Oi, gente! Como prometi, aqui está mais uma fic maravilhosa da maravilhosa iLoVeRynMar. Vai ter 18 capítulos, e vou tentar traduzi-los tão rápido quanto possível sem abandonar a Peeta's Story. Classificação M por um motivo.

Aaaah, e tenho feito uns contatos, e talvez eu tenha uma surpresa agradável a partir do segundo capítulo. Espero que gostem - e perdoem qualquer erro gramatical.

Eu só traduzo. Nada me pertence.


Capítulo 1

"Primrose Everdeen!"

Minha mão se aperta em volta de uma menor, a de Prim, enquanto eu encaro a mulher que vai leva-la pra longe de mim.

Ela está de pé na soleira da porta da casa dela, usando maquiagem demais e roupas são de um tom enjoativo de rosa-shock. Eu fico lá de pé num torpor por alguns momentos, absorvendo a aparência dela, imaginando como ela pode ser nossa parenta e tentando decidir se o cabelo dela é ou não uma peruca.

Sou tirada da minha linha de pensamentos quando sinto Prim puxando minha mão, sussurrando meu nome. "Katniss..." ela apressa, me olhando estranhamente.

Me componho e ofereço à mulher um sorriso fraco. "Um, oi..." eu balbucio.

"E você deve ser Katniss," ela sorri pra mim. "É tão bom finalmente conhecer vocês duas." Não posso evitar notar o jeito estranho com que ela fala, como uma velha estrela de cinema daqueles filmes preto e branco. "Eu só vi fotos de vocês duas, mas isso foi anos atrás quando vocês eram muito mais novas."

Eu só consigo assentir minha cabeça em resposta, percebendo que meu aperto na mão de Prim ficou dolorosamente apertado desde que Effie Trinket abriu sua porta da frente.

Não estou pronta pra deixa-la ir.

Não estou pronta pra dizer adeus.

Me ajoelho ao lado de minha irmãzinha que, apesar de ter 14 anos, não parece ter mais do que 10 com sua mochila enorme cheia com todas as roupas e outros bens dela, esmagando-a e fazendo-a parecer ainda menor do que o normal.

Pego as duas mãos dela nas minhas e engulo o nó que já se forma na minha garganta.

"Vai ficar tudo bem, Prim," eu digo a ela, tentando convencer a mim mesma também. "Só é temporário. Eu e você... vamos ficar juntas de novo em breve. Eu prometo."

Prim sorri aquele sorriso que faz meu coração doer e lança seus braços em volta de mim. "Eu sei, Katniss," ela sussurra na minha orelha e depois planta um beijo na minha bochecha antes de se afastar.

Fico de pé e me viro para encarar Effie de novo, que está nos olhando com uma mistura de pena e compreensão.

A raiva dentro de mim redemoinha e se expande e de repente sinto como se eu estivesse engasgando. É esmagador o quanto eu quero gritar e chorar e descontar tudo na mulher em frente a mim. Não é justo, eu sei disso, mas focar na minha raiva ao invés da profundidade de cada outra emoção - do desespero, do luto, da tristeza, e da solidão - que me assombra dia e noite é bem mais fácil.

"Agora, entre, querida. Vamos te acomodar," Effie diz a minha irmã. "Eu sei que essa vai ser uma grande mudança pra você, mas acho que, com a atitude certa, podemos realmente apreciar a companhia uma da outra!"

Prim, porque é Prim, dá à mulher um sorriso gentil e encorajador. Eu, de qualquer forma, rolo meus olhos e não faço esforço nenhum pra esconder isso.

"Que grande, grande, grande dia pra vocês duas," Effie tenta quebrar a tensão estranha depois de um momento. "Eu espero tornar isso o mais fácil possível pra você e pra Prim, Katniss. Percebo que isso não pode ser muito fácil."

Eu ignoro a tentativa dela de nos confortar, no entanto, porque agora que Prim está de pé ao lado dela na soleira da porta da casa dela e eu estou aqui fora no primeiro degrau sozinha, o desespero e o medo estão aumentando em mim como um maremoto. Eu começo a me remexer ansiosamente, um pânico cego tomando conta de mim.

"Ela gosta quando você canta antes de dormir e é muito boa ajudando nas tarefas. Ela gosta de sorvete de café, mas você tem que lembra-la de comer legumes."
Derramo as palavras em uma única, longa e profunda, respiração.

