a/n: This is the Portuguese version of the story Silver Skies, which can be found in my Profile page.
Céus Cinza
Os céus estavam tão incertos quanto ele sobre o modo que ele deveria se sentir hoje. Um sol tímido lutava bravamente contra os céus cinza, e sua débil força não era suficiente para dispersar o frio que permeava aquela gélida manhã.
Ele se encontrava ali, de pé diante do túmulo, e sentia-se estranhamento quieto. A constante avalanche de palavras e idéias que normalmente marcavam as suas divagações fora silenciada pelo grande peso que insistia em esmagar o seu coração, o que tornava quase impossível o simples ato de respirar mais uma vez.
Ele olhava fixamente a lápide, onde as palavras simples que ele escolhera como um memorial para a mulher que ela fora pareciam incapazes de representar por completo toda a amplitude da sua presença e a vitalidade da sua personalidade. Mesmo durante aqueles últimos anos, quando a insanidade lentamente corroeu o contato com a realidade e tornou os seus dias partilhados em nada mais nada menos que um teste de paciência e amor, a sua personalidade forte ainda, às vezes, bravamente ressurgia do estranho oceano de pensamentos que ela tinha tornado refém.
Fechou os olhos por um momento ao sentir lágrimas teimosas que insistiam a correr-lhe pela face, uma vez que o seu coração se dividia entre duas emoções extremas: alívio graças a certeza que, onde quer que ela estivesse, ela estaria em um lugar melhor que o calabouço sem paredes na qual ela se encontrara prisioneira por tantos anos; vergonha por sentir alívio por se libertar da responsabilidade de cuidar de uma mãe doente, tarefa esta que ele fez com amor e carinho por muitos anos, porém algumas vezes o fardo lhe parecia pesado demais sobre seus ombros, uma vez que ele não tinha ninguém para partilhar o seu peso; e a mais profunda e incomparável dor por perder o seu último elo com o passado e a realização amarga que, agora, ele realmente estava definitivamente e totalmente só.
Respirou profundamente, sentindo o ar gelado da manhã cinzenta preencher seus pulmões com oxigênio, de forma a permitir que ele continuasse a viver outro minuto, outro dia. Esse mesmo ato era algo que ela nunca mais seria capaz de fazê-lo. Fechou as suas mãos em um punho tenso, tentando em vão manter a torrente de lágrimas que ameaçavam transbordar se ele desse uma única brecha na muralha que ele mantinha ao redor de si.
Seu coração continuava a pulsar de uma forma teimosa, enviando sangue do seu peito para as suas extremidades, trazendo o oxigênio e nutrientes necessários para os órgãos pelos quais ele passava. Outra coisa que ela também nunca mais faria de novo.
Ele baixou seu rosto, e sentiu a represa lentamente ruir ante a pressão de seus pensamentos, dor e solidão, que se tornaram como uma serpente viva comprimindo-o como uma jibóia-constritora, cercando-lhe o peito com seu corpo sinuoso e lentamente roubando-lhe a sua vontade de lutar.
As lágrimas começaram sem que ele pudesse evitá-las, e os soluços surgem do mais profundo de sua alma. O fim estivera perto por tantos anos, mas ele nunca imaginara que finalmente dizer adeus seria uma dor tão excruciante.
"Ah, mãe," Ducky diz entre soluços.
Foi difícil dizer adeus, mas ele o fez.
