Disclaimer: Harry Potter é propriedade de J.K. Rowling e todos os seus afiliados.


Sem Fôlego

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everyone has

left and the

silence

is

breathtaking.

(wonderstruckbylightning|tumblr)


i – Marius (1930)

Há alguns anos se perguntassem a Dorea quem era o seu irmão favorito, ela não hesitaria em responder que era Marius. Mas logo ela aprendeu que deveria falar Pólux, mesmo quando em seu coração ela sabia que Marius era o predileto.

Não era de se espantar que ela se espelhava em Marius; sempre buscava afeição ou ser o motivo de orgulho no seu melancólico irmão mais velho. Os seus pais não gostavam de que ela sempre o escolhesse, mas apenas passavam aquilo como uma fase — e não era como se ele fosse continuar por perto por muito mais tempo.

Ela sabia que deveria ter percebido que algo aconteceria, mas a sua ingenuidade ainda falava mais alto e, por isso, assustou-se quando Marius entrou em seu quarto à noite.

— Marius! — Dorea exclamou. — O que você está fazendo aqui? Eu já vou dormir. Você devia estar na cama.

Os olhos acinzentados brilhavam com as lágrimas que ele reprimira durante anos.

— Dorea — disse ele—, você já é velha o bastante para entender isso. A minha carta não veio com a de Cassiopéia e era a última chance. Foi a prova final.

— Mas... Pode ter sido um erro! A sua deve estar chegando!

— Nós dois sabemos muito bem que ela não vai vir e que eu devo partir o quanto antes.

Partir? — ecoou Dorea, erguendo-se na cama. — Partir para onde? Partir por quê? Marius, o que você está tramando?

Marius não se moveu do seu lugar ao lado da porta, apesar de Dorea ter se sentado na cama.

— Eu tenho que ir embora. Fugir. Eles vão me tirar da tapeçaria o mais rápido possível.

— Mas você tem de ir embora?

— Sim, ou... Ou eles vão me matar.

A mão de Dorea voou para a sua boca e os seus olhos arregalaram-se quase que comicamente.

— M-matar? M-mamãe e p...

Mamãe e papai — falou ele quase cuspindo as palavras — não querem um aborto sujando a sua tapeçaria.

— Marius, eles não mat... Não fariam aquilo com você! Você é o meu irmão!

Marius suspirou pesadamente e quando viu que Dorea se movimentava para se levantar da cama, andou até ela. Dorea ficou imóvel em seu lugar e olhava para cima, tentando ver a imagem do seu irmão através das suas lágrimas.

— Marius, por favor, não vá... Marius!

— Eu não posso ficar aq...

Por favor!

As lágrimas começaram a descer pelo rosto da garota. Ela não fazia esforço para escondê-las ou reprimi-las. O seu irmão estava partindo. Abandonando-a.

— Dorea... Olhe para mim, por favor... Não chore, Dorea... Por favor... Não chore... Não adianta... Por favor...

Marius aproximou-se um pouco mais e deu um beijo na testa de sua irmã, sentindo algo molhar as suas bochechas. Estranhou e brevemente questionou-se sobre o que seria aquilo, quando percebeu que eram as suas lágrimas.

— Marius, por favor, não vá! Marius! Por favor! Não vá, não vá, não vá, não vá! Não me deixe sozinha!

Ouvir a sua irmã o chamar daquele jeito quase o fazia querer ficar, mas ele não podia. Apesar de ser difícil, tinha de partir o mais rápido possível.

Ele se aprontou de pé e Dorea imediatamente assumiu uma postura parecida. Ele queria falar algo bonito, algo emocionante para ela, mas como não sabia o que dizer, aderiu ao silêncio e torceu para a sua irmã compreendê-lo como ele.

— Marius!

Ele passou pela porta e virou-se para a sua irmã. Um último olhar, e então se virou para ir. Dorea começou a travar uma luta com os seus cobertores que estavam enrolados nas suas pernas, enquanto gritava:

— Marius! Marius! Marius, pare! MARIUS!

Quando chegou à sua porta, não conseguiu vê-lo em nenhuma parte.

— MARIUS! MARIUS! ONDE VOCÊ ESTÁ? MARIUS, VOL-TE!

A voz de Dorea quebrou na última palavra e ela recomeçou a chorar quando recebeu apenas o silêncio como resposta. Ela sabia que os seus pais provavelmente tinham escutados os seus gritos, mas não se importava com aquilo. Ela apenas queria o seu irmão de volta.


ii – Cygnus (1943)

Ele parecia estar dormindo, realizou Dorea, enquanto observava o corpo do seu pai.