"Katniss!" Prim exclama, um leve rubor se rastejando para suas bochechas. Tenho certeza de que ela não está exatamente encantada comigo agindo como se ela fosse um bebê que não pode cuidar de si mesma, mas, nesse momento, tudo o que posso enxergar é minha irmãzinha, minha irmãzinha que está sendo tirada de mim.

"Obrigada, Katniss, querida," Effie retorna. "Eu prometo que cuidarei bem dela."
Antes que eu possa fazer ou dizer qualquer coisa pra impedir, a porta da casa está sendo fechada, com Effie e Prim desaparecendo dentro dela.

Sou deixada de pé nos degraus da frente, nunca me sentindo mais perdida e sozinha do que nesse momento.

Meu pai morreu num acidente de carro quando eu tinha 12 anos e nos 7 anos desde então eu senti muita raiva, traição e frustração direcionada à minha mãe.

Minha mãe, que foi fraca demais pra perceber que ainda tinha duas filhas pra cuidar. Minha mãe, que só pôde focar na sua própria dor, ao invés dos rostos famintos das suas crianças depois que isso aconteceu. Minha mãe, que escolheu o caminho fácil e engoliu analgésicos demais 6 semanas atrás, se juntando ao meu pai e nos deixando aqui sozinhas.

No entanto, eu acho que nunca tive tanta raiva dela quanto agora. Se ela só tivesse tido força de vontade e me nomeado a guardiã legal de Prim quando eu fiz 18 anos, em um caso como este, eu não estaria aqui hoje. Se ela só tivesse tirado um momento pra pensar em alguém além dela mesma, eu não estaria entregando Prim pra a nossa única parente viva na Virginia Ocidental, uma mulher com quem nunca tínhamos tido qualquer contato antes de hoje.

Me sinto culpada por pensar essas coisas de uma mulher que está morta.

Mas enquanto eu caminho de volta pro meu carro sem Prim ao meu lado, a culpa cede lugar à raiva.

Dirijo os 30 minutos de volta pra casa antes de perceber que não vou ter tempo pra tomar banho e me trocar antes disso como eu queria.

Quando eu acho um lugar no estacionamento da Igreja, percebo que tenho alguns minutos pra matar antes que comece. Como a barra de cereal e a maçã que encontro no meu banco de trás e tento reunir a coragem pra realmente sair do meu carro e ir lá dentro.

Isso envolve um monte de debate comigo mesma sobre os prós e contras de engolir essa e acabar com isso, ou dirigir pra casa agora mesmo e jogar tudo pro alto.

É uma discussão fútil, eu sei, porque o único motivo que tenho pra fazer isso, a única desculpa patética que consigo arrumar é que eu não quero.

Ele já me disse, se eu quero Prim de volta, se eu quero uma droga de chance de ser nomeada a guardiã legal dela, eu tenho que fazer isso. Minha mente viaja de volta pra sua atitude paternalista e sarcástica do outro dia.

Escute, querida, eu sou o assistente social daquela garotinha, e depois de dar uma olhada no seu arquivo, de jeito nenhum eu vou colocar a minha bunda em jogo e atestar uma bomba-relógio como você como a guardiã legal dela. O juíz ia rir na minha cara. Quer ela de volta? Comece a se cuidar primeiro e mostre que está tentando melhorar.

Debocho da noção de que preciso "melhorar". Posso ser uma bola retorcida de miséria e angústia - uma completa merda de bagunça emocional - mas isso não significa que não posso cuidar da minha irmã. Tenho cuidado dela desde que meu pai morreu.

Minha mãe viveu um tipo de meia-vida por anos e mesmo quando ela voltou pra nós, ela ainda teria os momentos dela, vezes em que eu chegaria em casa pra encontra-la desmaiada por causa de muitos copos de vinho ou analgésicos. Eu soube desde aquele período logo depois da morte do meu pai, quando quase morremos de fome, que eu não poderia confiar nela nunca mais. E não confiei. Me encarreguei de tomar conta de Prim e gosto de pensar que tenho feito um trabalho bem decente.

Tudo estava ótimo até que nossa mãe morreu e o dossiê foi lido, e de repente tinha gente me dizendo que Prim tinha que ir morar com uma prima de segundo grau da minha mãe, aparentemente o único membro da família dela que não se afastou depois que ela fugiu pra casar com meu pai.

