Já se passaram três dias desde a ultima vez em que o vi. Inuyasha...
Kouga dirigia cuidadosamente, já que a estrada ainda está coberta pela neve. Vamos a um chalé. Nunca fui a um. Deve ser divertido, assim penso eu.
Com o nariz colado no vidro ao meu lado olho as bordas de asfalto cercadas por árvores de grande porte que também estavam cobertas por neve, deve ser sempre assim nas montanhas, cer-
- Oh meu Deus! Aquilo ali era um lobo? –interroguei após ver uma coisa peluda e acinzentada correndo logo atrás
Kouga riu... Riu? De mim? Mas como assim? Por que ele está rindo?
- Pode compartilhar a graça do momento comigo? Se não se importar, claro...
Cruzei os braços fazendo um bico e logo afundei um pouco no banco.
Uma mão quente segurou a minha, a direita de Kouga para ser mais precisa.
- Não é nada, Kagome.
Foi só por um ou dois segundos, mas eu vi os olhos dele rasteiramente procurando meus lábios. Desde a noite de natal Kouga não mais me beijou, apenas me abraça e oferece outras caricias. Mas sabe de uma coisa? O olhar dele era de preocupação, e eu gostei disso.
Sei porque estávamos indo a esse chalé, Kouga foi bem claro quando me convidou.
- Kagome, não gosto de te ver sofrer, e muito menos de vê-la chorar ano após ano por esse Inuyasha. Por isso... Eu gostaria que passasse esse fim de ano comigo, em um chalé nas montanhas. Vamos nos afastar dessa cidade por algum tempo, certo?
Bem, como você pode ver eu aceitei. É melhor assim, ficar longe... Só por alguns dias.
Abaixando os vidros e colocando a cabeça para fora, mesmo com Kouga dizendo "Não faça isso Kagome, é perigoso", como se eu fosse uma criança, eu pude ver a garagem do chalé. Essa é nova, não pensei que chalés tivessem garagem.
Kouga estacionou o carro da empresa, sua empresa, e pediu que eu esperasse um pouco enquanto ele saía do carro.
Ele deu a volta e abriu a porta para mim. Bem, me surpreendi. Não me lembro do Inuyasha fazendo isso, não lembro mesmo. O caso é que eu sorri, meio sem jeito, mas sorri.
Fui caminhando pelos fundos do chalé enquanto Kouga começava a abrir as portas para sair o cheiro de "guardado".
- Olha Kouga, temos vizinhos! –gritei enquanto olhava para o outro chalé bem aos fundos do nosso
- Temos sim. O senhor de quem eu aluguei disse que era de um casal bem simpático, podemos fazer uma visita, se você quiser.
- Ah, claro... Mas parece que ainda não tem ninguém.
Rodas... Ouço um carro se aproximando. Devem ser os vizinhos. Será que é um daqueles casaizinhos de velhinhos? Ou serão recém casados? Não, não... Casal simpático não quer dizer velhos, e nem casados... Afinal, quem se casa tem mesmo chance de ser simpático?
- Ah, minha nossa. Eu conheço esse carro, essa placa...
Fiquei repetindo isso enquanto mordia a ponta das unhas. É... Já era meu esmalte.
- Kouga! Kouga!
Comecei a gritar ao entrar no chalé. Cadê aquele youkai lobo? Cadê aqueles braços para me abraçar de novo bem forte? Onde? Onde?
- Kouga!
Iria gritar uma segunda vez, mas a mão dele me impediu.
Ao passar pelo corredor do segundo andar os braços que eu tanto procurava saíram de um quarto e me puxaram para dentro.
- Kagome, já descobri quem são nossos vizinhos. Você também, não é?
- Hum... Hum!
Meu Deus tira essa mão da minha boca, estou sufocando! Socorro!
Acho que pelos gemidos afobados ele percebeu e tirou as mãos de mim, e os braços também.
- Já... Já sim, é o Inuyasha e a... A...
Engasguei. Engasguei? Como assim? Eu nunca tive problemas com fala...
- A Ki... Kiky... –respirei fundo e soltei - A Kikyou!
- Calma Kagome, tudo bem...
E me abraçou de novo. Mas dessa vez de frente, e abraçados ele me puxou até cairmos deitados na cama de casal.