A sua mãe estava em um canto, toda de preto e ocasionalmente erguendo um lenço ao rosto; Cassiopéia parecia não estar abatida com a morte do pai e estava sentada sozinha em um canto; já Pólux conversava com algum outro Lorde de uma família antiga, provavelmente já realizando o seu mais novo papel de Senhor da família.

Dorea tinha ido para lá o mais rápido possível após ter recebido a mensagem de sua mãe. Ela tinha dito que ele falecera enquanto dormia.

Ela não conseguia imaginar como seria acordar ao lado de um defunto.

— Você precisa de alguma coisa? — uma voz murmurou próximo de seu ouvido. Dorea negou com a cabeça e sentiu a mão de Charlus envolver a sua. Com a outra ele remexeu o seu bolso até retirar um lenço e esticar à sua direção. — Aceite-o. — Um lenço? Por que ele estaria me dando um lenço? Por acaso eu... Ah.

Dorea ergueu e passou embaixo dos olhos. Ela continuou segurando-o.

— Você quer ir lá para fora por um tempo? — perguntou Charlus. Mais uma vez Dorea negou com a cabeça.

Cygnus não tinha sido um pai amoroso e muito presente, mas ele tinha feito parte de sua vida. E era o seu pai. Apesar de não chorar copiosamente pela sua morte, ela ainda sentia-se abalada. Era estranho pensar que aquele homem rigoroso nunca mais corrigiria o seu francês todas as vezes que a visse, mesmo sabendo que ela fazia aquilo de propósito.

Ela brevemente pousou os olhos sobre a mãe e sentiu o seu coração se apertar ao ver o seu rosto. Temia que a sua mãe não aguentasse e também se fosse em um curto espaço de tempo. Violetta nunca amara o seu pai como Dorea amava Charlus, mas a Potter sabia que a sua mãe ao menos se afeiçoara ao seu pai, e havia sido mais de quarenta anos de casamento. Violetta não saberia e nem conseguiria viver de outra forma.

Dorea virou-se para Charlus e murmurou:

— Vamos lá para fora.

Ela tinha esperanças de que o frio ao menos inibisse um pouco o que ela sentia.


iii – Violetta (1944)

Dessa vez ela chorou mais do que pensou que seria possível. Ela não conseguia passar nem dois minutos dentro do cômodo sem que os seus olhos se virassem para o corpo da mãe e soluços invadissem o seu corpo.


iv – Charlus (1977)

Charlus estava mais de quarenta minutos atrasado e ele nunca se atrasava. Alguma coisa estava errada e Dorea sabia muito bem daquilo. Afinal, não demorava muito comprar flores (Charlus teimava em mimá-la com flores sempre que podia, mesmo ela já tendo dito que logo não haveria mais espaço no jardim).

Os elfos domésticos já tinham retirado o jantar e ela estava quase chamando algum conhecido para procurar o seu marido quando o sinal de uma chamada por flú tocou.

Apesar da idade, Dorea foi rápida para chegar à sala e prontamente aceitou a chamada, vendo sair das chamas verdes um funcionário do Ministério da Magia, a qual na plaquinha em seu peito tinha escrito 'Albert Zeller'.

— Boa noite — disse Dorea. — O meu marido, o Lorde Potter, ainda não chegou, portanto qualquer not...

— Minha senhora — interrompeu Albert Zeller —, não é com ele que eu quero falar.

Ele deu um sorriso triste em sua direção e Dorea sentiu que as suas pernas iriam ceder a qualquer momento.

— Há mais alguém aqui com a senhora, Lady Potter? — Perguntou Albert.

— Não. O meu filho está na casa de um amigo e só volta amanhã.

— Teria como a senhora chama-lo?

— Por quê? — questionou Dorea. — O que desejas com o meu filho?

O funcionário respirou fundo e olhou ao redor.

— Teria como conversarmos sentados?

— Diga-me o que tens a falar.

O coração de Dorea batia tão rápido e alto, que ela se perguntou se o homem conseguia escutar de onde ele estava. As palmas das suas mãos estavam molhadas e ela passou o mais discretamente possível sobre a sua roupa.

— Minha senhora, deveríamos...

— Fale logo!

Dorea sabia que estava sendo grossa e mal educada, mas o seu coração batia tão rápido e ela tinha tanto medo do que ele ia falar que mal se importava com aquilo no momento. Milhares de teorias se criavam em sua cabeça e ela implorava, rezava mentalmente que algumas delas não se tornassem realidade.

O funcionário lançou mais um rápido olhar pelo cômodo e coçou a nuca, obviamente desconfortável com a situação.

