Segunda feira, nove e meia da manhã... Terceiro tempo, aula de matemática.

Todos os alunos estão entediados, suspirando, querendo correr pra fora da sala de aula e isso porque não tivemos nem metade das aulas do dia ainda. Percebo que enquanto todos conversam distraídos eu sou o único que realmente presta atenção na aula e tenta resolver a equação complicada que o professor deixou no quadro. Ninguém aqui está realmente interessado na aula, ninguém veio aqui porque quer aprender e ser alguém na vida, eles vem à escola porque são obrigados, ou simplesmente porque querem fugir dos pais. Pode parecer estranho, mais eu sou a única pessoa que vem a escola querendo realmente aprender.
_Senhor Hudson?_ o som do meu nome sendo chamado me fez despertar dos pensamentos e ignorar aquela maldita conta que eu tentava resolver a mais de dez minutos e não achava um resultado. Odiava quando não conseguia resolver um problema.
Todo mundo da sala parou de conversar pra ver quem havia me chamado... Era o inspetor da escola, o senhor Xavier, ele não era uma pessoa muito amigável, tampouco divertida ou agradável. Ele era um cara mal, muito mal, e aproveitava qualquer motivo para ferrar com os estudantes. Eu nunca tive problemas com ele é claro, sempre mantive distancia dos problemas, eu odiava problemas. O que ele queria comigo?

_Senhor Hudson, venha comigo por favor_ ele ordenou sério, nada bom_ o diretor quer ver você.
_Uh_ um coro de vozes quebrou o silencio que surgira de repente.
O diretor? Me ver? Isso também nunca era um bom sinal... Eu não gostei muito disso, quer dizer, o que o diretor podia querer comigo? Eu costumava ser invisível aqui nessa escola. Bom, enquanto minha mente se enchia de perguntas, me levantei e saí da sala, seguindo o inspetor, deixando os cochichos dos meus colegas pra trás.
Eu tentei perguntar o que o diretor queria comigo enquanto caminhávamos até lá, mais o inspetor Xavier não quis me dizer, na verdade ele me ignorou por completo, como se eu nem estivesse ali. Eu disse que ele era uma pessoa super educada. Suspirei impaciente, um monte de ideias mirabolantes me passando pela mente... Pra minha sorte chegamos.
_Anda garoto, entra... Não vai querer deixá-lo esperando_ ordenou me encarando de cara feia.

_Senhor Berry?_ murmurei sem conseguir esconder o quanto estava surpreso.
_Finn _ ele sorriu amigavelmente pra mim.
Realmente aquela era nova... O que o dono da escola podia querer comigo? Quer dizer... Ele nunca aparecia por lá, somente em alguns eventos muito importantes, em raríssimas exceções. Acho que comecei a soar frio... Será que eu tinha feito algo errado?
_Algum problema senhor Berry?_ perguntei preocupado_ eu fiz alguma coisa?
_Não, não_ ele sorriu negando_ fique tranquilo rapaz, você não fez não fez nada errado... Na verdade, eu ouvi falar muito bem de você, e é por isso que esta aqui.
_Desculpe, acho que não estou entendendo_ confessei confuso.
_Porque não se senta pra que possamos conversar melhor?_ ele pediu sentando-se na cadeira do diretor.
Eu obedeci e me sentei na cadeira, um pouco desconfortável com a situação, curioso pra saber o que ele queria comigo.
_Eu dei uma olhada no seu histórico escolar_ ele disse mexendo em uns papéis_ suas notas são ótimas, dez em quase todas as matérias, exceto por educação artística que você tem nove.
_Eu nunca fui muito bom em artes_ dei de ombros, aquela era a única matéria que manchava meu histórico perfeito, eu nunca consegui tirar um dez... Maldita seja a arte.

