos fundos e negros brilhavam, e o rapaz inclinou-se na cadeira para poder enxergar melhor, sem nem ao menos piscar, apoiando levemente o polegar nos lábios, olhando com extrema curiosidade.
Aquela espécie de fascinação pelo sono de Raito começara numa noite em que Ryuuzaki monitorava seu quarto. Não pôde evitar ficar surpreso na maneira como aquele garoto dormia. Era a primeira vez que via alguém com um sono tão tranqüilo, uma expressão totalmente entregue e inocente. Enquanto dormia, Ryuuzaki não acreditava que aquele rapaz diante de sua câmera poderia ser Kira, mesmo que algo dentro dele continuasse a martelar nessa tecla. Sem notar, o rapaz de cabelos pretos e rebeldes recostou-se na poltrona, virando um pouco o pescoço e encarando o teto, desejando que também pudesse ter uma noite de sono tão tranqüila como a que Raito parecia ter.
Era estranho.
Era confuso.
Era diferente.
Era errado...?

Após esse dia, Ryuuzaki procurava formas de sempre poder ficar a sós quando Raito ia dormir. Passava horas observando-o sonhar, e já sabia qual lado da cama (se é que o banco desconfortável pode ser chamado assim) o garoto preferia, e sabia se ele estava tendo um pesadelo.
Estranhos pensamentos começaram a surgir na mente de L conforme o tempo foi passando, que ele rapidamente afastou conforme o tempo de observação aumentava.

Antes que Yagami Raito e Amane Misa fossem soltos, a mente de Ryuuzaki já havia processado um plano para que pudesse manter a vigilância constante em cima de ambos. Na realidade, Ryuuzaki só precisava de uma prova, pois seus instintos gritavam que Misa era o segundo Kira, fazendo fatalmente com que Raito fosse provavelmente o verdadeiro Kira.
Mas não havia evidência, e o tempo de observação não poderia ser mais prolongado por trás das câmeras, e a pressão dos demais policiais para que os dois acusados (mais Yagami-san que havia por livre e espontânea vontade decidido ficar sob vigilância), fizeram com que Ryuuzaki tivesse de pensar em uma maneira de manter os suspeitos por perto. Watari sabiamente sugeriu o complexo de apartamentos que ele havia mandado construir, alegando que poderia acomodar Raito e Misa, cada um em um andar e mantê-los sob vigilância.

A idéia era prática e seria a coisa mais simples de ser feita, mas não era exatamente aquilo que Ryuuzaki queria. Ele precisava que Raito o auxiliasse nas investigações, mesmo sendo o suspeito número um.
Quando Raito e Misa foram soltos, após a encenação de Yagami-san, Ryuuzaki já tinha tudo planejado e ajeitado, somente necessitando comunicar aos interessados como a situação seria administrada dali em diante.
Misa ganhou um andar inteiro para ela no novo prédio, mas seria vigiada por câmeras. A vigilância de Raito ganharia uma definição completamente diferente. Unidos por um par de algemas e uma corrente com um pouco mais de um metro, ele seria o suspeito mais bem vigiado que poderia existir, literalmente grudado em seu perseguidor.
Mas o que Ryuuzaki não sabia era que as coisas não sairiam exatamente como ele queria. Na realidade, algumas coisas sairiam de uma maneira que ele jamais esperava.
Havia se passado algumas semanas desde que L e Raito estavam algemados. Apesar da união, ambos tinham idéias e pensamentos completamente divergentes, não somente do ponto de vista policial como pessoal.
O grande problema da convivência são as inúmeras coisas que você precisa relevar para manter o "bem comum". Mas para Raito, ficar algemado com Ryuuzaki acabou se tornando mais estranho e incômodo do que ele poderia imaginar.
Logo no inicio, ambos levaram um bom tempo até decidirem como as coisas funcionariam, já que agora eles tinham de literalmente pensar "por dois". Ryuuzaki possuía horários bizarros, contrastando com a rotineira e metódica agenda de Raito. O estranho detetive comedor de doces não possuía uma hora certa para dormir, e suas refeições eram feitas de acordo com o barulho de seu estômago, sem contar a preferência viciante que ele tinha por coisas doces, que não eram o forte de Raito.

