Atenção: A descrição de Loki segue a descrição física do ator Tom Hiddleston. Portanto, meu Loki tem olhos azuis, e não verdes como no HQ. Entre outras coisas.

Observação: A música utilizada foi "C'est un Homme Terrible", da Edith Piaf. Como a tradução da música estava horrível e muito ao pé da letra, resolvi modificar.


Terrible

O Deus do Trovão fitava o irmão com os olhos azuis carregados de pesar. Não gostava de ver Loki com a boca amordaçada com aquela espécie de máquina, achava aquilo brutal, algo tão incoerente com o rosto fino quanto uma coroa de pétalas seria incoerente para si mesmo. Os olhos azuis do Deus da Trapaça estavam fixos nos do irmão, e todos que faziam parte da mesa judicial de Asgard olhavam o moreno com uma atenção demasiada de um falcão. O que Loki havia feito em Midgard era considerado um crime absurdo. Matado civis com um prazer maldoso, aberto um portal para que seres de outro planeta entrassem e mexessem com a vida pacífica daqueles humanos, recrutado o Tesseract para si e escolhido um destino para a fonte de poder e energia sem ao menos ter consultado Odin e Thor, rei e sucessor de Asgard.

Mas Thor não via Loki e a situação com olhos acusadores. Os asgardianos enxergavam apenas um homem com aspecto perigoso e uma ânsia por poder doentia. Odin enxergava um filho que seguira o caminho errado e estava sendo julgado justamente. Thor via apenas Loki, seu irmão, mesmo que adotivo, mas sempre seu irmão. Via uma pessoa em pé em um círculo de deuses julgadores esperando sua sentença.

E Thor o amava.

Loki continuava a fitar o irmão com intensidade, e Thor não conseguia desviar o contato dos olhos. O moreno tinha a capacidade de apelar com as orbes, pedir a ele perdão e ao mesmo tempo falar que não estava arrependido, xingá-lo e dizer que o amava. Tudo com os mesmos malditos olhos azuis.

C'est un homme terrible

Avec des yeux doux

Il me prend pour cible

Il me donne des coups

Il me fait pleurer

Avec un regard

Il me fait trembler

.

Este é um homem terrível

Com olhos suaves

Ele me coloca no alvo

E me atinge

Ele me faz chorar

Com um olhar

Ele me faz tremer

A sentença foi dada. Loki ficaria preso no palácio de Asgard, e seria monitorado caso quisesse sair, a mordaça nunca sairia de sua boca enquanto Odin pedisse. Mas aquilo não fora surpresa para Thor. Para todos que conheciam Loki, não era segredo que a boca dele era sua arma mais poderosa e perigosa. O moreno dessa vez abaixou os olhos intensos, fitando com atenção o chão de mármore claro. Os fios lisos do cabelo caíram um pouco em seu rosto, e Thor percebeu que nunca o vira daquela maneira. Tudo ali formava um quadro triste e lamentável.

Alguém puxou o braço de Loki bruscamente, fazendo as correntes que mantinham seus pulsos juntos tilintarem.

— Pai... – Thor soltou em um sussurro, pedindo ao pai e rei de Asgard com os olhos azuis.

Odin gesticulou para o guarda, e as correntes foram retiradas dos pulsos de Loki. Ele passou as mãos no lugar onde a prata havia feito contato com a pele, visivelmente aliviado com aquilo tudo. Seus olhos azuis fitaram o Deus do Trovão uma última vez, antes de ele ser novamente puxado para longe. Seria levado para o lugar onde ficaria o resto de sua vida. Provavelmente o seu próprio quarto. Felizmente, Odin ainda nutria sentimentos de pai para filho, e aquele sentimento havia delineado boa parte da decisão do rei.

Thor não disse mais nada. Não queria. Algo pesava em seu peito. Não sabia se era a responsabilidade de um dia se tornar rei e fazer o que seu pai havia acabado de fazer – julgar alguém pelos seus atos, independente de quem fosse. A carga que lhe esperava era grande, e temia que seus ombros fortes não conseguissem levantar tal carga. Respirou fundo, olhando Asgard pela varanda do local onde estavam. As finas cortinas de tom dourado voavam por causa do vento que batia de encontro a elas, tampando boa parte da abertura da grande porta. O céu estava alaranjado, o dia estava sumindo e dava espaço para a noite se instalar. E com a noite, chegavam os seus piores pensamentos.

Respirou fundo, olhando para a mão que antes carregava o martelo de nome Mjölnir, a mesma mão que havia matado tantos seres de outros planetas, a mesma que antes era carregada com raiva. Uma raiva adolescente e imatura que ele descarregava em qualquer assunto que lhe conviesse.

A mesma mão que desejava acariciá-lo. Acariciar Loki.

Tentou sair dessa linha de pensamento quando Odin foi de encontro a ele, o único olho fixo nas casas peculiares de Asgard. Ficaram sozinhos e calados por minutos, até Odin pigarrear e olhar para seu filho com atenção.