Então aqui estou. Forçada a isso porque vou fazer o que quer que seja pra recuperar Prim. E aparentemente o que quer que seja inclui sofrer três vezes por semana durante uma hora dessa babaquice que eu não quero nem preciso.

São 16:58 quando eu finalmente me forço a sair do carro, atravessando o estacionamento como se estivesse andando pra minha própria execução. Fico de cabeça baixa e evito olhos alheios, já odiando o calor se arrastando pela parte de trás do meu pescoço, o constrangimento que sinto por estar aqui.

Subo os degraus da frente da Igreja, passo pela portaria e viro a direita, seguindo as instruções que lembro. Há um conjunto de escadas íngremes e no fundo, um longo corredor. No fim do corredor há uma única porta. Eu respiro fundo e me forço a adentra-la.

A sala é brilhante. O tipo de brilho falso que só pode vir de luzes fluorescentes. Há cerca de 10 cadeiras organizadas em um círculo e uma mesa ao longo da extremidade da sala com ponche e biscoitos. As pessoas estão socializando ao redor, falando baixinho entre si, mas todos os olhos piscam para mim quando eu chego na sala. Eu fico olhando para o chão e, em seguida, passo para o lado.

Tiro meu celular da bolsa e finjo que tenho um monte de chamadas perdidas e mensagens para tratar. Quando deixo meus olhos espiarem pra cima, inspeciono as pessoas em volta na sala. Só tem duas garotas mais ou menos da minha idade, uma com cabelo castanho e curto que acentua suas feições fortes, e outra, com cabelo escuro e longo que parece meio confusa e fora de lugar. As outras pessoas na sala são todas mais velhas, homens e mulheres de meia idade que tem aquele olhar desgastado, cansado no rosto. Dá pra ver nas rugas nos seus rostos e nos olhares nos seus olhos que viveram uma vida longa e difícil.

Claro que tiveram. É por isso que estão aqui, não é?

Estou começando a imaginar quando essa porcaria vai começar, porque quanto mais cedo começar, mais cedo eu posso ir pra casa, quando meus olhos pousam em alguém que eu não tinha notado antes.

Ele parece ser uns 4 ou 5 anos mais velho que eu. Tem cabelo loiro sujo que tem aquela aparência bagunçada permanente e olhos azuis como o oceano. Ele está vestindo jeans e uma camiseta colada que se agarra aos seus ombros largos.

Ele não é... não-atraente.

O olhar dele viaja através da sala e ele me vê olhando. Fazemos contato visual e por aquele breve momento antes de eu desviar o olhar, meu estômago se sacode e minha pulsação acelera um pouco. Me repreendo e tento me livrar da sensação.

Quando finalmente me recomponho escuto ele falar, se dirigindo a sala inteira.

"Certo, todo mundo, vamos começar por hoje."

Todos na sala começam a se mover para o círculo de cadeiras dobráveis, tomando seus lugares.

De qualquer forma, tudo em que posso me focar é que esse homem, esse garota, é aparentemente a pessoa liderando essa coisa, a pessoa responsável. Ele não é um pouco novo pra isso? Como é que ele pode ser qualificado?

Eu hesito, imaginando se seria óbvio demais se eu deslizasse pra fora da sala e fosse embora agora mesmo. Quando eu termino de debater comigo mesma sobre ir embora ou não, sou a única pessoa que ainda não pegou uma assento no círculo. O garoto olha pra mim com um olhar questionador.

"Vai se juntar a nós?" ele pergunta com um sorriso torto.

Assinto e lentamente ando até o círculo, me afundando no único assento vago, diretamente a frente dele.

Ele limpar a garganta e olha em volta pra todos nós. "Bem, primeiro eu gostaria de dar as boas-vindas a todos. Sendo sua primeira vez conosco ou sendo frequentante, estamos contentes de te ver aqui hoje. Apenas aparecer requer um monte de coragem e é um primeiro passo importante no processo de cura."

Assisto ele se dirigir ao grupo, notando o conforto e facilidade com que ele parece ter falando em frente das pessoas, o jeito como as palavras fluem pra fora dele tão naturalmente.

"Meu nome é Peeta Mellark e eu estou aqui a qualquer hora que você precise falar."

Quando ele diz isso ele hora diretamente através do pequeno círculo e travam seus olhos com os meus. Desvio o olhar, desconfortável, ignorando a forma que seu olhar demora em mim por um pouco mais de tempo do que poderia ser considerado normal.