— Minha senhora, houve mais um ataque no Beco Diagonal nessa noite. Muitos perderam a vida e diversos ficaram seriamente feridos, mas felizmente vários Comensais também foram presos. Infelizmente eu devo lhe informar que o seu marido, Charlus Potter, estava entre essas pessoas que não resistiram e...

A escuridão rapidamente invadiu o seu campo de visão e Dorea não soube de mais nada.


v – James (1981)

Era uma brincadeira de mau gosto do destino, pensou Dorea. Fazem apenas cinco anos e agora isso...

As mãos pálidas da Potter tremiam e um terceiro lenço já estava presente em sua mão. No momento em que aquela mulher bateu à sua porta, ela a reconheceu como McGonagall, a professora de quem James tanto falava. Dorea sabia que não era uma boa notícia, mas... Mas aquilo era demais. Era muito para ela conseguir aguentar.

A tal McGonagall também chorava, mas Dorea mal tinha conseguido se sentar.

O seu filho... O seu filhinho... O seu bebê que adorava correr atrás dos vagalumes e que rapidamente cresceu em um homem forte e gentil. Ela conseguia claramente se lembrar de quando James tinha nascido, de quando ela o segurou pela primeira vez, a primeira palavra que ele disse, a primeira vez que sorriu... E agora tinha sido violentamente arrancado dela. Igual a Charlus.

Dorea soluçou mais algumas vezes e tentou se acalmar o suficiente para conseguir falar.

— H-ha... H-harry... Leve-me para Harry….

O seu neto que ela queria ter visto mais vezes agora não tinha pais. Nunca veria como James era. Como o amava.

Agora ela só tinha a Harry e vice-versa.


vi – Harry (1981)

Só de olhar para o rosto de Harry doía: ele era tão parecido com James quando era bebê...

E queria apenas abraçar o seu neto e não soltá-lo mais. Tinha medo de que se o deixasse ir, ele também seria arrancado de sua vida como todos os outros.

Arrancado... James... Charlus... Marius... Oh, Merlin, há quanto tempo eu não pensava em meu irmão que tinha fugido? Oh... Tantos amigos que faleceram naquela guerra. Ah, James... James...

Ela fingia não conseguir escutar o que o Diretor Dumbledore falava. Dorea fechou os olhos e respirou fundo. Ele queria levar embora a única família que ela tinha. Sim, Harry ficaria seguro, mas por que ela não poderia ficar com o seu neto? Por que ela tinha de remendar o seu coração mais uma vez? Por que ela tinha de ficar sozinha? A irmã de sua nora era uma trouxa. Ela conseguiria criar o seu neto muito bem.

Dorea não queria deixar que levassem Harry embora, mas ela estava fraca — tanto fisicamente quando mentalmente — e não conseguiria colocar uma boa briga no momento. Não sabia nem se conseguiria aparatar com outra pessoa naquele momento. Fugir com Harry para longe.

A mão de Dumbledore era fria, mas Dorea mal a sentiu quando ele a pôs sob o seu braço. Já o corpo do pequeno Harry emanava calor contra o seu, e ela sabia que ele seria o motivo pelo qual ela agora sobreviveria.

Marius... Charlus... James... Harry...

Harry. Eles o levaram em algo que fazia bastante barulho enquanto voava. Toda e qualquer simpatia que um dia sentira pelo Diretor sumiu quando ele entregou o seu neto para aquele homem gigante que fungava altamente.

Como ele ainda conseguia fazer aquilo com ela?


vii – Dorea

A inocência da sua infância foi despedaçada quando Marius fugiu de casa, mas o seu coração começou a rachar quando a sua mãe partiu, vindo a quebrar-se totalmente com a perda de Charlus e James.

Não havia sido fácil e ainda não era. Às vezes ela mal conseguia lidar com o fardo de ter perdido quase toda a sua família, mas conseguia aliviar um pouco a dor ao pensar que agora Charlus teria James para lhe fazer companhia aonde quer que estivessem; a consolava um pouco pensar que eles a vigiavam de algum lugar.

Agora Harry era a sua única prioridade. O Diretor tinha lhe dito que ela não devia entrar em contato com ele, mas ele era família. Dorea era uma Black por nascença e uma Potter por casamento. Tinha sido uma sonserina. Ela era acostumada a ter o que queria e, custe o que custasse, ela não abandonaria a sua família.


N.A.: ...adivinha quem ainda está viva? Pois é. Mas não se preocupem, pois tenho uma oneshot com mais de 7 mil palavras (que está em fase de revisão) para compensar o meu sumiço.

Quem aí também participou/participa dos protestos? :3

E como vocês devem ter percebido, sim, eu aderi ao travessão (—).

Qualquer coisa é só avisar!