Nos dois últimos dias a discussão se focou na hora de dormir, mais especificamente na noite em que Raito acabou despertando, e se deparando com dois olhos negros que o fitavam como olhos de coruja. O garoto havia se assustado de tal forma que por pouco não havia caído da cama. A idéia da cama havia sido dele, não havia como dormirem em camas separadas, e o esquema cama/sofá também não funcionava, sendo que o resultado havia sido dois detetives com dores nas costas e péssimo humor pela noite mal dormida.
Mas Raito havia se arrependido ao ver que Ryuuzaki estranhamente o encarava dormir, fazendo-o sentir extremamente incomodado. Ao ser indagado sobre isso, a resposta que recebera foi um muxoxo baixo, acompanhado de uma virada de L, que se enfiou debaixo das cobertas, dando o assunto como encerrado.

Após aquele incidente, Raito não conseguiu dormir direito nas noites que sucederam, mas pôde perceber pequenas atitudes em Ryuuzaki que começaram a chamar sua atenção. Graças às noites mal dormidas ele havia ficado inquieto, perdendo a concentração durante vários momentos, precisando recapitular o assunto que tratavam. Ryuuzaki não gostava de repetir o que já havia dito, e naquele dia em especial havia repetido pela terceira fez as informações sobre as mortes da noite anterior, sem que Raito parecesse estar dando muita atenção.

- Acho melhor darmos esse dia por encerrado. - L pegou uma taça de sorvete de cereja coberto com chantilly que ele havia buscado na cozinha assim que desceram.

- ...

Não houve resposta para seu comentário, muito pelo contrário, Raito estava sentado no sofá ao lado dele, mas parecia estar completamente longe. Sua cabeça pendia apoiada, e ele só virou-se minutos depois de Ryuuzaki ter feito o comentário.

- Concordo, preciso dormir.

Raito virou-se para levantar e levou a mão lentamente na direção do rosto do rapaz ao seu lado, passando o dedo de leve pelo canto de sua bochecha, retirando um pouco de chantilly que havia ficado ali. Ryuuzaki não teria movido um músculo se Raito não levasse o dedo em direção a boca, lambendo o creme. O moreno não soube explicar porque sentiu um arrepio correr todo seu corpo, fazendo com que sua boca enchesse de saliva, não necessariamente por causa do sorvete. Além do arrepio, sentiu quando seu pulso foi puxado, o fazendo quase derrubar a taça de sorvete.

- Raito-kun, a corrente!

Ryuuzaki puxou por reflexo a mão. Não poderia deixar que a taça com seu sorvete simplesmente caísse no chão. Ao seu puxado, Raito tentou pisar com forçar ao perceber o puxão, mas era tarde demais. Seu corpo foi puxado novamente em direção ao sofá, fazendo com que o rapaz batesse as costas no móvel com força e fosse empurrado para frente em seguida. A cena seria cômica se não fosse dolorosa para Raito. Ele não tinha conseguido ver nada nítido desde que fora puxado, apenas o borrão da sala em que estavam e depois tudo ficou escuro. Devagar, tateou onde quer que sua mão estivesse, erguendo a cabeça e piscando várias vezes ao encarar uma calça jeans.
Ryuuzaki tinha tido segundos para poder salvar seu sorvete. Ele não imaginava que a força que usara para puxar Raito havia sido tão grande, a ponto de vê-lo caindo em sua direção com força. A única coisa que ele pôde fazer foi erguer as mãos que seguravam a taça, tentando deixá-la o mais alto possível. Viu quando Raito bateu as costas no sofá e seu corpo pendeu para o seu lado, mas não imaginava que o rapaz cairia com o rosto em seu colo. As mãos que seguravam a taça tremeram lentamente para a nova sensação que Ryuuzaki sentiu. Era a segunda vez que seu corpo reagia de forma estranha naquela noite, e nas duas vezes Raito estava envolvido.

- E..eu poderia ter me machucado..

Raito havia erguido a cabeça, olhando feio para Ryuuzaki, que o olhava com os olhos arregalados. O rapaz notou as mãos trêmulas do moreno, achando que talvez o tivesse machucado quando caiu. Instintivamente levou a mão até seu ombro, mas a reação do outro o fez retirá-la no mesmo instante. Ryuuzaki ao sentir a mão de Raito, arregalou ainda mais os olhos e abaixou o ombro, como se aquela parte do corpo fosse derreter ao toque.