"Se não se importam, talvez possamos prosseguir e, se essa for sua primeira vez aqui conosco, você pode só nos contar seu nome e um pouco sobre você. Nada muito pesado, só um lance de conhecer..."

Merda.

Encaro o chão, já odiando Peeta Mellark. Não quero falar. Eu quero sentar nessa cadeira desconfortável por uma hora em silêncio mortal e contar os segundos até eu poder ir embora e assistir a realidade horrível na TV.

Quando espio, vejo que ele nem tá olhando pra mim. Ao invés, ele tá olhando pra a garota sentada a sua esquerda, a com mais ou menos minha idade e cabelo de duende que a favorece porque ela tem maçãs do rosto realmente altas e lábios carnudos.

Eu quase rio quando vejo o quão irritada ela parece com a ideia de compartilhar algo sobre si mesma.

"Ótimo, tanto faz... Meu nome é Johanna Mason e estou sendo forçada a vir aqui por um grupo de psiquiatra que acha que preciso me abrir ou alguma bosta do tipo," a garota explica casualmente. Ela dá de ombros ao terminar, e olha em volta pro grupo antes de nos lançar um sorriso falsamente doce.

Tenho que morder um sorriso que sinto chegando, apreciando o fato de que pelo menos outra pessoa acha isso tão inútil quanto eu. A garota nota e me corrige com um olhar avaliador. Desvio o olhar sob sua escrutinidade, sentindo que Johanna Mason não está a fim de fazer amigos aqui.

Peeta, pra minha surpresa, só ri da explicação seca da garota. "Bem, Johanna, estamos felizes de te ter aqui, de qualquer forma."

"E não acho que te vi aqui antes..." Peeta diz pra a outra garota jovem que notei antes, a com o cabelo longo e escuro.

"Meu nome é Annie Cresta," a garota fala tão suavemente que mal entendo suas palavras. Ela olhar fixamente pro colo dela; ela parece estar prestes a chorar ou gritar ou ambos.

"Eu não... Eu..." ela tenta começar a falar, mas as palavras morrem em sua garganta. Me deixa desconfortável o quanto ela está lutando, o quão difícil isso é pra ela.

Odeio tanto isso. Eu sabia que odiaria, mas isso só é uma confirmação pra mim, Eu não quero sentar nessa sala com um grupo de estranhos e ver as pessoas no seu pior. Ver pessoas lidarem com a merda delas só me lembra da minha merda e como eu tenho evitado, com sucesso, lidar com ela por tanto tempo, e não estou prestes a abrir aquela lata de vermes.

"Tudo bem, Annie," Peeta diz numa voz gentil. "Estamos felizes que você veio."

Ele desvia o olhar dela e olha diretamente pra mim através do círculo.

Engulo em seco, me encontrando incapaz de olhar pra longe de seus olhos azuis. Ele ergue as sobrancelhas na expectativa, esperando pra ver se vou falar.

"Meu nome é Katniss Everdeen," digo, desejando que minha voz não falhe. Eu hesito, tentando organizar todos os pensamentos na minha cabeça. Tem um milhão de coisas que eu poderia dizer, mas a verdade é que eu não quero dizer nada. A verdade. O pensamento flutua pra a frente da minha mente e eu deixo escapar as próximas palavras. "E eu realmente não quero estar aqui."

Umas duas pessoas riem quietamente, mas meus olhos continuam grudados em Peeta Mellark. Ele segura meu olhar pelo que parece um bom tempo. A intensidade com que ele olhar pra mim é intimidante. Me faz sentir como se ele estivesse olhando bem através de mim.

"Bem, Katniss..." ele diz, finalmente. "Aprecio sua honestidade." Tem só a mais leve sugestão de um sorriso no rosto dele, os cantos da sua boca inclinados pra cima. "Agora, alguém quer começar hoje?" ele pergunta ao grupo.

Pra minha surpresa, os membros mais velhos do grupo, que são aparentemente assíduos aqui, começam a falar, se abrindo sem hesitação. Fico chocada de primeira, tentando me acostumar a ouvir as histórias mais pessoais, íntimas e de doer o coração dessas pessoas que eu nem conheço.

Olho em volta da sala para os rostos desses estranhos. Brevemente me imagino contando a eles meus segredos mais profundos e sombrios. Me imagino contando a eles as coisas com que ainda tenho problema falando em voz alta até com gente que me conhecem melhor.

Só o pensamento me faz estremecer.