— Sabe que a decisão que tomei foi a correta. Loki precisa arcar com as consequências de seus atos impensados. – Thor não respondeu, apenas desviou os olhos azuis, tão parecidos com os de seu pai, para longe, fixando-os no horizonte já mais escuro. — Eu não pedi aos guardas que mantivessem Loki sob total vigília. Ele pode receber visitas quando quiser. Apenas tenha cuidado.

O Deus do Trovão assentiu, dispensando com esse gesto seu pai. Ficou na varanda por algumas horas, antes de decidir que o melhor a se fazer seria ir para seu próprio quarto a fim de descansar. O dia fora estressante, o Tesseract estava em boas mãos no momento, a salvo. Mas estava fatigado. O mesmo cansaço que lhe visitava quando fazia parte de reuniões daquele tipo, ajudando a conduzir decisões complicadas.

Caminhou em silêncio pelo corredor, percebendo o quanto o palácio estava quieto. Um tipo de silêncio estranho, como se todos ali estivessem sem palavras para o que havia acontecido. O filho do rei, um assassino convicto e maldoso. Thor já não aguentava mais aquele tipo de clima.

Chegou ao seu quarto depois de minutos, retirando a roupa pesada e jogando a capa vermelha em cima de uma poltrona que ficava perto da cama. Precisava tomar um banho, sentir a água quente e perfumada correr sua pele, desfazendo os nós que seus músculos sustentavam depois de um dia como aquele.

Fechou os olhos quando a água foi de encontro ao seu corpo. O banheiro estava cada vez mais escuro, mas ele não se importava muito com isso. A noite chegara quando fechou o chuveiro, cessando a água e inundando o cômodo com o silêncio. Amarrou a toalha na cintura e saiu para o quarto frio. Frio demais.

Achou estranho. Apenas uma leve brisa entrava pela grande janela, indicando que o frio vinha de outro lugar. Buscou a fonte daquela sensação, já sabendo o que iria encontrar.

Ele estava em uma parte escura do quarto, a sombra que uma pilastra fazia tampando boa parte do seu corpo. A máquina que estava cobrindo sua boca reluzia devido ao tipo de material de que era feita. Os olhos azuis maliciosos conseguiam fitá-lo de todos os modos ruins que Thor poderia imaginar. Decifrá-lo, lê-lo... Até mesmo conduzi-lo.

Il voit à travers

Il me passe au crible

Je suis transparente

Quand il est devant moi

.

Ele vê através de mim

Ele me peneira

Eu sou transparente

Quando ele está diante de mim

Ele saiu de onde estava, os passos lentos e silenciosos como de um gato de Midgard, os olhos azuis gélidos nunca deixando o irmão enquanto se aproximava. Thor percebeu o que Loki viera fazer ali no momento em que ele parou em frente ao loiro, sua mão passando pelo artefato em sua boca.

— Sabe que não posso fazer isso.

"Eu sei que pode."

A voz rouca e cansada de Loki ressoou pela mente de Thor, fazendo-o fechar os olhos. Não poderia retirar aquilo da boca dele, seria contra as ordens diretas de Odin, seu pai. Mas também o seu rei. Pensou seriamente que seria melhor o Deus da Trapaça com a boca vedada, mas aquele pensamento logo o deixou. De nada adiantava se Loki conseguia invadir sua mente com destreza.

— Se eu retirar... promete não dizer nada?

"É claro."

Palavras vazias. Thor conhecia o irmão o suficiente para saber que ele quebrava promessas com facilidade. De qualquer forma, estendeu a mão até o aparelho de metal. O material reconheceu a mão do deus no mesmo momento. Mãos reais. Thor poderia dizer com quase certeza de que vira Loki revirar os olhos quando o metal intensificou o brilho. Um estalo cortou o silêncio do ambiente, e a armadura que cobria a boca do moreno foi solta, deixando-o finalmente livre de tudo.

Ficaram se olhando por alguns momentos, as orbes azuis travando uma briga incansável, até Loki dar o último passo e cobrir a boca do loiro com a sua.

E a reação foi imediata.

Thor abriu a boca para receber a língua de prata do moreno, os braços fortes enlaçaram-no pela cintura fina. Não se arrependeu em nenhum momento de ter retirado aquela armadura grotesca da boca dele, e coube a Thor desconfiar de que sempre quando Loki estava por perto, ele se esquecia de tudo o que prometia sempre se lembrar.

Que ele era sucessor ao trono de Asgard, que o homem que estava beijando no momento era um prisioneiro. E era seu irmão. Mesmo que Loki não considerasse isso.

As mãos do trapaceiro foram correndo pelo corpo forte do loiro, desenhando com as palmas cada músculo ali presente, sentindo a pele quente e úmida devido ao banho tomado há minutos. Os cabelos estavam molhados quando Loki passou o braço pelo pescoço do loiro, puxando-o mais de encontro ao seu corpo já magicamente seminu. Thor odiava a facilidade que Loki tinha de se despir, pois nunca conseguia dar um basta em suas sensações ao vê-lo sem roupas.