_Vejo também que você participa de todos os eventos escolares_ ele continuou falando_ é do time de basquete, de futebol e também de natação. Presidente do conselho estudantil, ganhador do prêmio de ciências da feira da escola cinco anos seguidos. É do clube de xadrez e ajuda o professor de matemática, monitorando alguns alunos com dificuldade. Além de nunca ter levado uma advertência e todos os professores o enxerem de elogios... Nem mesmo o senhor Xavier tem queixas sobre você... E ele tem queixas sobre todo mundo.
_Eu tento ficar longe de encrencas_ expliquei me sentindo corar envergonhado_ estou tentando conseguir créditos para a faculdade, espero conseguir uma bolsa.
_Você já tem alguma ideia de qual faculdade quer entrar?_ ele perguntou entrelaçando os dedos e escorando as mãos na mesa.
_Estou em duvida entre Stanford e Harvard... As duas são ótimas faculdades e tem o curso que quero fazer... Direito.
_São mesmo ótimas faculdades, vejo que você é um garoto decidido que sabe bem o que quer, isso é muito bom senhor Hudson.
_Obrigado senhor Berry_ eu sorri meio jeito.
_E se eu dissesse a você que posso lhe ajudar a entrar em Stanford?_ ele disse_ posso conseguir uma bolsa pra você.
Fiquei em silencio um momento tentando absorver as palavras... Uma bolsa de estudos pra entrar em Stanford era tudo que eu queria e precisava. Aquela faculdade era uma das melhores e me custaria o olho da cara ter que pagar por ela.
_Eu não entendo como_ confessei interessado.
_Eu sou Reitor nessa faculdade, e um grande contribuinte, portanto minha palavra tem muita influencia por lá... O meu voto é crucial pra decidir os alunos que merecem uma bolsa, então é só eu falar sobre você e terá um lugar garantido. Você tem um futuro brilhante pela frente meu jovem... E ter alguém tão inteligente como você em nossa faculdade seria muito bom pra nossa imagem.
_Eu não sei o que dizer_ eu falei nervoso... Não queria criar muitas esperanças.

_Não diga nada ainda, eu tenho uma proposta a lhe fazer, quero que escute com atenção_ ele pediu e eu assenti_ tem uma aluna aqui da escola com dificuldade em algumas matérias, e eu preciso de um professor pra ela. Eu falei com todos os professores e todos me sugeriram você.
_Quem é a aluna?_ eu perguntei curioso.
_Minha filha_ ele respondeu tranquilamente.
_Su-Sua filha?_ eu gaguejei... O dono da escola queria que eu desse aulas pra filha dele?_ esta falando da Rachel Berry?
_Eu não tenho outro filho_ ele disse pacientemente.
_Desculpe mais, não seria mais apropriado contratar um professor particular?_ questionei educadamente.
_Eu já tentei isso, mais não deu certo, ela não se adaptou muito bem_ ele explicou calmamente_ então pensei que talvez fosse melhor se ela tivesse aula com um colega de classe, ela pode ficar mais a vontade, o seu jeito de ensinar pode ser mais fácil pra ela assimilar.
_Não sei se é uma boa ideia_ eu disse receoso_ não somos exatamente amigos, só temos algumas aulas juntos... Ela pode não gostar.
_Ela não tem que gostar de nada_ ele disse curto e grosso_ pense bem nisso senhor Hudson, é uma oportunidade e tanto. Você receberia um pagamento justo pelas aulas dadas, no mínimo três por dia, a semana toda... E no fim do semestre, se as notas dela tiverem realmente melhorado como espero, você teria a bolsa de estudos garantida. Não teria mais que se preocupar com gastos pra faculdade.