Não sei como e nem por que, mas meus olhos começaram a arder e então eu senti aquilo que escorria quente e tinha um gosto salgado sobre meus lábios.
- Tudo bem Kagome, tudo bem... Eu não vou sair daqui...
Poderia perguntar por que ele estava dizendo aquilo, mas descobri logo depois que percebi estar segurando seus braços com toda a força que tinha. Ele não vai embora, certo?
Confirmei que tinha entendido ao movimentar a cabeça e atrapalhar o cabelo, que logo Kouga ajeitou com a ponta dos dedos. Acho que mesmo me abraçando ele ainda me sente um pouco intocável.
É o cheiro, não é? O cheiro dele...
Algumas horas depois eu acordei sentindo um pouco de frio, afinal estamos nas montanhas e com as janelas do segundo andar abertas.
Adormeci, foi isso... Kouga e eu adormecemos enquanto nos encarávamos tentando ler a alma um do outro, mas não é fácil assim.
Ainda no segundo andar comecei a despir-me enquanto caminhava até o banheiro. É frio, realmente frio aqui.
Enquanto entrava na banheira de água quente e espumante abri a escotilha logo ao meu lado, percebi que dali podia ver a frente do chalé dos fundos. E ela estava lá, sentada em um daqueles balanços de dois.
"Sozinha? Porque não com ele?" Perguntei-me e logo reparei que ela não estava agasalhada, apenas um short e camiseta branca. "Não sente frio?" Continuei, como se ela pudesse me ouvir.
Tliin~
Na porta da frente do chalé em que estou há um pequeno sino bem no alto, e sempre que alguém entra ou sai ele toca. No chalé deles é o mesmo.
A cabeleira prateada foi a primeira coisa que eu pude ver após a porta se abrir. Logo depois uma trouxa de cobertores que estavam andando sozinhos.
Espere, eu disse mesmo isso? Andando sozinhos? Não, não... Deixe-me corrigir. Era apenas ele coberto pelos cobertores.
Fechei a escotilha e enrolei por mais um tempo dentro da banheira.
- Kagome, vai demorar muito?
Ouvi Kouga bater na porta enquanto terminava de escovar meu cabelo.
- Não, já acabei.
Acho que abri a porta rápido demais, demais até para ele que esbugalhou os belos olhos azuis.
- Desculpa, mas... –ele estendeu a mão e segurou uma das minhas – É uma bela noite, e não vamos desperdiçar aqui dentro, certo?
Ele sorriu de forma gentil, e assim eu me deixei levar. Ele percebeu e me levou, levou até o telhado do chalé.
- A vista daqui de cima é ótima, não acha?
Olhei na mesma direção que ele. Eram apenas árvores e montanhas incontáveis que se seguiam uma após a outra.
- É, são sim...
E olhei para o céu. Totalmente limpo, sem nuvens ou estrelas, a não ser por duas grandes e brilhantes que estavam bem coladas na Lua, uma meia-lua para ser mais precisa. Realmente lindo, então apontei...
- Olha, não é bonito?
Percebi minha voz fazer eco, mas não era minha voz. Ele disse a mesma frase que eu, ao mesmo tempo, em perfeita sincronia. Como?
Espere, não Kouga, mas sim Inuyasha.
Ele estava apontando para as mesmas estrelas que eu e as mostrava para Kikyou.
Compartilhamos um momento verdadeiro? Talvez.
- Kagome?
A voz do meio youkai saiu sozinha, ele saiu de debaixo do teto da varanda e ficou a olhar para o telhado. Ficou a olhar para mim no telhado. Mas como sempre os olhos dele não são apenas para mim, ele percebeu.
- E Kou-
Acertou! Acertou o que e aonde você deve querer saber. A bola de neve que entrou bem na boca daquele meio youkai. Mas claro, não fui eu.
- Kagome, quer tentar?
Olhei para Kouga que me estendi mais uma bola de neve. Certo, não sou mais criança.
Segurei a bola e olhei bem naqueles olhos âmbar, não era isso o que eu queria. Eu quero acertar ela.
- Não posso...
Escorreguei pelo outro lado do telhado e caí na janela. Uma fuga perfeita, diria alguém com maior experiência que a minha. Kouga veio logo atrás e inevitavelmente caiu sobre mim.
- O que aconteceu Kagome?
