Enjoy~ [The noir!]


Mireiyu não está bem.

Voltar a sua terra natal talvez não tenha sido uma boa experiência, porque ela não conseguiu segurar o pranto quando nos encontramos naquela sacada em construção.

"Também sou filha dos Soldats", ela me disse incrédula.

E eu não sei por que não consegui confortá-la, afinal...

Nós compartilhamos o mesmo quarto.

O mesmo codinome.

E o mesmo mistério.

Mas a única coisa que até hoje me deixa muito embaraçada...

É o fato de ainda compartilhamos a mesma cama.

Isto é, depois de todo esse tempo.

E cá estamos nós, deitadas sobre esse lençol carmim. Mireyu parece estar no sétimo céu dos sonhos, e eu... Bem, acho que ela não sabe ou talvez nem imagina que eu esteja a observando agora.

Mesmo cansada, quando ela dorme parece tão serena, tão... Segura...

Ahh... Eu quero tocá-la...

...Mas não sei o que ela acharia...

...Ou se sequer gostaria...

Só sei que deslizei a ponta dos meus dedos pelo seu queixo bem desenhado devagar e levemente, tomando todo o cuidado do mundo para não acordá-la sem querer...

Mas eu não me importaria de despertá-la com meu beijo...

NÃO!

Afastei meus dedos de seus lábios imediatamente.

Quer dizer, eu quero muito, muito mesmo! Mas não sei se posso... Por que... Ugh, nem sei o que sentir agora. Eu sei que aos poucos a gente está desvendando nosso passado e que uma hora ela vai ter de cumprir nossa promessa, mas...

Eu acho que...

Me apaixonei por Mireyu.

A filha de Córsega.

A mulher de belos traços franceses.

Que se empolga olhando uma revista de moda do mesmo jeito que analisa um arsenal.

Droga, que dor no peito...

Eu já não aguento mais. Eu preciso dizer o que sinto...

Nem que seja num pedaço de papel-

E então me levantei o mais silenciosa que podia, peguei um pedaço de papel de pão e comecei a escrever.

Quando terminei, puxei a cadeira devagar e me dirigi à mesinha perto da janela.

O vento era fresco, típico de uma noite de verão. Eu particularmente não gosto muito desta estação, mas sei que é a preferida de Mireyu.

Guardei o envelope embaixo da nossa plantinha, sabendo que talvez um dia ela possa notar esta carta.

Então me voltei para a janela.

Fiquei olhando as pequenas luzes enfileiradas dos postes na praça e o movimento dos que se aventuravam na madrugada.

Quanta coragem... Queria eu ter essa coragem também...

Dei um leve suspiro e voltei para a cama tentando não acordar Mireyu. Quase pulei de susto quando ela se virou para meu lado meio desacordada e me abraçou pela cintura, como quem quisesse dormir de conchinha.

- Hmm... Kiri...ka... Eu amo... Tan...to... Vo...cê...

Arregalei os olhos. Será que foi isso mesmo que ouvi? Virei meu rosto para olhar Mireyu. Ela parecia continuar dormindo... Seria ela do tipo que fala enquanto dorme? Logo ela que dorme como pedra...

De qualquer forma isso não importa... Uaaah... Acho que vou aproveitar e dormir um pouco também.

Talvez ela não vá se importar se eu por meu braço em cima do dela e me aconchegar nessa conchinha...