- Fear of the Dark -

Ato I: Medo do Escuro (Fear of the Dark)

Eu sou um homem que anda sozinho

E quando eu ando em uma estrada escura

De noite ou passeando pelo parque

Quando as luzes começam a mudar

Eu algumas vezes me sinto um pouco estranho

Um pouco ansioso quando está escuro

Medo do escuro, medo do escuro

Eu tenho medo constante de que algo está sempre perto

Medo do escuro, medo do escuro

Eu tenho uma fobia de que alguém está ali

Você já correu seus dedos pela parede

E sentiu a pele de sua nuca arrepiar

Quando estava procurando a luz?

Algumas vezes quando você está com medo de olhar

No canto da sala

Você sente que alguma coisa está observando você

Você alguma vez já esteve sozinho a noite

Pensou que ouviu passos atrás de você

E virou de costas e não havia ninguém lá?

E a medida que você acelera seu passo

Você acha difícil olhar novamente

Porque você tem certeza de que alguém está ali

(Iron Maiden)

Azakaban não era exatamente o lugar que o representante do Ministro da Magia sonhava ter de visitar numa fria noite; aliás, ninguém gostaria de visitar Azkaban em tempo algum. Mesmo que você tivesse a segurança da alta patente dos aurores lhe acompanhando, era de dar calafrios descer pela prisão. Especialmente por saber que estava indo para a cela mais isolada e temida do lugar...

Teias de aranha, escuridão, mofo; a sombra da morte parecia soprar em seus ouvidos; ossos, ratos, cordas, capim seco, barro, umidade, correntes. O cheiro daqueles corredores das solitárias era indescritível, e horrendo.

Caminhavam em silêncio. Também, conversar o quê? A cada passo que dava, o pobre homem do Ministério sentia as pernas fraquejarem. Aquela enorme e gasta porta de aço se aproximava... nenhuma abertura, a não ser uma forte tranca mágica.

Pararam na frente da porta, e ficaram em silêncio. A tranca se abriu, e a porta se abriu, revelando ser uma cela não muito grande, completamente escura, no mesmo estado deplorável dos corredores. O mínimo feixe de luz das tochas iluminou apenas um pedaço do chão. Mais uma vez, o silêncio.

O representante pareceu pegar fôlego, abriu um pergaminho e leu:

- Ao prisioneiro de número 154233, eu trago mais uma ordem de colaboração objetivando sua redução de pena, em nome do Ministério da Magia Internacional. A não aceitação deste termo não será aceita.

Mais uma vez, silêncio.

- Entendeu...? – perguntou o representante do Ministro, abaixando o pergaminho.

Os aurores caminharam para dentro da cela. Silêncio absoluto. O representante fez o mesmo, e olhou dos lados, perguntando:

- ...Onde se enfiou aquele maldito demônio?

Com um pesado som, a grande porta de aço fechava os aurores e o representante na considerada mais cruel e gélida cela de Azkaban. E agora, subindo as escadarias da mais segura prisão do mundo mágico, o prisioneiro número 154233 corria numa velocidade alucinante, como se soubesse de cor onde estava. E ninguém iria parar aquele que estava preso na pior e mais longínqua cela do lugar, condenado a ficar lá eternamente...


- Ora, chegou bem a tempo. – sorriu Dumbledore, à frente dos portões de Azkaban – Sabia que cedo ou tarde você trancaria os coitados lá dentro e daria o ar da graça.

Leah, no alto da escadaria, com a roupa de presidiária, estava curvada, respirando ofegante, suja, parecendo exausta, o rosto mais magro que sua magreza natural.

- Não se acanhe, Leah. Estava te esperando. Preciso de você, de novo.

- "Ordem de colaboração objetivando sua redução de pena". Vá à merda.

- Isso foi burocracia do Ministério, ele sempre quer receber as glórias. Você sabe.

Ela mantinha a pose selvagem e desgastada, o olhar frio e penetrante:

- ...E quem disse que eu quero?

E, assim, ela saltou, correndo veloz pelo caminho de pedras, entre as árvores retorcidas, indo na direção do único barco de madeira no porto improvisado, cerca de duzentos metros adiante.

O professor apenas virou o corpo, olhando Leah correr na direção do barco. Metros antes de chegar ao porto de madeira, alguém usando o uniforme branco de Auror Supremo pôs-se à sua frente, e esticou a mão na direção da bruxa.

No instante seguinte, da palma da mão do auror, praticamente brotava um canhão de luz, que, num forte impacto que atingiu quase todo o corpo da prisioneira, a jogava de volta para trás, tão longe que a fez cair de costas aos pés de Dumbledore, de novo.

Leah, os braços abertos, olhando para o céu enevoado, murmurou, dolorida:

- ...Não acredito que você trouxe essa puta.

- É como atrair um gatinho com uma bolinha de papel presa a uma linha. - sorriu o professor.

Leah, apesar de suja e aparentemente cansada, pareceu revigorar-se, saltou de pé, e gritou na direção do porto:

- PODE VIR, SUA...