Mais quand il me caresse

Quand je sens ses deux mains

Se poser comme des compresses

Sur mes yeux pleins de chagrin

Alors je ressuscite

Je retrouve le printemps

Le bonheur invite

Au creux de mon amant
.

Mas quando ele me acaricia

Quando eu sinto suas mãos

Comprimindo-me

Sobre meus olhos cheios de tristeza

Então eu ressuscito

Eu retorno à primavera

Um convite à felicidade

Ao interior do meu amante

Para Loki, conduzir Thor era mais fácil do que conduzir um humano à loucura. As mãos longas trabalhavam com facilidade, destreza e experiência no corpo musculoso, tocando-o nos lugares que sabia que o loiro gostava, guiando-o para um mundo onde ele poderia se deleitar, esquecendo-se de tudo e encontrando o êxtase singular que sempre encontrava quando Loki o penetrava.

Ambos gemeram ao toque, as respirações ruidosas cortando o ambiente silencioso, os corpos deslizando, buscando o contato brusco e primitivo que sempre buscavam ao se entregarem. O hálito frio de Loki batia de encontro à nuca de Thor quando o moreno abria a boca para sussurrar algo que o outro não conseguia discernir, enquanto movimentava os quadris harmoniosamente para o deleite de ambos. Thor apenas fechava os olhos, tombando a cabeça no colchão macio no momento em que o clímax se espalhava pelo seu corpo.

Ambos os corpos desabaram, até o futuro rei de Asgard sentir o contato do corpo do outro ser cessado, para depois virar-se e olhá-lo novamente nos olhos. Enquanto as orbes de Thor eram preenchidas com culpa, as de Loki pareciam uma mescla de sentimentos. Confusão, amor, malícia, desejo e até diversão. Mas não culpa. Nunca culpa. Porém, os olhos de Loki tinham um poder sobre o corpo de Thor impressionante. O poder de lê-lo, de conseguir captar tudo o que ele sentia.

C'est un homme terrible

Avec des yeux bleus

Mon coeur est la cible

Où il vise le mieux

Il revient vers moi

Il revient toujours

Avec un grand "A"

Ça s'appelle l'Amour

C'est un homme terrible

.

Este é um homem terrível

Com olhos azuis

Meu coração é o alvo

E a pontaria dele é boa

Ele retorna para mim

Ele sempre retorna

Com um grande "A"

Que se chama Amor

Este é um homem terrível

Thor deitou-se no colchão macio. A janela estava aberta, era grande o suficiente para cobrir boa parte de uma parede. O céu em Asgard estava estrelado, a noite chegara sem nem ao menos ele perceber. O quarto estava escuro, mas o loiro conseguia ainda ver a silhueta do moreno sentado na cama, os olhos agora fixos em um ponto da parede clara.

— Sabe que terei que recolocar isso.

Thor disse ao perceber o objeto que Loki estava nas mãos. O metal brilhava por causa da fraca luz exterior que cortava uma parte da cama. O trapaceiro não respondeu, apenas estendeu-o para que Thor pudesse cumprir com suas obrigações. O Deus do Trovão não queria recolocá-lo agora, precisava conversar com Loki, perguntar aonde aquela insanidade iria levá-los, mas sabia que naquele momento não conseguiria nada, apenas mais dúvidas.

Thor fechou a pequena armadura na boca de Loki. Fazendo-o calar-se fisicamente. Mentalmente ainda conseguia ouvi-lo.

"Eu nunca serei realmente o seu irmão, Thor. Eu sou o que sou. Assassino. Cruel. Eu faço o que eu quero."

Escutar aquilo feriu cada parte do corpo de Thor, mas ele ignorou, enfiando em sua cabeça que Loki estava dizendo aquilo para não encarar a realidade. Que ali, em Asgard, mesmo depois de tudo o que ele havia feito, ele era amado. Principalmente por ele. Principalmente por Thor.

Puxou-o de encontro ao seu corpo, forçando-o a se deitar na cama. O metal do objeto era gelado de encontro à sua pele, mas não se importava com aquele fato. Ficaram juntos ali, apenas sentindo um ao outro, cada mente preenchida com um pensamento inquieto, diversas perguntas e nenhuma resposta.

Il a peur la nuit

Dans mes bras fragiles

Il s'apaise et rit

Et puis il s'endort

Et je le regarde

Il n'a plus de force

C'est moi qui le garde

Sentinelle dehors

A moi, la toquarde
.

Ele teme a noite

Nos meus braços frágeis

Ele se acalma e ri

E então ele cai no sono

E eu olho para ele

Ele não tem mais força

Sou eu que o protejo

Sua sentinela

Para mim, a toquarde

Felizmente, as duas mentes possuíam algo em comum. Uma certeza. A certeza de que se amavam.

Quand viendra l'aurore

Je quitterai la garde

De cet homme terrible

.

Quando a aurora vem

Eu deixo de ser a proteção

Deste homem terrível