1º Capítulo: Resolvendo Mistérios

As folhas na estrada voaram com o passar de um carro. Era bastante raro, àquela hora da noite ver mais do que um ou dois carros passarem em menos de cinco minutos. Além das luzes fracas da estrada sombria, o néon do restaurante iluminava os veículos estacionados. Isolado dos restantes, o Chevy Impala preto poderia passar despercebido, não fosse o som da música de ACDC ecoando.

No stop signs, speedin' limit
Nobody's gonna slow me down
Like a wheel, gonna spin it
Nobody's gonna mess me 'round

Um casal de namorados passou olhando incrédulo o sujeito dentro do carro, que se remexia, batia com as mãos no volante e cantava alto:

- Hey Satan! Paid my dues. Playin' in a rockin' band. Hey Mama!Look at me. I'm on my way to the promise ! – O sujeito loiro olhou e riu debochado, fazendo o casal abanar a cabeça.

Dean não ligou. O som de ACDC era como uma libertação. Por uma noite, não tinham trabalho para fazer e poderia cantar e comer os hambúrgueres que quisesse.

Um rapaz de cabelos pretos saiu da loja em frente achando graça para as pessoas que olhavam para o Impala surpresos. Afinal, já estava mais do que acostumado com isso. Se bem que esses momentos de descontração eram cada vez mais raros entre eles nesses tempos e Sam deu consigo observando a cena com um sorriso no rosto. Ele sentia falta desses momentos de descontração. Talvez fosse melhor esperar a música acabar para não interromper... Se bem que conhecendo o seu irmão como o conhecia era melhor que voltasse logo com o hambúrguer, antes que esfriasse.

- I'm on the highway to hell. – Dean cantou alto abanando a cabeça, mas saltando em seguida quando um bater no vidro o apanhou desprevenido.

- Bastante apropriado, hein? – A cara de Sam apareceu, abrindo a porta e sorrindo ao ver o momento zen de Dean.

- Sempre mandando os bons momentos para o espaço, cinderela. – Dean reclamou, colocando o som um bocado mais baixo, mas continuando a bater os dedos no volante.

- Não sei porque é que ainda tenho paciência para ir buscar os seus queridos hambúrgueres! Sam passou um saco com os famosos cheeseburguers, fazendo Dean desembrulhar um com uma rapidez avassaladora.

- Porque sou eu que safo meu mano caçula dos problemas! – Dean exclamou, dando uma dentada no hambúrguer.

- Temos trabalho para fazer. – Sam suspirou, fazendo Dean se engasgar.

- Com' ssim? – Dean perguntou com a boca cheia.

- Bobby telefonou. Ao que parece, um caso estranho tem se sucedido próximo à sua cidade. – Sam explicou.

- Ai sim? – Dean amassou o papel e voou para a próxima sandes. – Porque é que ele não investiga? É assim tão complexo?

- Não. Por acaso é bem simples. – Sam abriu uma lata de refrigerante fazendo Dean rolar os olhos. – Trata-se de uma mansão abandonada. Bobby referiu que estranhas aparições têm assustados os mais desprevenidos.

- Deixe adivinhar: miúdos desafiando o perigo, entram à socapa e tropeçam num gato preto? – Dean riu alto.

- Neste caso tropeçaram num fantasma de uma rapariga. – Sam disse, olhando Dean. – Bobby acha que está relacionada com a casa e a antiga família que lá morou. Uns tais… Lawson, acho.

- Nossa, minha folga acabou por causa de um fantasma de uma donzela que decidiu dar uns pegas do além. – Dean disse com ar desconsolado.

- Ah, Dean. Não custa fazer o favor. Bobby tem um caso em mãos bastante importante. Pediu-nos encarecidamente. – Sam disse, sempre compreensivo e atencioso como sempre.

- Ele pode ter acção e nós não? – Dean perguntou. – Além do mais ele pediu a você, não a mim.

- Deixa de ser criança. – Sam abanou a cabeça sorrindo.

Dean acabou de comer e rodou a chave do carro. Caramba, tantos demónios à solta e tinha-lhe calhado logo um caso de fantasma com TPM fora do prazo? Uma jovem loira saiu do restaurante em direcção a um carro. Olhou para Dean e acenou, sendo que este fez um sorriso de derreter gelo, esquecendo por momentos a conversa com Sam.

- Dean? – Sam arqueou uma sobrancelha, como se o repreendesse.

- Ok, ok, caça-fantasma. Já estou indo! – Dean exclamou, olhando de relance uma última vez, para a garota.


