Capítulo 1

Já havia passado três semanas desde a batalha final contra Aizen e a normalidade havia retornado à cidade de Karakura. Para quem esteve na batalha o trabalho ainda era muito, a burocracia seria sempre um dos maiores obstáculos para os shinigamis, que tanto desejavam férias e descanso. Apenas quando o trabalho estivesse concluído, poderiam desfrutar de um pouco de paz. No entanto o grupo dos poderosos humanos estavam a ter o merecido descanso.

Num restaurante no centro da cidade, estava um grupo de jovens bastante peculiar, a almoçar. Dois deles com uma estranha coloração no cabelo, ruivo. Outro usava óculos e possuía um semblante bastante sério. À frente deste último, estava um rapaz que se podia chamar de gigante. Uma rapariga de cabelos curtos e castanhos, bonita mas com ar de durona. Um rapaz que passava horas a teclar no telemóvel e outro que ao contrário dos restantes era espalhafatoso e escandaloso.

– Como é que tu estás Inoue-san? – Perguntou Ishida com um olhar curioso.

– Bem, porque perguntas? – Tentou disfarçar um pouco a ansiedade que ameaçava aparecer com aquela pergunta.

– Mesmo que a guerra tenha terminado, ainda te deve ser difícil habituar à normalidade!

– Porque havia de ser? – Perguntou um pouco incrédula. Não esperava que tivessem a audácia de comentar sobre aquilo em frente ao grupo.

– Porque deve ter sido traumático teres estado em cativeiro no Hueco Mundo!

Os restantes que estavam a conversar desatentos à conversa, tomaram atenção quando ouviram a palavra Hueco Mundo. A ruiva, assim que viu todos os olhares sobre si esperando a resposta, hesitou antes de responder. Os amigos quando a viram hesitar, e com o olhar distante, ficaram apreensivos e preocupados com a amiga. A Tatsuki ia para falar, mas antes que pudesse fazer alguma coisa, a ruiva deu um sorriso que os surpreendeu.

– Estou bem, obrigada!

– Ah, a Inoue-san é tão querida e fica linda com um sorriso! - Disse Keigo enquanto se babava todo e com a cabeça no mundo da lua, provavelmente imaginando coisas nada decentes.

− Keigo, estás a envergonhar a Inoue-san! Mas… devo dizer que concordo contigo. A Inoue-san é de facto linda. Provavelmente a flor de cerejeira mais linda da cidade!

A Inoue ficou vermelha pelos comentários. Quem diria que até o Mizuiro que gosta de mulheres mais velhas a elogiaria daquela maneira. No entanto havia uma pessoa que já transmitia uma aura assassina pela ousadia deles. Até se conseguia ver as faíscas a saltar-lhe dos olhos.

– Tatsuki-chan, eles estão apenas na brincadeira! Não precisas de ficar chateada. – A ruiva tentou acalmar a amiga para evitar confusão.

– Tu és demasiado bondosa com estes dois Orihime! – Olhava para a melhor amiga com olhos carinhosos e fraternosos.

– Na realidade eu não me importo. Eu acho simpático da parte deles!

– A Tatsuki tem razão. Estes dois podem ser bastante perigosos quando se trata de raparigas! – Falou o Ichigo, surpreendendo a Inoue pelo facto de ter dado a sua opinião em algo em que ela era o assunto principal.

– Pelo menos posso dizer que me interesso por raparigas! Agora tu, já não podes dizer a mesma coisa. Afinal nunca te vimos íntimo com uma rapariga! – Remarcou Keigo.

– Estás enganado Keigo! Eu lembro-me de ver o Ichigo bem próximo da Kuchiki-san. – Apoio o Mizuiro.

– Já agora, onde é que ela está? – Perguntou a morena curiosa.

– Ela está na Soul Sociaty! Eles estão com muito trabalho. – Antes que o ruivo abrisse a boca, o quincy explicou a situação em que os shinigamis se encontravam.

Enquanto os amigos conversavam animadamente, a ruiva olhava pela janela engolida nos seus próprios pensamentos. Ultimamente dormia pouco. Pesadelos roubavam-lhe o sono e parte da noite. Acordava sempre assustada, o coração a palpitar, o corpo suado e a cara molhada pelas lágrimas. Desde que regressara do Hueco Mundo, a solidão e a culpa eram as suas maiores amigas. Achava-se culpada pela perda de poderes do Ichigo, apesar de ainda não terem desaparecido. Todos os seus pensamentos iam ter ao Aizen e ao Hogyoku. "Se eu tivesse destruído o Hogyoku, ele não teria utilizado aquele ataque." Quando se deu conta que os olhos ardiam pela vontade de chorar, levantou-se e foi à casa de banho do estabelecimento. Os demais simplesmente olharam-na confusos e interrogativos.

– O que foi Orihime? – Perguntou a morena preocupada com a amiga.

Não obteve resposta, ficando bastante preocupada com a sua melhor amiga. Ia para se levantar e ir atrás dela, mas quando a viu dirigir-se à casa de banho tranquilizou-se. Assim que a jovem ruiva regressou à mesa, já lá estavam os pedidos. Limitou-se a sentar-se silenciosamente e começar a comer, sempre sob o olhar atento dos amigos. Depois de um almoço delicioso decidiram finalmente sair do restaurante.

– Vamos dar um passeio pelo parque? – Perguntou Keigo entusiasmado e cheio de energia.

– Eu não posso, tenho de ir para casa. Preciso de me preparar para o festival! – Disse Orihime.

– Eu, o Sado-kun e o Kurosaki também! – Rematou Ishida logo a seguir.

– Isso é injusto! Porque é que só vocês foram convidados? – O rapaz parecia estar a fazer uma birra no meio da rua.

– Isso é óbvio. Nós estivemos na batalha de inverno! Vocês por um acaso acordaram e presenciaram algumas coisas. – Ichigo falou aborrecido com o comportamento do amigo.

– Ah! O Ichigo está a distanciar-se de nós Mizuiro! O nosso círculo de amigos vai quebrar-se e nunca mais voltar ao normal.

– Não sejas dramático Keigo! Sabes bem que não devemos ser convidados só porque sabemos sobre o que aconteceu! Mizuiro suspirou. Era difícil manter a calma às vezes com um amigo tão entusiasmante quanto o moreno.

– Até amanhã Tatsuki-chan, Mizuiro-kun e Keigo-kun! Inou foi-se embora a passos largos e rápidos, sem dar hipótese a um dos amigos se oferecer para a acompanhar a casa.

− Vocês não acham que ela anda estranha? – Tatsuki estranhava o comportamento da amiga. Tinha a certeza que alguma coisa se passava.

– Sim! Também reparei nisso. Parece que ela está a esconder-nos alguma coisa! – Ishida tentava pensar no que pudesse estar a acontecer na vida da ruiva.

– Provavelmente deve estar a custar-lhe, voltar a habituar-se à rotina normal! – O ruivo falou como se não houvesse nada fora do normal. Simplesmente deixou para lá como se não fosse nada importante.