- Ryuuzaki, você está bem? - Raito aproximou o rosto, desistindo de tocá-lo.

Novamente não houve nenhuma resposta. Ryuuzaki parecia ter se transformado em pedra, e Raito achava que ele nem respirava. Continuou a encarar o assustado detetive, até ele mesmo arregalar um pouco os olhos ao perceber algo um tanto quanto peculiar. De onde estava podia sentir o cheiro do sorvete de cereja que Ryuuzaki acabara de comer, da mesma forma que podia ver um pouco do chantilly ainda no canto de sua boca. Em outro dia aquilo teria passado completamente despercebido, pois Ryuuzaki passava a maior parte do tempo com os lábios e os dedos sujos com doces. Mas naquela noite um pensamento cruzou a mente de Raito, e ele teria dado um meio sorriso se não estivesse tão surpreso por ter pensado tal coisa.
Como alguém tão desleixado pode ser o melhor detetive do Mundo?Que credibilidade dariam a alguém que se lambuza sozinho com chantilly e é incapaz de perceber isso?

- Vou dormir!

Raito ficou de pé sem encarar Ryuuzaki, somente esperando que o outro se levantasse também. Ryuuzaki por sua vez demorou alguns minutos até ser capaz de colocar o sorvete na mesa de centro, se levantando e indo atrás de Raito.
Nenhum dos dois disse uma palavra enquanto subiam as escadas, entrando no quarto e indo direto para a cama. Inicialmente Raito não planejava descer. Já era tarde da noite e ele se preparava para dormir, quando Ryuuzaki de repente teve mais uma daquelas crises de falta de glicose, perturbando Raito consideravelmente até o convencer a descer, usando a desculpa de que explicaria algo sobre as mortes do dia anterior.
Os dois entraram debaixo das cobertas quase ao mesmo tempo, e deitaram de barriga para cima sem dizerem nada. Ryuuzaki não conseguia fazer seu cérebro processar uma frase inteira, e tinha certeza de que não conseguiria pregar os olhos naquela noite, provavelmente ficaria o tempo todo procurando uma explicação para aquelas sensações. Raito sentiu o cansaço ao encostar as costas no colchão macio, fechando os olhos e abrindo-os após alguns segundos, tendo certeza de que o sono havia chegado. Como de costume, virou-se para o lado a fim de se preparar em sua melhor posição para dormir, quando a pessoa ao seu lado fez a mesma coisa, praticamente ao mesmo tempo.

Os olhos de Raito se arregalaram levemente ao encarar o rosto de Ryuuzaki, mas sua surpresa não foi maior do que a do famoso detetive. L, simplesmente havia ficado imóvel novamente, só conseguindo entreabrir os lábios, numa tentativa falha de dizer alguma coisa.
Novamente Raito sentiu o cheiro de cereja com chantilly, mas dessa vez seus olhos se focaram nos lábios de Ryuuzaki. Eram vermelhos, não eram grossos nem finos, mas fizeram a mente de Raito pensar em várias coisas, nenhuma muito inocente. Estavam algemados fazia tempo demais, passavam 24/7 do tempo juntos. Trabalhavam juntos, dormiam juntos, e até mesmo as coisas mais simples eram feitas juntos, mesmo claro com privacidade individual. Seu cérebro dizia de que ele estava tendo aquele tipo de pensamento devido ao convívio, pois não haveria chance dele, Yagami Raito estar atraído por uma pessoa do sexo masculino. Mas seu corpo pouco parecia se importar com a lógica que sua mente tentava lhe mostrar. Naquele instante, tudo o que ele tinha em mente eram aqueles lábios vermelhos, e a vontade que tinha de tocá-los, mesmo que fosse rápido.
Com um pouco de coragem e uma grande quantidade de hormônios, Raito precisou apenas mexer um pouco a cabeça para o lado, até que seus próprios lábios tocassem os lábios de Ryuuzaki por um instante, em algo que nem poderia ser considerado um beijo. Ao voltar à cabeça para o seu travesseiro, passou a língua nos lábios e sentiu levemente o gosto da cereja.

