Havia uma pessoa no cemitério neste dia. Era um homem de seus 50 anos, com traços leves, e de muito boa aparência. Segurava um ramalhete de rosas vermelhas, preferidas daquele que descansava no túmulo. Era um bonito dia de outono, com as folhas cor de ocre caindo e o céu vermelho, com poucas nuvens, cintilando. Afrodite, o senhor que segurava o ramalhete de rosas, sentara no chão, perto do túmulo, repousando as rosas e segurando os, agora curtos, cabelos.
"Por que você teve que ir? Sinto tanto sua falta..."
Desde a morte de Máscara da Morte, Afrodite não fora capaz de amar ninguém. Seguira sua vida e esquecera dos amores, sendo hoje um homem de 50 anos solteiro. Descontava todo o amor e carinho que estava guardado em seu coração nos sobrinhos, que na verdade são filhos e netos daqueles que sempre estiveram ao seu lado, e em seu jardim de rosas. Nunca se conformara por ter deixado ele ir, por não ter pedido perdão e o aceitado quando ele o quis. Nunca pudera dizer que foi feliz de novo, mas ficava confortado em ver a felicidade de seus amigos, seus irmãos.
"Será que você ainda está me esperando?"
Mesmo após anos, ainda eram capazes de ver nos olhos de Afrodite a mesma dor e pesar que viram quando Máscara morreu. Médicos sempre receitavam antidepressivos e terapias, mas nada fazia Afrodite reanimar. Tentara suicídio 3 vezes, o que rendeu 5 anos preso em um manicômio.
"Sempre te esperei, Afrodite"Sempre sonhava que ele havia revivido, que fora um sonho, e, nos momentos de mais angústia, jurava que ouvia a voz dele o acalmando, dizendo que o esperaria. Como agora.
"Não comece de novo! Vão falar que sou louco denovo! "
"É loucura amar?""Mas você está morto! Não devia nem estar falando com você!"
"Por que não?""Quero estar do seu lado em espírito e alma, não apenas ouvir o que você fala. Apesar de me confortar, também me traz dor e sofrimento!"
"Se eu soubesse, teria parado de falar com você."
"Não é necessário..."
"Dá pra se decidir?""Me leve com você. Agora."
"Você tem uma vida pela frente. Não posso."
"Que vida? Tudo o que fiz desde que você se foi não me valeu de nada. Eu não vivi. Eu apenas espero por minha morte, já que nem o direito de acabar com minha vida e finalmente ser feliz eu tenho."
"Quer mesmo ir?""Nunca desejei algo tanto assim, Giu."
"Pode ser arrepender."
"Só me arrependo de não ter conseguido dar um fim nisso antes."
Como em um piscar de olhos, a pouca vida que havia nos olhos de Afrodite se esvai. Sua alma, agora jovem e feliz, finalmente vê seu amado, que mesmo depois de tantos anos continuou a seu lado. E, caminhando de mãos dadas em direção a eternidade, Afrodite sibila nos ouvidos de um homem loiro, que estava de pé se apoiando em muletas, esperando o amigo voltar da rotineira visita ao túmulo do amante.
"Shaka, sou feliz agora. Por favor, não chore por mim, ok?"E Shaka, com um sorriso, meio que esperando por este final, com lágrimas nos olhos, eleva seus pensamentos em direção ao amigo, e se despedindo, diz:
"Me desculpe, Afrodite, mas não dá pra não chorar... Seja feliz onde você estiver... Por que eu finalmente sou feliz aqui..."