Horas depois…

O carro preto parou em frente a uma mansão. Dean e Sam espreitaram pelo vidro. Se não tivessem a profissão que tinham era caso para dizer que aquela casa, que outrora devia ser fabulosa dava medo. Na noite e sem luz na área, a grande casa erguia-se imponente rodeada por uma aura fantasmagórica.

- Pelo jeito parece que encontramos a famosa casa do Drácula. – Dean brincou fechando a porta e abrindo a mala do carro.

- O Bobby referiu que embora nenhum dos garotos se tenha ferido, dois deles disseram que o fantasma os tentou estrangular. – Sam avisou.

- Qual é a novidade? – Dean perguntou. – Quase todos têm uma mania tremenda de tentar esganar os vivos. O que você descobriu na pesquisa?

- Bem, segundo as fontes esta casa está desabitada há mais de 30 anos. Os últimos habitantes foram a família Lawson. A família instalou-se cá por volta dos inícios do século XX, vindos de Inglaterra. Também descobri que eles não eram muito acarinhados por aqui. – Sam explicou.

- Tou vendo. Temos pelo menos três gerações para descobrir esse fantasma. – Dean analisou.

- Não será assim tão difícil. Segundo alguns sites sobre a localidade, a maldição do Lawson é muito conhecida por aqui.

- Maldição? – Dean arqueou a sobrancelha enquanto fechava a mala. – E o Bobby não dizia nada?

- Talvez não tenha associado ou pense que é apenas lenda. – Sam disse. – Mas o que se diz por aí é que os últimos moradores morreram misteriosamente depois da filha caçula morrer. Escuta só! – Sam pegou o notebook e colocou-o encima do capo. – "Abigail Lawson morreu misteriosamente aos 14 anos em 1973. Nunca se soube a causa exacta da morte, e embora a família sempre o escondesse, há fortes suspeitas que esta tenha sido estuprada pelo progenitor e estrangulada até à morte."

- Faz sentido já que ela tentou estrangular os dois garotos. Talvez deseje vingança. – Dean olhou para a mansão e sentiu um arrepiou. Tudo estava calmo. Calmo demais.

- Mas a história não termina aqui. – Sam avisou continuando a ler. – "Após a sua morte, outro mistério assombrou a família Lawson. Os seus pais e irmãos morreram subitamente num intervalo de meses. Embora a polícia nunca se interessasse em investigar o suposto assassinato de Abigail Lawson, o estranho caso da família permitiu que nascesse uma lenda. Segundo alguns crentes, Abigail voltou para se vingar da sua família e com isso instalou uma maldição que atingirá todos aqueles que puserem os pés na mansão Lawson".

Dean alternou o olhar entre o notebook e Sam. Depois um sorriso estampou-se no seu belo rosto.

- Vá lá, Sam. Isso é treta. A história do assassinato até que vai, agora dizer que há uma maldição para todos que entram na casa! – Dean riu.

- Já vimos coisas suficientes para duvidar… - Sam aconselhou mas Dean cortou-lhe a palavra.

- Quantos miúdos entraram aqui e morreram?

- Nenhum.

- Então estamos esperando o quê? – Dean perguntou. – Entramos, certificamo-nos que esse fantasma adolescente existe e queimaremos os restos mortais no cemitério.

Dean abriu o portão ferrugento e Sam guardou rapidamente o notebook. Com uma corrida alcançou o irmão no alpendre carcomido.

- Quanto à campa… - Sam disse. - … a família foi enterrada aqui no jardim das traseiras.

- Óptimo! Poupa-nos trabalho e gasolina. – Dean sorriu e abriu a porta devagar, fazendo Sam rolar os olhos.

O ambiente escuro foi iluminado pelas lanternas dos dois irmãos. O silêncio era sepulcral e caminharam em silêncio até ao hall da grande mansão. Do lado direito, uma porta dava acesso a uma sala. As teias de aranha e o pó decoravam os móveis cobertos por lençóis amarelados.

Sam perscrutou com a lanterna a lareira e encontrou um passepartour caído no chão. O vidro estava partido e Sam sacudiu o pó. Na foto a preto e branco apareciam cinco pessoas.

- Dean. – o mais novo chamou.

- A célebre família. – Dean disse quando olhou para as cinco figuras. Um homem alto e magro estava no centro. Ao seu lado, dois rapazes com idades entre os 12 e 18 anos exibiam a mesma faceta séria. Sentada numa cadeira, uma mulher com ar triste posava e no chão, com um vestido claro, estava sentada uma rapariga. O cabelo era negro e de todos era a que exibia uma expressão mais suave.