_Eu realmente não sei o que dizer.
_Pode pensar se quiser, mais só tem até amanhã antes que eu procure outra pessoa_ ele se levantou da cadeira.
Quando a oferta é demais o santo desconfia... Receber um pagamento pra dar aulas e ainda ter uma bolsa de estudos garantida, eu não podia perder tal oportunidade, sem isso talvez eu não conseguisse bancar a minha faculdade.
_Espere_ eu pedi quando ele estava parado na porta pronto pra sair_ eu aceito... Eu dou as aulas pra sua filha.
_Tomou a decisão certa senhor Hudson_ ele sorriu satisfeito_ você começa amanhã mesmo... Sabe onde fica minha casa?
_Sei sim senhor_ qualquer um sabia onde ficava a mansão Berry, Hiram era o homem mais rico daquela cidade, senão do país todo... Era um bilionário dono de muitas empresas e sócio de outras mais.
_Ótimo, esteja lá depois da aula... Três horas de aula no mínimo, seu pagamento será por semana assim como um teste que aplicarei em minha filha pra saber como se ela esta mesmo melhorando. Não falte.
_Não senhor... E muito obrigada pela oportunidade_ eu disse sincero.
_Não precisa agradecer, só não me decepcione_ ele pediu_ agora volte pra aula.

Eu sai da diretoria sem acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo comigo... Era a oportunidade da minha vida. Dar aulas pra filha do dono da escola não seria algo fácil, mais eu faria qualquer coisa pra alcançar meus objetivos. Até onde eu sabia Rachel Barbra Berry, ou Rachel Berry como gostava de ser chamada mandava nessa escola... Ela era uma dessas patricinhas metidas que acham que são melhores que todo mundo, eu tinha algumas aulas com ela... Artes, educação física e química, mais fora isso nunca a via... Na verdade ela sempre passava longe de mim, e eu agradecia por isso. Todos queriam ser amigos dela, ela era chefe das lideres de torcida, tinha uma vaga reservada no estacionamento e também uma mesa VIP no refeitório, e o almoço dela era diferente dos outros alunos... Ela não comia a mesma gororoba que agente, seu almoço era especial. Patético... Já podia prever como seria nosso tempo juntos, mais eu não a deixaria estragar a minha chance.
Quando entrei novamente na sala de aula todos ficaram me olhando, provavelmente se perguntando o que o diretor queria comigo, esse povo era tão curioso, porque não cuidavam de suas vidas? Tentei prestar atenção na aula até que senti alguém cutucar meu ombro.
_O que foi?_ eu perguntei, era Puck meu amigo.
_O que o diretor queria com você?_ ele perguntou curioso.
_Eu conto depois_ respondi simplesmente e ele não gostou da resposta, mais ficou quieto.
Eu olhei pra frente e o professor tinha colocado no quadro a resposta do problema que eu estava tentando resolver mais cedo... Eu me xinguei mentalmente quando vi o erro que eu cometera, agora entendia porque não tinha conseguido resolver... Era fácil demais.

O resto das aulas se passou tranquilamente e assim que o sinal indicando o fim da aula tocou eu me levantei rapidamente sai da escola, agora que eu daria aulas particulares pra Rachel eu precisaria modificar todo o meu horário. Depois da escola eu ia trabalhar como garçom na lanchonete do Will. Ele era um cara rico, que tinha várias lanchonetes chiques espalhadas pela cidade, ele era um cara legal, era amigo do meus pais e por isso ele me ajudava... Depois que meus pais morreram em um acidente de carro ele me acolheu, me deu um emprego em uma das suas lanchonetes e me arrumou um lugar pra morar. Ele tem uma casa que fica perto da escola e do trabalho e me deixava morar nos fundos, em troca eu fazia alguns serviços pra ele, como limpar a piscina e cortar a grama... Graças a ele não tinha virado ladrão ou drogado, ele e sua esposa Emma me apoiaram quando precisei.
_Hey Finn, chegou mais cedo hoje_ Will sorriu ao me ver.
_Will, eu queria conversar uma coisa com você_ eu disse sem saber como pedir aquilo pra ele.
_Pode falar filho, o que aconteceu?_ ele disse tranquilamente, sorrindo pra me encorajar.
_É que o dono da minha escola falou comigo hoje, ele é Reitor na universidade de Stanford e disse que pode me arrumar uma bolsa de estudos lá, só que pra isso eu tenho que dar umas aulas particulares pra filha dele que tá com algumas dificuldades.
_Isso é muito bom Finn_ ele disse contente por mim.