Mas era, de novo, tarde demais, porque as solas das botas do Auror colavam-se ao seu peito, pegando impulso para saltar de costas, e, de novo, jogar a bruxa no chão. Foi tocar o chão, e Leah desaparatou, a tempo de escapar de outro ataque mágico. Ao aparecer, de frente pro porto, não correu, como havia pensado de início, mas sim, virou-se novamente na direção da prisão, para segurar a bota do Auror, num chute a centímetros do seu rosto:

- Peguei, sua cuzão! – rosnou.

Não adiantou. O auror já havia aproveitado a oportunidade e, sem dó, mandava a outra perna com o bico da bota na direção do rosto de Leah, acertando a pancada em cheio. As duas acabaram girando no ar: o auror, para poder cair agachado e se erguer, e Leah, para, de novo, beijar o chão, dessa vez caindo de bruços.

- ...Mas que mer -

Pela terceira vez, ela não teve reação, porque o auror pisava em suas costas, puxando seu braço direto para trás, torcendo-o com força. Leah gritou de dor, e xingou:

- AAAHHHHH! Pára! SOLTA! – urrou, sentindo o braço estalar-se, sendo virado para trás com força. – Eu juro que vou arrancar suas tripas foraAAAAAHHH! Nããão!

O auror torceu o braço da bruxa mais ainda, estalando-o. Leah urrou, quase chorando de dor:

- CARALHO, LÍLIAN! Você vai quebrar meu braço, aaaaah, tá doendo, pára, pára, eu juro, você vai, AAI, quebrar ele!

Lílian balançou a cabeça com força, tentando tirar o cabelo ruivo do rosto, e joga-lo para trás:

- Mas é essa a intenção. Está tão legal, ver seu braço a milímetros de ser fraturado, e você, tão garganta, aí, choramingando. Olha só, vai estalar ele de novo.

E, TLEC, torceu o braço de Leah de novo, fazendo a bruxo quase começar a chorar.

- Tudo bem, Lílian. – sorriu Dumbledore, um pouco sentido com a expressão de dor da prisioneira – Ela não vai mais se fingir de rebelde.

Lílian largou o braço de Leah e saiu de cima dela, onde estava tranqüilamente de pé, sem ter dó de pisar em alguém que usava apenas uma roupa rasgada e provavelmente estava num estado de saúde beirando o crítico. Ao mesmo tempo, os aurores e o funcionário do Ministério saíam horrorizados de Azkaban.

- DEMÔNIO! – exclamou o homem, que tinha seu impecável terno todo torto, o pouco cabelo cuidadosamente penteado todo atrapalhado, e um olhar de pavor tremendo.

- Perdoe a brincadeira de mau gosto da nossa prisioneira, senhor Clamp. – disse Dumbledore – Ela só procura por atenção.

Leah pareceu ignorar o pavor do homem, e olhou Dumbledore:

- Para virem aqui me arrancar dessa porcaria, alguma merda fedeu.

- Não diria isso. – e esticou para Leah um papel timbrado – Talvez isso lhe traga boas lembranças.

- Mas... QUÊ? Ah, porra, tá zoando! Isso é uma passagem portuguesa!

Ela olhou Dumbledore e Lílian, que fizeram um "sim" com a cabeça.

- Precisamos voltar. – disse Lílian – Alguma coisa saiu errado. Dizem que está pior que antes.

- Culpa tua, incompetente! – xingou Leah, jogando a passagem na cara da bruxa, e, admiravelmente, dando as costas e voltando a subir as escadas de Azkaban – Você disse que tinha dado conta, não deu, problema teu! Não me enfie nas tuas enrascadas!

- ...Dizem que até o senhor Bandeira está mal. – disse Lílian, em voz alta, parecendo se divertir.

- QUE MORRA, aquele velho broxa! – xingou Leah, agora nos portões de Azkaban, passando pelos aurores – Podem ir embora, eu volto pra cela, não saio daqui pra ir com ela praquela merda de vila nem fodendo!

- Você não tem escolha, Leah! – avisou Lílian, em voz alta – É uma ordem! Sua pena será diminuída...

- Jura? Da primeira vez TAMBÉM! E até agora não fiquei sabendo o quanto foi! Acho que ao invés de ficar aqui pra sempre fico só até eu morrer! Acho que melhorou, né?

- Dessa vez você volta e já recebe o veredicto final. Juro. Se isso não acontecer... eu pago com minha vida.

Leah parou, num tranco, e olhou pra trás.

- ...Você comeu cocô?

Lílian deu de ombros:

- Jurei pra Dumbledore que pagaria com a vida se você não viesse com a gente. – riu – Só estou trocando a responsabilidade de lugar.

- Sim, ela jurou. – confirmou Dumbledore – Acho que ter a vida dela como garantia de alguma coisa deve interessar muito a você, não?

Leah parou, de pé, na frente dos portões de Azkaban, cercada pelos aurores e pelo cobaia do ministério. Ela piscou algumas vezes, e, por fim, balançou a cabeça, e desceu as escadas, praguejando sem parar, mas não sem antes olhar o representante e rosnar para ele, fazendo o pobre coitado tropeçar nos calcanhares.

- ...Ok, vamos logo limpar essa sujeira. De novo. – sorriu Lílian, acompanhando Leah, emburrada.

- Você vai ver, puta, também não vai ter mais nenhum pirata gostoso com a minha cara pra te comer. – murmurou Leah.