- Abigail Lawson. – Sam apontou com o dedo. Embora fosse uma foto sem cor, o olhar de Abigail fez Sam ter a impressão que já o tinha visto em qualquer lugar.

- Pena. Daria uma excelente mulher… - Dean não acabou a frase, já que um barulho no andar de cima fez os irmãos virarem as lanternas para a entrada vazia.

- Eu vou lá cima. – Sam disse e encaminhou-se para as escadas de madeira. Mal colocou o pé no primeiro degrau viu este partir-se.

- Tem cuidado, mano. – Dean avisou. – Eu vou à cozinha ver se há algo para comer.

- Ah, ah, ah. Grande piada. – Sam disse com cara séria e subindo os degraus cuidadosamente, enquanto estes rangiam com o peso dos anos.

Deparou-se com um corredor vazio e escuro. Embora já tivesse lidado com inúmeros casos de fantasmas, a verdade é que entrar em casas abandonadas e sombrias lhe provocavam um frio na barriga. Claro que Dean não sabia, ou Sam seria motivo de gozação sempre que entrasse numa.

Abriu as portas empoeiradas uma a uma, apontando a lanterna para todos os recantos. Até agora nada. A última porta situada no fundo do corredor revelou-se a mais difícil de abrir. A maçaneta estava perra e Sam teve de dar um empurrãozinho para esta ceder. O pó acumulado entrou na sua garganta e provocou-lhe um ataque de tosse. Mais calmo, conseguiu distinguir uma cama em ferro e uma boneca em cima desta. Estava no quarto de Abigail.


Dean andou até à cozinha. Os armários em madeira estavam abertos e lá dentro só teias de aranha sobressaíam. Dean passou a lanterna por todos os sítios. Nada de interessante saltava à vista. Tinha quase a certeza que não havia nada naquela casa, ou então o fantasma era muito tímido. Sabia que os miúdos inventavam mil e uma histórias e embora fantasmas existissem, nem todos era reais. Olhou a torneira da banca e rodou-a. Ouviu-se um barulho dentro das paredes e Dean sorriu com a cara de Sam naquele momento. Talvez Sam se viesse a rir quando visse que a brincadeira do irmão mais velho tinha saído ao contrário.

A torneira expichou um líquido cor de ferrugem e fez Dean saltar.

- Merda! – exclamou quando viu que o seu casaco tinha ficado sujo. Ao procurar um trapo velho os seus olhos desviaram-se para o jardim das traseiras. No meio da neblina nocturna, uma laje em pedra sobressaía-se e ao lado dela, uma rapariga vestida de branco olhava Dean. Num piscar de olhos esta desapareceu.

Dean saiu pela porta das traseiras e só parou à beira da velha lápide. Embora gasta pelo tempo conseguiu decifrar o que estava escrito.

- "Família Lawson" – pronunciou. Apenas e só. Não havia datas, não havia dedicatórias nem outros nomes. Pensou em buscar a pá ao carro, mas estancou ao olhar para a janela do andar de cima. O flash da lanterna de Sam fez com que voltasse para dentro da mansão. Não iria deixar o seu irmão sozinho com um fantasma esquizofrénico.

-

Sam olhou o quarto em volta. As paredes, embora desbotadas estavam forradas com papel cor-de-rosa. O armário e cómoda eram ornamentados com flores e em quase todos os recantos havia bonecas. Sam pegou num caderno pousado na cómoda. A capa de couro tinha uma fivela. Todas as folhas tinham escritas o dia. Sam sentiu-se incomodado por espreitar o diário de outra pessoa, mas se esta tinha sido morta, era um fantasma e podia colocar as pessoas em perigo, a curiosidade era legítima.

A última entrada datava de 10 de Julho de 1973. Apenas e só uma frase: "Sinto-me cada vez mais fraca". Ao desfolhar as restantes folhas, um pequeno insecto saiu do meio destas. Veio directo à sua cara e Sam sacudiu-o.

Ao pousar o caderno sentiu uma picada no pescoço. Levou a mão a este e viu que tinha morto o pequeno insecto. À luz da lanterna parecia apenas um mosquito não fosse…

- Sai do meu quarto! – A ordem vinda de alguém atrás de si, fez Sam voltar-se e apontar a lanterna. Num dos recantos do quarto, uma figura pálida encolhida e completamente despenteada, tapava a cara com as mãos enquanto gemia baixinho.

Continua…


Olá leitores! Esta é um long fic que estou escrevendo sobre o Sam e a Bela. Passar-se-á entre o presente e o passado. O meu obrigado à NaylaS2 que teve a ideia desta fic e é a sua betareader.

Espero que gostem!

Saudações Piratas! :D

JODIVISE