_Só que eu tenho que estar na casa dele pra dar as aulas todos os dias à tarde depois da escola, de duas as cinco_ expliquei_ é uma oportunidade imperdível, e eu queria saber se você por acaso não pode mudar o meu horário aqui na lanchonete... Eu posso vir pra cá depois que terminar de dar as aulas... Ai eu ficaria das cinco até a hora de fechar.
_Bom, eu acho que posso fazer isso sim_ ele deu de ombros_ o Jacob estava mesmo querendo trocar de horário há um bom tempo, ele não gosta de servir a noite pois o movimento é maior. Mais você acha que dá conta de tudo?
_Concerteza_ garanti a ele com convicção_ depois de a lanchonete fechar eu posso fazer o resto das tarefas, ou mesmo antes de ir pra escola... Eu prometo que dou conta de tudo.
_Tudo bem Finn, fica tranquilo_ ele sorriu me confortando_ se você acha que consegue... A partir de amanhã você pode pegar o turno da noite, o importante é que você consiga a sua bolsa.
_Oh, muito obrigada Will_ eu o abracei_ você é o cara.
_Claro_ ele riu da minha empolgação_ agora vá servir garoto.
Eu almocei rapidamente e então fui trabalhar... Passei a tarde servindo o pessoal na lanchonete, distraído imaginando como seria dali pra frente. Eu ganharia o salário que o Will me paga, mais o dinheiro pelas aulas, já seria uma grana boa. Quando acabou meu turno eu fui pra casa cuidar das outras tarefas... Cortei a grama, e enquanto cuidava da piscina Puck e Sam apareceram pra conversar... Os dois eram filhos do Will e da Emma e grandes amigos meus.

_E ai cara, você ficou de nos contar o que o diretor da escola queria com você_ Puck me lembrou.
_Não era o diretor, era o dono da escola... O senhor Berry_ eu os corrigi_ ele quer que eu dê aulas particulares pra filha dele, em troca ele vai me pagar e me arrumar uma bolsa de estudos em Stanford.
_Hey para tudo_ Sam pediu_ você vai dar aulas pra Rachel Berry?
_Sim, o que tem?_ perguntei sem entender o espanto dele.
_Cara, é a Rachel Berry ... Ele é só a garota mais linda e gostosa de toda a escola_ ele disse.
Eu nunca tinha parado pra reparar nela, talvez por isso a afirmação dele não tenha significado nada.
_E o que tem isso?_ perguntei sem mostrar interesse_ ela é uma patricinha e aposto que dar aulas pra ela vai ser um saco.
_Isso não muda o fato de que ela é gostosa_ Puck disse rindo.
_Nem que você é um pervertido_ eu resmunguei tacando um pouco de água neles.
_Você é sortudo_ Sam comentou_ mais não acha um pouco demais? Quer dizer, você tem as aulas de manhã, vai dar aulas pra ela à tarde, trabalhar na lanchonete à noite e ainda fazer as tarefas aqui em casa... Você não cansa não é?
_O esforço vale a pena_ dei de ombros.
_Mais e a diversão como fica?_ Puck perguntou.
_Eu me divirto... Do meu jeito_ respondi sem dar muita atenção.
Eles não entendiam porque eu trabalhava e me dedicava tanto aos estudos... O caso é que eu estava cansado de depender dos outros. Eu era agradecido por tudo que fizeram por mim, mais eu queria ir pra faculdade, arrumar um emprego descente e comprar minha própria casa... E era assim que eu ia começar, trabalhando... Eu me divertiria depois.