Depois de cada história, fica cada vez mais difícil de escutar. Eu não quero ouvir como essas pessoas sofreram tanto quanto, se não mais, do que eu. Me faz sentir mais estranha do que o normal e me força a confrontar o fato de que eles são muito mais fortes e melhores do que eu jamais serei.

Uma mulher de meia idade fala sobre seu filho que foi morto por um motorista bêbado. Ela diz que finalmente foi capaz de entrar no quarto dele no outro dia, que ela começou a passar pelas coisas dele. Ela começa a chorar nem um minuto depois e alguém lhe oferece uma caixa de lenços.

Um homem mais velho falada sobre como ele perdeu sua esposa de 40 anos pro câncer, como o diagnóstico veio do nada e quando descobriram ela já estava no estágio 4. Uma mulher de olhar abatido explica que a culpa que sente por deixar o portão da piscina no quintal dela aperto a corrói dia e noite, que ela sabe que é culpa dela que seu filho não está mais aqui.

Continua assim por cerca dos primeiros 45 minutos da sessão, eu sei disso porque continuo checando o relógio na parede atrás da cabeça de Peeta, esperando dar 18hs pra eu ficar livre pra ir.

Fico quieta o tempo todo, silenciosamente observando e ouvindo. Não é exatamente como eu achei que seria, acho. No geral, as pessoas só vão em frente falando sobre o que quer que queiram. Peeta ouve e então faz perguntas, tentando fazer com que eles expliquem o que estão dizendo, sobre como se sentem.

Quando tem mais ou menos 10 minutos sobrando, Peeta agradece a todos por compartilharem. "É preciso muita força pra ser capaz de vir aqui hoje e trabalhar através do luto. Uma dor como essa é a coisa mais difícil que você jamais vai ter que encarar. E só o fato de você estar tentando fazer algo sobre isso, que você quer melhorar, é o um grande passo."

De repente, me sinto mais leve porque tá quase na hora de ir embora. Preciso sair daqui. Não preciso ouvir o quanto essas pessoas sofreram. Eu sofri o bastante eu mesma. E eu definitivamente não preciso ouvir de Peeta Mellark sobre o quão difícil a vid quão corajosos todos somos por seguir em frente.

Noto ele olhando pra mim de novo. "Antes de irmos embora, quero deixar todos vocês com esse pensamento pra realmente refletir antes da nossa próxima sessão," Peeta começa. "Não importa o quanto suas perdas sejam ruins, as coisas podem melhorar de novo," o garoto prodígio de cabelo loiro e olhos azuis diz ao grupo.

É... certo. O que porra ele sabe sobre luto? Consigo ver perfeitamente, criança rica que decidiu se formar em psicologia porque gosta de tentar descobrir porque as pessoas são como são. Nada além de livros e palestras para informar sua visão de mundo.

Só estou fazendo isso pra conseguir minha irmã de volta, e decido aqui e agora que se Peeta Mellark acha que vai me "curar" magicamente ao final dessas sessões, ele está enganado. Muito enganado.

Deve ter algo na minha expressão, um olhar no meu rosto que diz a ele que completa e total baboseira eu acho isso, porque ele me olha interrogativamente.

"Tem algo a acrescentar, Katniss?"

Contra meu melhor julgamento, me encontro respondendo. "Só não sou uma grande crente da atitude "o sol vai nascer amanhã". A vida é muito mais complicada do que isso." Digo abruptamente.

Do canto dos meus olhos, sinto cada membro do grupo me olhar cuidadosamente.

Alguns são desencorajados pela minha dureza, outros parecem concordar, mas não querem ser muito óbvios sobre isso. Todos olham de mim pra Peeta e de Peeta pra mim por um tempo, esperando ele responder.

Ele me encara por um tempo, quase como se estivesse tentando me compreender. Seu olhar me deixa desconfortável. Não gosto quando ele me olha assim. Por fim, um canto de sua boca se vira pra cima num sorrisinho. "Você tá certa. Ela é." Ele responde por fim.

Sou pega de guarda baixa pela resposta dele. Abro minha boca pra responder e descubro que não tenho nada pra dizer.

"Até a próxima vez, pessoal," ele anuncia para o grupo, efetivamente dispensando a todos.

Quando chego em casa, aqueço uma refeição congelada e sento no meu sofá em frente a TV pra comer. Tento e me perco no entretenimento estúpido ao invés de focar em como o pequeno apartamento de dois quartos que compartilhei com minha mãe e Prim pelos últimos 7 anos agora parece grande demais sem nenhuma delas aqui.

