Último Suspiro

Quebrado.

Foi como se sentiu quando se desenrolou diante de seus olhos a cena lenta, quase bonita. O corpo caía suavemente no chão, sem som, sem sangue. Os olhos inexpressivos finalmente fechados, em paz. A face, ainda sarcástica, mais bela e pálida do que nunca. A cortina de cabelos dourados caindo ao redor do corpo como um cobertor.

Algo dentro dele, dentro de seu mundo de paz e tranqüilidade, tinha se quebrado. Irremediavelmente quebrado. Agora ele estava sozinho, para sempre.

Anna tinha Hao. Horohoro tinha sua irmã. Ryuu tinha suas paixões. E, com o tempo, até ele tinha percebido que Ren e Liberté tinham um ao outro. E ele estava sozinho, quebrado.

Tinha perdido tudo o que conseguira. Os momentos de paz que conseguira pouco a pouco, com doses cavalares de paciência, gentileza e delicadeza, tinham se perdido. Não poderia mais levar a comida dela até o quarto onde reinava a penumbra. Não poderia mais inventar perguntas bobas para ouvir sua voz que, apesar de monótona e irritada, ainda era doce. Não poderia mais aproveitar aqueles maravilhosos momentos de silêncio em que, pouco a pouco, Mei-ann começava a se parecer mais com a Mei-ann que ele conhecia.

O Tempo, inclemente, tinha roubado aqueles momentos. O Tempo, inclemente, não lhe deixara terminar sua obra. Fazer com que Mei-ann voltasse a ser Mei-ann. Fazer com que ele fosse feliz com a garota que amava. O Tempo, inclemente, levara Mei-ann à presença de Hao antes que ele, Yoh, fosse importante o suficiente para ela. Importante o suficiente para fazê-la preocupar-se mais em viver e tentar ser feliz, como Liberté fizera.

Mas ele não tinha sido o suficiente.

Talvez...Talvez Mei-ann não se importasse o suficiente com ele para esquecer suas mágoas. Então...Então talvez Mei-ann tivesse querido ir embora.

E ela ainda não tinha ido. Ela ainda respirava, dentro dele, dentro de seu coração.

Ele não podia deixá-la partir, podia?

Não podia deixá-la dar seu último suspiro, podia?

A chuva caía nele, e nos túmulos à sua volta. Mei-ann estava ali, dentro de uma pesada caixa de madeira, seu corpo tranqüilo e jovem para sempre. Ali, próxima ao Grande Espírito, distante de sua família. Mas não importava. Aquele corpo leve como o de uma criança não era Mei-ann. Era uma casca vazia, e não havia sentido em levá-la de volta para a família que ela tinha abandonado.

Abandonado por causa dele.

Ela também o tinha abandonado.

E ele não queria abandoná-la, por mais que ela quisesse.

Mas ele podia realmente negar aquilo que ela pedia?

E então a flor branca que repousava nos dedos de Yoh caiu delicadamente sobre o túmulo de pedra.

E deixando a flor cair, Yoh exalou um suspiro.

Um suspiro que não era seu.

Um suspiro que era de Mei-ann. Seu último suspiro.

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Que tal? Ficou bom? Dêem sua opinião, por favor.

Por que fiz essa side story, quando estava tão ocupada com meus outros projetos?

Porque há muitas, muitas coisas para acontecer em "E se...". E não quero deixá-la mais comprida do que o necessário. Além disso, achei que talvez esse momento ficasse perdido no meio dos outros acontecimentos. E ele é muito, muito importante. Embora eu não saiba explicar muito bem a importância dele. De qualquer forma, está aí. Espero que tenham gostado.

Lady Macbeth