Se Ryuuzaki já não podia se mexer apenas com a proximidade, sua reação ao que aconteceu poderia ser explicada como um estado permanente de petrificação, mas bem curioso. Quando o rosto de Raito se aproximou e os lábios do rapaz tocaram os seus, uma onda correu pelo corpo de Ryuuzaki, começando nos lábios e terminando na ponta dos pés. Os cabelos da sua nuca se arrepiaram, e outras partes de seu corpo reagiram, mesmo ele não gostando de pensar aquilo no momento.

Yagami Raito, o suspeito número um de ser Kira o havia beijado, ou melhor, seu primeiro beijo havia sido com a pessoa que ele tinha certeza de ser o maior serial killer da história. E sim, era também um homem.
Porém, o estado de paralisação de Ryuuzaki parecia ter dado lugar à outra coisa. Uma curiosidade enorme começou a encher sua cabeça, o fazendo sentar-se na cama de repente, chamando a atenção de Raito que estava perdido em seus próprios pensamentos.

- R..Ryuuzaki, eu.. - Raito sentou-se em seguida, pronto para um discurso de desculpas. - Foi um lapso, a única coisa que posso alegar é perda temporária de sani...

- Raito-kun.. - Ryuuzaki virou-se para ele em seguida, calando-o. - Eu nunca achei que o Raito-kun fosse esse tipo de pessoa.

- Do que você está falando? - Raito recuou, esquecendo-se por completo do pedido de desculpas ao notar o sarcasmo daquelas palavras. - Eu já disse, foi um lapso.

Ryuuzaki levou o polegar aos lábios como sempre fazia, olhando melhor para Raito, deixando o rapaz ainda mais desconcertado.

- O que o Raito-kun chama de lapso eu chamo de primeiro beijo. - disse sem nenhum pudor.

Aquelas palavras pegaram Raito completamente desprevenido. Não somente por achar que levaria no mínimo um chute (Ryuuzaki já o havia chutado por menos, dias atrás), mas por ter ouvido tal confissão vindo do próprio L.
Que Ryuuzaki não tinha muita habilidade socialmente falando ele já sabia, mas era totalmente desconhecido que ele não houvesse tido nenhum tipo de relacionamento, e que seu primeiro beijo havia sido roubado pela pessoa que ele mais suspeitava no mundo, e que ainda por cima era um homem.
Qualquer outra pessoa poderia ter recomeçado o pedido de desculpas, mas não Raito. À parte dele que ponderava havia ido embora quando ele inclinou o rosto para beijar Ryuuzaki, e após ouvir aquela confissão, uma chama pareceu crescer no mesmo lugar em que o beijo havia deixado uma brasa.

- Eu posso nunca ter feito nada, mas não sou idiota, Raito-kun! - Ryuuzaki interrompeu os pensamentos de Raito, lançando-o um olhar de reprovação já sabendo o que o rapaz de cabelos castanhos tinha em mente. - Eu sei que fez isso por impulso, não o culpo, estamos algemados há muito tempo, somos seres humanos apesar de tudo.

- Ryuuzaki... - Raito não pôde deixar de se surpreender ao ouvi exatamente o que estava pensando ser dito pela boca do detetive.

- Não sei como dizer isso de outra forma, mas não foi ruim, na verdade foi bastante interessante, talvez seja essa a razão de Raito-kun ser tão popular entre as garotas.

Raito corou, mas continuou a encarar Ryuuzaki da mesma forma que ele o encarava.

- Você está imaginando, não foi necessariamente um beijo.

- Não foi? - Ryuuzaki arregalou mais os olhos e inclinou o rosto na direção de Raito, que se manteve firme.

- Você está me testando para ver se vou beijá-lo novamente, não é? - Raito ergueu um pouco a sobrancelha esquerda.

- Mas foi o Raito-kun quem disse que não foi um beijo... - Ryuuzaki mantinha a mesma expressão no rosto.

O limite de Raito havia chegado com aquela última ironia. Seus olhos não conseguiam desviar dos lábios de Ryuuzaki, e até mesmo aquele hábito estranho de levar o dedo à boca parecia extremamente sedutor naquela noite. Sabia que Ryuuzaki estava jogando com ele, mas não perderia, não aquele tipo de jogo.
Com a mão direita, Raito tocou o rosto de Ryuuzaki, que tirou o dedo do lábio, visivelmente surpreso. O rapaz de cabelos castanhos se aproximou novamente, inclinando um pouco mais o rosto para seus lábios se encaixassem com os lábios do moreno. Os olhos de Raito fitavam os olhos de Ryuuzaki, até que ele os fechou, entreabrindo os lábios, começando o beijo.
Ryuuzaki não sabia o que fazer. Seus olhos estavam arregalados e ele fitava os olhos fechados de Raito, sentindo o corpo todo tremendo aquele gesto, fechando os próprios olhos em seguida.