Começo a ficar impaciente, constantemente verificando o relógio. Cadê ele?

Depois de tudo o que aconteceu hoje, dizer adeus pra Prim, sofrer por toda aquela baboseira de terapia de luto, Peeta Mellark...

Sei que não posso lidar com ficar sozinha hoje à noite.

No momento em que começo a contemplar encontrar uma forma de apagar, algo pra me ajudar a esquecer a ansiedade, o estresse e a nuvem negra de pensamentos rodopiando pela minha cabeça, ouço ele descendo o corredor.

Pulo do sofá e me corro pra a porta da frente, abrindo-a antes que ele tenha sequer a chance de bater.

Lanço meus braços em volta do pescoço dele e descanso minha cabeça contra o ombro dele.

"Oi, Catnip," ele diz, esfregando suas mãos pra cima e pra baixo nas minhas costas. Posso ouvir a preocupação em sua voz. "Você tá bem? Como foi hoje?"

Ao invés de responder, recuo e pressiono meus lábios aos dele. Tem o efeito desejado. Foco no calor dos lábios dele e a forma com que ele suspira no beijo. É uma boa distração pro momento. E ele tá sempre dizendo que não sou afetuosa o bastante.

Mas quando eu recuo, o peso de tudo finalmente me atinge.

Prim se foi.

Enterro minha cabeça na camisa dele e começo a chorar. As lágrimas caem silenciosamente por minhas bochechas até se dissolverem em soluços que naufragam meu corpo todo. Ele joga as coisas dele no chão, depois se inclina e me tira de sobre meus pés. Ele usa o pé pra fechar a porta e me traz pro sofá. Ele me puxa contra ele e afaga meu cabelo suavemente até eu me acalmar.

"Vai ficar tudo bem, você sabe," ele quebra o silêncio depois de um tempo. "Eu juro."

São palavras vazias que não significam muito, mas eu sei que ele só tá tentando me confortar.

Assinto minha cabeça em resposta.

Ele me pergunta sobre a terapia de luto, mas eu realmente não quero falar sobre isso também.

Ele não me pressiona por respostas e fico grata.

Quando ele se move pra levantar do sofá, agarro a mão dele. "Gale... Obrigada."

Ele sorri e se inclina pra beijar minha testa. Depois desaparece na cozinha pra comer alguma coisa.

Percebo agora o quão agradecida fico por sua presença na minha vida. Somos melhores amigos desde que minha mãe, Prim e eu nos mudamos pra esse apartamente depois da morte do meu pai. Ele era o garoto mais velho que morava corredor abaixo, órfão de pai como eu e com irmãos mais novos pra cuidar também. Passamos todo o nosso tempo juntos, praticamente inseparáveis. Ele era meu refúgio do mundo real, de encarar a realidade de que meu pai se fora e minha mãe tinha se tornado inútil.

Éramos melhores amigos e eu queria continuar assim, mas mais ou menos há um ano ele deixou claro que queria mais. No começo, eu não queria arruinar o que tínhamos. Eu estava perfeitamente satisfeita com nós sendo só amigos. Mas Gale é teimoso, como eu, e quando quer alguma coisa, não é muito fácil pra ele desistir. Ele insistiu no assunto até que percebi que se continuasse rejeitando-o, poderia acabar perdendo-o como amigo pra sempre.

A ideia em si era tão impensável que eu eventualmente cedi e temos namorado desde então. Às vezes parece que fiz a escolha certa. Gale me conhece melhor do que qualquer um. Ele esteve ao meu lado há tanto tempo quanto posso me lembrar, me ajudando a sobreviver depois do acidente que levou a vida do meu pai.

Tem vezes, no entanto, que eu percebo que minha relutância em ficar juntos no começo era válida. Somos muito parecidos, cabeças duras, com pavios curtos e visões cínicas do mundo. Nós dois somos muito cheios de raiva que nossos pais morreram, nos deixando sozinhos aqui pra sofrer.

Juntos, é um monte de fogo. E muito fogo não é uma coisa boa.

Mas hoje à noite, com Prim longe e as memórias da minha primeira sessão de terapia ainda frescas na minha mente, fico especialmente grata por tê-lo ao meu lado.

Ele volta pro sofá com seu jantar e sentamos em um silêncio confortável pelo resto da noite enquanto ele come e eu fico zapeando pelos canais. Quando não consigo parar de bocejar, desligo a TV e agarro a mão dele, arrastando-o pro meu quarto. Ele dorme aqui mais frequentemente do que não, uma vez que ele mora só descendo o corredor, mas agora que Prim não está aqui, sei que vou pedir a ele pra ficar cada vez mais.

Ele tira os jeans e desliza na cama enquanto eu desapareço no banheiro pra me trocar e escovar os dentes. Quando volto pra a cama, ele está sentado, esperando por mim.

Entro embaixo das cobertas e me inclino pra plantar um beijo suave nos lábios dele.

"Boa noite," sussurro, deitado de lado e olhando pro lado oposto a ele.

Fecho os olhos, pronta pra dormir, esperando que esse dia acabe. Mas aí eu sinto ele se enrolar em volta do meu corpo, seu peito pressionando contra minhas costas, seu braço serpenteando sob o meu. Ele começar a plantar beijos ao longo da curva do meu ombro.

Depois de tudo o que aconteceu hoje, estar com ele desse jeito é a última coisa na minha mente. Mas então suas mãos começam a passear, escorregando por baixo da minha camisa, apertando meus seios, avançando lentamente em direção a minha roupa íntima, me esfregando através do tecido. Apesar de tudo, sinto meu corpo começar a responder e decido que essa pode não ser uma péssima distração.

Viro minha cabeça pra beijá-lo e em um segundo ele se move pra cima de mim, enfiando sua língua na minha boca. Ele grunhe e se pressiona contra mim. Sinto seu comprimento pressionado contra a parte de dentro da minha coxa. Recuo, sem fôlego, "Gale..." aviso, não querendo que ele se empolgue.

"Vamos lá, Catnip," ele respira contra minha boca.

Sinto que tivemos essa discussão um milhão de vezes. Nunca fizemos sexo, e, mesmo eu sabendo que se alguém deve ser meu primeiro, deve ser Gale, não me impede de apenas não querer fazer. Realmente não consigo explicar de outro jeito, só que a ideia de ficar assim com alguém me apavorar.

Significaria derrubar barreiras às quais eu dediquei um trabalho fantástico, maravilhoso, para erguer durante os últimos anos. Significaria me deitar nua, abrindo a bagunça retorcida que é minha alma e me permitindo ficar completamente vunerável. Não é que eu não me importe com Gale o bastante pra deixa-lo ficar tão próximo, mas as coisas que me aconteceram no passado deixaram cicatrizes profundas demais para serem curadas. Não estou prestes a ir e deixa-las expostas, prontas para serem magoadas de novo.

A mão dele desce pelo lado do meu corpo enquanto ele continua me beijando, sugando meu lábio inferior.

Então ele começa a puxar minha calcinha, tentando leva-la perna a baixo.

Ponho minhas mãos no peito dele e o empurro. "Gale, não!"

Ele rola de cima de mim e não faz um trabalho muito bom em esconder sua irritação. Ele geralmente é mais delicado sobre isso. "Ótimo," ele diz, saindo da cama e se encaminhando para o banheiro.

Estremeço quando a porta do banheiro se fecha com força atrás dele.

Deito na cama, completamente acordada, me sentindo culpada e confusa. Sei que ele deve estar ficando cansado de me esperar, mas estou muito emocionalmente fodida pra lidar com algo como sexo.

Pra não mencionar que perder Prim hoje piorou tudo.

Ele poderia ter sido um pouco mais legal sobre isso. Eu geralmente ofereço cuidar dele e ter certeza de que ele chegue lá quando frustro seus avanços.

Mas pelo som de seus grunhidos e gemidos vindo do banheiro, posso dizer que ele não está no humor pra uma mão piedosa hoje à noite.

Rolo de lado e fecho os olhos. Enquanto eu divago naquele espaço entre consciência e sono, um borrão de imagens flutua pela minha mente, Prim sendo levada por uma mulher com muita maquiagem, os choros de pais que perderam seus filhos, Gale pressionando dureza contra mim, deixando suas intenções bem claras. Naqueles últimos momentos em que ainda não dormi, mas não estou acordada, outra imagem, uma que eu nem consigo começar a entender, aparece atrás das minhas pálpebras.

Cabelo loiro e olhos azuis são a última coisa que lembro antes de cair num sono sem sonhos.


Review?