A sensação era algo que L não saberia descrever, mesmo sendo ótimo em descrições. Com os olhos fechados ele podia sentir totalmente o que acontecia, principalmente quando seus lábios foram empurrados de leve e sua boca fora invadida pela língua de Raito. Suas mãos que estavam paradas ao lado do corpo subiram até o pescoço do rapaz, e Raito o trouxe mais para perto pelas costas.
L não havia mentido quando dissera que era inexperiente, mas naquele momento sentia como se soubesse exatamente o que fazer. A língua de Raito vasculhava todos os cantos de sua boca, e quando encontrava com sua própria língua as duas pareciam travar uma batalha.
As mãos de Raito subiam pelas costas de Ryuuzaki, sentindo-as por baixo da blusa fina e branca que o garoto usava. Conforme o beijo se intensificava, a necessidade de mais carícias o fez deitar na cama, ficando por cima de Ryuuzaki, mas sem parar o beijo.
Ryuuzaki não havia percebido que tinha deitado, só notando após alguns minutos, quando precisou afastar os lábios dos de Raito para respirar. Seus olhos abriram-se devagar e encararam o par de olhos em cima dele. Suas respirações estavam descompassadas, e seus rostos tão próximos que nenhuma explicação por mais lógica que fosse, poderia evitar que aquelas bocas se encontrassem novamente, agora em um beijo ainda mais cheio de desejo do que o outro.
Raito corria a mão pelas costas de Ryuuzaki por baixo da blusa, descendo os beijos pelo pescoço pálido do rapaz, arrancando suspiros de luxúria de lábios que até minutos atrás não sabiam o que eram aquelas sensações. A mente de Ryuuzaki estava nublada de excitação. Ele não conseguia ter um pensamento que não fosse satisfazer seu corpo naquele momento, e de preferência o quanto antes. Podia sentir os lábios quentes em seu pescoço, e da maneira como mãos ardilosas passeavam pelas curvas de suas costas, descendo pelo caminho de sua cintura até chegarem à altura de sua calça. Ali, Ryuuzaki soltou um gemido baixo que chamou a atenção de Raito, que não conseguiu não desviar o olhar para baixo, olhando a ereção de Ryuuzaki que começava a despontar por baixo da calça.
Sua mão desceu pelos botões do jeans, até tocar o membro por cima do tecido, arrancando um gemido mais alto de Ryuuzaki, que no mesmo instante segurou a mão de Raito.

- Ryuu...

Raito olhou-o sem entender, mas Ryuuzaki fez negativo com a cabeça, incapacitado de falar qualquer coisa devido à respiração completamente sem ritmo. Os olhos de Raito o encararam e ele apenas inclinou o rosto, beijando novamente aqueles lábios, saindo de cima de Ryuuzaki, sentando-se na cama.

L permaneceu na cama, encarando as costas de Raito até que sua respiração pudesse voltar ao normal. Raito por sua vez tinha os olhos fechados e procurava em sua mente alguma coisa constrangedora que pudesse pensar, a fim de esquecer o gosto de cereja em sua boca, e a própria ereção que havia despontado ao ver o quão excitado Ryuuzaki havia ficado.

Dessa vez nenhum dos dois pareceu disposto a quebrar o silêncio, e quanto Raito deitou-se novamente na cama, Ryuuzaki já havia se coberto até o pescoço, escondendo o rosto que de normalmente pálido, agora exibia uma coloração avermelhada.
De costas um para o outro, e mantendo uma distância maior do que costumavam deixar entre eles, Raito e Ryuuzaki permaneceram boa parte da noite acordados, até o corpo do esquecido Kira lembrar-se do cansaço devido as noites mal-dormidas. Porém, nessa noite, L não ousou se quer mover um músculo para ver o sono tranqüilo de Raito.

Continua...